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O CONTROLE E AS IDEIAS DE SEGURANÇA – A LEGISLAÇÃO NA ÁREA DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

As intenções de controle social sobre a população empobrecida formulada pela elite brasileira podem vir a ser revelada pela leitura histórica tanto das leis quanto das instituições de atendimento que tem como função cumprir os princípios legais e as representações sociais das ações de controle social. Sendo assim, podemos assegurar que as leis refletem as diversas maneiras com que uma sociedade se organiza para obter resultados desejados sobre o comportamento e valores de uma população (SANDRINI, 2009). Vejamos o percurso das leis e as principais instituições que marcaram as propostas de controle social para crianças e adolescentes brasileiras.

As primeiras intervenções do Estado para com as crianças e adolescentes no território brasileiro têm seu registro no período colonial, em 1693, quando o Rei de Portugal através de uma Carta Régia responsabilizava o governador do Rio de Janeiro pelo cuidado das crianças

abandonada 61 ou em desamparo, colocando-as à disposição da Câmara ou do

Conselho.Depois de um longo lapso de tempo o tema apresenta-se novamente para a agenda do Estado brasileiro durante a constituinte de 1823, quando se discutiu a gravidez da mulher

na condição de escrava e o direito62 de proteção do seu filho até completar um ano de vida –

como esperado, a proposta não tomou corpo no texto Constitucional de 1824, (SANDRINI, 2009, pag. 26).

Seis anos mais tarde o tema criança reaparece novamente para o Estado Imperial, porém pelo viés da punição contido no Código Penal de 1830. Apesar do contexto, os artigos referentes às crianças e adolescentes nesse Código eram mais razoáveis, pois demarcavam a intencionalidade do Império em indicar um distanciamento dos ditames das Ordenações do Reino de Portugal. No lugar das medidas punitivas e bárbaras contidas nas Ordenações o Código propunha limite da responsabilidade penal a partir dos quatorze anos e estabelecia para os infratores menores de idade as seguintes condições: 1) presunção e irresponsabilidade para menores de catorze anos, com exceção dos que comprovadamente tivessem agido com

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O termo abandonado passa a ser usado a partir dos anos de 1960 em substituição aos termos enjeitados, expostos ou desvalidos que era amplamente usado para designar crianças deixadas nas portas de igrejas, conventos ou residências.

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Propunha-se que, após o terceiro mês de gravidez, a mãe escrava só poderia trabalhar em serviços domésticos; que teria um mês de convalescença e até um ano após o nascimento do filho deveria trabalhar perto da criança.

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discernimento63; 2) os menores que tivessem agido com discernimento seriam recolhidos em

casas de correção por tempo a ser determinado pelo juiz, não podendo exceder aos dezessete anos; 3) obediência à pena de cumplicidade para maiores de catorze anos e menores de dezessete anos; e 4) jovens entre dezessete e vinte e um anos teriam penas atenuadas pela menoridade. Preconizava, ainda, que os menores de idade não deveriam ser submetidos a penas criminais, mas recolhidos a Casas de Correção. (CAMPOS, 1979). A tônica dada ao controle dos jovens infratores por esse Código coadunava-se com o receio da elite em um levante escravo nas cidades e com modernos métodos que se discutiam em termos de legislação criminal na Europa.

Apesar do Código de 1830, chamar o Estado para uma intervenção sobre a questão dos jovens infratores o período é marcado pela inter-relação da Igreja Católica com o Estado para

o cuidado dessa população64. Irene Rizzini expõe que:

―Aqui percebe-se o penetrar das instituições asilares religiosas na legislação, através das alianças que se estabeleciam entre as obras de caridade e o governo. A responsabilidade de zelar pelos expostos era nitidamente da Igreja, que, para tanto, contava com subsídios provenientes dos cofres públicos. A legislação reflete a nítida associação existente entre as ações do governo e da Igreja na esfera política, e mesmo no âmbito mais estritamente jurídico‖. (1995, pag. 105).

Chama atenção nesse Código, além da questão do discernimento o encaminhamento dos jovens para Casas de correção, a posição que a educação assumiu de mecanismo de controle social. Essa tendência em ter a educação como mediadora de relações surge nas transformações impostas pelo modelo de produção burguês que passa a vigorar na modernidade.

