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Coping e adolescência

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CAPÍTULO III COPING: CONCEITOS E MODELOS

3.1 Coping e adolescência

Lazarus e DeLongis (1983) pontuaram que os processos de coping variavam com o desenvolvimento da pessoa. Essa variabilidade ocorre devido a grandes

modificações que se processam nas condições de vida, através das experiências vivenciadas pelos indivíduos. Este estudo foca-se na fase da adolescência, período da vida em que se encontram os jovens aprendizes.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define que essa etapa compreende o período da vida entre 10 e 20 anos de idade (Takiuti, 1997). Porém, para definir essa fase do desenvolvimento no presente estudo, utilizou-se a faixa etária proposta pelo programa de aprendizagem, que define tal etapa situando-a entre as idades de 14 anos completos e os 24 incompletos, por ser esta a referência empregada no Brasil para os jovens aprendizes.

A fase da adolescência é considerada muito importante quando se trata do processo de coping, em função da variedade de problemas (estressores) com que o jovem se defronta pela primeira vez. Takiuti (1997) aponta Hall como o pioneiro nos estudos sobre a adolescência. Esta é considerada uma etapa de estresse, na qual existe a vivência de eventos que têm probabilidade de induzir alto grau de tensão, interferindo na normalidade de respostas - emocionais, cognitivas e comportamentais - do indivíduo. Isso porque estão incluídas nessa fase do desenvolvimento mudanças constantes, inclusive a entrada no mercado de trabalho, concomitante com os estudos, que podem sobrecarregar a pessoa e torná-la vulnerável a problemas sociais e de saúde.

Diante disso, o indivíduo adolescente já passa a manejar uma ampla variedade de estratégias de enfrentamento a problemas, como defendem Gómez-Fraguela, Luengo-Martín, Romero-Triñanes, Villar-Torres e Sobral-Fernández (2006). Esses autores comentam que a funcionalidade do uso do coping depende do tipo de situação a ser enfrentada. As estratégias de aproximação do problema seriam mais funcionais quando utilizadas para resolver questões passíveis de modificação,

enquanto as de evitação, para resolver aquelas não passíveis. Lee-Baggley, Preece, e DeLongis, (2004) comparam o enfrentamento dos indivíduos através de uma variedade de situações estressantes e descobriram que as características do estressor parece desempenhar um papel particularmente importante na determinação das respostas de enfrentamento.

O contexto de trabalho na adolescência pode acarretar dificuldades a serem enfrentadas pelos jovens, principalmente por ser a primeira experiência profissional. Arteche e Bandeira (2006) realizaram uma pesquisa comparando adolescentes em dois distintos regimes de trabalho - regime regular e regime educativo - avaliando as estratégias de coping utilizadas pelos jovens para lidar com dificuldades no trabalho.

A atividade profissional denominada trabalho educativo é entendida como aquela na qual as exigências pedagógicas prevalecem sobre a questão produtiva. Essa atividade se assemelha à proposta pelo programa de aprendizagem. O regime de trabalho regular é formado pelos jovens que exercem atividade economicamente remunerada, legal ou não, no exercício de suas funções. A amostra foi composta por 116 jovens com idades entre 14 e 17 anos (Arteche & Bandeira, 2006).

Os resultados encontrados por Arteche e Bandeira (2006) em relação ao tipo de evento estressor descrito pelo adolescente foram distribuídos em sete categorias: desavenças com colegas, desavenças com chefias, ameaça de demissão, problemas físicos decorrentes da tarefa, problemas com a justiça decorrentes da tarefa, dificuldades na execução da tarefa, desaparecimento de objetos e categoria outros, que inclui as respostas não categorizadas. Os adolescentes em regime de trabalho educativo apresentaram como categoria mais freqüente “desavenças com colegas”.

Assim como o trabalho, outras variáveis se mostram importantes para a compreensão de coping na adolescência, tais como sexo, idade e nível

socioeconômico. Câmara e Carlotto (2007) avaliaram a associação entre bem-estar e estratégias de coping por sexo, masculino e feminino. A amostra foi composta de 389 jovens. Os resultados evidenciaram que as meninas, ao assumirem uma postura ativa na resolução dos problemas, apresentaram maior bem-estar. Já os meninos mostraram melhor bem-estar na medida em que buscaram pertença e procuraram amigos íntimos e ajuda profissional. Os resultados da correlação entre coping e bem- estar revelaram que a estratégia de aproximação do problema, seja em nível cognitivo ou em nível comportamental, contribui para um índice mais elevado de bem-estar tanto para as mulheres quanto para os homens.

