• Nenhum resultado encontrado

3 – CONTRIBUTOS DA TEORIA DAS TRANSIÇÕES PARA COMPREENSÃO DA PROBLEMÁTICA EM ESTUDO

No documento DISSERTAÇÃO definitiva (páginas 35-39)

A transição envolve uma mudança significativa na condição de saúde, nos papéis desempenhados na sociedade e nas capacidades de conduzir as respostas humanas à mudança. A transição exige a aquisição de novos conhecimentos, o que poderá ter como consequência a alteração de comportamentos e a integração de uma nova identidade na sociedade (Meleis et al., 2000).

A mudança pode significar movimento de um estado para outro, um processo e também pode significar uma ação para alterar, modificar comportamentos para o indivíduo se adaptar a novas situações (Chin, 2006).

Os acontecimentos que implicam uma transição exigem da pessoa a mobilização de recursos para enfrentar a mudança. A capacidade de adaptação a estes acontecimentos e a necessidade de alteração de comportamentos, influencia a qualidade de vida. A transição envolve um processo de reorganização interior que permite à pessoa incorporar uma nova identidade e adaptar-se às novas circunstâncias da vida.

Com o auxílio da teoria das transições de Meleis e colaboradores (2000), procura-se contribuir para uma intervenção mais individualizada à pessoa portadora de traqueostomia e assim, otimizar a sua qualidade de vida.

A teoria de médio alcance de Meleis e colaboradores (2000) é útil na investigação pela sua facilidade de operacionalização dos conceitos, o que permite a sua adoção na prática para a resolução de problemas relevantes para a enfermagem.

Neste sentido, Abreu (2011, p. 47) refere que a teoria das transições permite à enfermagem “ (…) o acesso a um quadro de referências consistente, capaz de ajudar a identificar estratégias e intervenções de enfermagem dirigidas a pessoas em transição”.

A opção pela teoria das transições de Meleis e colaboradores (2000) como modelo conceptual de referência para o estudo, relaciona-se com o facto desta teoria permitir “ (…) focar a nossa atenção no doente enquanto pessoa e não

enquanto objeto dos nossos cuidados dando-lhe voz e poder de decisão“ (Gonçalves, Guterres e Novais, 2010, p. 17).

Nesta perspetiva, é essencial que o objetivo dos cuidados de enfermagem deixe de ser a doença propriamente dita, passando a ser a resposta da pessoa às alterações da saúde ao longo da vida. As implicações da traqueostomia na qualidade de vida são um exemplo desta perspetiva.

Apesar da importância dos aspetos físicos da traqueostomia, compreender a experiência de estar doente é essencial para o cuidado à pessoa com traqueostomia. A doença é apenas um dos muitos fatores que afetam a qualidade de vida (Larsen, 2006). De facto, para a pessoa o mais importante é conhecer a forma como a nova condição vai afetar a sua vida. A doença não envolve apenas o corpo, mas também afeta os relacionamentos, atitudes e autoimagem (Larsen, Lewis e Lubkin, 2006).

Neste sentido, devemos salientar que existe uma diferença entre a representação de doença para a pessoa e para o profissional de saúde. Esta diferença está bem expressa nos conceitos disease e illness. Disease corresponde à conceptualização da doença pelo profissional de saúde, baseada num modelo fisiopatológico. Illness representa a experiência de doença vivida, ou seja, refere- se à forma como esta é compreendida pelo indivíduo (Larsen, 2006).

A vantagem da teoria das transições de Meleis e colaboradores (2000) é que nos permite diminuir a distância entre estas duas visões distintas e integrar o conceito de qualidade de vida no processo de transição da pessoa com traqueostomia.

A transição saúde/ doença envolve mudanças de papéis que resultam de um estado de bem-estar para um estado de doença (Meleis et al., 2000). Na vivência de uma transição, a capacidade da pessoa em gerir as suas respostas adaptativas pode estar alterada, em virtude da sua vulnerabilidade (Abreu, 2011).

A pessoa com traqueostomia encontra-se a vivenciar uma transição saúde/ doença o que a coloca numa situação de vulnerabilidade com implicações para a sua qualidade de vida. A presença de uma traqueostomia impõe mudanças profundas na vida de cada um, e a aquisição de novas competências que são indispensáveis na reconstrução da sua autonomia. No entanto, se a mudança pode ser fonte de stress, também pode ser uma oportunidade de desenvolvimento e crescimento pessoal (Chin, 2006).

É através da compreensão dos tipos, das propriedades, condições e padrões de resposta das transições, que os enfermeiros estão melhor preparados para ajudar a pessoa com traqueostomia no processo de transição.

A consciencialização da transição pressupõe a perceção e o conhecimento das mudanças que estão a ocorrer naquele momento. Esta etapa é caracterizada pela profundidade com que a pessoa se envolve no processo de cuidados e de mudança (Meleis, et al., 2000). O desejo e o compromisso inicial para a mudança, permite uma maior consciencialização. A perceção da pessoa sobre o que vai mudar, as perceções pessoais de autoeficácia, influenciam significativamente o envolvimento no processo de transição (Larsen, Lewis e Lubkin, 2006).