A modernidade ao impor grandes transformações no modo de produzir os bens materiais necessários à vida da sociedade influenciou a formação humana principalmente no que diz respeito à instrução. Sendo assim, cada vez mais a instrução passou a ser necessária

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―É importante registrar que o discernimento, ou seja, a capacidade de compreender a natureza ilícita do fato e determinar-se de acordo com este entendimento foi acolhido como critério por diplomas legais de inúmeros países do mundo e pretendeu substituir o cronológico, sob o argumento de que a evolução da personalidade não é uniforme e que a mera avaliação pela idade não é científica nem justa‖. (LEAL, 2011, pag. 2).

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Um exemplo que revela a longa tradição dessa associação pode ser visto em Silva (2012) que em recente estudo analisando a realidade das instituições de acolhimento institucional no município de São Gonçalo constatou que das seis instituições existentes, duas são públicas e quatro privadas – destas todas são vinculadas a instituições religiosas. A ―novidade‖ – digna de estudos futuros – é que todas são evangélicas. A única vinculada a igreja católica fechou recentemente.

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para que a população pudesse se engajar e acompanhar as transformações impostas pela ciência e a tecnologia aos métodos de produção (SANDRINI, 2009, pag. 28).

Quanto mais cedo o processo de instrução pudesse influir na formação técnico- profissional da população, nos diz Sandrini (2009), mais qualificada essa estaria para acompanhar as transformações impostas ao setor produtivo. Nessa perspectiva é oferecido as crianças e jovens duas modalidades de instruções: a Escola Infantil que buscava alcançar uma tranquilidade pública e a formação do caráter juvenil, investindo nos primeiros anos de vida, visto serem estes considerados decisivos no desenvolvimento mental do homem; e outra, as Escolas Elementares que visavam à preparação para o trabalho produtivo e progresso econômico.

Apesar de essa instrução ser voltada para o trabalho devemos considerar que a educação, visando um envolvimento maior da população, surgiu com a ascensão da burguesia, no século XVIII, na Europa, e se caracteriza por ser universal, gratuita, estável, laica e de renovação cultural. O que a coloca como fator de influência nas alterações de poder econômico, político e na caracterização de novas classes sociais.

No Brasil Imperial encontramos, leis que tornavam obrigatória a educação para os meninos maiores de sete anos e dispositivo que assegurava uma educação igualitária que propunha garantir o ingresso de crianças pobres em escolas particulares como meio de evitar a segregação em virtude de sua posição social. Irene Rizzini observa que essa tendência inverteu:

―Se ali estão sendo fincadas as primeiras medidas para a organização do sistema de ensino público, visando o acesso amplo da população, tal não será a matriz que orientará as políticas sociais que prevaleceram na República. Ao longo das próximas décadas, pode-se acompanhar o delineamento das ideias básicas que orientarão políticas discriminatórias para as crianças de acordo com sua origem social‖. (1995, pag. 106).

No Brasil República as orientações das políticas sociais de educação se afastaram de uma possibilidade de emancipar as classes populares para uma perspectiva meramente de controle social da pobreza. Neder esclarece que:

―com a hegemonia do paradigma cientifico biologista na virada do século XIX para o XX, e com medo do descontrole social diante da Abolição da Escravidão, era mais fácil defender o serviço militar obrigatório do que a instrução básica obrigatória. Destarte, o serviço militar é tido e havido como uma ―escola de vida‖, onde os filhos das classes subalternas passam por ressocialização. Dito de outro modo é a ―escola‖ possível para a massa de ex-escravos, ―biologicamente inferiores‖. O Brasil instituiu, assim, o serviço militar obrigatório antes de estabelecer a obrigatoriedade da educação

74 básica. Houve, evidentemente, uma sutil e eficaz preocupação com a forma de controle social a ser exercida uma vez abolida a escravidão‖. (1994, pag. 23-24)

As opções em manter o controle social da população frente às possíveis ações de emancipação da população vão se construindo ao longo da implantação da República. Vejamos algumas implicações que culminaram na opção de atendimento das crianças e jovens via instituições filantrópicas.

