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4 REGULAÇÃO PARA A ESTABILIDADE FINANCEIRA E PARA O

4.3 COOPERATIVAS DE CRÉDITO

O sistema cooperativo de crédito está inserido no contexto do SFN (art. 192 da CF/88), tendo em vista que são criadas instituições financeiras bancárias ou

monetárias integrantes do subsistema operativo do SFN. Esse sistema, consoante as lições de Matias et al. (2014, p. 197), é dividido em dois mercados importantes: o de crédito e o de capitais, sendo este último adstrito a algumas grandes empresas que sabem realizar captação de recursos por meio da emissão de debêntures89,

enquanto o de crédito é uma das mais influentes fontes de financiamento para empresas de variados segmentos.

De acordo com a Lei nº 5.764/1971, as cooperativas de crédito no Brasil são divididas em: singulares, centrais ou federações e confederações de cooperativas. As primeiras são constituídas por uma quantidade mínima de 20 associados, enquanto as centrais ou federações são formadas por, ao menos, 3 cooperativas singulares, com o fito de coordenar os serviços econômicos e assistenciais dos membros, além de compor as diretrizes das atividades. A confederação de cooperativas é instituída por no mínimo 3 centrais ou federações, com o mote de organizar e dirigir suas afiladas, sendo somente as centrais ou federações portadoras da posição de instituição financeira, não obstante as confederações de cooperativas poderem conseguir a aprovação do Bacen para também se tornarem instituição financeira.

Mediante a concessão de empréstimos a juros menores e com abertura de crédito mais ágil e desburocratizada aos associados, as cooperativas de crédito surgem como alternativa viável às instituições tradicionais do SFN. O fato de as cooperativas não trabalharem em função da obtenção de lucro permite que atuem com ganhos reais menores e, assim, reduzam as taxas de juros e os preços dos serviços. A liquidez dessas entidades pode ser promovida pelas cooperativas centrais em cada Estado, que podem fornecer recursos para cobrir eventual falta de caixa.

As centrais, por sua vez, são ligadas a um dos bancos cooperativos existentes no país: o Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob) ou o Banco Cooperativo Sicredi (Bansicredi). Além disso, há cooperativas que firmam convênios com outras instituições financeiras a fim de melhorar a prestação de serviços aos associados fornecendo acesso a cartão de crédito, cheques, fundos de investimentos etc., tudo sob a fiscalização do Bacen e das cooperativas centrais em cada Estado90.

89 Debêntures são títulos de crédito representativos de um empréstimo, de médio e longo prazo, que

concedem a seu detentor de crédito direito contra a companhia emissora, tornando-se credor dessa companhia.

90 Segundo Melo Sobrinho, Soares e Meinen (2013), em 2013, exisitam 1.216 cooperativas no Brasil,

ocasionando a concepção de que o cooperativismo é um acontecimento em franco crescimento, máxime diante dos projetos econômicos e sociais surgidos nos últimos 13 anos.

Para além disso, nas cooperativas de crédito, encontra-se outra maneira de se vislumbrar o sistema financeiro atuando em prol do desenvolvimento social. Apesar de ser vista e assegurada a sua existência na norma do art. 192 da Carga Magna de 1988, sua presença precede a isso. Santos (2000, p. 1) expõe que as primeiras cooperativas foram criadas entre 1826, na Inglaterra, devido à miséria realizada pela mudança de pequenos camponeses produtores em trabalhadores de fábricas do capitalismo industrial. O autor também elucida que os modelos semelhantes às cooperativas atuais apareceram, também, na Inglaterra, em 184491,

com as chamadas cooperativas de consumidores, que tinham como objetivo combater a penúria ocasionada pelos baixos salários e as terríveis condições de trabalho.

No Brasil, essas entidades são vistas como instituições financeiras sem fins lucrativos, movidas pelo intuito de conceder crédito e proporcionar outros serviços financeiros aos seus associados, sendo autorizadas e fiscalizadas pelo Bacen. Elas são alternativas exequíveis às instituições do sistema financeiro corrente.