As dimensões da mudança necessitam de ser estudadas, nomeadamente a sua natureza, o tempo necessário para que ocorram, que percurso é necessário fazer para que elas ocorram e a perceção do impacto das mudanças na vida pessoal, familiar e social (Kralik, et al., 2006).

O contexto específico da pessoa com traqueostomia, permite compreender a necessidade de tempo para adaptação às alterações da auto-imagem, assim como da capacidade funcional. O tempo dá ao indivíduo a oportunidade de reformular a imagem corporal. O tempo de permanência da alteração também afeta a adaptação às mudanças na imagem corporal. O indivíduo pode lidar melhor com mudanças temporárias do que com mudanças definitivas (Biardi, Warner e Knapik, 2006).

Tendo em conta que a transição exige tempo, é fundamental a vigilância sistemática por parte dos enfermeiros, no contexto particular da pessoa com traqueostomia. Nesta perspetiva baseada nas transições, a avaliação da qualidade de vida, fornece contributos fundamentais para a implementação de terapêuticas adequadas e direcionadas às necessidades específicas desta população (Schumacher e Meleis, 1994).

O evento crítico define-se como o acontecimento que determina a necessidade de ocorrer uma transição (Meleis, et al., 2000 p. 21).

As condições da transição referem-se à interpretação da experiência da transição, nomeadamente dos fatores que a afetam, quer positiva quer negativamente. Deste modo, é necessário conhecer as condições pessoais, da comunidade e da sociedade e perceber qual a sua posição e força no processo de transição.

Os padrões de resposta permitem avaliar a resposta do indivíduo ao processo de transição. Estes padrões são monitorizados recorrendo a indicadores que devem transmitir os “conhecimentos, capacidades e comportamentos necessários para gerir as novas situações e contextos” (Meleis, et al., 2000 p. 26).

De facto, a avaliação da qualidade de vida fornece informação pertinente acerca da forma como a pessoa integrou as mudanças no seu dia a dia. Por outro

lado, também proporciona conhecimento sobre o processo de transição ao longo do tempo, quando utilizada em avaliações repetidas. Na perspetiva da teoria das transições (Meleis et al, 2000; Meleis, 2007) a qualidade de vida pode constituir-se como um indicador de processo e/ou um indicador de resultado.

Os indicadores de processo permitem avaliar a forma como está a decorrer a transição e que permitem identificar fatores de risco na transição e orientar a pessoa na obtenção de um resultado positivo (Meleis et al., 2000; Meleis, 2007). Nesta perspetiva, a qualidade de vida é considerada como um elemento de apoio à tomada de decisão, permite a avaliação precoce e a intervenção dos enfermeiros para facilitar uma transição saudável (Meleis et al., 2000).

Os indicadores de resultado referem-se ao modo como o doente integrou a mudança na sua vida e alcançou a sua estabilidade (Meleis et al., 2000). Neste sentido, a qualidade de vida constitui-se como o objetivo último da atuação dos enfermeiros.

Indicadores de transições bem sucedidas são, o bem-estar subjetivo, mestria no desempenho de um papel e o bem-estar nas relações (Meleis e Schumacher, 1994). E dado o interesse da enfermagem na saúde, podem identificar-se indicadores adicionais como: qualidade de vida, adaptação, capacidade funcional, autoatualização e transformação pessoal (Meleis et al., 2000).

No cuidado à pessoa com traqueostomia, o enfermeiro encontra-se em situação privilegiada para antecipar ou detetar os indicadores que podem facilitar a transição saudável. É importante que o enfermeiro na procura da excelência dos cuidados, identifique o tipo e os padrões de transição, para definir as intervenções que permitam ultrapassar a transição de forma saudável.

Os enfermeiros são fundamentais para a identificação e compreensão das transições, permitindo estabelecer terapêuticas de enfermagem direcionadas para a aquisição de novas competências. Deste modo, assume o papel de facilitador do processo de transição saúde/ doença na medida em que ajuda a incorporar novos conhecimentos, e a alterar comportamentos para lidar com a nova condição (Meleis e Trangenstein, 1994).

4 – METODOLOGIA

A metodologia consiste em definir os meios e atividades necessários para realizar uma investigação. A metodologia é fundamental porque as opções a tomar nesta fase, vão influenciar diretamente as etapas seguintes da investigação (Fortin, 2009). Neste sentido, selecionar o melhor método para investigar a questão de pesquisa, é o primeiro passo para que a investigação obtenha um impacto significativo (Sousa, Driessnack e Mendes, 2007).

Neste capítulo, será apresentada a metodologia nomeadamente, o tipo de estudo, as questões de investigação, as variáveis, a população e a amostra. A estratégia de colheita e análise de dados, assim como o instrumento de colheita de dados serão devidamente justificados, e por último algumas considerações acerca das questões éticas.

No documento DISSERTAÇÃO definitiva (páginas 35-39)

Documentos relacionados