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OS CONTRIBUTOS DE VICO E W DILTHEY.

AS ORIGENS HISTÓRICO-FILOSÓFICAS DAS FILOSOFIAS DA CULTURA SPENGLERIANA E ORTEGUIANA.

III.1. OS CONTRIBUTOS DE VICO E W DILTHEY.

Tendo em conta que esta tese intenta penetrar nos recônditos caminhos da Filosofia da História, em particular naqueles em que se rompe com o esquema omnímodo do Iluminismo e do Positivismo cartesianos de inspiração matematizante, justo é lembrar o papel pioneiro de Giambattista Vico. Vico é o primeiro pensador a procurar um elo racional para os acontecimentos aparentemente desordenados que se vão sucedendo em todos os campos de actividade humana. Antecessor metodológico de Spengler, o pensador napolitano analisa na sua Ciência Nova, formas sociais, políticas, jurídicas; analisa a propriedade, as religiões, mitos com uma minúcia digna, com vista a compreender aquilo a que chama o ‘mundo civil’.

Grande ‘crítico da razão histórica’, manifesta uma apreciável consciência histórica, ousando trilhar os caminhos do devir da cultura e do Homem, tomando a História concreta feita e interpretada pelos homens, como a verdadeira cifra do existir pleno. Por isso empenha-se numa análise empírica dos factos, com vista à determinação de leis

universais e necessárias – os três ciclos ou idades. Dela se abrirão as portas ao já citado Herder e a

um Dilthey, cuja concepção crítica da história irá impor a energia e a vitalidade das contraposições, que só se compreendem em função de um fundamento comum.

É Vico efectivamente que, na sua Ciência Nova (Scienza Nuova), antecipa as ideias fundamentais do historicismo alemão, em particular Wilhelm Dilthey e Oswald Spengler, propondo pela primeira vez a paternidade do Homem como construtor da história, e a importância daquilo que chamava ‘Providência’ (ou ‘Destino’, na terminologia spengleriana), que se materializava numa teoria cíclica da história através da tripla distinção etária (Idade divina-teocrática/Idade heroica-mitológica /Idade humana-racional). Vico baseava-se no ‘mundo das acções humanas’, no que ‘acontece’, captando nele o fluxo de vida numa dinâmica de compreensão e discernimento crítico, conforme o próprio Vico assinala na obra atrás referida:

“Assim esta NOVA CIÊNCIA, ou seja, a metafísica, meditando à luz da providência divina sobre a natureza comum das nações, tendo descoberto tais origens das coisas divinas e humanas

entre as nações gentias, estabelece um sistema do direito natural das gentes que procede, como suma igualdade e constância, durante as três idades que os Egípcios nos deixaram dito terem caminhado por todo o tempo do mundo transcorrido antes deles, isto é, - a idade dos deuses, na qual os homens gentios acreditaram viver sob governos divinos e cada coisa ser-lhes ordenada através dos auspícios e através dos oráculos, que são as mais velhas coisas da história profana; - a idade dos heróis, na qual por todo o lado esses reinaram em repúblicas aristocráticas, devido a uma certa diferença de natureza por eles reputada superior aquela dos seus plebeus; - e, finalmente, a idade dos homens, na qual todos se reconheceram serem iguais em natureza humana e, por isso, se celebraram então primeiro as repúblicas populares e, finalmente, as monarquias, que são ambas formas de governos humanos (...).” 12

Pode-se dizer mesmo que Vico soube antever com um discernimento notável o axioma que subjaz ao historicismo alemão: a de que à natureza lhe faltava o sboar doce da vida que germina abundante no curso histórico. Valorizando o conhecimento histórico em oposição ao racionalismo a-histórico de matriz cartesiana, o historicismo afirmava a concepção da realidade enquanto história e somente passível de conhecimento mediante a sua própria historicidade.

A História, tal como a vida, é um fim em si mesmo, e manifestar-se-ia progressivamente como uma ascensão cultural semelhante em todos os povos, e era resultado de um estímulo prático e oral desencadeador da acção. Nasceria das paixões e dos interesses humanos face aqueles sentimentos e ligava-se umbilicalmente à vida e às suas necessidades. Tal como em Spengler, por exemplo, não estamos perante uma visão determinista como o eterno retorno grego, mas perante uma lei formal que se refere a uma sucessão de formas e não de conteudos.

