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Privado entre 2003 e 2005 Vagas

2.1 As Cooperativas como forma gestora de cursos menos onerosos no ensino superior privado

Neste capítulo, iremos tratar das conceituações que o cooperativismo tem assumido. Em primeiro lugar, o cooperativismo dentro do espírito de Rochdale, como forma associativa de trabalho, que, no Brasil e em outros lugares do mundo, orienta a agremiação de trabalhadores. Em seguida, focamos as cooperativas de mão-de-obra com intuito de proceder ao estudo das cooperativas de professores do ensino superior privado.

O termo cooperativismo é amplo, dando conotações diferentes a interesses diversos. Inicialmente, trataremos do cooperativismo como forma associativa de trabalho em que trabalhadores com interesses semelhantes se agremiam para buscar o resultado financeiro de seu trabalho em conjunto. Não estamos aqui conotando a questão do lucro, mas sim, no aspecto do resultado obtido a partir de trabalho definido como mercadoria e agregado para obter um valor partilhado a todos. A definição de Rios (1989) trata desse aspecto:

[....] cooperativismo é um modelo de associação com as seguintes características: propriedade cooperativa, gestão cooperativa e repartição cooperativa; na propriedade cooperativa, estamos diante de uma associação de pessoas - e não de capital, isto é, propriedade dos associados e gestão cooperativa. O poder último da decisão é competência da assembléia de associados, com repartição cooperativa e distribuição de sobras financeiras no final de um ano trabalhado. (RIOS, 1989, p.13).

Ainda segundo o mesmo autor, (RIOS, 1989, ps.16 e 17): “pode-se definir uma cooperativa como sendo uma associação voluntária com fins econômicos, podendo nela ingressar os que exercem uma mesma atividade”.

A professora Pinho (1966), da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo, ensina que:

[...] sociedade cooperativa, seja qual for sua constituição legal, é toda associação de pessoas que tenha por finalidade a melhoria econômica e social de seus membros, pela exploração de uma empresa baseada no auxílio mútuo e que siga os princípios de Rochdale. (PINHO, 1966, p.46)

Neste aspecto, cooperar significa ajudar-se mutuamente para atingir objetivos delineados juntos, como uma forma de união e de sobrevivência, procurando os mesmo objetivos. (PINHO, 1966, p.44)

Desta forma, diferenciam-se das sociedades mercantis ou empresariais em seu aspecto de resultado, pois visam a prestação de serviços e produção de mercadorias, após isso, alocam esses resultados obtidos para seus cooperados. Assim:

Conhecidas as características essenciais das cooperativas, podemos distingui-las das sociedades comerciais em geral: enquanto estas dão primazia ao capital e têm por fim precípuo a obtenção de lucros, aquelas

colocam em primeiro lugar a pessoa humana e visam a prestação sem intuito lucrativo. (PINHO, 1966, p.52)

Desta forma, nas cooperativas, o lucro é um fenômeno secundário, ao contrário do que ocorre numa sociedade mercantil. Entendemos que o cooperativismo, na sua fase inicial, seja uma forma de garantia de trabalho e de sobrevivência das classes sociais que foram fustigadas pelas relações capitalistas. O cooperativismo surge na Europa, na primeira metade do século XIX, com o modelo proudhonista, justamente para garantir as atividades necessárias para os trabalhadores que foram expulsos do setor produtivo, com a entrada do maquinário desenvolvido na primeira fase da Segunda Revolução Industrial. Nesse mesmo contexto histórico, o socialista francês, Charles Fourier, desenvolveu um programa de vida em sistema de trabalho associativo, o qual denominou de falanstérios, que preconizava um sistema de atividade, como se fosse uma aldeia de trabalho e moradia. Com a imigração dessas idéias para os Estados Unidos da América, levadas por Robert Owen em New Harmony, tem-se a criação de uma forma de associativa de trabalho. Todo esse movimento inspirou o modelo denominado ”Cooperativismo de Rochdale”, que ocorreu na cidade de mesmo nome na Inglaterra, no ano de 1844 e que institui, um programa de trabalho associativo que é mencionado até hoje como o modelo ideal cooperativo.

A experiência de Rochdale pode ser assim sintetizada, por meio do trabalho de Keil e Monteiro (1982):

Num contexto de desemprego e de fome, os operários e artesãos de Rochdale, num número de vinte e oito, fundam em 1843 uma sociedade baseada na ajuda mútua, visando a melhoria de suas condições de vida e bem-estar comum que, segundo seus fundadores, propunha:

• Abrir um armazém para a venda de provisões, roupas etc.

