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2. Revisão de literatura

2.3. Bem Estar Psicológico

2.3.1. Correlatos do Bem Estar Psicológico

Verificamos que os correlatos do Bem Estar Psicológico mais focados pela investigação têm sido a idade, o género, o estado civil, o nível educacional e o estatuto socioeconómico, a personalidade, o estado de saúde e marcadores biológicos.

Relativamente à idade, vários estudos transversais revelaram algumas vulnerabilidades ao nível do Bem Estar Psicológico nas pessoas mais velhas, especificamente, no que toca à diminuição dos Objetivos na Vida e do Crescimento Pessoal (Clarke, Marshall, Ryff & Rosenthal, 2000; Ryff, 1989b; Ryff & Keyes, 1995; Ryff & Singer, 2008). Springer, Pudrovska e Hauser (2011) também observaram este declínio num estudo longitudinal. Por outro lado, foi identificado o aumento do Domínio do Meio e da Autonomia (Ryff, 1989b; Ryff & Keyes, 1995; Ryff & Singer, 2008) Na população portuguesa, a dimensão Domínio do Meio revelou resultados semelhantes em todas as faixas etárias analisadas, sendo também a que evidenciou os resultados mais baixos face a todas as dimensões. O Crescimento Pessoal revelou-se a dimensão mais importante para todas as faixas etárias, embora num nível inferior no grupo de idade mais avançada. Relativamente à dimensão Objetivos na Vida, observa-se um pico entre os 30 e os 49 anos sendo que, a partir desta idade, se observa um decréscimo. As restantes dimensões não revelaram variações significativas em função da idade (Novo, Duarte-Silva & Peralta, 1997).

Ryff e Singer (2008), tendo em conta o declínio com a idade nas dimensões Objetivos na Vida e Crescimento Pessoal, enfatizam a importância de desafiar a sociedade atual nos sentido de fomentar papéis sociais significativos e oportunidades para o crescimento pessoal. Observou-se que as pessoas idosas que se envolveram em atividades de voluntariado revelaram resultados superiores na dimensões Objetivos na

Vida do que as pessoas sem estas atividades sugerindo o impacto benéfico de assumir papéis ativos na sociedade (Greenfield & Marks, 2004).

Relativamente ao género, observa-se um maior desenvolvimento nas Relações Positivas com os Outros no sexo feminino do que no sexo masculino, não tendo sido identificadas diferenças nas restantes dimensões do Bem Estar Psicológico (Ryff & Keyes, 1995). No estudo com a população portuguesa, os dados recolhidos evidenciaram um padrão diferente na medida em que o sexo feminino não apresentou resultados superiores em nenhuma dimensão. Pelo contrário, o sexo masculino evidenciou resultados superiores nas dimensões Crescimento Pessoal e Objetivos de Vida (Novo, Duarte-Silva & Peralta, 1997).

Quanto ao estado civil, Keyes e Ryff (1998) observaram que as pessoas solteiras apresentam valores superiores nas dimensões Autonomia e Crescimento pessoal enquanto as pessoas casadas revelam níveis superiores de Aceitação de Si e Objetivos na Vida. Bierman, Fazio e Milkie (2006) verificaram resultados significativamente superiores das pessoas casadas na dimensão Objetivos na Vida e Moe (2012) observou que as mulheres casadas apresentaram resultados mais elevados em todas as dimensões do Bem Estar Psicológico, à exceção de Autonomia e Crescimento Pessoal.

O nível educacional revela uma relação forte com todas as dimensões do Bem Estar Psicológico, com especial enfase nas dimensões de Objetivos na Vida e Crescimento Pessoal (Ryff & Singer, 2008). Segundo estes autores, melhores condições económicas e sociais facilitam a experiência de auto realização. Contudo, apesar desta relação inegável, vários estudos mostram que algumas pessoas revelam grande resiliência quando em condições socioeconómicas pobres ou quando confrontadas com alterações de vida significativas, o que reflete os efeitos da adversidade para a atribuição

de significado à experiência e crescimento pessoal (Markus, Ryff, Curhan & Palmersheim, 2004; Ryff, Keyes & Hughes, 2003)

