• Nenhum resultado encontrado

A cooperação científica e tecnológica se caracteriza pelo trabalho conjunto entre pesquisadores, grupos ou organizações (empresas, institutos de pesquisa, universidades etc.), em função de objetivos comuns, podendo se expressar em documentos legais – acordos, protocolos, convênios – ou se estabelecer sem maiores formalizações, no âmbito de projetos específicos, através dos pesquisadores27.

A própria natureza do trabalho científico propicia aos grupos e instituições de pesquisa muitas oportunidades de cooperação – na medida em que se acredita no avanço cumulativo do conhecimento e na importância da complementaridade de conhecimentos parciais para a compreensão dos fenômenos físicos e sociais. Mas fatores políticos e, sobretudo, econômicos têm permeado fortemente o debate e suscitado a busca de cooperação. Além disso, muito se enfatiza a cooperação como instrumento para a solução de problemas sociais, ambientais e outros, em prol de um desenvolvimento sustentável.28

Segundo Souza-Paula (2001), de modo crescente, o trabalho cooperativo tem sido considerado instrumento fundamental de políticas e programas voltados para o desenvolvimento dos países; para promoção da competitividade e acesso a círculos mais restritos, tanto em termos científicos como tecnológicos e produtivos; para a consolidação dos blocos regionais e inúmeras outras finalidades definidas no âmbito político mais amplo, para as quais se atribui um papel importante do conhecimento científico e tecnológico.

De acordo com Franco (2002), a cooperação acadêmica internacional, nas últimas décadas, cresceu nos níveis governament al e institucional e tem acompanhado, pari passu, a trajetória da educação superior brasileira. Para ele, o intercâmbio de conhecimentos técnicos, científicos, tecnológicos e culturais é uma prática em franca ascensão no mundo globalizado. Foi na segunda metade do século XX que a cooperação ampliou-se e teve repercussões na educação superior brasileira. A partir dos anos de 1960, ocorreram três processos cujos resultados, na visão da autora, merecem destaque: a ampliação dos convênios e dos estudantes-convênio e o movimento da reforma da universidade brasileira. (Franco, 2002, p. 281)

27 Ver outros autores: Velho, 1997; Yilma, 1993; Stal, 1998; Souza -Paula e Gama Alves, 2001

28 Souza-Paula. Acompanhamento e Avaliação de Programas: Algumas discussões conceituais e sugestões de

Entre os aspectos principais sob os quais a análise da cooperação deve ser realizada, destacam-se:

• pelas suas características, sendo que ela pode se dar com instituições ou

parceiros de natureza diferente (universidades, institutos de pesquisa, empresas); de diferentes origens geográficas (internacionais; regionais ou não; nacionais; da mesma região ou de regiões distintas); de diferentes níveis de avanço científico e tecnológico (consolidados, emergentes); com objetivos diversos (pesquisa, desenvolvimento, formação, comercialização, ou todos ao mesmo tempo).

• por seu papel enquanto um instrumento de avanço do conhecimento, de

inserção na comunidade científica e, tecnológica e comercial, nacional e

internacional.29

Quando da pesquisa, para esta dissertação, sobre o tema cooperação nacional em C&T, observou-se que a literatura é bastante resumida. Os textos, quando encontrados se referiam à cooperação empresarial, redes de medicamentos, de fornecedores etc. A maior parte da bibliografia sobre cooperação encontrada pela autora se refere à cooperação internacional.30 Quando se fala em cooperação nacional, no caso brasileiro, um tema recorrente vem à tona: as assimetrias regionais e intra-regionais. Partindo-se de uma análise dos dados relativos ao sistema de pós-graduação brasileiro31, constatam-se fortes contrastes: De um lado, a existência de grupos bastante consolidados, que se concentram, sobretudo, nas regiões sul e sudeste; de outro lado, grupos emergentes ou em fase de consolidação (ou tentando sobreviver!) espalhados em todas as regiões brasileiras. São de domínio público os indicadores oficiais disponíveis no INEP/MEC que mostram que as regiões norte, nordeste e centro oeste enfrentam grandes dificuldades para capacitar, fixar recursos humanos, produzir conhecimento e prover soluções para os problemas do desenvolvimento regional. A massa crítica qualificada fixada nessas regiões é considerada insuficiente e isso é um dos grandes gargalos para o desenvolvimento tanto da pós-graduação, quanto da ciência e da tecnologia e da inovação, em termos gerais, nessas regiões.