Wilhelm Dilthey que pretende dar à história um estatuto diferente e peculiar das ciências da natureza, é anti-metafísico e anti-positivista, condenando quer a filosofia da história de teor cristão, quer a de sabor hegeliano. No caso da primeira, devido ao seu carácter dogmático, na segunda pelo facto de ter querido abarcar ao mesmo tempo a significação e a sua causa. Para si, só é digna de crédito a concepção que procura compreender o sujeito humano através das obras realizadas no passado, pois a história, tal como a vida, é o fim em si mesmo.

A preocupação de Dilthey com a história da metafísica e da sua destruição, justifica- se por duas razões: primeiro, porque a metafísica desempenhou ao longo da história da filosofia a função de fundamentação, e segundo, porque a Modernidade, que culmina no nascimento da consciência histórica, implica o fim da metafísica. A destruição da metafísica começou já no século XVII com o aparecimento das ciências da natureza e a necessidade de elevar a natureza humana a princípio de compreensão geral da sociedade e da história. No século XVIII, este princípio da natureza humana foi substituído pela perspectiva histórico-universal, isto é, pela concepção da História Universal, cujo núcleo radicava na ideia de ‘evolução’.

Efectivamente, a descoberta da historicidade do ser humano, implica o fim da metafísica e do seu ideal de uma estruturação lógica do universo, fundada na ideia de Deus. Segundo Dilthey, este ideal da metafísica elevou-se a princípio da razão suficiente com Leibniz e realizou-se plenamente no sistema filosófico de Hegel. Mas Dilthey condena o logicismo hegeliano, erguendo - acima e contra ele - a liberdade e a historicidade da vida. O que permanece da velha metafísica é o carácter ‘meta-físico’ da nossa vida como experiência pessoal. Juntamente com a historicidade do ser humano, emerge a consciência da finitude e da relatividade de todas as manifestações históricas – é que tudo flui e nada permanece fixo.

A recusa de Dilthey ao positivismo e às concepções naturalistas da história é evidente. Segundo ele, o objecto histórico, distintamente da natureza, só pode ser compreendido por um sujeito historicamente condicionado. A relação de sujeito e objecto é empática, necessária e fundamental ao conhecimento. O historiador possui o mesmo atributo do seu objecto: é uma experiência vivida; por isso pode compreendê-lo empaticamente. O acto da compreensão é, por si-mesmo uma experiência de vida. Aliás, seria a acção mais sublime do agir humano. Assim, mais do que uma operação metodológica, a compreensão garante a especificidade do conhecimento histórico.

Do mesmo modo, os autores metafísicos tentaram formular uma solução plausível do problema relativo à objectividade do conhecimento histórico. A primeira hipótese metafísica é que, a história teria uma essência, e a função do historiador seria a de desvelar o sentido de um desenvolvimento histórico. A realidade seria a consequência da actuação de um Espírito que lhe imprimiria uma essência e a complexidade do real, a sua diversidade, heterogeneidade e desconexão, obteriam inteligibilidade a partir dessa essência. A metafísica, como filosofia primeira, abarcaria a natureza do ser e para a metafísica. O vivido é sempre carente de um sentido, por isso necessita de complementos e estes só

poderiam ser dados além da vida. Contra essa teoria Dilthey afirma que é indispensável não se perguntar sobre as coisas do além-vida. Para ele, seria impossível um conhecimento que tivesse por finalidade o alcance das essências. Da própria realidade, poderíamos apreender somente as suas manifestações históricas.

