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PARTE III: A VERIFICAÇÃO

Apêndice 3: Convite para participação em entrevista de investigação

69 do discurso que objetiva as práticas sociais influenciadas e influenciadoras pelo/do texto e conversação num determinado contexto319.

Foi adotada a abordagem desenvolvida essencialmente por Fairclough, uma vez que a sua teoria e método adotados e construídos são considerados os mais desenvolvidos neste movimento320.

A análise crítica do discurso considera a semiose enquanto elemento irredutível de todos os processos sociais materiais321, sendo a vida social tida enquanto rede de práticas sociais interligadas e do mais variados tipos322. Seguindo Fairclough, qualquer prática social consiste na articulação de diversos elementos sociais com uma configuração relativamente estável, estando nela sempre incluída o discurso323; além do discurso, os outros elementos são: atividades, sujeitos (e suas relações sociais), instrumentos, objetos, tempo e espaço, perceção e valores324. Ainda que todos estes elementos sejam diferentes, é tida a ideia de que cada um interioriza os restantes, não sendo redutíveis aos mesmos325. Assim, a análise crítica do discurso consiste numa análise da relação dialética entre o discurso e os restantes elementos da prática social em questão326.

Fairclough começou por propor um modelo tridimensional de análise; esse modelo incide na análise das práticas discursivas, dos textos e da prática social da

319 Cf. VAN DIJK, Teun A. – Critical discourse analysis, p. 352 (“a type of discourse analytical research that primarily studies the way social power abuse, dominance, and inequality are enacted, reproduced, and resisted by text and talk in the social and political context”).

320 Cf. JORGENSEN, Marianne; PHILLIPS, Louise J. – Discourse analysis as theory and method, p. 60 [“(…)

Fairchough’s approach (…) represents, within the critical discourse analytical movement, the most developed theory and method for research in communication, culture and society”].

321 Cf. FAIRCLOUGH, Norman – Analysing discourse: Textual analysis for social research, p. 205 (“Critical Discourse Analysis is based upon a view of semiosis as an irreducible element of all material social processes”).

322 Cf. FAIRCLOUGH, Norman – Analysing discourse: Textual analysis for social research, p. 205 [“We can

see social life as interconnected networks of social practices of diverse sorts (economic, political, cultural, family, etc.)”].

323 Cf. FAIRCLOUGH, Norman – Analysing discourse: Textual analysis for social research, p. 205 [By ‘social practice’ I mean a relatively stabilized form of social activity (examples would be classroom teaching, television news, family meals, medical consultations). Every practice is an articulation of diverse social elements within a relatively stable configuration, always including discourse”].

324 Cf. FAIRCLOUGH, Norman – Analysing discourse: Textual analysis for social research, p. 205 (“Let us say that every practice includes the following elements: activities; subjects, and their social relations; instruments; objects; time and place; forms of consciousness; values; discourse”).

325 Cf. FAIRCLOUGH, Norman – Analysing discourse: Textual analysis for social research, p. 205 (“There is a sense in which each ‘internalizes’ the others without being reducible to them”).

326 Cf. FAIRCLOUGH, Norman – Analysing discourse: Textual analysis for social research, p. 205 [“CDA is

analysis of the dialectical relationships between discourse (including language but also other forms of semiosis, e.g. body language or visual images) and other elements of social practices”].

70 qual o discurso é parte integrante327. Porém, tal modelo convergiu para uma articulação entre práticas, por uma prática teórica emancipatória328. Assim, Fairclough, conjuntamente com Chouliaraki329, construíram um quadro analítico que constitui um método para se proceder à análise crítica do discurso. Esse mesmo quadro analítico é uma versão da Crítica Explanatória desenvolvida por Bhaskar330, sendo composto por cinco etapas que se passam a enumerar331:

1. Focalização num problema social com um aspeto semiótico;

2. Identificação de obstáculos para a resolução do problema, através da análise: da rede de práticas na qual o problema está localizado; da relação da semiose com outros elementos englobados na prática em causa; do discurso (a semiose) em si;

3. Consideração sobre “se a ordem social (rede de práticas) «necessita» do problema”;

4. Identificação de possíveis formas para a resolução do problema; 5. Reflexão crítica sobre a análise.

São estas as etapas que nortearam a análise efetuada e apresentada na parte III desta dissertação.

4. Considerações éticas

Por fim, mas não por último, urge frisar as principais considerações éticas que nortearam este processo de forma transversal. Além de se tratar aqui de um tema da

327 Cf. FAIRCLOUGH, Norman – Discurso e mudança social, pp. 282-291.

328 Atenda-se àquilo que é descrito por Streubert e Carpenter sobre o carácter de “Emancipação” na/da investigação qualitativa, nomeadamente no que diz respeito à teoria crítica (Cf. STREUBERT, Helen; CARPENTER, Dona – Investigação qualitativa em enfermagem: avançando o império humanista, pp. 13-14). 329 Cf. CHOULIARAKI, Lilie; FAIRCLOUGH, Norman – Discourse in late modernity: rethinking critical

discourse analysis, pp. 59-66.

330 Cf. BHASKAR, Roy – Scientific realism and human emancipation.

331 Seguindo a atualização apresentada em FAIRCLOUGH, Norman – Analysing discourse: Textual analysis for

71 (bio)ética, todas as etapas aqui redigidas foram fruto de ações ponderadas e prudentemente concretizadas na busca de um rigor científico tal que se refletisse na forma como os resultados foram procurados, obtidos e transmitidos. Tomou-se por base de conduta ética a “Checklist Ética” de Firby adaptada por Streubert e Carpenter332. Ressalvam-se aqui alguns dos aspetos mais prementes.

Para o garante de confiança nos resultados obtidos, seguiu-se Lincoln e Guba citados por Streubert e Carpenter333, nomeadamente com o recurso a técnicas de credibilidade, segurança, confirmabilidade e transferibilidade a fim de sustentar o rigor da investigação desenvolvida.

A participação dos entrevistados neste estudo foi de carácter individual e voluntário, tendo sido a mesma formalizada com a assinatura de um formulário de consentimento informado, livre e esclarecido334 no qual constam informações sobre o teor do estudo e da sua participação, já transmitidos previamente à sua aceitação. O formulário foi adaptado daquele que é proposto pela Administração Regional do Norte para a consecução deste tipo de entrevistas de investigação335. Foram salvaguardados os devidos direitos dos/aos participantes, nomeadamente o de retirarem a autorização da sua participação a qualquer momento.

O anonimato dos participantes e confidencialidade no tratamento, análise e divulgação dos dados foi igualmente salvaguardado ao longo de todo este processo.

E, porque o saber obtido através deste processo carece de ser partilhado com toda a comunidade (científica em particular, social em geral) a fim de comprovar e justificar a sua essência e propósito éticos, culmina-se aqui este processo com a apresentação e divulgação dos resultados obtidos.

332 Cf. STREUBERT, Helen; CARPENTER, Dona – Investigação qualitativa em enfermagem: avançando o

império humanista, pp. 40.

333 Cf. STREUBERT, Helen; CARPENTER, Dona – Investigação qualitativa em enfermagem: avançando o

império humanista, pp. 33-34.

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