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Corredor da Beira, ligação entre Manica e Sofala

Fonte: MECTs,SA (2020)

Através de Machipanda, são exportados fardos de roupa, adubos, óleo não processado em trânsito para Zimbabwe, Zâmbia e RDC. Dessa fronteira são importados açúcar, tabaco, combustível, produtos de primeira necessidade (arroz, farinha, óleo, temperos, cafés, leites, derivados de carne), cosméticos, produtos de higiene, bebidas alcoólicas e consumíveis de escritório.

A gestão da exploração do ouro impõe enormes desafios às autoridades, conforme testemunha um funcionário aduaneiro49 que explicou que, apesar de Manica ser rica em ouro e outras pedras preciosas, não existe, localmente, um mercado formal que comercialize oficialmente

o produto. Acrescentou que a venda ocorre de forma clandestina, pelas fronteiras aéreas de Chimoio e Nampula, e terrestres, de Machipanda e Espungabera. Nesses mercados, o comércio clandestino é praticado principalmente por estrangeiros (libaneses, indianos, nigerianos).

Na ocasião, apurou-se que tem havido apreensões regulares de combustível, madeira, açúcar, pedras preciosas, ouro, bebidas alcoólicas e cigarros transportados em camiões cisternas, camiões cavalo ou carrinhas na rota de contrabando.

A exportação de madeira é um dos grandes desafios no controlo do contrabando em Manica, porque estas transações são feitas sem a devida documentação, ou seja, o exportador preocupa-se em obter a licença da primeira exportação e, com base na licença obtida, emite duplicações (cópias) desses documentos para as exportações subsequentes. Apesar dos funcionários do Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar (MASA), Alfândega e outras forças de defesa e segurança participarem no empacotamento, não se observa nenhum impacto no controlo das exportações ilegais de madeira.

O outro produto contrabandeado é o combustível destinado ao hinterland. O transporte, partindo do Porto da Beira, é feito em camiões cisternas com o despacho de trânsito. Depois do carregamento, os camiões deslocam-se do Porto da Beira com documentos de trânsito para o Zimbabwe, usando a fronteira de Machipanda. Durante o trajecto, a viatura é desviada para um local onde o combustível é baldeado ilegalmente para bidões50 de 20 litros. Apenas os documentos físicos é que vão à fronteira, enquanto que os camiões são desviados para o contrabando.

O outro sector que caracteriza o crime fiscal em Machipanda é o mercado informal de troca de divisas. Este negócio é dominado por diferentes operadores ao longo da fronteira, de entre os quais bengalis e indianos que adquirem a moeda estrangeira no mercado informal para fins de exportação por Machipanda e/ou outras fronteiras. Estas divisas não passam pelo sistema financeiro, e neste mecanismo executam-se operações que se consubstanciam em branqueamento de capitais. O tráfico de drogas é outro mercado ilegal que utiliza a fronteira de Machipanda como ponto de trânsito com destino ao Zimbabwe. Este tráfico é feito em conexão com os aeroportos da Beira e de Chimoio.

50 Recipientes de plástico utilizados na indústria como taras para condicionar produtos líquidos diversos, de entre os

quais, óleo alimentar, combustíveis, detergentes e outros produtos químicos líquidos. A população utiliza para o transporte de água e no contrabando são utilizados para transportar combustível.

Algumas dessas mercadorias são muitas vezes dissimuladas em quadros de arte e os indivíduos envolvidos integram nacionalidades diferentes, destacando-se zimbabwianos, chineses, bengalis, somalis, nigerianos e moçambicanos.

Em termos globais, estima-se que as perdas de receitas, por ano, na fronteira de Machipanda sejam de cerca de 35%, dos quais 5% para as importações e 30% em mercadorias em trânsito.

Segundo os serviços provinciais das Alfândegas de Machipanda (2018), as principais rotas de contrabando, em Manica, são:

 Zona de Machipanda: Chiminha, Nhamatanda, África-Livre Capitalista, Poço, Mutendamambo, Rimay, C-11, Chinyambuzi e Vista-alegre;

 Zona de Honde: Chuiju, Chitio, Ruela e Serra Chôa;  Zona de Penhalonga: Antiga Migração, Mudododo;

 Zona de Zónue: Magaka, Bocone via Chissamba, Tsetsere e Ramabani;  Zona de Mpengo: Silva, Chambutha;

 Zona de Espungabera: Garágua, Maswissanga, Macuo, Bitone e Mpingo.