A Aliança Cooperativista Internacional (ACI) conceituou cooperativa como sendo um conjunto de cidadãos ligados espontaneamente com o desígnio de ordenar suas necessidades econômicas, sociais e culturais comuns a partir de uma organização de propriedade comum e democraticamente inspecionada (INTERNATIONAL CO-OPERATIVE ALLIANCE, 2013)92.

De acordo com Geriz (2004, p. 83-84), a globalização e o poder articular dos mercados com a ampla abundância de capitais pelo mundo trouxe severa competição: de um lado, a concentração de riqueza nos países desenvolvidos, do outro, a exclusão econômica e social dos países em desenvolvimento, com diminuição do poder de compra dos salários e queda do número de empregados, fazendo-os buscar alternativas. É daí que surgem o mutualismo operário e o cooperativismo93.

91 Thenório Filho (1999, p. 40) expõe que a primeira cooperativa surgiu em Rochdale, Manchester,

Inglaterra, com 28 tecelões que almejavam um meio diferente contra a crise econômica e o desemprego, tendo sido nomeada como Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale.

92 A Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB, 2013) elucida que cooperativa é a união de

pessoas com fulcro na ajuda mútua, responsabilidade, democracia, igualdade, equidade e solidariedade.

93 Conforme elucida Geriz (2004, 82-83), o mutualismo operário antecedeu o cooperativismo

moderno, diante da forma de organização de trabalhadores estabelecido com a cooperação recíproca para a solução de problemas econômicos e sociais e no aperfeiçoamento das condições de vida. Tem como mote os princípios da reciprocidade de sérvios e o da entreajuda, além de possuir sustentáculo na democracia, solidariedade, liberdade de adesão ou demissão e

Os empreendimentos cooperativistas destacam-se e são vistos como recursos capazes de dar azo aos cidadãos para se estruturarem ao redor da economia local e regional com empresas competitivas que estão sob seu controle e condução, a partir da obtenção de crédito de modo a promover o crescimento econômico e social a partir do SFN.

Em 1903, a partir do Decreto nº 979, houve a primeira medida legislativa e normativa a respeito das cooperativas, por meio da regulação que permitia aos sindicatos rurais se estabelecerem sob a forma de cooperativas.94 A partir da década

de 1960, houve na legislação brasileira a edição de novas leis que trataram da matéria, podendo ser mencionadas a Lei nº 4.380/1964, que dispunha sobre as cooperativas habitacionais, a Lei nº 4.595/1964, que tecia sobre as cooperativas de crédito e, por derradeiro, a Política Nacional de Cooperativismo foi definida com a promulgação da Lei nº 5.764/1971, recepcionada pela CF/88 e pelo Código Civil de 2002, com as ressalvas instituídas no transcorrer do governo Lula, ante a Lei Complementar nº 130/2009, que revogou alguns artigos da citada lei.

O art. 4º da Lei nº 5.764/1971 esboça que as cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de caráter civil, não sujeitas à falência, além de serem constituídas para prestar serviços aos associados, distinguindo-se das demais sociedades pelas razões expostas em seus incisos (BRASIL, 1971)95. Ademais, a cooperativa de crédito concede montante de crédito a

uma taxa de juros aproximadamente mais baixa do que as outras instituições financeiras, sem despesas extras.

Pinheiro (2008, p. 7) traz à tona a realidade de que as cooperativas de crédito são entidades financeiras constituídas sob a forma de sociedade cooperativa, com o intuito da realização da prestação de serviços financeiros aos associados. Todavia, Mélian e Cabo (2006, p. 1-21) abordam que as cooperativas não são iguais

voluntariedade, protegendo os associados e familiares, mediante os proveitos pecuniários ou da assistência.

94 Geriz (2004, p. 86) diz que, em 1932, no transcorrer do governo Getúlio Vargas, foi que houve a

edição da primeira norma que elucidou sobre as sociedades cooperativas, no art. 30 do Decreto nº 22.239/1932. Em tal norma se via o objetivo principal daquelas, qual seja, de proporcionar aos associados crédito e moeda, a partir da mutualidade e da economia, com a estipulação de uma taxa módica de juros, ajudando no pequeno trabalhador a realizar operações de crédito passivo e serviços auxiliares ou conectados ao crédito.