Zanini (2003) desenvolveu um estudo na Espanha que revelou que as meninas adolescentes relatavam mais problemas interpessoais que os meninos da mesma idade, além de usarem significativamente mais estratégias evitativas ou focadas na emoção para o enfrentamento dos mesmos. Também analisando coping e sexo, a autora observou uma correlação positiva entre estratégias focadas na emoção e adolescentes do sexo feminino.

A maior utilização, pelas mulheres, de estratégias de coping centradas na emoção e de evitação é um resultado que perdurou também nas pesquisas realizadas por Endler e Parker (1999).

Segundo Piko (2001), tanto meninas como meninos se utilizam bastante de estratégias focadas na emoção durante a adolescência inicial. Após esse período, as meninas continuam apresentando esse estilo, enquanto os meninos passam, justamente, a buscar alternativas de distração da emoção. Assim, enquanto o homem passa a usar formas mais diretas, focadas no problema ou mesmo na evitação, especialmente não demonstrando seus sentimentos, a mulher assume uma postura mais sentimental perante os problemas e tende a um raciocínio emocional.

Eschenbeck, Kohlmann e Lohaus (2007) confirmam as pesquisas anteriores demonstrando que meninos e meninas utilizam formas distintas de coping para administrar as mesmas situações problemas. Nota-se a partir desses estudos que jovens do sexo feminino podem apresentar estilos e estratégias de coping bem diferenciados quando comparadas com os do sexo masculino.

As diferenças entre as próprias fases da adolescência foram salientadas por Williams e DeLisi (2000). Os pesquisadores estudaram 109 jovens nas três etapas da adolescência – inicial, intermediária e final – e verificaram que os adolescentes mais jovens mostraram-se mais otimistas, com uma preferência por estratégias de reavaliação, nas quais o foco está no aspecto positivo advindo do estressor. Aqueles na etapa intermediária apresentaram uma preferência por estratégias mais ativas, como solução do problema e autocontrole, embora tais estratégias tenham sido agregadas ao repertório já existente na adolescência inicial, sugerindo que estratégias de coping não são substituídas, mas somadas. Por fim, os autores (Williams & DeLisi, 2000) destacaram que jovens na etapa final deste período do desenvolvimento utilizam, com freqüência significativamente superior à dos mais jovens, a estratégia de busca de apoio social.

No que tange às habilidades de coping na adolescência, Compas, Banez, Malcarne e Worsham (1991) afirmam que o coping focado no problema é desenvolvido mais cedo, nos anos pré-escolares, desenvolvendo-se, aproximadamente, dos 8 aos 10 anos de idade. As habilidades de coping focado na emoção tendem a aparecer mais tarde na infância e se desenvolvem durante a adolescência.

Além disto, de acordo com Compas et al. (1991), aprender as habilidades relacionadas ao coping focado na emoção através de processos de modelagem é mais

difícil do que aprender as habilidades de coping focado no problema, mais facilmente observadas pelas crianças no comportamento dos adultos. Os adolescentes utilizam mais coping focado na emoção do que as crianças, mas não diferem de jovens adultos, sugerindo que estas mudanças no desenvolvimento de coping ocorrem até o final da adolescência.

Estudos realizados no século XX revelaram a associação entre idade e as tarefas evolutivas que a sociedade apresenta para o adolescente, exigindo novas e diversificadas estratégias de enfrentamento (Scandrolio, Martínez, Marín, López, Martín, San José & Martín, 2002). Nesse sentido, a falta de um repertório adequado pode aumentar a probabilidade de envolvimento em comportamentos de risco, sendo estes percebidos como estratégias para enfrentar situações novas.

Atualmente, verifica-se um aumento do estresse entre adolescentes (Piko, 2001). Sendo o coping a maneira como o indivíduo reage frente a esse estresse, é fundamental que possam ser identificadas as estratégias utilizadas pelos adolescentes e que seu impacto sobre a saúde psicossocial dos jovens seja avaliado. A prevenção e a promoção da saúde do adolescente estão baseados na compreensão acerca da maneira como ele enfrenta as demandas estressantes. Na busca de uma mensuração do construto coping, o próximo tópico detalha a evolução histórica de medidas de coping.

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