Retomando Vico, Dilthey afirma que o sujeito só pode compreender aquilo que criou: a experiência histórica. A História seria um conhecimento possível não porque revela um sentido exterior da vida, mas, pelo contrário, porque compreende historicamente o sentido interno do qual é portadora, a partir de uma ‘consciência histórica’, pois ‘o

pensamento não pode ir além da vida’. Dilthey critica a psicologia explicativa tendo em conta que

os fenómenos psíquicos não podem ser explicados segundo o princípio da ‘causa aequat

effectum, tal como menciona na sua Psicologia da Compreensão’:

“As ciências do espírito necessitam de uma psicologia que, antes do mais, seja firme e segura, coisa de que não se pode ufanar nenhuma das psicologias explicativas hoje existentes, e que ao mesmo tempo submeta toda a poderosa realidade da vida psíquica à descrição e, na medida do possível, à análise. Pois a análise da realidade social e histórica, tão complexa, só poderá ser levada a cabo se esta realidade for, primeiro, desmembrada nos diversos sistemas de fins que a integram (...) Mas a trama de tal sistema é apenas a conexão psíquica própria dos homens que nele cooperam. È portanto (...) uma conexão psicológica.” 13

A conclusão de Dilthey leva esse argumento às últimas consequências: o que a vida significa, só a sua história se pode dizer. Por isso, só um conhecimento que tenha consciência de sua própria relatividade histórica, poderia compreender a realidade de forma segura. Assumir a relatividade e a historicidade de toda a manifestação histórica, ainda não garante uma resposta eficaz ao problema do fundamento - a questão ainda está aberto, pois, como vimos até aqui, Dilthey preocupou-se somente em mostrar quais os pontos fracos do positivismo e do pensamento metafísico, recusando-lhes o seu objectivo final. No entanto, visava a elaboração de uma ‘Crítica da Razão Histórica’, isto é, um fundamento seguro e objectivo que desse conta da especificidade e da autonomia do conhecimento.

É esse exactamente o significado da ‘psicologia descritiva’ (conhecimento psicológico) relativamente ao da ‘psicologia explicativa’ (conhecimento da natureza):

”Visto que no âmbito dos fenómenos externos apenas ocorre a recíproca justaposição e sucessão, não poderia surgir a ideia de conexão (...) Esta tem lugar na conexão estrutural da vida anímica (...) mediante as nossas percepções internas e as suas ligações.” 14

Quando jovem, Dlthey estava convencido de que seria a psicologia este fundamento seguro, como atrás ficou claro, dizendo que o ponto de partida da teoria do conhecimento residia numa psicologia verdadeiramente descritiva, que inclua também o conteúdo dos factos psíquicos. Esta psicologia fundamentaria, quer a estética, a ética, quer a teoria da ciência. A psicologia seria um fundamento inquestionável destas ciências, pois lidaria directamente com a origem das acções dos indivíduos na vida anímica. No entanto, ela não era um fundamento suficiente, pois encontrava limites para compreender o mundo exterior ao indivíduo. Analisaria a captação interna da realidade pelo sujeito, mas só se limitava a isso. A ideia é a de que para se conhecer, tem-se que partir de dentro, da vivência.

Se o mundo acaba por se submeter ao sujeito do conhecimento, perde quaisquer possibilidades de objectivação. Em busca dessa objectividade, Dilthey aproxima-se, pois, do terreno da história que amplia o universo do sujeito, relacionando-o com o mundo. Todos os indivíduos são partes constituintes de uma realidade histórica dada, e só podem ser compreendidos dentro desse contexto, ou horizonte. Dilthey elabora o conceito de totalidade da vida, que se manifesta nas vivências.

A unidade da vida, que ocupa o lugar da razão universal de Hegel, é algo que se manifesta e se torna imediatamente presente nas vivências do sujeito que as experiencia. O conceito de vivência (Erlebnis), relaciona-se com os conceitos de significado ou sentido, e de significação ou relevância. Cada vivência particular significa algo como parte de um todo, através da sua conexão com a totalidade da vida, mas o seu valor para este todo vital muda constantemente ao longo do tempo, modificando-se o seu significado na nossa recordação.

