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Convenção Americana de Direitos Humanos

3 SISTEMA INTERNACIONAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

3.2 Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos

3.2.2 Convenção Americana de Direitos Humanos

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Considerada como sendo o instrumento de maior importância no sistema interamericano, a Convenção Americana de Direitos Humanos, também chamada de Pacto de San José da Costa Rica, foi adotada na Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos em 1969, em San José, na Costa Rica, tendo entrado em vigor em 18 de julho de 1978, após ter obtido o mínimo de 11 ratificações.

Somente os Estados-membros da OEA podem aderir à Convenção Americana. No Brasil, por exemplo, ela foi ratificada apenas no ano de 1992, tendo sido promulgada internamente em 6 de novembro do mesmo ano, por meio do decreto nº 678.

Em seu preâmbulo, assim como no da Declaração Americana, reconhece-se que os direitos essenciais da pessoa humana não derivam da sua nacionalidade, mas sim da sua condição humana, sendo essa a justificativa para que haja uma proteção internacional desses

CARVALHO RAMOS, André de. Curso de direitos humanos. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 248. 85

CARVALHO RAMOS, loc. cit. 86

PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Salvador: Juspodivm, 87

2012, p. 876.

ARAÚJO FILHO, Aldy Mello de. A evolução dos direitos humanos: avanços e perspectivas. São Luís: 88

direitos. Essa proteção deve ter uma natureza complementar daquela oferecida pelo Direito Interno dos Estados-partes. Assim, segundo explica Mazzuoli:

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[…] o sistema protetivo previsto pela Convenção deve somente operar depois de se dar oportunidade de agir ao Estado. Apenas em caso de inação deste — ou em caso de proteção aquém da que deveria ocorrer, em desacordo com o sistema protetivo convencional — é que então terá lugar a proteção prevista pela Convenção . 89

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Entretanto, muitas vezes pode haver conflitos entre normas de direito interno e normas de direito internacional. Nessas situações, a fim de se solucionar tais conflitos e de se promover a melhor proteção dos direitos humanos, deve ser aplicado o princípio da norma mais favorável. É o que ensina Comparato:

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Aplica-se […] o princípio da prevalência dos direitos mais vantajosos para a pessoa humana; ou seja, na vigência simultânea de vários sistemas normativos — o nacional e o internacional — ou na de vários tratados internacionais, em matéria de direitos humanos, deve ser aplicado aquele que melhor protege o ser humano . 90

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A Convenção possui 82 artigos, divididos em três partes. A primeira parte aborda os “deveres dos Estados e os direitos protegidos”; a segunda parte fala sobre os “meios de proteção” e a terceira parte trata das “disposições gerais e transitórias”.

De maneira geral, a Convenção Americana consagra essencialmente direitos civis e políticos, possuindo um rol bastante semelhante ao previsto pelo Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos. Dentre esses direitos destacam-se:

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[…] Art. 3º Direito ao reconhecimento da personalidade jurídica; Art. 4º Direito à vida; Art. 5º Direito à integridade pessoal; Art. 6º Proibição da escravidão e da servidão; Art. 7º Direito à liberdade pessoal; Art. 11. Proteção da honra e da dignidade; Art. 12. Liberdade de consciência e de religião; Art. 13. Liberdade de pensamento e de expressão; Art. 15. Direito de reunião; Art 16. Liberdade de associação; Art. 21. Direito à propriedade privada; Art. 22. Direito de circulação e de resistência; Art. 23. Direitos políticos . 91

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É interessante observar pela análise do art. 26 que a Convenção não estabeleceu, de forma precisa, qualquer direito econômico, social ou cultural, prevendo apenas que os Estados devem adotar as medidas necessárias a fim de alcançar, progressivamente, a plena realização desses direitos.

MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de direitos humanos. 1. ed. São Paulo: Método, 2014, p. 115. 89

COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 6. ed. rev. e atual. São Paulo: 90

Saraiva, 2008, p. 368.

GUERRA, Sidney Cesar Silva. Direito internacional dos Direitos Humanos. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 91

Entretanto, posteriormente, em 1988, foi adotado pela Assembleia-Geral da OEA um Protocolo adicional à Convenção Americana, denominado de Protocolo de San Salvador, a fim de garantir maior proteção aos direitos econômicos, sociais e culturais. Esse Protocolo entrou em vigor em novembro de 1999 e foi ratificado pelo Brasil no mesmo ano.

Em face desses direitos elencados na Convenção, percebe-se pela análise dos arts. 1º e 2º que os Estados-partes possuem tanto o dever de respeitá-los quanto o de assegurar o livre e pleno exercício deles a qualquer pessoa sujeita a sua jurisdição, sem que haja nenhum tipo de discriminação. Além disso, os Estados ainda têm a obrigação de adotar as medidas legislativas ou de qualquer outra natureza que forem necessárias para que seja garantida a efetividade desses direitos.

A Convenção Americana representou um passo fundamental no desenvolvimento e fortalecimento do sistema interamericano de proteção dos direitos humanos ao ampliar as atribuições da Comissão Interamericana e ao criar a Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) . 92

Com a entrada em vigor da Convenção, a Comissão passou a exercer um duplo papel. Em primeiro lugar, continuou a ser o principal órgão da OEA, encarregado da proteção dos direitos humanos no âmbito dessa organização, tendo como função primordial a responsabilização dos Estados pelo descumprimento dos direitos civis e políticos expressos na Carta da OEA e na Declaração Americana. Em segundo lugar, a Comissão também passou a ser órgão da Convenção Americana de Direitos Humanos, possuindo as mesmas atribuições que exerce na esfera da OEA. No entanto, no âmbito da Convenção, há ainda a possibilidade de processar o Estado infrator perante a Corte IDH. 93

Já a Corte Interamericana de Direitos Humanos é o órgão jurisdicional do sistema interamericano responsável por resolver os casos de violação de direitos humanos cometidos pelos Estados-partes da OEA que tenham ratificado a Convenção Americana de Direitos Humanos . 94

Conclui-se que tanto os instrumentos internacionais pertencentes ao sistema global quanto os do sistema regional interamericano visam a proteção e a promoção dos

CARVALHO RAMOS, André de. Curso de direitos humanos. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 248-249. 92

Ibid., p. 249. 93

MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de direitos humanos. 1. ed. São Paulo: Método, 2014, p. 119. 94

direitos humanos. Assim, nota-se que o conteúdo normativo dos tratados internacionais de ambos os sistemas de proteção possui semelhantes princípios e valores, que proclamam a universalidade e a indivisibilidade dos direitos humanos e o valor da dignidade da pessoa humana.

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