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A Lei n.º 141/99, de 28 de Agosto, que estabelece os princípios em que se baseia a verificação da morte, preceitua no seu art.º 2.º que “A morte corresponde à cessação irreversível das funções do tronco cerebral.” (Direito Mortuário, 2007: 169)

Havendo fundado receio de morte violenta – etiologia da morte violenta: suicídio, homicídio, ou acidente -, o Ministério Público - “Magistratura que representa o Estado, defende os interesses que a lei determinar (…) orientada pelo princípio da legalidade (…).” (Prata, Vilalonga, 2007: 288) - decreta a obrigatoriedade da autópsia ou necrópsia52, mediante uma série de diligências, com o escopo de averiguar ou tentar determinar a causa da morte. Isso implica trazer à colação os chamados exames complementares de autópsia ou necrópsia, que se afiguram como um acréscimo relevante para os restantes dados. De acrescentar, por isso, que se revestem de assaz importância as análises e os exames: de anatomia patológica (para averiguar de eventuais complicações de lesões traumáticas); de genética e biologia forense (quando haja fundado receio de morte violenta, sendo importante o contributo da criminalística biológica); radiológicos (em caso de maus- tratos); de bioquímica (em caso de suspeita de morte súbita, cuja causa seja desconhecida); químico-toxicológico (quando haja suspeita de morte por intoxicação); microbiológicos (quando haja suspeita de morte de etiologia infecciosa), etc. [retirado das Lições de Medicina Legal, leccionadas na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, entre Setembro e Dezembro de 2008]

Todavia, os resultados das perícias médico-legais nem sempre permitem determinar uma causa exacta da morte.

Segundo Comrie e Thomson (1951: 168), autópsia (ou necrópsia) é o “exame dos órgãos internos de um cadáver. É executada de modo a não produzir desfiguramento. O cérebro é examinado por meio de uma abertura no coiro cabeludo e no crânio que depois será tapada pelo cabelo, e os conteúdos torácicos e abdominais observam-se através de

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uma incisão na linha média anterior do corpo. Quando é necessário, removem-se pedaços de órgãos para exame microscópico. Considera-se dever social dos parentes de uma pessoa falecida, autorizar ou exigir um exame post-mortem quando se desconhece ou não há certeza sobre a causa da morte.”

Por conseguinte, com a morte (cessação definitiva da vida), cuja sua verificação compete aos médicos, nos termos da lei - consoante o que preceitua o n.º 1 do art.º 3.º da Lei n.º 141/99, de 28 de Agosto (Direito Mortuário, 2007: 169) -, dá-se início à autópsia ou necrópsia do cadáver (promovendo, simultaneamente, as demais diligências necessárias à averiguação da sua causa e das circunstâncias em que esta, morte, tenha ocorrido) se, porventura, houver indícios de morte violenta, suspeitas de crime ( conforme preceitua o artigo 197.º n.º 1, CRC53), ou ainda se o médico achar conveniente a autópsia ou necrópsia pela incerteza da identificação da causa que conduziu à morte.

A autópsia ou necrópsia pode ainda ser de dois tipos, a saber: (I) clínica;

(II) forense ou médico-legal.

Ambas só têm de comum a própria morte.

A autópsia ou necrópsia clínica tem como escopo um melhor conhecimento do estado patológico do doente falecido, precisando novas causas que conduziram à morte. Via de regra, uma autópsia ou necrópsia deste tipo é feita com fins de pesquisa e de estudo, e a sua realização carece do consentimento de familiares e entidades legais.

Precisamente porque existem diversos tipos de morte – natural, acidental, homicídio, suicídio, etc. -, existe um outro tipo de autópsia ou necrópsia: a forense ou médico-legal.

A autópsia ou necrópsia médico-legal não carece do consentimento dos familiares do falecido – ela destina-se a averiguar a responsabilidade de terceiros na morte do indivíduo - uma vez que se trata de um imperativo legal para a justiça (tem um carácter obrigatório), a sua realização. E é um imperativo legal para a justiça, quando em causa esteja uma morte violenta (acidente de viação, por exemplo), um acidente de trabalho por conta de outrem, um homicídio, ou um suicídio. Por isso mesmo, as perícias médico-legais têm, em regra, por objectivo determinar e avaliar o dano na jurisdição cível, laboral e penal. (Dados recolhidos no “1.º Curso de Introdução às Ciências Médico-Legais e Forenses”. Coimbra, 21 e 22 de Setembro de 2007)

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De acordo com Prata, Veiga e Vilalonga (2007: 328), a perícia médico-legal é uma “prova que tem lugar quando a apreciação ou a percepção de certos factos exigirem especiais conhecimentos, realizada por peritos designados para o efeito, que elaboram um relatório no qual mencionam e descrevem as suas respostas e conclusões devidamente fundamentadas, as quais não podem ser contraditadas. A perícia médico-legal (…) é, nos termos do artigo 159.º, CPP54., feita pelos institutos de medicina legal, pelos institutos médico-legais ou pelos gabinetes médico-legais, por médicos especialistas ou de reconhecida competência (…). ”

A Lei n.º 45/2004, de 19 de Agosto, estabelece o regime jurídico das perícias médico-legais e forenses.

Ainda segundo aqueles três autores (2007: 328) “Há ainda exames e perícias no âmbito da genética, biologia e toxicologia forenses, no âmbito da psiquiatria e psicologia forenses e no âmbito da tanatologia forense. (…)”

A actividade probatória, na área das Ciências Forenses, assume importância cada vez mais relevante no âmbito científico e jurídico, conferindo àquelas (Ciências Forenses) um carácter multidisciplinar. Multidisciplinar, na medida em que as Ciências Forenses carecem dos conhecimentos de outras áreas científicas: Medicina, Biologia, Farmácia, Psicologia, Direito, Criminologia, etc. (Dados recolhidos no “1.º Curso de Introdução às Ciências Médico-Legais e Forenses”. Coimbra, 21 e 22 de Setembro de 2007)

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CAPÍTULO IV