Esta ideia foi fundamental na perpectivação do filosofar raciovitalista orteguiano, já que permitiu melhor o sublinhar da componente historicista e subjectiva do pensar. Este constituiria um vínculo indissociável com o querer, o sentir, enquanto factos históricos que se transformam dinamicamente, tal como Ortega menciona em Goehte, Dilthey:

“El pensamiento renuncia a definir, por lo menos directamente, nada que pretenda ser absoluto y se resuelve a investigar la única realidad que incuestionablemente encuentra ante sí: esos hechos subjetivos del pensar, querer, sentir, acontecidos en algún lugar y en algún tiempo, es decir, los hechos históricos.” 15

Assim, o significado que cada vivência adquire no decurso da nossa vida, nunca está totalmente definido. O sentido total da vida só pode ser apreendido no seu último momento. Dilthey tenta, contudo, apreender o todo da vida, no decurso da própria vida. Embora o todo só exista para nós na medida em que resulta compreensível a partir das suas partes, o significado destas partes depende precisamente da compreensão prévia do todo.

Para Dilthey, o sentido da vida e o sentido da história, só podem ser realmente compreendidos quando ambas terminam. Por conseguinte, a determinação do significado do passado, é influenciada pelos objectivos que nos propomos alcançar no futuro, as quais estão relacionadas com o próprio todo vital, ainda não-cumprido na ideia spengleriana de que a história universal é a nossa imagem do mundo, e não a imagem da humanidade. Ora, uma vez que o fluir da vida modifica sem cessar o significado das suas partes, as vivências das pessoas e o todo que é objecto da memória histórica, estão sujeitos a constantes reinterpretações.

A história não pode, por isso, ser uma forma acabada, nem muito menos ser reduzida ao seu fenómeno europeu. Na verdade, o que permite a investigação histórica é a consciência desta efemeridade de todo o objecto. O problema surge no facto de que a história, como era concebida e praticada no século XIX, submetia sempre o sujeito à uma posição ‘coadjuvante’ da realidade humana. A Estrutura Histórica, a Nação, o Estado e a Sociedade eram generalizações limitadoras da iniciativa do sujeito, tal como foram a tradicional e simplista divisão entre Idade Antiga, Idade Média e Idade Moderna. Era preciso pensar a história de uma outra forma.

A questão inicial ganha outros elementos e amplifica-se; assim, perguntamo-nos, como conciliar a relatividade do agir humano com a necessidade de um conhecimento universalmente válido? Qual o desdobramento possível da relação dessas duas vertentes com a mudança de perspectiva do conhecimento histórico observada nos últimos tempos?

Julgo que Dilthey procura integrar essas duas dimensões: o geral e o particular. Na sua obra vê-se a influência de duas correntes de pensamento distintas que possibilitam essa

relação: o Romantismo e o Iluminismo. O Romantismo propõe a necessidade de um olhar particularizante e singularizante da história. A vida singular, particular, irrepetível e, por vezes, trágica, é o seu objecto. Já o Iluminismo preocupa-se com o fundamento do conhecimento. É generalizante e universalizante. A necessidade de um carácter científico para a história em Dilthey, teria nessa influência a sua origem, não sendo de surpreender as relações de ‘conexão psicológicas’ a que ele muito se refere. Para Dilthey, o fenómeno da compreensão começa por manifestar-se, por exemplo, nos interesses da vida prática e imediata.

Vivendo num universo social, as pessoas são postas em contacto umas com as outras a fim de se fazerem compreender e relacionar, aspecto interessante de assinalar pois conjuga-se bem com a importância orteguiana do fenómeno da convivência geracional. Para isso, cada uma tem que saber o que o outro quer e deseja. Deste modo, nasceram, logo aí, as formas elementares da compreensão, as quais são como letras cuja junção possibilita a constituição de formas mais complexas.

Dilthey visa a inserção da vida individual em contextos vitais mais vastos, porque a totalidade da vida e o significado das experiências particulares do indivíduo, são, para si, inseparáveis da vida colectiva. A vida resulta dessa relação entre a manifestação da vida e aquilo que nela se exprime, ou seja, duma conexão entre a expressão e a coisa expressa. Abolindo quaisquer fórmulas lógicas e abstractas, ou dedução de princípios, a compreensão que tem por objecto e valor absoluto sempre algo de universal, representa-se esquemática, ou, simbolicamente, por analogia. A indução é a pedra de toque da dita representação, pois induz uma estrutura-configuração como sistema ordenador que reune os casos particulares como partes de um todo.

