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3. Estudos de tradução baseados em corpus e linguística de corpus

3.2 Corpus paralelo vs corpus comparável

Tendo em conta que existe alguma instabilidade concernente à distinção entre corpus paralelo e corpus comparável, segue-se uma descrição mais elaborada referente a estas duas tipologias de corpora, para que se possa compreender os motivos por trás desta falta de uniformização terminológica.

Assim sendo, e tendo por base o capítulo “Parallel and Comparable Corpora:What is Happening?” escrito por McEnery e Xiao (2008), presente no livro “Incorporating Corpora the Linguist and the Translator” da autoria de Anderman e Rogers (2008), torna-se possível não só a verificação das diferenças entre ambas as tipologias, bem como as aplicações práticas das mesmas quando associadas aos estudos da tradução.

Desta forma, os autores salientam que o uso destas tipologias de corpora oferecem usos específicos, tais como o fornecimento de novas perspetivas relativas às línguas comparadas, observação esta que se torna de verificação mais difícil se forem apenas usados corpora monolingues. Salientando-se também que ambos os corpora paralelos e comparáveis podem ser usados para fins comparativos, por exemplo, no aumento do nosso conhecimento referente a diferenças culturais, ampliando também o nosso entendimento no que às características universais da tradução diz respeito. Características universais estas que, à semelhança do mencionado anteriormente, clarificam as diferenças existentes entre textos produzidos na língua original e entre textos traduzidos para uma dada língua (McEnery & Xiao, 2008).

Adicionalmente, o uso de ambas as tipologias de corpora contribui para inúmeras aplicações práticas, por exemplo, no campo da lexicografia, na área de ensino das línguas e na tradução (ibid.).

Passando à instabilidade entre a denominação destes dois tipos de corpora, esta deve-se à aplicação dos mesmos termos, mas com significações diferentes entre si. Por forma a elucidar, será utilizado um sistema de explicação semelhante ao que se encontra na obra original, que tornará esta clarificação mais simples.

Comecemos pela natureza dos corpora reconhecidos pela aplicação em mais do que uma língua:

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I- Textos de partida e respetivas traduções. II- Subcorpora monolingues.

III- Uma combinação das tipologias I e II.

Tendo por base esta descrição simplificada, é possível a observação de diferentes denominações para estes conceitos, aplicadas por parte de diferentes autores. Assim, para Aijmer e Altenberg (1996) e para Granger (1996), o conceito presente em I é referente à denominação corpus de tradução, ao passo que o conceito presente em II é reconhecido por estes autores pela denominação de corpus comparável (ibid.). Em contrapartida, para McEnery e Wilson (1996), Baker (1993) e Hunston (2002), o conceito I é atribuído à descrição de um corpus paralelo, enquanto a descrição II corresponde à designação corpus comparável. Ademais, para Johansson e Hofland (1994) e para Johansson (1998), o termo corpus comparável corresponde aos conceitos I e II. Já para Barlow (1995, 2000), aquando do desenvolvimento da sua ferramenta de corpus ParaConc, o mesmo aplicou o conceito I como sendo um corpus paralelo (ibid.).

É importante esclarecer a este ponto que este projeto aplica estes mesmos conceitos à semelhança da aplicação proposta por Baker (1993), em que o conceito I corresponde à denominação de corpus paralelo e o conceito II corresponde à designação de corpus comparável. Quanto ao que diz respeito ao conceito III, e conforme Anderman e Rogers (2008), este é referido como pertencente aos corpora paralelos num sentido estrito (citado por McEnery & Xiao, 2008).

Revela-se oportuno a este ponto apresentar uma breve definição concernente aos corpora paralelos e aos corpora comparáveis.

Os corpora paralelos podem ser definidos pela presença de textos de partida e respetivos textos de chegada e estes podem ser: bilingues ou multilingues; unidirecionais, i.e., traduções realizadas de apenas uma língua para outra; bidirecionais, onde, por exemplo, se encontram textos de partida em inglês com as respetivas traduções em italiano e também textos de partida em italiano com as respetivas traduções em inglês; e multidirecionais, onde um dado texto de partida possui as suas versões de chegada, por exemplo, em inglês, francês e alemão (McEnery & Xiao, 2008).

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Por outro lado, os corpora comparáveis podem ser definidos como uma coleção de corpus que contêm componentes semelhantes, pois são obtidos mediante um determinado conjunto de critérios, possuindo assim uma representatividade geral semelhante (ibid.). Fornecendo o exemplo dos autores, este corpus poderia ser constituído pelo mesmo número de textos dentro de um determinado género em línguas diferentes, recolhidos num período de amostragem semelhante. Em contrapartida, importa relevar que os subcorpora de um corpus comparável não são constituídos por traduções, mas sim por textos onde a comparabilidade seja possível, ou seja, textos cujo filtro de recolha se assemelha aos critérios usados aquando da seleção dos textos para o corpus comparável (ibid.).

Quanto a uma das vantagens importantes do uso de corpora comparáveis, torna-se importante salientar que a mesma é devida ao facto de que estes textos possuem uma linguagem “original”, i.e., que não se encontra restrita ao já abordado terceiro código da tradução também conhecido por “translationese”, numa denominação que aproxima o seu nome ao de uma língua natural. Sendo os corpus comparáveis considerados mais úteis à atividade da tradução em si.

Referindo os autores que um corpus comparável especializado poderá ser particularmente útil numa tradução pertencente a um domínio especializado, pois, ao traduzir textos desta natureza, o tradutor acaba por lidar com uma parte da sua linguagem nativa usualmente tão díspar quanto uma língua estrangeira (ibid.). Auxiliando assim os corpus comparáveis na produção de um texto de chegada na língua nativa de um tradutor.

Não obstante, os corpus paralelos ajudam também à prática da tradução em termos da procura de equivalência de dadas expressões entre determinadas línguas.

Encerrando este tópico, e segundo Williams (1996), os corpus paralelos são também essenciais no auxílio aos tradutores, pois possibilitam uma maior precisão na aplicação da terminologia e fraseologia concernente a uma dada área, sendo o uso dos mesmos recomendado por estas mesmas razões (citado por McEnery & Xiao, 2008).

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