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A COP16 e o Setor de Base Florestal

Posição do setor de florestas plantadas

2.3.4 A COP16 e o Setor de Base Florestal

Silvicultura de Florestas Plantadas

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Capítul

o

período de compromissos ocorrerá no final de 2012. Ao contrário das elevadas expectativas geradas antes da última COP em Copenhague, o contexto da reunião de Cancun foi marcado por expectativas mais realistas e condizentes com a realidade política e com as possibilidades reais de avanço em nível multilateral. Muito embora os resultados da COP16 tenham ficado bastante aquém do que é necessário para a continuidade plena do regime após 2012, houve avanços importantes.

A Conferência começou com uma declaração forte do Japão, dizendo‑se contrário a um segundo período de compromisso do Protocolo de Quioto na ausência de compromissos claros de outros países. Mas, ao final do evento, as Partes se comprometeram a trabalhar para que não haja um intervalo entre períodos de compromisso. Além das discussões sobre metas legalmente vinculantes para países desenvolvidos (Anexo 1) após 2012, houve debates sobre as Ações de Mitigação Nacionalmente Apropriadas (NAMAs na sigla em inglês), que se referem aos compromissos de mitigação de emissões, assumidos por países em desenvolvimento (não‑Anexo 1), inclusive o Brasil. Essas ações deverão ser registradas e submetidas a medidas de Mensuração, Reportabilidade e Verificação (MRV), conforme metodologias e critérios a serem definidos. Vale lembrar que o Brasil já apresentou cinco planos setoriais de mitigação no âmbito do Acordo de Copenhague (combate ao desmatamento na Amazônia, no Cerrado, e medidas de mitigação nas áreas de energia, agricultura e uso de carvão vegetal renovável na siderurgia). Além da relação intrínseca das florestas plantadas com o plano na área de siderurgia, o setor de base florestal também é contemplado no plano de agricultura. Em ambos os casos, o papel do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) é fundamental.

Destaca‑se também a criação do Green Climate Fund que deverá receber aportes de países desenvolvidos, chegando a US$ 30 bilhões até 2012, e a US$ 100 bilhões por ano até 2020. O Fundo proposto terá o Banco Mundial como trustee. Além disso, houve também avanços das discussões do mecanismo de mitigação de emissões provenientes do desmatamento e de estímulo à conservação florestal (REDD – Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação).

As discussões sobre as regras relacionadas à contabilização de mudanças de uso da Terra e Florestas (LULUCF, sigla em inglês para Land Use, Land-Use Change and Forestry) não passaram por grandes avanços. As principais definições relacionadas a florestas foram mantidas e foi adotado um texto simples, que abre espaço para discussões sobre alterações e adições em reuniões futuras.

Já no âmbito do MDL, foi autorizada a elaboração de linhas de base padronizadas para projetos de créditos de carbono, o que visa à facilitação e à ampliação do número de projetos e países beneficiados. É importante ressaltar que o Brasil já conta com dois projetos de reflorestamento registrados no MDL, o que apesar de significativo ainda é um número baixo para o potencial brasileiro. De certo modo, o principal entrave para a expansão de projetos florestais no Brasil é a restrição da União Europeia, que não aceita esse tipo de crédito em seu sistema doméstico de reduções de emissões.

Por fim, houve também discussões substanciais sobre um tema de significativa importância para o Brasil e outros países em desenvolvimento: a elegibilidade de áreas de reforma florestal ao MDL, o que no âmbito das negociações é conhecido como “Florestas em Exaustão” (vide Box a seguir para explicação). Em Cancun, o assunto foi discutido no Órgão Subsidiário para Aconselhamento Científico e Tecnológico (SBSTA).

Juntamente com alguns países africanos, o Brasil defendeu o tema. A aprovação desse conceito pode aumentar consideravelmente a área elegível para projetos florestais de MDL, uma vez que permitiria o reaproveitamento de áreas já

No entanto, a discussão está longe do consenso requerido para aprovação. Ainda existe certa dificuldade quanto à definição e interpretação legal do conceito, e em relação às formas de distinguir o tema das discussões sobre REDD, que tem finalidade distinta (valorizar estoques florestais existentes). Ao final do debate, decidiu‑se por solicitar às partes da Convenção opiniões e comentários sobre a questão, por escrito, até o dia 28 de março de 2011. As manifestações recebidas serão compiladas e enviadas à COP 17, a ser realizada no final de 2011 na África do Sul, para que o debate continue.

Florestas em Exaustão: proposta para permitir que áreas que continham florestas plantadas em exaustão em 1989 (não florestas nativas) possam ser aproveitadas para o desenvolvimento de novos projetos de refloresta‑ mento, com fins econômicos ou de recomposição florestal, no âmbito do MDL. A lógica se baseia no fato de que a colheita de florestas plantadas em exaustão não é desmatamento (já que foram plantadas justamente para a futura utilização da madeira). Pode‑se e deve‑se incentivar que novas atividades de reflorestamento sejam implementadas nessas áreas, minimizando a necessidade de expansão de áreas para plantios. A regra atual so‑ mente permite o uso do MDL para incentivar novos plantios em áreas que não continham florestas, ainda que as mesmas fossem florestas plantadas, exauridas e em processo de conversão para outro uso da terra. Isso inviabiliza, por exemplo, o aproveitamento de mais de 5 milhões de hectares já convertidos no Brasil desde os incentivos fiscais. Nos países menos desenvolvidos o número passa dos 10 milhões de hectares, o que reforça a importância do tema para o desenvolvimento sustentável e a mitigação das mudanças climáticas.

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