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COPACABANA NOVA IGUAÇU Nível de escolaridade Posição linear e relativa

No documento Chapter Details - Blucher Open Access (páginas 36-40)

dos constituintes no SN Nível de escolaridade Língua de intercomunicação Posição linear e relativa

dos constituintes no SN Nível de escolaridade

Posição linear e relativa dos constituintes no SN

Posição linear e relativa do constituinte no SN Faixa etária Faixa etária Animacidade do núcleo Nível de escolaridade

Sexo Saliência fônica Sexo Estatuto do Português

Saliência fônica Animacidade do núcleo Contexto fonológico sub-

sequente Saliência fônica

Se, de um lado, variáveis no nível sintático (posição linear e relativa dos cons-

tituintes no SN), semântico (animacidade do núcleo) e fonético (saliência fônica)

são as que, do ponto de vista estrutural, caracterizam e definem os diferentes pa- drões de concordância, de outro, são variáveis de ordem social – nível de escola-

ridade (selecionada em todas as amostras), frequência de uso de um crioulo (se-

lecionada na Amostra 2 do PST), língua de intercomunicação e estatuto do

tação, o que, no caso das três últimas, tudo indica dever-se a questões vinculadas ao contato multilinguístico.

O PB atual, cujas normas já estão consolidadas, apresenta padrões idênticos aos das variedades africanas, bem como restrições para a implementação da (não) marcação de plural bastante semelhantes às que nelas ocorrem, o que pode ser interpretado, como sugere Pagotto (2007: 468), como “evidências indiretas” do papel do contato interlinguístico ao longo do tempo:

No quadro atual dos estudos sobre a história do português do Brasil, em que a história social tem sido recolocada como uma preocupação central […] o papel do contato interlinguístico é de fundamental importância, ain- da que sobre ele só conheçamos evidências indiretas.

Levando em conta pesos relativos referentes às marcas de número obtidos nos diferentes constituintes do SN nas análises aqui realizadas, pode-se dizer que, nas variedades urbanas não europeias do Português (e mesmo nas de perfil rural), do ponto de vista estrutural, encontram-se as mesmas tendên- cias, conforme a proposta de um continuum de (não)marcação de plural no SN já mencionada na seção 6.1 e aqui reformulada com o acréscimo dos resul- tados referentes a Moçambique. Na Figura 3, os pesos relativos referem-se à aplicação da marca de plural, não se levando em conta o núcleo em primeira posição.

PRÉ-NUCLEAR NUCLEAR PÓS-NUCLEAR POS. 1 POS. 2/3 POS. 2 POS. 3/4 POS. 2 POS. 3 POS. 4/5/6 PB-COP .89 .69 .16 .16 .29 .16 .46 PB-NIG .83 .53 .26 .32 .28 .10 .11 PST .85 .50 .26 .24 .09 .12 .06 PM .75 .70 .30 .28 .13 .44 .6 [+marcas] [-marcas]

Figura 3 Continuum de marcação de plural em constituintes do SN no PB, PST e PM (pesos relativos)

No continuum, consideram-se SNs prototípicos, isto é, aqueles compostos por constituinte(s) pré-nuclear(es), núcleo e constituinte(s) pós-nuclear(es). Em cada posição, indicam-se os PRs de presença da marca de plural obtidos nas aná- lises gerais. Como observa Brandão (2013: 69).

[...] a primeira posição linear no pré-núcleo tende a ser mais marcada, o que sugere seja esse o locus por excelência da marca. A partir do núcleo em se- gunda posição, vai decrescendo gradativamente a sua presença. [...] No es- quema proposto, a linha vertical contínua que separa o pré-núcleo do nú- cleo representaria o limite do espaço mais saliente para a marcação (o locus esquerdo), enquanto a linha vertical pontilhada entre o núcleo e o pós-nú- cleo indicaria que essas áreas não sofreriam, quanto à tendência à não mar- cação, solução de continuidade. Observe-se, como se ressaltou antes, que o deslocamento para a primeira posição de um núcleo ou de um constituinte que ocupe posição pós-nuclear concorrerá para que se torne mais suscetível a receber marca de número.