No final do século XIX, o Brasil foi marcado por grandes transformações de ordem econômica, social e política. Visto a maneira repentina dessa transformação e o procedimento indiferente da elite em não antecipar ações de subsídios para os ex-escravos que se viram vagando sem alternativas de se colocarem no novo processo de produção, uma leva expressiva de homens, mulheres, jovens e crianças passou a procurar os centros urbanos, como espaço alternativo de sobrevivência. Disso decorrem inúmeros problemas entre os quais o aumento de crianças órfãs e abandonadas, circulando pelas ruas dos centros urbanos. Perante o inesperado e pressionado por soluções investiu-se no controle dessa população estimulando-se o surgimento de instituições de cunho filantrópicas. Josiane Veronese (1999) destaca que em sua maioria as instituições eram de cunho civil ou religioso,

―É inegável o fato que a primeira encarregada da assistência aos menores foi a Igreja Católica, através das ordens religiosas. De início o atendimento era dado aos órfãos e abandonados, estendendo-se posteriormente para os considerados ‗pervertidos‘. Esse tipo de atendimento tinha característica predominantemente caritativa, isto é, bastava dar-lhes casa e comida. O ensino limitava-se ao aprendizado das atividades domésticas e educação familiar, esta fundamentada no binômio: autoridade - obediência, que geralmente preparava as crianças para os empregos domésticos.‖ (1999, pag. 18).

Essas características descritas por Veronese acompanharão a história das instituições de atendimento a essa população por longo período do século XX.

Com a promulgação do Código Penal de 1890, a questão do discernimento e encaminhamento as instituições correcionais são novamente reapresentados ao cenário de crianças e adolescentes. No todo, esse Código regulava os seguintes aspectos relativos às crianças e adolescentes: São inimputáveis menores de nove anos; Determina o recolhimento em estabelecimento disciplinar industrial, pelo tempo que o juiz julgar adequado, para os maiores de nove anos e menores de catorze anos que tenham agido com discernimento; Maiores de catorze e menores de dezessete anos são punidos por cumplicidade; Atenuante por

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menoridade para infratores entre dezessete e vinte e um anos. Decreto nº 847 de 11 de outubro de 1890. O Código de 1890, ao implementar um controle social sobre a população indesejada pela elite o fez de modo repressivo, delegando a polícia a função de conter a criminalidade, impedir diversas formas de desordem, incluindo a vadiagem e os jogos de azar, (FERREIRA, 1998).

Para além do controle social oficializado pelo Código Penal de 1890 para jovens considerados infratores, até a primeira década do século XX são lançados decretos que irão regular os serviços de atendimento institucional a crianças e adolescentes; a idade mínima para o trabalho de crianças e adolescentes e decretos que autorizará a criação e a reorganização de colônias correcionais. Sandrini (2009) nos relata que em 1908, através do Decreto nº 6.994,houve a autorização para a reorganização da ―Colônia Correcional de Dois Rios‖, o estabelecimento de critérios para internação de crianças e adolescentes e definição de categorias de profissionais que nela iriam trabalhar, contando, dentre outros, com médico, enfermeiro, professor, farmacêutico e agrônomo. Nesse mesmo decreto estabeleceu a criação dos serviços de estatística policial e judiciária e de identificação antropométrica. A inclusão de profissionais de formação cientifica para operar as ações de controle social de crianças e adolescente pobre, iniciada com esse decreto, passou a fazer parte do rol de procedimentos que permanecerá durante todo o século XX,influindo na trajetória de vida dos que se ―desviam‖ da lógica do trabalho.

Como pode ser notado após o Código Penal de 1890, o Estado passa a termais poder de intervenção e assumir a responsabilidade pela assistência aos adolescentes. Rizzini enfatiza que:

―‗O problema da criança‘ começa a adquirir uma dimensão política, consubstanciada no que muitos denominavam de ‗ideal republicano‘ na época. Não se tratava mais de ressaltar a importância, mas sim a urgência de intervir, educando ou corrigindo ‗os menores‘ para que se transformassem em cidadãos úteis e produtivos para o país, assegurando a organização moral da sociedade‖. (1995, p.112).

