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4. Contratos por diferenças em Inglaterra e a reforma do mercado

4.3 Contratos por diferenças: alocação

A definição dos termos do processo de alocação começou em novembro de 2012, tendo o governo feito algumas alterações depois de analisar o “feedback” dado por participantes no mercado, grupos de consumidores e instituições financeiras [54].

O processo de alocação dos contratos obriga os investidores a cumprirem diversos requisitos e prazos legais definidos pelo governo. Os preços-alvo são definidos no Plano de Entrega (“Delivery

Plan”) publicado pelo governo aquando da necessidade de nova produção, sendo o órgão responsável,

o Órgão de Entrega (“Delivery Body”), que de acordo com o orçamento disponível, gere o processo de alocação [54].

Na legislação atual existem alguns pontos chaves para este processo de atribuição de contratos: • Solicitação de um contrato por diferenças: existem critério de elegibilidade para cada tecnologia,

tendo estes de ser cumpridos para serem aceites no processo de alocação;

• Alocação de contratos: processo pelo qual o Órgão de Entrega, vai alocar contratos e como esse processo evoluirá ao longo do tempo;

• Processos de recurso: permitirão aos promotores contestar as decisões tomadas pelo governo ou pelo Órgão de Entrega;

• Assinatura do contrato: o processo de assinatura do contrato por diferenças com a empresa propriedade do governo (“CfD Counterparty”);

• Incentivos para a entrega atempada: formas de incentivo para que não existam atrasos;

• Colocação em funcionamento: geralmente os grandes projetos entram em funcionamento de modo faseado;

• Ajuste de capacidade: processo em que os produtores possam usar de modo a ajustar a quantidade de capacidade que pretendem implementar tendo o contrato já sido assinado.

O último plano do governo relativo à reforma foi publicado em dezembro de 2013 e será republicado a cada cinco anos. Este documento define o valor máximo do preço-alvo que pode ser estabelecido nos contratos por diferenças. Para cada tecnologia renovável, foram definidos os preços- alvo (administrativos) para o período entre 2015 e 2019, ou seja, o Plano de Entrega é relativo ao período entre 2015/16 — 2018/19 [23].

Relativamente ao preço-alvo, importa definir dois conceitos [61]:

• O CSP, preço-alvo de compensação (“Cleared Strike Price”), que é definido como sendo o valor mais alto de entre os projetos aceites nesse lote e para um determinado ano de entrega;

• O ASP, preço-alvo administrativo (“Administrative Strike Price”), que funciona como limite máximo de preço-alvo aceite pagar pelo “governo” aos produtores. Este foi determinado como um retorno "justo" do investimento caso o leilão competitivo não resultasse num preço-alvo de compensação.

O CSP para o ano de entrega é oferecido a todos os projetos aprovados nesse ano, e é com este preço-alvo que o contrato é baseado. Esse valor não é alterado de ano para ano. Por exemplo, se o preço- alvo para 2016/17 for 100 £ e o preço-alvo para 2017/18 for 99 £, um projeto que fosse aprovado em 2016/17 teria um preço-alvo de 100 £. Não receberia 100 £ em 2016/17 e, posteriormente, 99 £ em 2016/17 [61].

Atualmente os contratos são atribuídos através de rondas de alocação que duram, no mínimo 10 dias úteis, e que definem quem pode ou não pode obter um contrato. As condições tipo oferecidas são especificadas pelo secretário de estado antes da abertura da ronda de alocação. Para cada ronda é definido um orçamento disponível que não pode ser ultrapassado. Caso os limites sejam excedidos, dá- se início ao processo de leilão. Na Figura 4.3 encontram-se representados os principais prazos para o concurso a um contrato por diferenças em Inglaterra [62].

