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CAPÍTULO III PROPOSTA DE PROGRAMA DE SANIDADE E BEM-ESTAR ANIMAL

1 PREVENÇÃO

1.6 Controlo parasitário

Diversos estudos relatam uma prevalência mundial de endoparasitas nos animais de companhia que varia entre 5% e 70% consoante a localização geográfica, o ano do estudo, o método de diagnóstico e o estatuto do animal (errante, alojado em abrigo ou com proprietário) (Stull, Carr, Chomel, Berghaus & Hird, 2007). Dentro do amplo leque de parasitas a afetar a comunidade dos abrigos, os mais comuns são os parasitas intestinais e os ectoparasitas (pulgas e carraças) (Martínez-Carrasco et al., 2007). Muitos dos parasitas internos são importantes agentes zoonóticos e como em grande parte dos casos não há sintomatologia associada é de extrema importância estabelecer um programa para combater cestodes e nemátodos.

O controlo parasitário (Anexo 9) constitui um dos pilares essenciais num programa de sanidade animal de uma instituição de acolhimento de grande número de animais com as finalidades de salvaguardar a saúde dos animais acolhidos de modo a garantir-lhes hipótese de adoção e aumentar a credibilidade e confiança da população no trabalho desenvolvido na instituição; proteger o pessoal, visitantes e novos donos de exposição a potenciais agentes zoonóticos; e, prevenir a introdução e perpetuação de parasitas potencialmente perigosos à saúde da restante população do abrigo.

1.6.1 Fatores de risco

Em grande parte das situações o parasitismo está associado a animais errantes ou alojados em instituições protetoras de animais, onde estão mais expostos a agentes patogénicos, a eficácia do tratamento antiparasitário e o nível nutricional são mais fracos que os dos animais com um dono; cachorros e gatinhos de idade inferior a um ano e animais geriátricos apresentam maior suscetibilidade que animais saudáveis (Martínez-Carrasco et al., 2007). O parasitismo pode ocorrer por transmissão via transplacentária ou lactígena ou por ingestão de fezes ou outra matéria contaminada por agentes persistentes no ambiente e por recolonização intestinal com estádios parasitários que voltam a produzir ovos (Bowman, 2009). Por isso, as más práticas hígio-sanitárias são um fator de risco a colmatar (Nolan & Smith, 1995; Blagburn et al., 2008).

1.6.2 Protocolo desparasitação interna

As recomendações a seguir referidas foram elaboradas de acordo com CAPC (2011b). O ideal é realizar entre dois a quatro exames das fezes durante o primeiro ano de vida do animal e entre uma a duas coprologias cada ano em animais adultos, dependendo do seu estilo de vida e saúde. Caso se confirme a presença de parasitas deve-se administrar um

antiparasitário com espetro de ação para o agente em questão. No entanto, isto não é comportável quer a nível económico quer de recursos humanos, conduzindo à definição de estratégias alternativas que passo a citar: administrar anti-parasitários logo que o animal dê entrada na instituição, que abranjam o maior leque possível de parasitas de acordo com a suscetibilidade associada à idade do animal e tratar ao mesmo tempo os animais que partilham a mesma área. Não há certezas quanto à sazonalidade de parasitação, apenas alguns estudos indicam maior incidência associada a certos parasitas, portanto a desparasitação deve ser realizada independentemente da época do ano (Nolan & Smith, 1995; Blagburn et al., 2008).

1.6.2.1 Cachorros

Iniciar a administração de um anti-helmíntico a partir das 2 semanas de idade e repetir a cada 2 semanas até o animal atingir as 8 semanas de idade. Depois continuar a administração mensalmente até aos 6 meses de idade. Recomenda-se a desparasitação da mãe concomitantemente com a sua ninhada.

1.6.2.2 Gatinhos

Como nesta espécie não há infeção pré-natal, o início da administração do anti-helmíntico deve-se iniciar às 3 semanas de idade e repetir a cada 2 semanas até o animal atingir as 9 semanas de idade. Depois continuar a administração mensalmente até aos 6 meses de idade. Recomenda-se a desparasitação da mãe concomitantemente com a sua ninhada.

1.6.2.3 Cães/gatos adultos

Animais de idade ≥ 6 meses devem ser desparasitados no momento da admissão na instituição e à saída se necessário. Nas situações em que ficam nas instalações por períodos de tempo prolongados deve-se pelo menos administrar preventivamente um anti- helmíntico 1 a 2 vezes ao ano ou quando necessário (ex.: fêmeas gestantes).

1.6.2.4 Princípio ativo

Normalmente as parasitoses gastrointestinais do cão e do gato são causadas por nemátodos e céstodos e por isso recomenda-se a administração de anti-helmínticos de largo espectro, ou seja, é conveniente a administração de produtos que contenham na sua composição pamoato de pirantel, febendazol, praziquantel, milbemicina oxima (Bowman, 2009).

1.6.3 Protocolo desparasitação externa

Uma praga comum nos animais dos abrigos são várias espécies de pulgas e carraças facilmente percetíveis por inspeção visual e que estão conotadas como fatores de maior repulsa por parte dos possíveis adotantes. São infestações que podem ocorrer durante todo o ano mas com maior frequência nas estações quentes. Disseminam-se rapidamente a todos os animais do abrigo e às pessoas por contato direto, causando problemas do foro dermatológico, nomeadamente irritações de pele e vários graus de prurido que podem levar à perda de pêlo e infeções secundárias bacterianas e fúngicas; sendo também vectores de graves endoparasitoses sistémicas (Babesiose, Ehrlichiose, doença de Lyme, Hepatozoonose canina e Bartonelose).

Todos os animais no momento da entrada na instituição devem receber tratamento ou medida preventiva para estas infestações (Anexo 9). Existem vários tipos de produtos com diferentes eficácias mas de uma maneira geral o ideal é remover mecanicamente os parasitas e aplicar um produto spot-on com espectro de ação para o maior número de ectoparasitas possível ou que pelo menos proteja o animal contra pulgas e carraças. A escolha do tratamento é influenciada pelo preço dos produtos e pela quantidade de animais da instituição, idade, espécie e estado fisiológico. Já a regularidade da aplicação preventiva de antiparasitários tópicos deveria realizar-se cada três/quatro semanas, o que é incomportável financeiramente e portanto, recomenda-se tratamento sempre que necessário ou profilaticamente pelo menos 1 vez ao ano.

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