As modificações que ocorreram no Brasil acerca do controle social de crianças e adolescentes de certa maneira eram resultados de inter-relacionamentos com eventos que

ocorriam no cenário internacional. Um destes eventos diz respeito aos Tribunais de Menores65

que surgiu pela primeira vez em Ilinois, EUA, em 1899. Esses tribunais em muito ultrapassavam o simples objetivo de obter o máximo de eficácia na luta contra a criminalidade

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Período de criação de alguns tribunais de menores, em 1905 na Inglaterra, em 1908 na Alemanha, em 1911 em Portugal e na Hungria, em 1912 na França, em 1922 no Japão e em 1924 na Espanha. Na América Latina, em 1921 na Argentina, em 1923 no Brasil, em 1927 no México e em 1928 no Chile.

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juvenil, suas pretensões podem ser percebidas na palestra proferida pelo deputado e membro da Academia Francesa, Paul Deschanel, na abertura do "Primeiro Congresso Internacional de Tribunais de Menores" realizado em Paris:

"Sinto-me muito feliz por poder transmitir uma fé profunda no futuro dos tribunais para crianças. Tenho certeza de que em alguns anos todos os países civilizados os terão organizado completamente. Estes tribunais se transformarão, em todas as partes, em centro de ação para a luta contra a criminalidade juvenil. Não somente nos ajudarão a recuperar a infância decaída, como também a protegê-la contra o perigo moral. Estes tribunais poderão se transformar, também, em auxiliares da aplicação das leis escolares e das leis do trabalho. Em seu redor, agrupar-se-ão as admiráveis obras da iniciativa privada, sem as quais a ação dos poderes públicos não poderia ser eficaz. Ao mesmo tempo em que manterão a repressão indispensável, proporcionarão uma justiça iluminada, apropriada aos que devem ser julgados. Serão também a melhor proteção da infância abandonada e culpável e a segurança mais eficaz da sociedade". (ATAS, 1911, pag. 49 apud MENDEZ, 2011)

Além desses eventos merecem destaques a Declaração de Gênova sobre Direitos das Crianças, adotado pela Liga das Nações, em 1924, que destoando dos eventos anteriores quanto à finalidade tornou-se o primeiro instrumento internacional a reconhecer a ideia de um Direito da Criança, (MORAES, 2009, pag. 64).

No Brasil sobre as orientações das concepções do positivismo foram realizadas, em 1922, concomitantemente, os eventos: I Congresso Brasileiro de Proteção à Infância e o III Congresso Pan-Americano da Criança esse realizado no Rio de Janeiro, com a participação de convidados de outros países. Ambos preocupados com a ordem social e com a imposição do trabalho como método de controle social estes eventos nacionais mantinham em seus pontos de pauta discussões a respeito da repressão a ociosidade e ao crescente número de crianças pobres, perambulando nas ruas, (ZALUAR, 1996) e (SANDRINI, 2009).

Havia uma clara preocupação nas discussões desses Congressos e no seio da elite, muito por conta das concepções da Escola Positivista e dos métodos da Antropologia Criminal, em criar mecanismos sociais e legais que levassem a população infanto-juvenil abandonada ao trabalho como forma de impedir que sua inadequação aos padrões de submissão ao modo de ser burguês influenciassem a sociedade de maneira geral - defesa da sociedade. A lógica pautava-se em garantir uma transformação social com a intervenção do Estado, visando um controle social que começasse pelas crianças e atingisse as famílias empobrecidas.

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Havia similaridades e distinções quanto aos critérios que influenciavam as propostas de controle social no Brasil e na Europa. Nas duas regiões o alvo preferencial de controle social era as crianças e adolescentes que perambulavam pelas ruas dos centros urbanos, porém somente no Brasil a questão racial iria influenciar o modelo de recorte de controle social (SANTOS, 2007, pag. 4). Outra distinção se dá pelo fato do Brasil se apoiar na concepção da Escola Positivista para imprimir um ritmo de controle social disciplinar na sociedade que terá efeitos duradouros e se conservará como práticas sociais nos dispositivos normativos de sua sociedade.Os métodos da Escola Positivista atravessarão a sociedade brasileira ao longo de toda República.Vejamos alguns exemplos.

