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Os instrumentos endodônticos acionados a motor e confeccionados em NiTi têm ganhado popularidade nos últimos anos, baseada na sua superior capacidade de preparo dos canais radiculares em relação aos instrumentos manuais. Devido ao alto custo, estes instrumentos usualmente são reutilizados, o que torna essencial seguir criteriosamente os procedimentos de controle de infecção (O’Hoy et al., 2003)

A infecção cruzada é uma grande preocupação na Odontologia, porque trata da transmissão de doenças via cavidade bucal. O tratamento endodôntico envolve contato direto com sangue, tecido pulpar infectado e fluidos tissulares.

Uma técnica asséptica é especialmente importante na Endodontia, uma vez que os microrganismos são a principal causa das alterações endodônticas.

Desta forma, a esterilização das limas é importante por duas razões: a eliminação da contaminação cruzada entre os pacientes e o aumento da taxa de sucesso dos tratamentos endodônticos (Hurtt & Rossman, 1996).

Os instrumentos odontológicos devem ser resistentes aos efeitos físicos e químicos aos quais estão sujeitos durante os processos de desinfecção, esterilização e contato com medicamentos e soluções irrigadoras (Mitchell et al., 1983).

Canalda-Shali et al. (1998) relatam que o sucesso do tratamento endodôntico se relaciona à limpeza e formatação adequadas e à completa obturação do SCR, associado à necessidade de controle da assepsia e prevenção da infecção cruzada. As limas usualmente são re-utilizadas na preparação de canais radiculares, o que envolve repetidas exposições à esterilização entre os usos. As propriedades mecânicas dos instrumentos, tais como a flexibilidade, resistência à fratura por torção e eficiência de corte, não deveriam ser significantemente alteradas, ou preferencialmente melhoradas pelos procedimentos de esterilização. Deste modo, as limas previamente usadas seriam seguras e efetivas na limpeza e formatação de canais.

Martins et al. (2002) demonstraram, através de análise por microscopia eletrônica de varredura (MEV) e espectroscopia de energia de raios-X (EDS), a presença de imperfeições e material aderido (principalmente cálcio e enxofre) na superfície de instrumentos novos Profile 20/.04, 25/.04 e 20/.06. Os processos convencionais utilizados para limpeza, incluindo lavagem com escova, banho ultra-sônico e esterilização não foram suficientes para remover

as substâncias aderidas nas limas. Observou-se também a adesão de raspas de dentina a estes depósitos após a instrumentação de canais radiculares. Dessa forma, os autores mostraram a necessidade de uma revisão dos métodos de limpeza dos instrumentos convencionalmente utilizados, uma vez que os depósitos de dentina aderidos à superfície das limas podem impedir a esterilização adequada das mesmas e aumentar o risco de infecção cruzada entre os pacientes.

Para remover completamente a matéria orgânica e os debris acumulados, devem-se realizar procedimentos efetivos de limpeza previamente aos processos de esterilização. Linsuwanont et al. (2004 a, b) encontraram que, em condições laboratoriais, a seqüência de procedimentos de limpeza utilizada, incluindo armazenamento dos instrumentos em meio úmido enquanto aguardam a limpeza, escovação, imersão em hipoclorito de sódio (NaOCl) 1% e limpeza em cuba ultrasônica, removeu totalmente os debris orgânicos. Entretanto, durante a prática clínica, este protocolo reduziu substancialmente a contaminação biológica, mas a limpeza completa foi alcançada em apenas 87% dos casos.

Embora seja eficiente na remoção de matéria orgânica, apresente propriedades viruscida e bactericida, o NaOCl é altamente corrosivo aos metais, podendo causar a deterioração dos instrumentos endodônticos e potencialmente enfraquecer a estrutura dos mesmos (O’Hoy et al., 2003). Haikel et al. (1998) não verificaram nenhum efeito significativo nas propriedades mecânicas de instrumentos de NiTi imersos em solução aquosa de NaOCl 2,5% por 12 ou 48

horas. O’Hoy et al. (2003) também não identificaram evidências de corrosão nem redução da resistência, tanto flexural quanto torsional, em instrumentos rotatórios de Niti de diferentes marcas comerciais após 10 ciclos de limpeza utilizando imersão em soluções de NaOCL a 1% (tempo total de imersão de 2,5 horas). Entretanto, quando o período de imersão foi aumentado para 18 horas, observou-se uma extensa corrosão dos instrumentos.