Compreender a manifestação da história, é, assim, saber integrar os elementos do dado numa totalidade da qual se extrai o seu sentido. A escatologia cristã aponta a ressurreição de Cristo como o acontecimento através do qual, o fim da história se tornaria presente no decurso da própria história, mas Dilthey recusa associar a totalidade da vida com a ideia de Deus, enquanto fundamento da sua unidade, alegando que esta união é operada por uma concepção do mundo derivada das religiões monoteístas e já superada pela concepção histórico-filosófica do mundo. Na verdade, a metafísica introduziu na filosofia a ideia de Deus como fundamento ou razão do mundo, mas a descoberta da historicidade de todos os fenómenos vitais implicou, como vimos, o fim da metafísica e da sua respectiva matriz religiosa.

Nos tempos modernos, o mundo tornou-se de tal modo auto-suficiente, que já não é preciso recorrer a Deus para o explicar. O mundo de Dilthey é, pois, um universo sem Deus. Ao pensar radicalmente a historicidade da metafísica dentro do marco da própria historicidade dos fenómenos vitais, Dilthey articulou a consciência do carácter aberto e ‘livre’ da história - a história como processo inacabado - com a finitude de todos os fenómenos vitais dada na sua historicidade radical, de modo a libertar a consciência histórica do seu sequestro metafísico. Tal como mais tarde vai afirmar Ortega y Gasset em Goethe, Dlthey,

”La historia es perfecta continuidad. Toda idea mia viene de outra idea mia o de la idea de algún

otro hombre. No hay generación espontánea.” 16

A teoria da historicidade de Dilthey remete-nos à visão hegeliana da Vida. A concepção hegeliana do sentido da vida humana como historicidade, implica já a noção de mobilidade vital, como um modo privilegiado do devir do ser. Dilthey retoma de Hegel a noção de história enquanto modo de ser, a partir da qual procura pensar o sentido do ser histórico.

O método privilegiado de interpretação histórica é, sem dúvida, o método comparativo ou analógico, o qual se expressa sempre em contraposições e em função de um fundamento comum (o destino, ou necessidade). O mundo histórico é, desta maneira, uma totalidade interactiva que se apresenta numa diversidade dinâmica de factos históricos, ideais morais, mentalidades, costumes, raças, climas, etc e que se move histórico- evolutivamente através das suas entidades ou motores que são as Culturas, como irá também afirmar Spengler.

Para Dilthey, o modelo interpretativo da história radica nas culturas, em última análise, as quais transmitem a vitalidade á história, conforme pretende simbolizar o esquema a seguir representado.

Modelo PASSADO Factos Históricos FUTURO Sentido destino

Quer Dilthey, quer Ortega, quer até Spengler, acabam por se perfilar numa mesma tradição humanista de cariz vitalista e contribuem, cada um à sua maneira, e à luz de uma visão projectiva para uma melhor e mais nítida compreensão do movimento histórico contemporâneo, nomeadamente no que toca a uma visão de teor pessimista. Contudo, neste particular, também seria aqui oportuno recordar o papel de algumas figuras menores como os já citados Eduard Von Hartmann ou Ludwig Klages. Ambos se inserem na mesma linha (intuitiva e irracionalista) de Dilthey.

Em 1868, Eduard Von Hartmann publica A Filosofia do inconsciente, a primeira e mais importante das suas obras. Partindo do exame dos resultados das ciências naturais com vista a uma indução generalizadora, encontra a explicação dos fenómenos da natureza, e especialmente dos fenómenos orgânicos, na tese de um inconsciente criador do mundo, elemento absolutamente activo e cego. Análogo à Ideia absoluta de Hegel e à Vontade absoluta de Schopenhauer, seria no entanto anterior e mais abrangente que a Ideia e a Vontade, as quais constituiriam justamente os seus atributos.

O Inconsciente é o incondicionado, o que não pode explicar-se por meio de nenhuma outra relação, é o puro absoluto. Influenciador de Ortega y Gasset, funda também a moral e a estética nas manifestações de um inconsciente psíquico, origem das pulsões de morte (repulsa) e de amor (simpatia), e nas quais o homem seria actor ou