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Contribuições de Paulo Freire como marco nas concepções de alfabetização

ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS 2.1 Alguns aspectos históricos

2.2 Contribuições de Paulo Freire como marco nas concepções de alfabetização

[...] Nomear o mundo torna-se um modelo para transformar o mundo. [...] Isso, por sua vez, depende do poder transformador da linguagem.

Paulo Freire

A partir do caos instaurado, emergem as novas concepções de educação, de homem, e um novo pensamento, inspirado nas idéias pedagógicas de Paulo Freire.

O pensamento freireano vem carregado de afetividade, através de uma convivência amorosa com seus alunos, estimulando-os a se assumirem como sujeitos sócio-históricos e produtores de uma cultura. Para o educador, a reflexão seria um exercício permanente de sua prática.

Paulo Freire preocupou-se com adultos nos Círculos de Cultura que buscavam escapar à escolarização tradicional. Percebendo a educação como práxis, Freire revela a consciência política do ato educativo, apostando numa educação para a transformação social, acreditando na importância da ação pedagógica para a libertação humana.

Freire dá a palavra às pessoas das classes populares, para que estas falem de si mesmas e dos problemas sociais, contribuindo para a autonomia dos educandos numa perspectiva de trabalho educativo vinculado à ação e a organização sócio-político do mundo adulto.

Ele elaborou uma proposta de alfabetização de adultos conscientizadora, que dispensava o uso da cartilha. Além disso, desenvolveu o método Paulo Freire de alfabetização constituído de procedimentos pedagógicos. Inicialmente, o alfabetizador deveria fazer uma

pesquisa a respeito da realidade dos alunos em sua comunidade; simultâneamente, iam sendo coletadas palavras do universo vocabular desse grupo. A partir desses dados, cabia ao alfabetizador selecionar as palavras de maior sentido (palavras geradoras) para a comunidade pesquisada e, em seguida, selecionava um conjunto que apresentasse diversos padrões silábicos, tanto os explorava nos aspectos gramaticais (da leitura e da escrita), quanto no desenvolvimento do pensamento crítico acerca da realidade.

Assim, em meados dos anos 1960, o pensamento de Paulo Freire passou a se concretizar nos principais programas de alfabetização de adultos em todo o território nacional. A respeito desse momento histórico, Ribeiro (2001, p. 22) relata: “Esses programas foram empreendidos por intelectuais, estudantes e católicos engajados numa ação política junto aos grupos populares.” Vale ressaltar que os grupos de educadores que se engajaram e se articularam em busca de novas diretrizes foram: os do MEB (Movimento de Educação de Base), ligado à CNBB, e os CPC (Centros de Cultura Popular), que reuniam artistas e intelectuais.

Na gestão do prefeito Djalma Maranhão, no ano de 1961, em Natal – RN, deu-se início à Campanha de pé no chão também se aprende a ler. Esta campanha teve grande repercussão, pois apresentava uma proposta ousada e inovadora, partindo dos pressupostos teórico-metodológicos da educação popular. Este trabalho conseguiu mobilizar a população em prol da redução do analfabetismo, em bairros carentes de Natal, como as Rocas, Santos Reis e as Quintas, chegando a provocar disputas a divulgação da redução do número de analfabetos naqueles bairros.

Um dos pilares dos círculos de cultura era o diálogo. No início do programa, eram apresentados aos alunos os objetivos do trabalho, a metodologia a ser utilizada, além de se

suscitar uma discussão acerca da importância de se ter o domínio do código escrito (ler e escrever).

Nos círculos de cultura, havia a presença de um animador cultural, que apresentava aos alunos algumas fotos ou slides com palavras geradoras e, a partir dessa situação motivadora, estabelecia-se um diálogo acerca de um dado tema, que tinha sido previamente pesquisado junto ao grupo. Nesse sentido, Jannuzzi (1979, p. 37) nos lembra que, no método dialógico, “[...] todos se dispunham a se comunicar sem que nenhum se sinta superior ao outro [...]”, ou seja, todos tinham voz e vez, assim como ocorria nas discussões, que partiam da realidade dos sujeitos, das suas vivências sociais, para se alcançar a conscientização em torno dos diversos problemas.

Essa metodologia utilizada para alfabetizar os adultos era bastante significativa e facilitava o processo de compreensão dos mecanismos da leitura e escrita. Isso pode ser exemplificado com o que nos descreve Barreto (1998, p. 86) sobre uma visita do ministro da Educação, Paulo de Tarso, a uma sala de aula.

Numa destas visitas, o ministro assistiu o momento em que, após a discussão da palavra geradora tijolo, o educador chamou a atenção para o estudo das famílias silábicas do ti do jo e do lo. Rapidamente, um dos alfabetizandos, demonstrando já ter aprendido a ler o mecanismo da leitura, juntou as silabas e formou, numa linguagem bem popular ‘tu já le’.

Situações semelhantes a essa aconteceram e se repetem, até hoje, em nosso território brasileiro.

O ambiente escolar eram acampamentos cobertos de palha, onde se desenvolviam aulas não só para jovens e adultos, mas também para crianças, que representavam o maior percentual de matriculados.

O trabalho desenvolvido por este grupo pressionou o governo a aprovar, em 1964, o Plano Nacional de Alfabetização, que deveria implantar no Brasil propostas de alfabetização de adultos baseadas no pensamento freireano. Para Paulo Freire (2001, p. 27): “A educação, qualquer que seja o nível que se dê, se fará tão mais verdadeira quanto mais estimule o desenvolvimento dessa necessidade radical dos seres humanos, e de sua expressividade.” Nesse sentido, a educação se apresenta como um instrumento de libertação e emancipação do homem.

Com a emergência do golpe militar de 1964, as experiências de educação popular foram reprimidas, pois eram consideradas perigosas para a manutenção da ordem nacional. Diante desse contexto, os programas ou propostas de educação de adultos de caráter popular, estrategicamente, resistiram na clandestinidade, pois só puderam permanecer os cursos de alfabetização conservadores, ou seja, aqueles que objetivavam ensinar os alunos a ler, escrever e contar, negando a formação integral do homem.