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Capítulo I. Enquadramento teórico

7. Cooperação versus colaboração

Cooperação e colaboração etimologicamente semelhantes e muitas vezes apresentadas como palavras sinónimas, são funcionalmente distintas. Optamos por clarificar os dois conceitos e, para tal, recorremos ao dicionário online de língua portuguesa2, para percebermos as semelhanças e as diferenças.

Cooperar; v. int. (Do lat. Cl. Cooperári, «cooperar», pelo lat. Vulg. Cooperáre, «id»). Prestar cooperação; trabalhar juntamente (com); colaborar (com).

Colaborar; v. int. (Do lat. Collaboráre, «trabalhar com»). Trabalhar em comum com outrem; cooperar; participar (o professor colaborou no projeto; todos devem colaborar).

De facto, uma análise semântica aos verbos indicia-nos que são idênticos, embora encontremos diferenças nas teses defendidas por alguns autores, como veremos. Num artigo redigido por Panitz (1999), intitulado de Aprendizagem Colaborativa versus Cooperativa, a diferença entre os dois termos/conceitos é bem identificada. Segundo o artigo citado, a cooperação é entendida como sendo “uma estrutura de interação projetada para facilitar a realização de um produto ou objetivo final específico por meio de pessoas que trabalham em conjunto em grupos” (p.3). Ou seja, a cooperação pressupõe interação em grupo para executar uma tarefa, ainda que existindo sempre um supervisor ou facilitador. A colaboração encontra-se centralizada no sujeito, sendo muito importante as características individuais e as responsabilidades individuais e de grupo. Deste modo, Panitz (1999) afirma que “a colaboração é uma filosofia de interação e estilo de vida pessoal, onde os indivíduos são responsáveis pelas suas ações, inclusive aprendendo, respeitando as habilidades e contribuições de seus pares” (p.3).

Tanto num conceito como noutro o foco de todo o processo é o grupo. Mas existem diferenças na forma como estes se desenvolvem. Tal como refere Gaspar (2007) “a palavra colaboração fixa-se em processos, enquanto a cooperação visa produtos. É frequente afirmar-se que a cooperação é a mãe da colaboração” (p. 114). O mesmo autor vê a cooperação como uma técnica de trabalho, ou seja, como um instrumento. Na aprendizagem colaborativa “os processos vão acontecendo, vão-se desenvolvendo, vai seguindo determinados rumos” (p.114), tornando-se estas técnicas mais eficazes quando se sustentam no construtivismo:

Tanto a aprendizagem colaborativa como a aprendizagem cooperativa têm sua âncora no Paradigma Interpessoal, cujo objeto de estudo é o aspeto relacional do indivíduo atingindo capacidades de cooperação, partilha e construção de comunidade, na exigência de aprender em conjunto, e visando distribuição individual dos resultados da aprendizagem (Gaspar, 2007, pp.114-115).

Sobre este assunto, também Meirinhos e Osório (2006) já tinham afirmado que no campo educativo e de formação, a distinção entre cooperação e colaboração começou a ser necessária à medida que se foram desenvolvendo as análises da aprendizagem em rede. Apesar de serem variadas as abordagens a estes dois conceitos, parece encontrar-se hoje algum consenso na sua diferenciação (p.5).

Por conseguinte, estes autores referem Henri e Lundgren-Cayrol (2001) para salientarem quatro aspetos que distinguem a cooperação de colaboração, nomeadamente o controlo e autonomia, o objetivo a atingir, a tarefa e a interdependência. No controlo e autonomia em termos de cooperação, existe um maior controlo por parte do formador, e uma menor autonomia por parte do formando [vide figura 1 (Meirinhos, & Osório, 2006)]. Sendo assim, na colaboração é necessário que a criança tenha mais autonomia e maior maturidade cognitiva do que na cooperação. Deste modo, a opção pela aprendizagem cooperativa ou colaborativa está relacionada com a idade e a maturidade das crianças sendo a cooperação mais apropriada para pessoas jovens, menos autónomas, e com pouca maturidade cognitiva.

Figura 1. Relação entre cooperação e colaboração

Outra característica que estabelece a distinção entre os dois conceitos é o objetivo a atingir. Na cooperação distribuem-se tarefas e responsabilidades pelos elementos do grupo, para alcançar o objetivo. Na colaboração negoceia-se e orienta-se a interação tendo um objetivo comum. Pressupõe uma definição coletiva de objetivos e pretende que cada membro, de uma forma individual, seja responsável por atingir o objetivo do grupo e não um objetivo individual, combatendo deste modo o individualismo. A tarefa no que concerne à cooperação pode ser dividida em subtarefas, entregues a um ou vários elementos do grupo. Assim sendo, na cooperação, o destaque recai na realização da tarefa pelo grupo, baseada nas subtarefas de cada formando. A colaboração exige uma interação entre os membros, na medida em que é uma atividade coordenada e sincronizada. Na colaboração, a realização da tarefa articula-se mais num envolvimento pessoal, mas num ambiente de interação que possibilita a interajuda mútua e a colocar em comum o fruto do seu trabalho. O grupo, sem ser o único local de aprendizagem, é um local privilegiado de troca de informações e saberes. Por fim, a interdependência é uma característica comum à cooperação e à colaboração, mas com algumas nuances. Ao diferenciá-los verifica-se que, na cooperação, a interdependência tem necessariamente de existir, uma vez que a

contribuição de uns só está completa com a contribuição dos outros. Por outro lado, a colaboração valoriza uma interdependência de caráter mais associativo, visando um maior envolvimento, a partilha de ideias e de recursos. Aqui, a interdependência surge num plano mais relacional, e num contexto mais social, tendo como objetivo a criação de uma identidade grupal.

Henri e Lundgren-Cayrol (2001), Faerber (2002) e Henri e Basque (2003) consideram que em vez de se separar os conceitos, eles devem ser antes considerados como as extremidades de um contínuo, representando a cooperação um processo de aprendizagem altamente estruturado e a colaboração um processo de aprendizagem cuja responsabilidade cabe à criança, tal como se sistematiza na figura que encontramos em Meirinhos e Osório (2006, p.6) (vide figura 2).

Figura 2. Níveis de trabalho coletivo

Tendo nós desenvolvido a prática pedagógica com crianças/alunos de creche, jardim de infância e 1.º CEB, atendendo à sua idade e à sua maturação cognitiva, a opção por uma metodologia de cooperação em relação à colaboração tornou-se-nos evidente.

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