• Comprar ou construir certo número de casas, destinadas aos membros que desejam ajudar-se mutuamente para melhorar sua condição doméstica ou social.

• Iniciar a fabricação dos artigos que a sociedade estimar conveniente para proporcionar trabalho aos membros que estiverem desocupados ou sujeitos a repetidas reduções de seus salários;

• A fim de dar a seus membros mais segurança e maior bem-estar, a sociedade comprará e adquirirá terras, que serão cultivadas pelos sócios desocupados ou cujo trabalho for mal remunerado;

• Tão logo seja possível, a Sociedade procederá a organizar as forças da produção, da distribuição, da educação e do seu próprio governo; ou, em outros termos, estabelecerá uma colônia que se bastará a si mesma e na qual os interesses estarão unidos. A Sociedade ajudará a outras sociedades cooperativas para estabelecer colônias similares; A fim de propagar a sobriedade, a Sociedade estabelecerá, tão logo seja possível, um salão de combate aos vícios. (KEIL E MONTEIRO, 1982, p.2)

Continuando a exposição dos autores Keil e Monteiro (1982), evoca-se o caráter reformador do movimento, dentro do contexto que o capitalismo europeu assumia nessa época:

O movimento reformador dos pioneiros reflete, de forma clara, uma postura altamente democrática, humanística, deixando antever uma clara postura contrária e de resistência à forma individualista e desumana com que o capitalismo da época agia. (KEIL e MONTEIRO, 1982, p.3). Os princípios defendidos pelos pioneiros de Rochdale para o seu empreendimento pretendiam assegurar a forma de trabalho para seus associados. Assim, no Almanaque da Sociedade dos Pioneiros de Rochdale, faz-se menção que:

A sociedade cooperativa manufatureira de Rochdale tem por objetivo assegurar a cada um de seus membros os benefícios do emprego de seu próprio capital e de seu trabalho nas manufaturas de algodão e lã, melhorando, desta forma, a situação doméstica e social de todos os seus membros.

(KEIL e MONTEIRO, 1982. p.2)

Assim, podemos afirmar que essa proposta colocada pelos Pioneiros de Rochdale foi uma postulação original, diante das condições a que estavam submetidos os trabalhadores. Essa “nova” postulação pode ser reconhecida como uma forma de revolta dentro do contexto apresentado, sem, no entanto, indicar a ruptura. Nas palavras de Keil e Monteiro (1982):

[...] nega-se ao cooperativismo de Rochdale o direito de ser uma expressão de uma forma de transformação da sociedade capitalista. Embora seu sucesso seja crescente, provocando melhorias reais para seu quadro social, este mesmo sucesso ocorre de forma complementar e/ou associada às regras da economia liberal inglesa, mantendo a essencialidade da separação entre trabalho e capital na distribuição dos benefícios do empreendimento e admitindo a existência de assalariados em seu meio.

Todos reconhecem que a proposta dos Pioneiros de Rochdale foi uma proposta ousada, com clara intencionalidade de modificação pacífica das estruturas vigentes na época e que oprimiam tremendamente os artesãos. A grande maioria dos socialistas da época era favorável às experiências cooperativas, pois seus princípios baseavam-se em atitudes democráticas, imersas na solidariedade igualitária, na participação na atividade produtiva, gestão e distribuição dos excedentes conforme a participação de cada um. (KEIL e MONTEIRO, 1982, p.7)

O cooperativismo tem sua origem dentro do mundo capitalista como força associativa de trabalho, diante da industrialização do final do século XIX e do limiar do modelo soviético, surgido no início do século XX na Rússia e na Europa em geral.

No Brasil, o cooperativismo foi introduzido durante a recessão mundial dos anos 30 do século passado. Após, como doutrina, foi utilizada como um lema contra o avanço do comunismo e contra a revolução cubana, como coloca Rios (1989):

[...] Já no Brasil, as principais campanhas de cooperativismo se dão entre 1927 e 1936 (crise econômica mundial), na época problemática do pós- guerra e de seus ajustes econômicos (década de 40 – séc. XX), ou ainda

para fazer frente à chamada “ameaça do comunismo” e ao impacto da revolução cubana (década de 60). (RIOS, 1989, p. 25 e 26)

Segundo Pinho (1966), de acordo com a legislação aplicada no Brasil o cooperativismo em sua origem, teve sua formatação a partir de uma sociedade de pessoas. Essa forma de associação é de inspiração rochdaleana, como ensina Pinho (1966):