Com as preocupações voltadas para uma possível desordem social, diante do aumento da criminalidade juvenil e com acirradas críticas ao Código Penal de 1890 deputados e juristas influenciados pelos métodos da Antropologia Criminal de Lombroso tentarão fazer valer junto ao Congresso legislações especificas para tratar da questão de crianças e adolescentes, ditas, infratores, algumas dessas legislações foram discutidas e não aprovadas e outras nem sequer foram apreciadas, demonstrando haver no Congresso embate de cunho ideológico entre tendências positivistas e liberais. Carvalho (1980, pag. 9), pontua que ―os primeiros anteprojetos fracassaram e foram elaborados por Lopes Trovão, em 1902, Alcino Guanabara, em 1906 e 1917, João Chaves, em 1912, Alfredo Pinto e Francisco Vaz.‖.

Apesar dos embates polarizados entre grupos de tendência da Escola Clássica e Escola Positiva, esses, como já sinalizados, foram consolidando seus métodos de trabalho através de algumas legislações como a lei que fixou a Despesa Geral dos Estados Unidos do Brasil para o exercício de 1921 que trouxe normativas que destacavam a organização do serviço de assistência e proteção à infância abandonada e delinquente, a fixação da idade de inimputabilidade penal em catorze anos e a eliminação do critério de discernimento para o estabelecimento da punição do infrator às leis (SANDRINI, 2009, pag.35). Com respeito ao discernimento Luis Antonio Coelho Ferla destaca que:

―o determinismo da Escola Positiva fundamentava-se da negação ao livre arbítrio. Há, consequentemente, todo um debate acerca da responsabilidade penal do criminoso. De um lado, os positivistas consideravam tal noção destituída de sentido, já que o criminoso obrava por consequência de predisposição de ordem biológica combinadas com imposições do meio. De outro, os representantes da Escola Clássica persistiam na defesa da ideia da livre escolha e consequentemente responsabilidade do criminoso, que por tal deveria ser devidamente castigado. No entanto, quando se tratava de um delinquente menor de idade, o conceito de livre arbítrio e discernimento se tornava mais vulnerável, fazendo com que a audiência das teses positivistas

78 ganhassem nesse campo mais aceitação. De uma certa forma, o discurso em torno da menoridade se tornou uma espécie de núcleo duro do discurso dos positivistas, onde estes pareciam menos propensos a acordos e concessões. Além disso, a política que defendiam para tratar a menoridade servia como laboratório e como paradigma para toda a questão da criminalidade e da defesa social‖. (2005, pag.247).

De acordo com a tendência internacional, com o desejo da elite nacional em alinhar-se ao padrão civilizatório da Europa e EUA e com influência dos legisladores positivistas, em 1924, é implantada, no Rio de Janeiro, a primeira instancia regulatória da infância: o Juizado de Menores do Brasil, criado através do decreto nº 16.727 de 20/12/23, sendo seu primeiro Juiz Mello Matos. Neste mesmo período foi criado o abrigo para meninos e meninas que se subdividia em setores para abandonados e delinquentes. Com o Juizado de Menores a concepção de caráter sócio-jurídico passa a fazer parte das ações de atenção a infância e adolescência (SANDRINI, 2009, pag. 35).

A implantação do Juizado de Menores surgiu no bojo destas leis, ―procurando-se cobrir, com todo o detalhamento possível, a organização da assistência e proteção à infância abandonada e delinquente‖, (RIZZINI, 1995, pag.128). Havia urgência na cobertura desse processo, pois a incipiente industrialização que já se fazia presente no país produzia suas consequências sociais. Em termos de crescimento populacional, do final do século XIX para o início do XX, o número de brasileiros triplicou, passando de 10 para 30 milhões, sendo que 51% correspondiam aos jovens com menos de 19 anos (CONANDA, 2011).

De acordo com Santos(2006) no limiar do século XX, o crescimento populacional

vertiginoso da cidade de São Paulo66 foi acompanhado de um incremento da criminalidade e,

por conseguinte, de um aumento e especialização dos mecanismos de repressão e controle, inclusive com uso de estatísticas mais precisas. Santos reforça que com esse quadro, a associação entre criminalidade e pobreza tornou-se ―automática‖, e a institucionalização de menores por práticas como desordens (40%), vadiagem (20%) e embriaguez (17%) representava a maior parte dos casos. (2006, pag. 214).

Com relação ao Rio de Janeiro67 onde o contingente populacional era bem maior do