Segundo Hardy (2003, p. 107), o modelo de pós-graduação existente no país, que garante a excelência por meio de seu sistema permanente de avaliação de desempenho, oferece ao país um serviço de incontestável qualidade. No entanto, não conseguiu evitar uma altíssima concentração da pós-graduação, fortalecendo as assimetrias regionais profundas na

29 Souza-Paula (coordenadora do Estudo) e Gama Alves. A cooperação em C&T: aspectos gerais. (Documento I

do Estudo: Cooperação Internacional em Biotecnologia no Brasil), 2001, p. 15.

30 Ver, entre outros: Velho, 1997; Souza-Paula e Isabel Gama Alves, 2001; Becker e Wolf, 2000; Cunningham e

Nedeva , 1999.

distribuição de recursos e, consequentemente, na densidade da competência instalada, em prejuízo ao direito de todos de ter acesso à escola de produção de conhecimentos.

Assim, quando se fala em cooperação nacional, percebe-se que os desafios para a redefinição de novas áreas do conhecimento estão a exigir parcerias multidisciplinares que ultrapassem a dimensão do local e do regional.

Jorge Werthein32 (1998) menciona que a Declaração Mundial sobre Educação para o século XXI sugere a adoção de uma política vigorosa de desenvolvimento do pessoal docente como elemento essencial para a excelência da pesquisa e do ensino e, por isso, como requisito de qualidade é mister o intercâmbio de conhecimento, a criação de redes interativas e a movimentação de professores e projetos de pesquisa internacionais. A Declaração Mundial sobre Educação menciona, ainda, a necessidade dos docentes serem submetidos aos processos contínuos de aperfeiçoamento das metodologias de ensino e aprendizagem, e a circulação entre os países.

Em outro artigo, Werthein33 salienta que a necessidade de partilhar conhecimentos, de não perder talentos e de estabelecer uma política de alianças e parcerias consolida o princípio da solidariedade entre instituições de ensino superior e é crucial para uma melhor distribuição do conhecimento, proporcionando um melhor conhecer e aprender a conviver com culturas e valores diferentes. Ele também registra a importância que esses projetos de parcerias e cooperação se fundamentem em relações de longo prazo, e que a troca internacional de pessoas ativas nos campos da instrução, da ciência e da cultura, que envolvam universidades, tem impactos significativos em programas de pesquisa e treinamento. Para ele a cooperação internacional deve ensejar o intercâmbio baseado na parceria e na busca coletiva da qualidade e relevância.

Os argumentos utilizados para a cooperação internacional são válidos, também, para a cooperação nacional, de modo particular quando se refere a um país com grande diversidade regional, intra e interinstitucional, como o Brasil.

Foi partindo desse reconhecimento da cooperação como um instrumento de alavancagem, diversificação e promoção da multidisciplinaridade na pós-graduação brasileira

32 Jorge Werthein, representante da Unesco no Brasil. “Uma Nova Política para o Ensino Superior: as

Implicações da Declaração Mundial de Paris”. Outubro, 1998, http//www.unesco.org.br.

33 Werthein. “A Unesco e as Novas Perspectivas para o Desenvolvimento do Ensino Superior”.

que o PQI estabeleceu como um critério indispensável - e que o caracteriza de forma diferenciada de outros programas, como o PICDT – as parcerias entre grupos de pesquisa de instituições nacionais, visando a consolidação de todo o sistema de pós-graduação, de modo particular dos grupos emergentes ou que necessitam ampliar-se e fortalecer-se.

O PQI poderá viabilizar parcerias e criações de grupos de pesquisa interinstitucionais e intra-institucionais. Acredita-se que a formação de docentes associada a grupos de pesquisa da instituição de origem do projeto e de instituições cooperantes tenha possibilidade de aumentar a produção acadêmica dos beneficiados, a produção em conjunto com outros pesquisadores participantes do projeto, bem como fortalecer outros aspectos importantes para o desenvolvimento do curso de pós-graduação ao qual o docente está vinculado.

Além do critério básico associado à cooperação, de seu destaque como instrumento do PQI, outros aspectos são importantes para uma melhor compreensão da análise proposta. Por isso, dedicamos, a seguir, algumas notas sobre a estrutura e funcionamento do PQI, com o objetivo de fazer uma apresentação mais detalhada do programa, antes de passarmos ao capítulo em que são apresentados os resultados da pesquisa e da reflexão especificamente concentrada nos objetivos específicos desta dissertação.