Também, a legislação no Brasil é de inspiração rochdaleana. Assim, o artigo segundo do dec. 22.239, de 19.12.1932 (revigorado com as modificações do decreto-lei 581, de 1/8/1938) dispõe que as sociedades cooperativas, qualquer que seja a sua natureza, civil e mercantil, são sociedades de pessoas e não de capital, de forma jurídica sui generis, que se distinguem das demais sociedades [...], não podendo os estatutos consignar disposições que os infrinjam. (PINHO, 1966, p.47)

No entanto, o conceito de cooperativismo tem servido a diferentes projetos políticos, como bem conota Rios (1989):

Cooperativismo é uma dessas palavras mágicas – à semelhança do termo “democracia”, que serve para tudo, como uma chave mestre que abre todas as portas. Palavra mágica, porque palavra-panacéia, remédio para todos os males, solução para múltiplos problemas, cooperativas aparecem inevitavelmente em qualquer referência de reforma agrária, tanto em recomendações oriundas da Pastoral da Terra (da Igreja Católica) como nos documentos da Aliança para o Progresso, lançada pelo presidente Kennedy para neutralizar a repercussão da revolução cubana na América Latina, no início da década de 60. Curioso é que enquanto a Aliança para O Progresso as incentivava e recomendava o cooperativismo, passava a ser visto como uma terceira via de reformismo nem sempre ingênuo, sob as bombas americanas, cooperativas socialistas construíam o tecido socialista no Vietnã. (RIOS, 1989. p.7,8)

Para compreendermos melhor a posição que o cooperativismo assumiu no Brasil, necessitamos entender como foi aqui introduzido. A priori, o cooperativismo foi a forma pela qual o capital penetrou em diferentes ramos produtivos, inicialmente nos anos 30, 40, e 50 na área agrícola. Segundo Duarte (1986), apud Nogueira (1999):

O cooperativismo serviu [...] como um mecanismo que viabilizou a penetração e dominação capitalista no campo, na medida em que se desenvolveu atrelado aos interesses do Estado e do capital financeiro, por quem foi instrumentalizado. (DUARTE, 1986, p. 22, apud NOGUEIRA, 1999, p.10.)

Acompanhando a política de implantação do cooperativismo no Brasil, esta foi tomada como modelo para o desenvolvimento de áreas econômicas ainda precariamente desenvolvidas, sempre patrocinado pelo Estado como forma garantidora do modo de produção capitalista, como Nogueira (1999) coloca em seu trabalho:

A reorientação por que passou o segmento agrícola cooperativista foi um reflexo, mais uma vez, da iniciativa estatal de lançar mão dele como sistema organizacional para que o setor rural novamente desse a sua contribuição para o alcance das metas macroeconômicas. Ao final da década de 50, o setor rural foi mobilizado novamente para contribuir para

a melhoria das contas externas do País: as exportações de produtos primários deveriam gerar divisas e, conseqüentemente, capacidade de importação; a produção primária para o mercado interno deveria também substituir a importação de alimento foi desenvolvido o programa PROÁLCOOL, com vistas à viabilização de alternativas face à crise do petróleo da década de 70; e a modernização da agricultura, em geral, novamente proporcionaria o rebaixamento do custo dos alimentos no mercado interno, visando o barateamento do custoda força de trabalho do setor industrial (contenção dos índices de inflação em aceleração naquele período).(NOGUEIRA,1999, p.10)

Acompanhando o raciocínio de Nogueira (1999), citando Duarte (1986), o Estado molda o cooperativismo para adequá-lo dentro do contexto estrutural econômico:

O Estado viu o cooperativismo como um dos instrumentos que melhor viabilizaria a execução das políticas econômicas voltadas ao setor rural, inserindo-o, portanto, no novo padrão de acumulação de capital. (DUARTE, 1986, apud NOGUEIRA. 1999, p.11)

Desta forma, o cooperativismo, adentrando nesse espaço econômico agrícola, irá distanciar-se da forma associativa de trabalho do modelo rochdeleano, para assumir a forma empresarial, pois as cooperativas agrícolas passarão a movimentar-se de acordo com a política econômica do Estado.