De acordo com o American Dental Association Council on Dental Therapeutics (1988), a esterilização é o processo pelo qual todas as formas de microrganismos são destruídas, incluindo vírus, bactérias, fungos e esporos. Os métodos de esterilização incluem o uso de vapor pressurizado (autoclave), calor seco, vapor químico, gás de óxido de etileno ou imersão em esterilizadores químicos.

O Center for Disease Control (CDC) e ADA Council on Dental Therapeutics (1988,1996) recomendam a esterilização através de aquecimento a todos os instrumentos que possam suportar repetidos ciclos nas temperaturas desejadas. Os métodos de esterilização que envolvem os processos físicos, particularmente o calor úmido (operacionalizado pela autoclave) e o calor seco (desenvolvido pela estufa), representam os mais freqüentes métodos de esterilização utilizados nas clínicas odontológicas (Samaranayake et al. 1995; Estrela & Figueredo, 1999; Estrela, 2004).

O ciclo de esterilização, quer seja em autoclave ou em estufa, consiste de um período de aquecimento, tempo de manutenção e tempo de resfriamento (Samaranayake et al., 1995). A autoclave (calor úmido sob pressão) é o

método mais rápido, visto que, em virtude da pressão, apresenta um maior poder de penetração. Além disso, a umidade catalisa a coagulação das proteínas, que constitui o mecanismo de ação deste método. A autoclave convencional exige um tempo de 20 minutos a 121°C sob pressão de 15 libras,

porém, o ciclo para esterilização necessita de um tempo total de, no mínimo, 90 minutos (Miller, 1996; Estrela & Figueredo, 1999, Estrela, 2004). Da mesma forma, Reams et al. (1995) afirmam que períodos mais longos podem ser necessários para que o vapor alcance efetivamente o centro de pacotes muito grandes; entretanto, um período de 30 minutos normalmente é adequado. Um dos inconvenientes provocados pela autoclave convencional é a corrosão nos instrumentos metálicos, devido ao alto teor de oxigênio presente nestes aparelhos (Miller, 1996; Estrela & Figueredo, 1999, Estrela, 2004). Outros problemas também podem ocorrer como empacotamento inadequado, falhas em se alcançar a temperatura/pressão adequada, ou excesso de água (Reams et al., 1995).

O calor seco (Forno de Pasteur, comercializado com o nome de “estufa”) é o método mais barato de esterilização. No entanto, ele exige uma temperatura elevada e um ciclo longo, uma vez que é menos penetrante que o vapor. O ciclo recomendado para que se efetue a esterilização por calor seco é de 160°C durante 2 horas ou 170°C durante uma hora. A destruição dos

microrganismos é ocasionada pela destruição das proteínas microbianas. Este método é preferido por muitos profissionais porque preserva da corrosão o corte/fio dos instrumentos metálicos. Contudo, a alta temperatura altera os materiais termo-sensíveis como a borracha, o plástico, os polímeros, a celulose

e os tecidos (Reams et al., 1995; Samaranayake et al., 1995; Miller, 1996; Estrela & Figuredo, 1999, Estrela, 2004).

Algumas das vantagens e desvantagens de diferentes métodos de esterilização estão apresentados na TAB.2.

TABELA 2

Vantagens e desvantagens da esterilização com vapor úmido, vapor químico e calor seco.

Autoclave Quimiclave Estufa

Ciclo de

esterilização Curto (3-30 min)

Intermediário (30-

45 min) Longo (> 60 min)

Umidade residual Presente* Presente* nenhuma

Efeito a longo prazo sobre os instrumentos Possível corrosão ou oxidação Corrosão ou oxidação mínima Afeta a têmpera e a fragilidade das bordas cortantes Interrupção do ciclo Impossível Impossível Possível

Outros riscos _ Possíveis riscos

químicos

Combustão espontânea do papel > 175º

* a não ser que existam ciclos de secagem

FONTE: Samaranayake et al., 1995

2.7 Influência dos processos de esterilização nas propriedades