As mercadorias contrabandeadas para o Zimbabwe são adquiridas, maioritariamente, nas cidades de Chimoio e Beira, sendo transportadas, normalmente, em miniautocarros de passageiros ou em viaturas de caixa aberta em direção à fronteira de Machipanda, onde são exportadas clandestinamente. Para além destes meios, há indicação do uso de bicicletas e motorizadas para o transporte em pequenas quantidades, que depois são baldeados para os camiões do lado da fronteira zimbabwiana.

Nos esquemas de contrabando, toda a equipa responsável pelo desembaraço aduaneiro é envolvida, para assegurar a cumplicidade e evitar denúncias. Nesses casos, os funcionários que não se envolvem nos crimes fiscais, sofrem ameaças de morte; isolamento e, em alguns casos, são lhes armadas ciladas para que sejam encontrados em flagrante delito, em fraudes simuladas e processados, disciplinarmente, podendo sofrer sanções pesadas incluindo expulsão.

Apurou-se, também, que há um grande envolvimento da população local no contrabando, mercê dos laços familiares que existem entre as populações de ambas as partes da fronteira; dos altos níveis de desemprego, do desconhecimento ou ignorância da lei; do efeito dos usos e costume; da recessão no Zimbabwe, causada pela crise política e económica, da falta de conhecimento das

consequências que advêm da prática do contrabando, da baixa escolaridade, sobretudo em jovens que são facilmente manipulados.

Em entrevista, a Adjunta Chefe do Comandante do Regimento da Polícia de Fronteira51 referiu-se à necessidade de se continuar a investir na logística das fronteiras dada a sua vulnerabilidade ao contrabando e outros crimes, incluindo os que podem pôr em causa a segurança e a soberania do Estado. Na ocasião, a entrevistada referiu-se também à necessidade de prover meios de transporte para a monitoria da fronteira e fiscalização de mercadorias; alimentação e habitação condigna para os funcionários, para além do investimento na melhoria de infraestruturas da fronteira, incluindo a própria vedação. No seu entender, a melhoria das condições e do ambiente do trabalho seriam elementos importantes no combate ao contrabando, à medida em que iriam contribuir para a redução dos níveis de envolvimento directo dos funcionários.

Figura 5- À esquerda as rotas de contrabando e à direita a fronteira ferroviária de Machipanda

Fonte: Foto obtida durante as visitas aos pontos críticos do Contrabando em Machipanda (2018).

A capital da região centro de Moçambique é a cidade da Beira, na Província de Sofala. As províncias de Manica e Sofala possuem uma história comum, pois durante o período colonial eram uma única Província Manica-Sofala, tendo sido feita a separação mais tarde, quando foi construída a N1 que separa as duas províncias. A grande diferença entre estas províncias deriva da sua localização, estando Sofala na costa, o que faz dela uma porta importante de saída para o hinterland, e Manica no interior. Em termos de riqueza, há registo no sector agrícola da produção de hortícolas e fruteiras que abundam nas regiões baixas de Tica, Búzi, Nhamatanda, abacaxi no distrito da Machanga, para além do milho e mapira que também se destacam na região.

O maior desafio no contrabando está na gestão do TIMAR. Por esse facto, foram reportados nas entrevistas riscos de descaminhos nos processos de desembaraço aduaneiro, comuns nos terminais portuários ou aéreos, a considerar: subfacturação, má classificação pautal, falsas declarações, trânsitos falsos. Tal como em Nampula, a província de Sofala tem também um grupo de empresários, sediados na Beira, com certa barganha política, que são responsáveis pela prática do contrabando, recorrendo sobretudo ao regime aduaneiro de trânsito. Estes grupos têm fortes ligações com os tribunais aduaneiros e com a “nata política”, o que dificulta a responsabilização dos infractores.

3.3.3 Desafios trazidos pela África do Sul no trânsito de mercadorias em Gaza e Inhambane52

O Território Aduaneiro de Inhambane apresenta uma superfície de 68.775 Km2, faz fronteira terrestre com a província de Gaza ao sul, através do posto de Zandamela, no distrito de Zavala e ao Norte faz limite com a província de Sofala, no posto do rio Save, distrito de Govuro. Ao Este é banhada pelo Oceano Índico.