Na prática, a atuação sobre o cooperativismo agrícola foi no sentido de capitalização e modernização de algumas cooperativas, levada a cabo principalmente através de crédito subsidiado, de forma a privilegiar a acumulação de capital na agricultura organizada por cooperativas. Isto implicou na transformação das cooperativas em “cooperativas empresariais”, que são as grandes cooperativas até hoje existentes. (NOGUEIRA, 1999, p.11)

De forma perene, segundo Nogueira (1999), o cooperativismo, no Brasil, parece ter permanecido à mercê do grande capital, ora dentro do “espírito” cooperativo, ou mesmo regido pelo sindicalismo patrocinado pelo Estado, ou, finalmente, quando o próprio Estado se torna seu principal patrocinador:

Analisando o processo de desenvolvimento do cooperativismo no Brasil, transcorridos pouco mais de cem anos do surgimento das primeiras cooperativas, observa-se com relativa nitidez a importância de três fatores de influência: o instrumental ideológico, que contribuiu para a formação da mentalidade cooperativa, tanto nas lideranças do movimento quanto na base dos associados; a dissociação entre movimento sindicalista e o instrumental cooperativista, que é reflexo do esforço de regulação e subordinação da classe trabalhadora, ao longo do século XX no Brasil; e a participação decisiva do Estado, seja na consolidação do instrumental ideológico, através da legislação que conceitua cooperativismo, atribui ao próprio Estado a tarefa de legitimar as iniciativas cooperativistas e ainda cria mecanismos de intervenção direta no desempenho de suas atividades, seja na manipulação do desenvolvimento do setor cooperativista, via política econômica, submetendo-o ao processo de acumulação de capital

e não permitindo sua realização como instrumento de emancipação dos trabalhadores. (NOGUEIRA, 1999, p.13)

Verifica-se, de antemão, que o uso da expressão cooperativa é ideal para construir uma configuração de cooperativa de mão-de-obra, incluindo as cooperativas de professores do ensino superior privado. Inicialmente, iremos tratar o problema do assalariamento nas cooperativas de mão-de-obra.

Segundo Nogueira (1999):

O cooperativismo de trabalho é, igualmente ao cooperativismo de produção [...], uma sociedade que reúne trabalhadores. Entretanto, diferentemente dos cooperados de uma cooperativa de produção, [...] os associados de uma cooperativa de trabalho são trabalhadores assalariados, ainda que eles não possuam os vínculos legais que configuram, na aparência, a relação assalariada. A posição de trabalhadores assalariados dos associados de uma cooperativa de trabalho coloca-se como essencial na análise deste tipo de cooperativismo, na medida em que ela é o parâmetro de todas as implicações sócio-econômicas decorrentes da existência desse empreendimento. (NOGUEIRA, 1999, p.16)

Desta forma, o cooperativismo se intrumentaliza. As cooperativas de produção segundo Singer (2000), são direcionadas à confecção de manufaturas, artesanato, marcenaria, alimentos etc. e as de produção industrial, segundo Lima (1988), organizariam a produção como um todo, tal qual uma fábrica comum, no qual o produto final é resultado do trabalho coletivo.

O assalariamento do trabalhador nessas cooperativas evidencia ao longo do tempo uma forma de precarização do trabalho:

De um modo geral, o trabalho assalariado sob a forma cooperativa, da forma com vem se desenvolvendo no Brasil, tem contribuído para a precarização do trabalho. A subordinação do trabalhador ao capital, intermediada pela cooperativa e regulamentada por um sistema legal que transforma relações formais de emprego em relações comerciais é o foco principal do mecanismo de precarização e tem como reflexos básicos: a perda de direitos legalmente consagrados a salários diretos e indiretos e a intensificação da exploração através da manipulação da extensão da jornada de trabalho e da insegurança do trabalho. (NOGUEIRA, 1999, p.22)

Em estudo realizado por Singer (2004), professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo e da Faculdade de Economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, o autor constatou que o crescimento das cooperativas de trabalho está ligado às orientações neoliberais na formulação das políticas sociais e de desregulamentação do trabalho em prejuízo aos trabalhadores: “O surto das cooperativas de trabalho se explica pelas profundas transformações sofridas pelo mercado de trabalho que são autênticas tragédias para o trabalhador”. (p.1)

Desta forma, no Brasil, o objetivo de muitas cooperativas: “é substituir a mão-de- obra regularmente assalariada por prestadores de serviços, pois estes últimos não fazem jus aos direitos trabalhistas, que se aplicam somente aos primeiros”. (SINGER 2004, p.1)

No tocante a mão-de-obra e seu custo, Singer (2004) discorre que:

(...) O custo da força de trabalho cai acentuadamente, pois nelas não é mais necessário respeitar o salário mínimo, a jornada legal de trabalho, o descanso semanal e anual de férias e todos os demais direitos que os trabalhadores conquistaram ao longo do século XX e que constam do artigo sétimo da Constituição Federal de 1988. (SINGER, 2004.p.1)

Percebe-se, com isso, o lado perverso do cooperativismo, conforme ainda a exposição de Singer (2004):