Figura 4.3 - Procedimentos e tempos legais para concorrer a um contrato por diferenças em Inglaterra [58]

Os interessados no processo serão avisados pelo secretário de estado de quando irão ocorrer as rondas de alocação, tendo em conta o orçamento disponível. O orçamento pode ser dividido em uma ou mais partes, denominadas por “lotes” e nos quais se encontram grupos específicos de tecnologias (por exemplo, tecnologias estabelecidas e tecnologias menos estabelecidas). O orçamento pode também estar sujeito a mínimos e/ou máximos de capacidade, estabelecidos no orçamento, para tipos de tecnologia específicos. O orçamento será dividido (não necessariamente de maneira uniforme) para cada ano de entrega da ronda de alocação [58].

Para realizar a candidatura a um contrato por diferenças é necessário que o candidato cumpra os limites de capacidade mínima definidos, tendo o projeto que ser validado, inclusivamente um projeto de ligação à rede. Os requisitos são específicos para cada tecnologia [58].

Após o resultado da ronda de alocação ser auditado, o secretário de estado tem a oportunidade de intervir. Nesse momento existe a hipótese, em casos extremos, de ser ordenada a re-execução do processo, ou mesmo terminar a ronda de alocação [58].

Os candidatos aceites terão um contrato por diferenças oferecido pelo governo baseado nos termos padrão dentro de 10 dias úteis. O contrato deve ser aceite e devolvido no prazo de 10 dias úteis ou a oferta caduca [58].

As decisões não são, no entanto, definitivas. Ou seja, a legislação prevê a possibilidade de um recurso sobre as decisões do Órgão de Entrega por parte dos produtores. Numa primeira fase, o Órgão de Entrega verifica e revê a sua decisão, sendo que os produtores apenas dispõem de um prazo de 5 dias para solicitar a revisão do processo. Caso o produtor continue a achar que a decisão não respeita as leis, pode recorrer ao “Ofgem” ou realizar um recurso junto dos tribunais [58].

É possível que o processo de alocação tenha sido concluído antes do recurso ser resolvido. Se for esse o caso, num cenário de leilão em que são usadas propostas seladas, o candidato pode ser convidado a apresentar uma oferta ou propostas flexíveis que serão usadas somente se o recurso for considerado a favor do requerente [58].

Existem, também, incentivos para que não existam atrasos nos projetos. Deste modo, existem parâmetros temporais previamente definidos para cada tipo de tecnologia e para cada projeto, que têm de ser cumpridos. O inverso pode também acontecer e, no limite, poderão existir penalizações que podem chegar à anulação do contrato, tendo o Órgão de Entrega o direito e a obrigação de realocar o contrato noutro projeto. Existem projetos que são forçosamente construídos “por fases” neste tipo de projeto, nomeadamente, nos parques eólicos “offshore”, o risco de rescisão contratual aplica-se apenas à primeira fase de construção, não expondo os desenvolvedores ao risco de rescisão em fases posteriores [23, 58].

Os contratos por diferenças assinados preveem que, na prática, se possam instalar até menos 30% do que a capacidade inicialmente prevista (sem nenhum tipo de sanção). Deste limite, uma percentagem (variável) não terá implicações diretas no preço-alvo, mas outra provocará um ajuste no mesmo. De referir, que estes ajustes não permitem aumentos de capacidade, apenas reduções em relação ao previsto. Os desenvolvedores do projeto poderão, posteriormente, reduzir a capacidade em mais 5%, existindo flexibilidade para cobrir problemas durante a construção e comissionamento (novamente sem penalizações financeiras). Cada uma destas eventuais reduções tem prazos limite pré-estabelecidos de modo a garantir a sustentabilidade do projeto e, ao mesmo tempo, o sucesso do acordo anteriormente estabelecido [23].

De referir, que, inicialmente foi pensado criar um mecanismo de “First Come, First Served – FCFS”, onde 50% do orçamento seria atribuído consoante a rapidez com que as propostas de projeto eram submetidas e a outra metade com recurso a leilão [63].

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