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4.   Análise semiótica dos signos da embalagem 71

4.4   Cookies Orgânicos da Marca Native 97

4.4.1   Cookies Jasmine 100

A tecnologia de impressão gráfica coloca à disposição do mercado diversas alternativas para o envase de produtos alimentícios. Nesse sentido, o designer tem nas mãos a possibilidade de sugerir alternativas criativas e inovadoras. Porém, a relação custo x benefício ainda é fator decisivo na escolha dos materiais de produção e do sistema de impressão. Mesmo tendo consciência de que fatores de exclusividade, tanto na forma como no material, são fundamentais para o sucesso de um produto, as empresas acabam optando por soluções padrões já oferecidas pelo mercado. É o que acontece com a embalagem do Cookies da marca Jasmine.

Figura 40 – Cookies Orgânico e Integral Jasmine

Fonte: Acervo do Autor

Considerando o ponto de vista do consumidor comum notamos que as embalagens claramente utilizam os mesmos elementos gráficos a fim de criar uma identidade marcante. Embora alguns elementos sejam diferentes – como a cor, a fotografia e a presença de uma faixa central horizontal –, todos os outros se encarregam de transmitir

essa organização visual, criando assim a sua identidade marcária. As diferentes cores sugerem que os produtos possuem características distintas.

A sensação de textura acetinada, que se comprova com o toque, é o que brota quando se observa o material. Isso se deve ao brilho que se projeta devido às circunstâncias do acabamento conferido à embalagem. Ainda que o material, em sua natureza, seja metalizado, a metalicidade não chega aos olhos nem ao tato. É necessário ter conhecimento específico para deduzir esses aspectos. A percepção das qualidades matéricas, nesse caso, limita-se aos aspectos icônicos.

Há uma grande quantidade de textos presente em ambas as embalagens, são recursos que o designer tem à disposição para informar os benefícios agregados que o produto oferece. Porém, algumas palavras tem maior destaque do que outras e, provavelmente, respeitam uma hierarquia de informações encadeadas em ordem decrescente. Luli Radfahrer define a importância da hierarquia na composição visual da seguinte maneira:

Onde há hierarquia, há uma ordem de visualização em que cada coisa fica em seu lugar. Da mesma forma que títulos, subtítulos e parágrafos em um texto, cores e formas existem em uma composição visual para serem ‘lidas’. E é exatamente porque essa acontece sempre, e na maior parte das vezes nem é percebida, que ela é tão importante (2010, p. 3).

Constatamos se tratar de embalagens de Cookies por conta da mensagem verbal já estampada da face central da embalagem, seguida da palavra “Integral” – que em uma das versões está sobre uma faixa de cor dourada e na outra não.

Na análise dos signos visuais presente nas letras, percebe-se alguns potenciais de sugestões. A denominação do produto, “Cookies”, é elaborada com letra de características próprias, que lembra as famílias manuscritas. Esse tipo de família tipográfica fortalece a ideia de produto artesanal. É interessante perceber que as letras manuscritas também deixam o produto mais leve. Ambas as embalagens têm o preenchimento das letras na cor branca, o que cria um bom contraste entre figura e fundo, permitindo identificação e leitura mesmo à distância. Logo abaixo temos a palavra “Integral” com o mesmo estilo.

Ao observar o lado esquerdo da embalagem, notamos que há informação de referência ao sabor, por meio do texto dentro de um box e da figura desse elementos. No produto de sabor “Castanha do Pará”, exibe-se uma fotografia que, pela semelhança, remete ao produto, criando uma comunicação direta, já que este produto está inserido de certa forma em nossa cultura; já na versão de sabor “Quinoa e Amaranto”, a fotografia que ilustra o texto é ainda desconhecida de nossos hábitos alimentares. Portanto, a

relação icônica não é tão clara. Ao contrário disso, são os signos verbais que indicam que tipo de fruta é representada na ilustração.

Nota-se de maneira evidente o termo “Jasmine”, dentro de uma área de cor clara, na parte superior da embalagem, que nos traz a ideia de marca. Logo abaixo do logotipo, encontra-se a frase “Coma Bem, Viva bem”. Textos informativos, como “Nova embalagem”, na parte superior, e em um box de informação no canto inferior direito, apresentam outras qualidades do produto.

A presença de fotografias em ambas as embalagens, que ocupam boa parte da superfície comunicativa, representam uma relação direta com o produto. O biscoito integral de Castanha do Pará é ilustrado em um tamanho exagerado em comparação ao produto real. Considerando o potencial icônico da imagem, pode ser que haja uma interpretação errônea, por parte do consumidor, sobre o tamanho dos cookies.

Segundo Dondis, a escala está entre os elementos básicos da comunicação, o que lhe confere importância na análise da linguagem visual de qualquer projeto gráfico: “a escala pode ser estabelecida não só através do tamanho relativo das pistas visuais, mas também através das relações com o campo ou com o ambiente” (2007, p. 72).

No caso dessa embalagem, pode haver engano, já que a ilustração do produto que dá sabor, a Castanha do Pará, está configurada em escala real e a fotografia do cookie está demasiadamente grande – em torno de três vezes maior. Portanto, quando se compara a castanha em fruta seca com o cookie percebe-se o desajuste visual – que provavelmente tenha sido planejado propositalmente para chamar atenção na prateleira. O potencial singular desse signo será o responsável por induzir o consumidor ao erro. Observa-se ainda que há uma textura, que decora o fundo colorido, sem relação com o produto, apenas com apelo estético.

O conjunto de cores é uma ferramenta bem explorada pelas embalagens. A linha de Cookies Jasmine conta com outros sabores além desses analisados, cada sabor com uma cor específica. Observando rapidamente, na versão sabor castanha do pará, há o predomínio de tons azul, branco e marrom claro, e na versão orgânica o predomínio de tons vermelhos, seguido de bege e marrom claro. Tais cores não fazem analogias ao sabor, no caso dos tons da castanha do pará, nem ao produto orgânico, que utiliza tons vermelhos. Portanto, devido à inexistência de relação ao sabor da castanha e ao produto orgânico, a cor perde seu potencial de sinsígno.

As embalagens privilegiam a força da identidade visual em detrimento a uma ligação específica de categoria para os produtos orgânicos. A relação do produto na embalagem fica a cargo da fotografia.

Como a marca, por meio do logotipo, e o nome cookie, logo abaixo, estão centralizados, percebe-se que há certo equilíbrio, que é quebrado com a fotografia levemente tensionada para o lado direito, enquanto as informações textuais se contrabalançam ao lado esquerdo. Uma composição equilibrada assimetricamente “valoriza extraordinariamente o objeto ou a composição do ponto de vista plástico ou de instigação e excitação psicológica” (Gomes Filho, 2009, p. 60).

Depois de feita toda a leitura e compreender que se trata do mesmo produto, mas de sabor diferente, percebe-se que há o selo SisOrg em proporção pequena, que passa quase despercebido. Na verdade, com os produtos à mão, percebemos que há uma informação de produto orgânico, de maneira discreta, que ocupa a lateral da face frontal. Porém, como a embalagem em saco faz volume tridimensional, a palavra “Orgânico” fica escondida na lateral que o volume faz (figura 41). Portanto, é necessário tomar o produto às mãos para que a comunicação se efetue.

Figura 41 – Embalagem de Cookies Orgânico cujo texto se encontra na lateral da embalagem

Fonte: Acervo do Autor

Como nas análises anteriores, nota-se o caráter de legissignos presentes na marca do produto e, na versão orgânica, a presença do selo SisOrg. Esses signos se fazem presentes também nessas embalagens, com poder em seu aspecto argumental.

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