Enquanto que a área de jurisdição dos Serviços Provinciais das Alfândegas de Gaza tem uma superfície aproximada de 75.739 Km2, com uma extensão de fronteira de 500 km. Faz limite com a RSA (postos de travessia de Phafuri no distrito de Chicualacuala e Geriyondo em Massingir). Ao Oeste faz limite com o Zimbabwe (posto fronteiriço de Chicualacuala, no distrito do mesmo nome.

As Províncias de Gaza e Inhambane apresentam características similares, primeiro, pela localização ao longo da N1, o que desafia as autoridades a incrementarem a fiscalização e controlo de mercadorias em circulação, e segundo porque ambas são a maior fonte de mão-de-obra para as minas da África do Sul, desafiando as autoridades na gestão dos mineiros através da WENELA53.

52 Dados obtidos dos relatórios das delegações provinciais da AT nas províncias de Gaza e Inhambane e das entrevistas

aos diferentes estratos da população inquirida nos dias 22 e 23 de maio de 2018.

53 Durante o período colonial, a WENELA tinha uma importância destacável no recrutamento da mão-de-obra. Com a

independência de Moçambique, passa a exercer um papel importante na prestação de serviços ao mineiro, na transferência de valores para as famílias, no transporte de produtos e mercadorias, o que especializa a organização no comércio internacional. Hoje, parte significativa de produtos transportados para Moçambique pela organização são de elevado risco de contrabando, praticado por esta empresa sobre a cobertura de serviços prestados aos mineiros.

Porém, Gaza difere de Inhambane por partilhar fronteiras com Zimbabwe e África do Sul, em Chicualacuala e Phafuri, enquanto àquela não partilha fronteira com nenhum país.

Durante a penetração colonial, Inhambane foi reconhecida como referência no comércio das oleaginosas, mercê do seu potencial na produção de coco e amendoim. Os rendimentos que eram obtidos na produção do amendoim em Inhambane, chegaram ao ponto de transformar esta província no maior concorrente nacional de Nampula, o gigante do norte, que, para além da castanha do caju, foi sempre referência na produção e exportação desta cultura (SERRA, 2000).

Inhambane possui um porto terciário que funciona como desaguadouro de mercadorias provenientes dos principais corredores do Norte (Nacala), centro (Beira) com destino ao sul (Maputo), e do sul para o exterior.

Na ponte sobre o rio Save, que separa Sofala de Inhambane, foi instalado um importante posto de controlo de mercadorias em circulação, determinante para a filtragem das mercadorias que, por alguma razão, tenham escapado ao controlo, em qualquer dos movimentos do sul para norte e vice-versa.

A província de Inhambane é também conhecida, historicamente, como celeiro de mão-de- obra para as minas de Transval na África do Sul, desde o período colonial, recrutados através da WENELA, particularmente, o distrito da Massinga, por sinal o mais populoso da Província (SERRA, 2000).

Decorrente disso, a presença de mineiros no distrito da Massinga constitui um dos desafios no contrabando de bebidas alcoólicas, tabaco e viaturas, porque os laços sociais que as populações estabelecem entre si resultam numa teia inquebrantável de autoproteção. Assim, são adquiridos pelos mineiros, na África do Sul, produtos diversos que são posteriormente exportados ilegalmente para Moçambique e colocados no interior da província de Inhambane, a preços baixos, ameaçando o mercado interno. Todavia, os entrevistados consideram que estes mercados são importantes na estabilização dos preços e no equilíbrio entre a procura e a oferta, de modo a reduzir a escassez de produtos naquela província e atenuar o efeito das longas distâncias para os mercados formais, concentrados nas principais vilas da província.

Foi também referido que o maior desafio na província de Inhambane está na gestão do tráfico de viaturas que são adquiridas em peças. As viaturas entram pelas fronteiras como acessórios e de seguida são montadas em oficinas clandestinas, na Massinga, e colocadas no

mercado com matrículas falsas. Existem grupos de contrabandistas (intocáveis), devidamente identificados, que detêm o monopólio na gestão do comércio ilegal de viaturas, particularmente de marca ISUZU que são os mais usados naquele Distrito.

Há também evidências do contrabando de divisas e de pedras preciosas, através do Terminal Internacional Aérea de Vilanculos.

O Posto Fronteiriço de Chicualacuala, em Gaza, é uma fronteira terrestre, com uma extensão de 212 kmentre Moçambique e Zimbabwe, sem vedação, o que abre espaço para o elevado índice de contrabando, bem como no incremento das dificuldades no controlo do movimento migratório.

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