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6. AS OPÇÕES LEGAIS PARA O TRATAMENTO DAS CONCESSÕES

9.1 CONTRATOS EM ANDAMENTO

A partir do levantamento documental histórico do setor e da inferência estatística, observou-se que tanto o Estado quanto os investidores eram incapazes à época, de prever uma queda do PIB nos patamares auferidos entre 2015 e 2016. A probabilidade de uma ocorrência de mais de 3% de queda na atividade econômica em um ano era de menos de 1% quando foram realizados os leilões da 2ª e 3ª etapas de concessões.

Sabendo-se também da forte relação entre o PIB e o tráfego, inclusive de elasticidade maior que 1, compreende-se os efeitos da queda de 7,2% do PIB sobre as receitas das concessões.

Os recursos de geração de caixa foram comprimidos pela queda das receitas e pelo aumento dos custos e despesas financeiras. O cenário agravou-se ainda mais com o efeito da crise sobre as condições de financiamento ofertadas pelos mercados financeiro e de capitais. Os bancos públicos, que haviam se comprometido inicialmente a financiar até 80% do CAPEX, não puderam honrar essas condições, dada a mudança de perfil do cenário macroeconômico e dos tomadores crédito.

A soma desses fatores inviabilizou a execução de alguns project finances. Não

foi possível concluir muitas das obras a que as novas concessões tinham se comprometido, especialmente as de grande vulto, como as duplicações de rodovias.

No início do exercício de 2019, para algumas concessões, os recursos disponíveis são suficientes apenas para bancar a manutenção dos serviços básicos.

A partir dessa realidade, existem 3 alternativas ao poder concedente: declarar a caducidade das concessões, avançar na relicitação mediante a concordância dos concessionários ou promover uma ampla revisão contratual reconhecendo a crise que sobreveio.

Ouvindo a opinião dos entrevistados, analisando o histórico, os artigos, os contratos e as leis voltadas para o setor, conclui-se que em que pesem os descumprimentos contratuais por parte de alguns concessionários na execução das obras contratadas, em especial as duplicações das rodovias, resta que o poder público e os usuários tem mais a ganhar com uma renegociação adequada, que se possível leve adiante esses projetos, que promover relicitações. Lembrou-se que os órgãos envolvidos na gestão da infraestrutura rodoviária atuam no limite das suas capacidades, com restrições orçamentárias e de pessoal. Dá-se dessa maneira, preferência por caminhos que não onerem ainda mais o já comprometido orçamento público, mesmo que passem por soluções possivelmente não tradicionais.

A solução mais adequada, maximiza tanto o interesse público, resguardando os princípios constitucionais de eficiência, transparência e impessoalidade, como o privado. De nada adianta maximizar o interesse público em uma ou poucas concessões com soluções excelentes para o Estado e afastar definitivamente os investidores interessados em outras concessões. Lembrando: relações de ganha-ganha são sempre as melhores.

Após a análise das possibilidades, fica evidente que uma revisão contratual extraordinária é a opção mais fundamentada para resolver a questão das concessionárias em dificuldades financeiras e inadimplementos junto ao poder concedente, que comprovadamente não puderam prever tamanha queda do PIB entre 2015 e 2016 (as das 2ª e 3ª etapas), isso porque a revisão contratual não só permitirá o reequilíbrio dos contratos, como também será possível nessa ocasião ajustá-lo às atuais necessidades da sociedade.

Como ponto de partida, têm-se os próprios estudos de viabilidade ou plano de negócios já existentes, ao que se deve aplicar o fator de desconto de reequilíbrio e reprogramar as obras. Em contrapartida às alterações realizadas, sugere-se que as

regras de multas, extinção e garantias dos contratos sejam agravadas, desincentivando a reincidência de atrasos.

Propõe-se:

. a abertura de prazo para a reprogramação dos investimentos das concessionárias que estejam com obras em atraso, condicionado à demonstração da sustentabilidade econômico-financeira do empreendimento até o fim do período de concessão originalmente negociado. Essa reprogramação de investimentos deve priorizar o aporte de recursos em trechos onde houver maior concentração de demanda,

. as empresas que aderirem à renegociação e alongamento dos prazos para os investimentos, devem automaticamente abrir mão de optar futuramente pela devolução amigável da concessão ao Poder Público (Lei nº 13.448, de 2017),

. a substituição do plano de negócios como instrumento de gestão para a adoção de fatores parametrizados com base em estudos de viabilidade, sobre os quais seriam realizados os reequilíbrios ao longo dos exercícios contratuais,

Se as próprias concessões demonstrarem interesse em seguir em frente com os contratos, apresentarem planos consistentes para a retomada dos projetos, fontes de financiamento e garantias que as deixem blindadas econômico-financeiramente do envolvimento de suas controladoras em escândalos como o da Lava-Jato e decorrentes quando for o caso, não há porque não renegociar.

Às concessionárias que não conseguirem apresentar projeto financeiro sustentável para a reprogramação dos investimentos, restam as opções de relicitação ou caducidade da concessão. Para o encerramento também justo desses contratos, o poder concedente deve providenciar e disponibilizar de imediato a elaboração da medida de cálculo para o ressarcimento de ativos que não tiveram tempo hábil para ser amortizados. Esses estudos devem ser modelados e projetados por instituições internacionais renomadas, como o International Finance Corporation (IF) do Banco Mundial e com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Destaca-se a urgência da tomada de decisão sobre o futuro dessas empresas, tendo em vista que as concessões alvo já se encontram em dificuldades financeiras.

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