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Num verdadeiro mundo financeiro perfeito, em que a Gestão se foca unicamente na maximização do valor da empresa e subsequentemente essa criação de valor iria também maximizar a riqueza dos accionistas, em que os credores estariam devidamente protegidos, a sociedade se enriqueceria pela maximização do valor da empresa e nunca existiriam estratégias e objectivos diferentes nos agentes económicos e conflitos entre os diferentes agentes económicos. O grande e real problema é que os accionistas, gestores, credores e restantes stakeholders têm diferentes interesses e incentivos (Damodaran, 2004). Consequentemente os conflitos de interesse têm tendência a surgir entre esses diferentes grupos.

Jensen e Meckling (1976) passam a descrever essas relações com diferentes tipos de interesse e incentivos, através da Teoria de Agência e passam a descrever essa relação sempre com dois intervenientes, o Principal e o Agente, expondo também os respectivos custos gerados pelos diferentes conflitos para as organizações como os Custos de Agência.

Jensen e Meckling (1976) definem o contrato de Agência, como o que no qual uma pessoa (singular ou colectiva) – O Principal – contrata uma outra pessoa (singular ou colectiva) – o Agente – para realizar determinada actividade em seu nome, delegando autoridade.

Diversos autores, incluindo Pawlina e Renneboog (2005) expõem incisivamente que os problemas de agência surgem na maior parte das vezes devido à assimetria de informação. O Principal não consegue controlar totalmente os comportamentos e a informação dos Agentes. Na sequência de uma maior informação de uma parte sobre outra, pode surgir uma situação de

Moral Hazard, em que a parte que tem a melhor informação, normalmente o Agente pode ter tendência e incentivos a realizar acções menos inapropriadas do que a parte, o Principal, que possui menos informação e tem menos possibilidade de monitorizar na íntegra todas as acções do Agente.

Como foi apresentado nos capítulos anteriores, a actividade dos agentes económicos nas Finanças Islâmicas, não dispensa a actividade dos intermediários financeiros.

A utilização de intermediários financeiros está associada à inexistência do mundo financeiro perfeito, em que a informação seria igual para todos os agentes e estes negociariam directamente entre eles (Gulamhussen, 2009).

Num sistema financeiro tradicional e mesmo no Islâmico, os investidores não negoceiam directamente com os aforradores e vice-versa. Ambos os lados procuram entidades que façam essa ponte de forma a: evitar assimetrias de informação, minimizar os excessivos custos de monitorização e evitar problemas de Moral hazard.

Diversa literatura indica que as Finanças Islâmicas estão mais dispostas a problemas de moral

hazard, nomeadamente na grande concentração de produtos com base no profit sharing (exemplo o mudaraba) e na delegação de poderes do Principal (Banco Islâmico) aos seus Agentes que têm um duplo papel, o de agente figura jurídica e o de clientes finais da operação, o que pode levar a elevados custos de monitorização.

Por outro lado, diversos autores ligados à economia Islâmica, indicam que problemas de Moral

hazard existem em qualquer sistema, independentemente de estar unicamente relacionado numa relação de profit sharing. Apontam como exemplos os últimos financial bail-outs por parte do Governo dos Estados Unidos, do Reino Unido e da Holanda aos Bancos e sociedades Financeiras devido ao credit crunch que se iniciou em 2007, para evitarem as falências em série e deixarem um sistema financeiro vulnerável com uma excessiva perda de confiança e uma generalizada corrida aos depósitos bancários.

Outro factor que determinada literatura defende que o sistema financeiro Islâmico não possui mais problemas de Moral hazard que o convencional, é a utilização da ética na prática negocial, ética imposta pelas regras Shariah e a sua supervisão pelos Comités de Shariah Compliance. Através das estruturas e órgãos societários, sistemas de monitorização da performance, incluindo sistemas de remunerações e incentivos (Neves, 2006) os accionistas tendem minimizar possíveis problemas de Moral hazard.

Nas últimas décadas os accionistas (os Mandantes) preocupados com os problemas de Moral

hazard por parte das equipas de gestão (os Mandatários ou Agentes) criaram sistemas de organização para que os seus interesses estivessem bem alinhados com os da equipa de gestão,

A American Management Association define o Corporate Governance como:

“Corporate governance is about how suppliers of capital get managers to return profits, make sure managers do not misuse the capital by investing in bad projects, and how shareholders and creditors monitor managers”.

Os Governos, Bancos Centrais e Reguladores de praticamente de todo o mundo apontam o sistema financeiro como o mais importante para uma boa implementação e monitorização do Corporate Governance (Banco Mundial), justificado pelo risco sistémico, pela protecção aos depositantes e aforradores, pela transparência necessária, assimetrias de informação existentes e gestão do risco.

Incluído no sistema financeiro mundial, está o sistema financeiro Islâmico que terá que ter um

corporate governance ainda mais “alinhado” do que o convencional, porque:

• A ética, a integridade, honestidade e o tratamento equitativo são pilares para a

Shariah;

• Possui uma maior política de equity financing do que debt financing;

• Profit and loss sharing models, o que obriga a uma maior transparência do relato financeiro, da diversificação e risco dos activos e valorização dos produtos financeiros;

• Finanças assentes em países com economias emergentes, logo com elevada concentração de intermediários financeiros promovendo riscos de transacções entre parte relacionadas;

• Finanças assentes em países com economias emergentes, logo com pouca tradição de supervisão dos mercados financeiros, no relato e transparência das peças contabilísticas.

A integração de um Comité de Shariah Compliance nos órgãos sociais dos intermediários financeiros permite a certificação dos instrumentos financeiros através das fatawa, o controlo das transacções efectuadas, a indicação de proveitos que não são permitidos pela Shariah e análise da distribuição dos ganhos ou perdas para os accionistas das instituições financeiras e para os

Usualmente os intermediários financeiros Islâmicos, elaboram as suas peças contabilísticas em consonância com as regras da AAOIFI, originando uma obrigatoriedade de criar Shariah Review

Units. Divisões essas, pertencentes ao Comité de Auditoria, que têm a função de rever se as transacções financeiras estão de acordo com as fatawa emitidas pelo Shariah Comité.

Na figura 6.1 está indicada a forma recomendada pelos actuais reguladores financeiros dos Países Islâmicos de um modelo tipo de Corporate Finance que um Intermediário financeiro deve implementar para operar no Sistema Financeiro Islâmico, de forma a minimizar os problemas de

Moral hazard.

Figura 6.1 – Estrutura tipo de Corporate Governance num Intermediário Financeiro Islâmico

Sistemas de Regulação Externos Banco Central

Financial Regulator

Islamic Accouting Standarts Board Códigos Comerciais

Bolsa Auditores Externos

Accionistas

Sistemas de Regulação Internos Administração Executiva

Vogais não Executivos

Shariah Supervisory Board Shariah Supervisor

Auditoria Interna Comité de Auditoria

Sistemas de Controlo Interno Controlo Financeiro Controlo operacional

Audit Reviews

Compliance do Reporte Financeiro Shariah Compliance

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