• Nenhum resultado encontrado

RAMO DE ATIVIDADE COOPERATIVAS ASSOCIADOS EMPREGADOS

2.3 COOPERAÇÃO COM COMPETIÇÃO E CONFLITO

Segundo Barreto (2003:289) a cooperação antes de se constituir como um conceito refere-se a uma dinâmica de relação humana, uma forma de “estar e interagir com os demais” e com esse sentido perpassa nossa formação enquanto sujeitos sociais e históricos.

Cooperar implica em alta capacidade de comunicação e diálogo, liderança e trabalho compartilhado, respeito à ação alheia, responsabilidade, participação dentre outras tantas coisas, e tudo isso se liga à nossa história subjetiva, isto é, a nossos desejos, ambições, medos, inseguranças, fraquezas, forças etc. Falar e agir em prol da cooperação implica também em mobilizar todo esse potencial subjetivo o qual, por sua vez, está fortemente comprometido com valores competitivos, afinal, socializamo- nos numa sociedade pautada pela competição e pela verticalização das relações. (BARRETO, 2003:289)

A partir dos argumentos de Barreto (2003), entende-se que cooperação não se reduz a uma questão técnica para organização coletiva, mas uma complexa teia de relações que envolve o aprendizado humano. O potencial subjetivo que envolve o conceito dificulta a sua prática em se tratando de uma sociedade pautada em valores competitivos.

Em uma definição mais abrangente o autor define cooperação como “a situação segundo a qual para que uma pessoa alcance seu objetivo, todas as demais pessoas envolvidas devem igualmente atingir seus respectivos objetivos, sejam eles comuns ou não.” (2003:291), cuja definição pode englobar inúmeras ações e acontecimentos sociais.

No contexto do materialismo histórico, Marx (1996) compreende cooperação como “a forma de trabalho em que muitos trabalham juntos, de acordo com um plano, no mesmo processo de produção ou em processos de produção diferentes, mas conexos” (1996: 374). Ao analisar a cooperação no processo de trabalho, Marx (1996) refere que “o simples contato social, na maioria dos processos produtivos, provoca emulação entre os participantes, animando-os e estimulando-os, o que aumenta a capacidade de realização de cada um” (1996:375). Marx (1996) ressalta ainda que “ao cooperar com outros, de acordo com um plano, desfaz-se o trabalhador dos limites de sua individualidade e desenvolve a capacidade de sua espécie” (1996:378).

Diante das inferências de Marx (1996), Jesus e Tiriba (2003) discutem que processos cooperativos que incluem ação de muitos trabalhadores, envolveriam a junção de muitas forças em uma força social comum o que resultaria num produto global diferente ou maior que o resultado das forças individuais de trabalhadores isolados, sendo que o aumento da capacidade produtiva resultaria da criação de uma nova força produtiva: a força social coletiva, a qual para Marx (1996) tem sua origem na própria cooperação, em última instância, como componente do processo de formação humana.

Assim, no contexto marxiano, a “cooperação pressupõe a coordenação do esforço coletivo para atingir objetivos comuns”, (JESUS; TIRIBA, 2003:51) contrariamente a competição, na qual um trabalhador ou grupo de trabalhadores busca maximizar suas vantagens em detrimento dos demais (Ibid.).

Em relação à competição, Barreto (2003) ressalta dois aspectos: o aspecto normativo enfatizado pelas teorias sociológicas e o aspecto patológico, caracterizado por um modo de competição que ignora as normas e tem como objetivo a destruição do concorrente.

O aspecto normativo pressupõe a submissão dos competidores a regras fundamentadas em um conjunto comum de valores, superior ao interesse que está no centro da competição. Quando a competição viola as regras estabelece-se o conflito (BARRETO, 2003).

Sintetizando o pensamento de Barreto (2003), entende-se que embora se atribua à competição um caráter normativo, a competitividade e o individualismo inerentes à sociedade capitalista contemporânea, estimulam um modo de competição que quando necessário, ignora a norma e centraliza seu objetivo na destruição do outro, na figura do concorrente, avançando para uma disputa pessoal, desequilibrando as estruturas sociais.

Singer (2002) chama a atenção para os efeitos sociais causados pela competição na economia capitalista como a desigualdade crescente entre quem acumula capital e participa da

competição econômica com nítida vantagem e os que empobreceram e socialmente ficaram excluídos, resultando em sociedades profundamente desiguais.

Na concepção de Singer (2002), a existência de uma sociedade em que predomine a igualdade pressupõe uma economia solidária ao invés de competitiva. Os participantes da atividade econômica cooperando entre si em vez de competir.

A solidariedade na economia só pode se realizar se ela for organizada igualitariamente pelos que se associam para produzir, comerciar, consumir ou poupar. A chave dessa proposta é a associação entre iguais em vez do contrato entre desiguais (2002:9).

Entretanto, a predominância do pressuposto da igualdade não exclui a competição do ambiente cooperativo. Observa-se que o elemento provocador desse fenômeno está vinculado à condição que diferencia a cooperativa de uma empresa tradicional, às relações de poder. A existência de múltiplos papéis (todos ao mesmo tempo são sócios, fornecedores, clientes e às vezes empregados) e as exigências, às vezes, desencontradas entre eles faz com que nas cooperativas o conflito seja mais um estado presente do que um evento esporádico entre os sócios (ALBUQUERQUE et al., 2001).

De acordo com Sato (1999), as relações sociais naturalmente são movidas por conflitos, pois interesses diferentes competem frente a frente, bem como, são movidas também pela harmonia, porque interesses comuns também são compartilhados. De acordo com Albuquerque et al. (2001), a existência do conflito nas organizações cooperativas não remete a uma situação necessariamente ruim ou danosa tendo em vista que se a competitividade for administrada de forma colaborativa pelo grupo pode fortalecer as relações (Ibid.).

Retomando o pensamento de Barreto (2003), o autor não defende a tese de uma sociedade sem competição, apesar de enfatizar a perspectiva de uma sociedade centrada em torno dos valores e critérios da cooperação. Ao contrário, admite a competição presente, como exceção e não como regra (característica da sociedade capitalista), e representada por seus modos normativos. Entretanto, na visão de Albuquerque et al. (1998), conforme visto anteriormente, nas empresas cooperativas, a competição é um método comumente utilizado para resolução de conflitos que enfraquece e prejudica a participação nas decisões da entidade.

Sendo assim, é em um cenário bastante competitivo e em constante transformação que os empreendimentos cooperativos estão incluídos, interagem e precisam desenvolver estratégias de transitar e se contrapor para buscar a redução das desigualdades pela via da cooperação.

2.4 ECONOMIA SOLIDÁRIA E COOPERATIVISMO: DA TRADIÇÃO À RENOVAÇÃO