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Os requisitos da IKEA impõem inúmeras condições tanto às placas de cartão que formam as pranchas, como aos tacos que servem como pés. No contexto deste projeto, deu-se importância à qualidade dos pés e das paletes de cartão, pois são os produtos finais do processo produtivo decorrido nas instalações da Hexa Painel.

Existem diversas variáveis do processo a controlar, entre as quais se destacam:

 Tolerâncias dimensionais, tanto na produção do cartão como na montagem. Enquanto no primeiro caso depende exclusivamente da empresa-mãe em Guilhabreu, o segundo cai no domínio da linha que produz as paletes finais.

 Caraterísticas mecânicas das paletes e dos tacos. As primeiras são garantidas indiretamente, controlando as caraterísticas do cartão que forma as pranchas das paletes, enquanto que a qualidade dos tacos é garantida em laboratório. As caraterísticas dos tacos a controlar são duas: resistência à compressão do taco (12,5 kN para tacos de 180mm) e resistência à compressão da parede lateral de um insert (400 N para os mesmos tacos). De notar que estes valores variam com a dimensão dos tacos.

As careterísticas dos tacos são periodicamente testadas em laboratório independente a pedido do IKEA, pelo que é essencial garantir que os tacos respeitam todas as normas.

Por sua vez, também a Europac realizou testes semanais a um conjunto de amostras tanto de tacos completos como de inserts para melhor se compreender a evolução qualitativa do processo produtivo. Os testes foram levados a cabo nas instalações da Europac Guilhabreu com recurso a uma prensa hidráulica. Os resultados das cartas de controlo encontram-se no Anexo C.

Os testes às propriedades mecânicas dos tacos consistem na sua compressão numa prensa hidráulica, sendo registada a força aplicada para que seja atingida uma deformação de 0,5 cm. Os testes são feitos tanto a tacos como a inserts (tacos sem o invólucro colado), sendo que neste último caso se aplica a força contra uma das superfícies laterais. A Figura 17 demonstra o posicionamento dos tacos ou inserts durante os testes, bem como a prensa hidráulica usada para levar a cabo os testes.

Figura 17 – exemplos de colocação dos tacos no interior da prensa hidráulica para os testes de qualidade. A imagem da esqueda mostra a colocação dos inserts e a da direita acolocação dos tacos.

Foram testados quinze inserts e quinze tacos, provenientes de produções entre início de Março até ao final do projeto em Junho. Os valores foram inseridos do software Minitab para a obtenção de cartas de Shewhart. Recorreram-se às regras de Kume (Kume, 1985) para a sinalização de situações de descontrolo, regras essas que se apresentam de seguida:

1. Pontos fora dos limites de controlo; 2. Sequências anormais de pontos:

a) Oito pontos sucessivos abaixo ou acima da linha central;

b) Quatro pontos, entre cinco sucessivos, acima ou abaixo da linha central ±1 desvio padrão (sigma), respetivamente;

c) Dois pontos, entre três sucessivos, acima ou abaixo da linha central ± 2 sigma, respetivamente.

3. Padrões anormais de evolução:

a) Tendências (por exemplo, sete ou mais pontos sucessivos a subir ou a descer); b) Oscilações de grande amplitude (por exemplo, se entre três pontos sucessivos

um deles se encontrar perto da linha de controlo superior e o último junto da linha de controlo inferior);

c) Valores quase todos próximos da linha de controlo central, que pode indicar a mistura de diferentes populações com valores esperados diferentes;

d) Existência de periodicidade evidente.

Tendo sido delineadas as regras para definir o estado de capacidade de um projeto, pode-se por fim introduzir o conceito de desempenho real do processo, que é um rácio que oferece informação acerca da capacidade real de um processo em respeitar as exigências impostas pelo cliente, isto é, a capacidade de respeitar os intervalos de variação para uma dada variável (por exemplo, peso de um componente). Este valor, denominado , define-se da seguinte maneira:

(4.1)

Onde:

USL é o limite especifigado superior LSL é o limite especificado inferior σ é o desvio padrão ou uma estimativa e μ é a média ou uma estimativa

Se este rácio for inferior a 1, estamos em presença de um processo não capaz. Por outro lado, se igualar 1 significa que o processo é marginalmente capaz. Por fim, se superar 1 temos um processo capaz.

Para a obtenção de cartas de controlo precisas é também necessário escolher o risco associado a falsos alarmes, ou seja, o nível de significância do teste. Este valor é geralente denominado α na maioria da literatura. Como o Minitab assume um valor de 0,27% para α, foi esse o valor adotado.

Outro detalhe importante de realçar é que as cartas de controlo de Shewhart só se podem aplicar se a variável em estudo seguir uma distribuição normal. Para essa demonstração recorreu-se ao teste de normalidade de Anderson-Darling realizado no Minitab. Este teste, tal como acontece com as cartas de controlo, é uma adaptação de um teste de hipóteses em que a hipótese nula consiste em a variável em teste seguir uma distribuição normal e a hipótese alternativa consiste em os dados não seguirem tal distribuição. Assumiu-se um valor para alfa igual a 0,05, que é valor por omissão adotado pelo Minitab. No Anexo D encontram-se os resultados do teste.

Este teste tenta aproximar os dados em teste a uma reta sendo que, quanto melhor for a aproximação, mais forte será a hipótese dos dados seguirem uma distribuição normal. Como se pode ver no Anexo D, o valor de teste p (ver fundo do quadro, à direita do gráfico) é, tanto para os tacos como para os inserts, superior ao valor de alfa, pelo que não se pode descartar a hipótese de os dados seguirem uma distribuição normal. É viável assumir que se pode fazer recursos às cartas de controlo.