Nas variedades africanas, a situação de contato multilinguístico parece ter sido e ainda ser um elemento basilar para compreender os fatores que governam os diferentes padrões de concordância nelas registrados. O PM coexiste com uma série de línguas do grupo Banto, algumas delas circunscritas a determinadas re- giões, mas todas suscetíveis de se difundirem para outras áreas por conta do des- locamento, sobretudo para Maputo, de indivíduos em busca de melhores oportu- nidades de vida. Os informantes da pesquisa naturais de Maputo que se declararam falantes de Português como L2 têm, em geral, o Changana ou o Ronga como língua materna, mas há os que, oriundos de outras regiões, são falantes do Xope, do Matsua ou do Sena.

É grande a complexidade também em São Tomé e Príncipe, em que o Portu- guês coexiste com crioulos de base lexical portuguesa, num espaço geográfico exíguo se comparado ao de Moçambique. No primeiro dos citados países, num total de 1001km2, vivem 178.739 indivíduos, enquanto, no segundo, 28.861.863 habitantes espalham-se por uma área de 801.590km2, 1.257.453 deles na capital Maputo.

Seria, portanto, de esperar que variáveis de cunho social se mostrassem alta- mente significativas para a (não)marcação de pluralidade no SN. Como se verifi- cou no decorrer da análise, tanto em São Tomé quanto em Moçambique os indi- víduos que mais fazem uso de outra língua são mais suscetíveis ao cancelamento da marca de plural. Em São Tomé, a variável frequência de uso de um crioulo mostra tal tendência entre aqueles que falam o Forro com frequência alta (P. R.:

.75) ou média (P. R.: .52). Em Moçambique, de acordo com a variável língua de

intercomunicação – a mais relevante para a aplicação da regra – indivíduos que

falam com mais frequência uma ou mais das línguas locais do que o Português (P. R.: .93), bem como aqueles que o fazem em determinadas situações (P. R.: .51), apresentam maiores índices de cancelamento, o que é corroborado pela variável

estatuto do Português: L2, P. R.: .76; L1: P. R.: .41. Além dessas variáveis, outras,

de caráter social, como nível de escolaridade, sempre são selecionadas nas análi- ses variacionistas.

No Brasil, desde os primórdios da colonização, o contato interétnico e inter- linguístico foi intenso e, ao que tudo indica, crucial para as especificidades que caracterizam o PB e o aproximam das variedades africanas. Como observa Pagot- to (2007: 467) e as evidências aqui o comprovam,

sem o contato interlinguístico no Brasil Colônia e no Brasil Império, o por- tuguês brasileiro não teria as características que teria hoje. Esta última for- mulação traz para o plano central o papel que ameríndios e africanos tive- ram no processo de formação do português do Brasil, sem que caiamos na armadilha de supô-lo todo como fruto de um único pidgin e/ou uma única língua crioula.

Assim, pode-se dizer que “a similaridade de padrões de não marcação nas diferentes variedades sugere a existência de uma tendência de caráter universali- zante, inerente às variedades do Português que emergem de situação de contato linguístico” (BRANDÃO, 2013: 89).

Por fim, cabe lembrar que há um comportamento similar entre as variedades não europeias também no que respeita à produtividade e ao estatuto da regra por segmentos sociais em oposição ao PE, em que a regra é categórica. O índice geral de cancelamento da marca de plural em variedades urbanas é, no PST, 6,6%; no PM, 3%; no PB, 8,3% (7,6% em Copacabana e 8,9% em Nova Iguaçu). No en- tanto, os indivíduos mais escolarizados apresentam índices bem pouco expressi- vos de cancelamento e os menos escolarizados índices que, em geral, ultrapassam os 5%.

No Quadro 4, busca-se fazer uma síntese do que se observou neste estudo e, ao mesmo tempo, mostrar que, mesmo com base apenas na análise de variedades urbanas, há notórias similaridades entre as variedades africanas e o PB. Mas tra- çar o tão almejado continuum afro-brasileiro só será possível com a ampliação das análises, considerando informantes de diferentes perfis e levando em conta outros fenômenos variáveis.

Quadro 4 Proposta de classificação do estatuto da regra de (não) marcação de plural no SN por variedade e segmento social em quatro variedades urbanas do Português, com base nas amostras analisadas

No documento Chapter Details - Blucher Open Access (páginas 36-40)

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