A cooperativa de trabalho surgiu, assim, como forma conveniente de substituição de trabalho assalariado regular por trabalho contratado autônomo [...] Empresas criam cooperativas de trabalho, com os seus estatutos e demais apanágios legais, registram-nas devidamente e, depois, mandam seus empregados se tornarem membros delas, sob a pena de ficar sem trabalho [...] Estas falsas cooperativas, também são conhecidas como coperfraudes e outros epítetos. São cooperativas apenas no nome, arapucas especialmente, criadas para espoliar os trabalhadores forçados a se inscreverem nelas. (SINGER, 2004, p.2)

As cooperativas de trabalho foram separadas entre dois tipos: as cooperativas propriamente de trabalho, que vendem produtos feitos no recinto da cooperativa, e as cooperativas que vendem mão-de-obra, denominadas de cooperativas de mão-de-obra. Os produtos criados nessa segunda cooperativa não são elaborados no recinto da cooperativa. Para nosso estudo, esta última denominação coloca-se dentro do nosso objeto de análise. Vejamos na explicação de Singer (2004):

A fiscalização e o ministério público, na verdade, tentam distinguir entre cooperativas de trabalho e cooperativas que chamam de mão-de-obra. As cooperativas de trabalho seriam as que vendem o produto do trabalho dos membros, desde que seja feito com meios próprios de produção e em recinto da cooperativa. As cooperativas de mão-de-obra seriam as que vendem o produto do trabalho (serviço) feito com os meios de produção e no local do comprador. (SINGER, 2004, p.2)

Diante dessa colocação, iremos classificar as cooperativas de professores como cooperativa de mão-de-obra, pois o trabalho exercido pelo professor não é feito dentro da cooperativa, e sim, realizado dentro de uma escola cujo capital não é controlado pela cooperativa de professores, mas pelos seus mantenedores. O professor vai lecionar no recinto dessas escolas, onde o aluno paga para receber os serviços prestados pelo professor. O trabalho dos professores, nesse sistema de cooperativa, corresponde a uma forma de precarização das relações de trabalho. Como afirma Singer (2004):

A formação de falsas cooperativas é apenas uma das formas de precarizar o trabalho de que dispõem em empresas que desejam fazê-lo. (SINGER, 2004, p.3)

Diante do exposto, chamaremos essas cooperativas que precarizam o trabalho, de uma forma geral, de “falsas cooperativas”, cujo objetivo é claramente diminuir os custos das mantenedoras com o pagamento de direitos trabalhistas previstos pela Consolidação de Leis Trabalhistas (CLT) e pela Constituição Federal de 1988, assim, na visão de Singer (2004):

Hoje, quem participa de cooperativas de trabalho carece de qualquer garantia quanto a estes direitos; se eventual gozo depende das vicissitudes dos mercados, em que a formação do custo do trabalho não inclui freqüentemente o custo do salário indireto. (SINGER, 2004, p.6)

O Ministério do Trabalho e Emprego, diante das denúncias relativas a questões trabalhistas feitas por terceiros e por cooperados, elaborou um manual das cooperativas de trabalho para orientar as denúncias de fraudes. Sua menção é importante para nosso exame:

A fiscalização do trabalho no exercício de sua atividade tem se defrontado com o significativo número de cooperativas que não obedecem aos requisitos legais obrigatórios para seu funcionamento. Tal situação tem gerado graves prejuízos aos trabalhadores por meio de subtração de direitos constitucionalmente garantidos. (MANUAL DO TRABALHO E DO EMPREGO - Cooperativas de Trabalho - 1997 – Apresentação).

Diz o manual, consoante à CLT, parágrafo 442, na questão de vínculo empregatício:

A CLT foi aditada com um parágrafo ao artigo 442, através da Lei número 8.949, de 09.12.1994, com os seguintes termos:

“Qualquer que seja a atividade da sociedade cooperativa, não existe vínculo empregatício entre ela e seus associados, nem entre estes e os tomadores de serviços daquela. (IDEM, 1997, p.10)

Referindo-se ainda sobre o direito do trabalhador, consoante ao FGTS, diz o manual:

Aos empregados das sociedades cooperativas se deve aplicar as regras constantes da Consolidação das Leis do Trabalho e legislação trabalhista extravagante, inclusive a relativa ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. (IDEM , 1997, p.11).

O Ministério do Trabalho e Emprego editou a Portaria número 925, de 28.09.95, com ênfase nas falsas cooperativas de trabalho:

No intuito de coibir as atividades das cooperativas de trabalho criadas com o objetivo nítido de desvirtuar, impedir ou fraudar as relações de emprego, bem como a aplicação dos direitos dela advindos, o Ministério

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