Uma vez que os requisitos fornecidos pelo IKEA não oferecem informação sobre os limites das especificações, consideram-se os valores fornecidos para as caraterísticas mecânicas (12,5 KN para o esmagamento dos tacos e 0,4 KN para o esmagamento lateral) como sendo os limites inferiores especificados.

Foram efetuados cinco testes em datas diferentes, sendo que todos os testes englobam tanto tacos como inserts feitos num determinado dia de produção. Para cada conjunto de provetes testados existe uma carta para controlar a média e outra carta para a amplitude, juntamente com os valores da capacidade obtidos também com recurso ao Minitab.

Os resultados demonstram que o processo de produção dos tacos se encontra normalmente em controlo, tendo-se verificado a única situação de descontrolo nos testes do dia 1 de Abril, na carta de controlo de amplitudes. Uma vez que não se encontrou uma razão para a variação dos atributos dos dois inserts que ficam foram das margens de controlo, pode-se assumir que estamos na presença de dois valores atípicos.

O estado de controlo do processo produtivo dos tacos pode-se justificar, em grande parte, por duas razões: primeiro, é um processo herdado de outras empresas que fornecem o IKEA, pelo que já se encontra testado e segundo, a Europac tem décadas de experiência na produção do cartão canelado, pelo que é razoável assumir que esta matéria-prima não será fonte de variações assinaláveis. Por outro lado, o mesmo não se pode dizer da capacidade da linha em produzir tacos que respeitem as exigências mecânicas do IKEA. Os valores médios das resistências tanto à compressão dos tacos como dos inserts variam consideravelmente de teste para teste, deixando antever que não existe um controlo eficaz do material usado na sua produção. O material usado na constituição dos tacos varia de dia para dia, consoante as disponibilidades do armazém de papel das instalações da Europac Guilhabreu. As únicas variáveis presentes na linha de produção dos tacos que têm possibilidade de influenciar as suas caraterísticas são a pressão aplicada às sanduíches recém-coladas e a velocidade de serragem na segunda estação. No entanto, não existem provas concretas em relação ao impacto que estas variáveis têm, pelo que não é possível isolar o seu efeito para estudar modificações.

Como se pode constatar, apenas os tacos testados nos dias 3 de Março e 1 de Junho respeitam os valores médios impostos, verificando-se mesmo assim valores para o rácio do desempenho real abaixo do mínimo de 1 (excepto para os inserts testados na segunda data). Mesmo quando os valores médios verificados num teste atingem as especificações, os resultados não oferecem confiança relativamente à capacidade de um produto, escolhido aleatoriamente, poder obedecer a essas especificações.

Excluindo estas duas datas, este índice é no geral insatisfatóriamente baixo, tendendo a ser menor, e muitas vezes negativo, para a resistência ao esmagamento dos tacos e mais alto para os inserts.

Tal realidade pode ser explicada pelo facto de numa situação de esmagamento, a parede lateral de um insert ser a secção ondulada que absorve a carga. A Europac, sendo uma empresa com processos voltados para a produção de embalagens de cartão, foca-se em produzir as secções onduladas do cartão robustas, pois são estas que vão garantir proteção contra esmagamento das embalagens. A mesma ideia é aplicada ao cartão usado na produção dos tacos, ideia essa que sai reforçada se for assumido que não existe um controlo rigoroso dos tipos de cartão que são usados na produção dos tacos. Como no teste de esmagamento aos tacos o esforço é absorvido por toda a face, o uso de papel com capacidades mecânicas inferiores torna-se mais evidente.

Como resultado destas variações bruscas das caraterísticas mecânicas medidas, bem como do resultado da auditoria Go- No Go levada a cabo por inspetores da IKEA em meados de Maio que determinou a largura média dos tacos produzidos como sendo insuficiente (86mm contra os 90mm especificados), a direção da Europac optou por alterar tanto a composição do cartão como por reformular o processo produtivo das sanduíches.

No novo conjunto de medidas, destaca-se a troca do tipo de papel usado, passando-se a usar um papel denominado internamente como BC31, mais robusto que o cartão anteriomente usado. Este cartão anterior era uma combinação de vários tipos de papel, combinação essa não reconhecida internamente e criada para produzir cartão para tacos da forma mais económica possível.

O novo papel BC31, apesar de mais caro, é capaz de satisfazer as capacidades mecânicas impostas pelo IKEA. Como forma de atenuar o aumento de custos deste papel, esta medida também estipula que as placas com este cartão passem a excluir uma das faces exteriores, ou seja, a secção ondulada fica exposta. Deste modo é possível poupar papel e compensar o acréscimo de preço por usar matéria-prima mais dispendiosa.

A segunda medida tomada consiste na alteração da constituição das "sanduíches". Com esta medida, as sanduíches passam de treze camadas para catorze, sendo que a camada inicial é diferente das outras. Esta camada tem cerca de 3,5mm, ao invés dos 6,65 mm habituais, sendo possível deste modo produzir tacos que ficam próximos dos 90mm de largura especificados. Testes preliminares mostram que os tacos produzidos com este novo tipo de cartão apenas atingem uma média de 11 KN para a resistência ao esmagamento, enquanto que os inserts conseguem atingir 450 N, pelo que ainda existe trabalho a fazer para garantir que este novo material fica apto para produzir tacos em série.

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