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4 FRAUDE À LEI DO ESTÁGIO E SUAS CONSEQUÊNCIAS NA VIDA

4.7 CONTRATOS SUSPENSOS EM RAZÃO DA COVID-19

O ano de 2020 foi atípico em razão do novo Corona vírus. Principalmente, no que tange aos contratos de estágio, pois, muitos estagiários, como é o caso daqueles pertencentes ao Ministério Público Estadual do Estado do Espírito Santo e Defensoria Pública Estadual do Estado do Espírito Santo que foram surpreendidos quando tomaram ciência da suspensão de seus respectivos contratos.

Inicialmente, uma massa de estudantes em defesa do ocorrido com os estagiários de direito começaram a se manifestar nas redes sociais, declarando total indignação ao ocorrido. Tendo em vista que muitos estagiários necessitam da bolsa e auxílio para o custeio das mensalidades da faculdade, para compra de livros, além de outras necessidades.

A suspensão de contratos repercutiu muito, causou muito alvoroço e gerou um impacto negativo aos órgãos.

De uma breve análise do ocorrido, conclui-se ausência de estabilidade em relação ao contrato de estágio e, observa-se, ainda, a ausência de segurança jurídica nos termos de estágio, diante do impacto direto acarretado aos principais interessados.

Em nota divulgada no perfil “estagiarios.dpes” em redes socias criadas pelos

próprios Estagiários da Defensoria Pública do Estado do Espírito Santo, foi alegado

por eles a surpresa diante da suspensão do contrato de estágio por tempo

indeterminado e, consequentemente, suas bolsas de estágio que também deixaram de ser pagas.

Alegaram, ainda, o baixo quantitativo de defensores nos núcleos, sendo que a maior parte dos atendimentos e serviços prestados à comunidade e ao poder judiciário

oferecida pela Defensoria Pública do Estado do Espírito Santo conta com a atuação

essencial dos Estagiários de direito.

Ressaltaram a importância do estágio para qualquer instituição e declararam a conduta desrespeitosa e desamparada.

Neste sentido, foi proposto o Projeto de Lei 2509/20, que, ainda segue em tramitação no Câmera dos Deputados, com o objetivo de garantir o emprego dos estagiários durante a pandemia de Covid-19, que, em síntese trata:

O Projeto de Lei 2509/20 proíbe as empresas de suspender os contratos de estágio durante período de calamidade pública e institui a renovação automática desses contratos por até seis meses após o fim do período de emergência. A proposta tramita na Câmara dos Deputados.

O texto é assinado pela deputada Fernanda Melchionna (Psol-RS), com o apoio do restante da bancada do Psol. Eles afirmam que o projeto visa garantir o emprego dos cerca de 577 mil estagiários em atividade no País durante a pandemia de Covid-19.

“Ressaltamos a urgência de preservarmos a renda desses estudantes e de suas famílias, para que possam atravessar esse período delicado da vida brasileira da melhor forma possível”, dizem os parlamentares.

Além dos empregos, o projeto prevê a manutenção da bolsa-estágio e dos demais benefícios recebidos pelos estagiários. As empresas que descumprirem as regras ficarão impedidas de acessar linhas de

financiamento de bancos públicos e outros benefícios emergenciais durante a calamidade pública.

Caso o empregador seja um órgão público, a pena será o enquadramento em ato improbidade administrativa.

Fonte: Agência Câmara de Notícias

CONCLUSÃO

O presente estudo buscou demonstrar a desvalorização do trabalho do estagiário, tendo em vista a crescente visão de que o estágio remunerado não passa de uma camuflagem de mão de obra barata, ante as inúmeras fraudes ocorridas nas relações jurídicas oriundas do estágio.

É sabido que o estágio é um momento de aprendizagem crucial na vida do estudante, eis que o prepara para o ingresso no mercado de trabalho, além de colocar em prática a teoria ministrada em sala de aula.

A Lei n° 11.788/2008 que disciplina sobre o estágio, foi criada com o intuito de proteger a classe dos estagiários, visando coibir ocorrência de fraudes pela parte concedente, pois o estagiário nesta relação é a parte mais vulnerável. Assim, a supracitada lei trouxe em sua redação um rol de direitos e obrigações às partes que celebram o contrato de estágio, com o intuito de impedir fraudes e violações de direitos dessa classe.

Contudo, verifica-se, que, mesmo com a promulgação da lei em comento, ainda assim, os estagiários são desrespeitados no tocante à aplicabilidade do referido diploma legal, ou, melhor, diante da ausência de fiscalização nas relações advindas do estágio, pois, muitas empresas se utilizam das vantagens do Termo de Compromisso de Estágio para delegarem ao estagiário atividades que não condizem com a sua formação ou jornadas acima da legalmente estabelecida, qual seja, até 6 horas diárias.

Embora exista previsão legal que pune tais atos em desconformidade com as normas, em análise de decisões dos Tribunais, observa-se inúmeros processos que tramitam/tramitaram na Justiça do Trabalho, que discutem sobre o reconhecimento de vínculo empregatício oriundo da fraude no estágio.

O ideal e esperado é que a lei atinge o seu objetivo precípuo, de modo a evitar constantes fraudes ao conjunto de normas a serem respeitadas e seguidas, visto que,

os grandes encargos trabalhistas e a escassez de fiscalização contribuíram para fortalecer a visão de fraude do contrato de estágio e sua consequente camuflagem de mão de obra barata, para obter vantagens trabalhistas e financeiras.

Neste sentido, restou demonstrado a necessidade de fiscalização e acompanhamento nas relações vindas dos contratos de estágios, com o fito de respeitar os requisitos essenciais para a validação do estágio e alcançar os seus reais objetivos.

Por fim, cumpre salientar, que, ao lado da dignidade da pessoa humana e dos valores sociais do trabalho, perfilha a função social do empreendimento econômico no artigo 170 da Constituição Federal, dispondo que: "A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por finalidade assegurar a todos existência digna, conforme ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: I - soberania nacional; II -propriedade privada; III.- função social da propriedade (...)"

Importante se faz a valorização da classe dos estagiários, de modo a coibir reiteradas práticas de fraude no estágio, pois, fazendo alusão ao atual cenário do quadro de funcionários das repartições que contratam estagiários, sejam elas públicas ou privadas, verifica-se o desprestígio, a falta de valor e merecimento à classe dos estagiários, visto a grande relevância da mão de obra do estudante obreiro não reconhecida.

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