95 São características das cooperativas: adesão voluntária, variabilidade do capital social, limitação

do número de quotas-partes do capital para cada associado, inacessibilidade das quota-partes do capital a terceiros, singularidade do voto, neutralidade política e indiscriminação religiosa, racial e social, prestação de assistência aos associados etc.

às demais instituições financeiras, por decorrência da sua natureza jurídica, já que estas são consideradas organizações do terceiro setor.

O confronto direto entre as cooperativas de crédito e os bancos deveria ser visto como errado, sabendo-se que, diferentemente dos bancos, as cooperativas de crédito não possuem o intuito de os lucros. Todavia, Hendrisken e Van Breda (2011, p. 104) aduzem que “é lógico reconhecer que a entidade deveria ser vista como se permanecesse em operação indefinidamente, em condições normais”, então, é plausível atribuir que todas as associações, relativamente ao objeto social, têm o intuito de alcançar lucro para sua manutenção.

Desse modo, consegue-se distinguir as cooperativas de crédito dos bancos, devido ao modo de como os resultados são repartidos (FERNANDES, 1997)96.

Bergengren (2001) diz que as poupanças e empréstimos temporários realizados pela cooperativa de crédito geram a capacitação de seus membros para seguir a fazer sua indispensável cooperação com a sociedade, livrando-a do perigo da penúria e da humilhação da esmola.

É permitido às cooperativas de crédito a realização de operações autorizadas pelo Bacen no interesse dos seus associados, entre estas, a captação de recursos dos cooperados, de quaisquer entidades, inclusive outras instituições financeiras, sendo aplicadas taxas de remuneração mais baixas do que as estipuladas no mercado ou que haja isenção de remuneração; a aplicação de recursos advindos do mercado financeiro; a oferta de crédito apenas aos associados etc.97

Bancos cooperativos são bancos comerciais, ou bancos múltiplos com carteira comercial, controlados por cooperativas centrais de crédito detentoras de,

96 Segundo Santos (2009), enquanto nas cooperativas se encontra uma sociedade simples de

pessoas, sem fins lucrativos, com um número ilimitado de associados, em que cada um tem direito a voto, com cotas inacessíveis aos estranhos à cooperativa, mesmo que por herança e, com os resultados financeiros isentos de tributos, com as sobras devolvidas aos associados, além de se desenvolver pela colaboração, os bancos são sociedade empresária, de capital, com ênfase no lucro, com um número limitado de ações e voto proporcional às ações ordinárias, que são livremente negociadas e/ou transferidas, com resultados positivos altamente tributados, lucro líquido à disposição dos acionistas e que se desenvolve pela competição.

97 De acordo com a autora, os dois maiores sistemas cooperativos de crédito em nosso país são o

Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob) e o Sistema de Crédito Cooperativos (Siscredi), e elas, cooperativas de crédito, recebem depósitos à vista e a prazo, efetuam empréstimos e prestam outros serviços de natureza bancária aos seus sócios cooperados. Contudo, não têm acesso ao serviço de compensação, à reserva bancária e ao mercado interfinanceiro, necessitando, por isso, de um banco comercial como parceiro e justamente por isso foi criado o Bancoob, banco comercial que presta serviços de natureza financeira, operacional e consultiva ao Sicoob, sendo uma instituição financeira de direito privado localizada em Brasília (GERIZ, 2014, p. 99-100).

no mínimo, 51% das ações com direito a voto. Devem fazer constar, obrigatoriamente, em sua denominação a expressão Banco Cooperativo.

Sendo assim, verifica-se que as camadas sociais de baixa renda têm promovido no Brasil o incremento de uma nova forma de cooperação a que os estudiosos do cooperativismo denominam “cooperativismo solidário”. Essa é uma nova vertente cooperativista voltada à criação de ambiente econômico capaz de abranger os excluídos e os microempreendedores, existindo a partir da mútua confiança e na solidariedade, na ética e no caráter dos associados, sendo outro meio de a regulação social, por intermédio do sistema financeiro, ao menos indiretamente, instrumentalizar o desenvolvimento social.