O estudo de Schmutte & Ryff, (1997), sobre a relação entre traços de personalidade e o Bem Estar Psicológico, revelou que o traço de Neuroticismo está negativamente correlacionado com as dimensões de Aceitação de Si, Domínio do Meio, Objetivos na Vida e Autonomia. Por outro lado, a Extroversão mostrou-se positivamente correlacionada com todas as dimensões do Bem Estar Psicológico, à exceção da Autonomia. A Conscienciosidade está positivamente correlacionada com a Aceitação de si, Domínio do meio e Objetivos de vida. Por fim, a Abertura à experiência revelou uma correlação positiva com o Crescimento Pessoal. Num estudo longitudinal, no qual se pretendia relacional o perfil de personalidade na adolescência com o Bem Estar Psicológico na idade adulta, verificou-se que as adolescentes mais extrovertidas revelaram resultados superiores em todas as dimensões do Bem Estar Psicológico na idade adulta. Por outro lado, o Neuroticismo na adolescência predizia o menor Bem Estar Psicológico em todas as dimensões na idade adulta (Abbott et al., 2008).

No campo da saúde foram identificadas relações estreitas entre Relações Positivas com os Outros e a saúde em geral, tanto física como mental (Ryff & Singer, 1998). A saúde física autoavaliada na idade avançada parece predizer o Bem Estar Psicológico através de processos de comparação social (Heidrich & Ryff, 1993). Num estudo longitudinal observou-se que as mulheres que reportavam a sua saúde como muito pobre no início do estudo e que se envolveram em processos positivos de comparação social, revelaram posteriormente melhores relações positivas com os outros, menor depressão e ansiedade (Heidrich & Ryff, 1995). Adicionalmente, eventos stressantes na idade avançada parecem afetar a saúde em função de crenças quanto à

auto eficácia e ao domínio do meio (Monpetit & Bergeman, 2007). Observou-se também que indivíduos, de todas as idades, com boa saúde mental (resultados elevados nos múltiplos domínios do bem estar e distress psicológico limitado) apresentaram menos doenças crónicas em comparação com pessoas com menor bem estar e revelaram também maior produtividade e menor utilização de serviços de saúde (Keyes, 2005; Keyes & Grzywacz, 2005). Por outro lado, a fragilidade nas pessoas idosas (presença e interação de múltiplas limitações médicas e funcionais) foi relacionada com menor Bem Estar Psicológico que, por sua vez, se mostrou relacionado com o aumento da mortalidade a cinco anos (Andrew, Fisk & Rockwood, 2012). Para as pessoas idosas fisicamente mais vulneráveis, a espiritualidade aparece como um recurso para a manutenção do Bem Estar Psicológico (Kirby, Coleman & Daley, 2004).

De notar que, além da relação do Bem Estar Psicológico com a saúde reportada pelas pessoas, têm vindo a ser identificados outros correlatos biológicos. Neste sentido, vários estudos reportaram a associação entre as dimensões do Bem Estar Psicológico com biomarcadores neuroendócrinos, cardiovasculares, imunitários e também com a qualidade do sono (Friedman, Hayney, Love, Singer & Ryff, 2007; Lindfors & Lundberg, 2002; Ryff, Singer & Love, 2004).

Várias outras variáveis têm sido relacionadas com o Bem Estar Psicológico. O otimismo, cujos efeitos mediados pela perceção de controlo, parece predizer o Bem Estar Psicológico; a autoestima estável que prediz resultados mais elevados na Autonomia, Domínio do Meio e Objetivos na Vida do que a autoestima instável; e as estratégias de regulação emocional, nomeadamente a Reavaliação que prediz o maior Bem Estar Psicológico e a Supressão que prediz o resultado oposto (Ferguson & Goodwin, 2010; Gross & John, 2003; Paradise & Kernis, 2002).

Verificou-se também que os Objetivos na Vida e o Crescimento Pessoal contribuem para o compromisso com a careira (Strauser, Lustig & ÇiftÇi, 2008). Num estudo longitudinal com uma amostra feminina sueca, observou-se que as mulheres com maior estatuto socioeconómico revelaram melhor estado de saúde e Bem Estar Psicológico do que as mulheres com um estatuto socioeconómico mais baixo (Johansson, Huang & Lindfors, 2007). Quanto à profissão, verificou-se que as professoras revelaram um maior Bem Estar Psicológico do que as mulheres que trabalhavam na banca e estas, por sua vez, apresentaram um maior Bem Estar Psicológico do que as mulheres trabalhadoras na indústria (Srimathi, & Kiran Kumar, 2010). O trabalho e as experiencias educacionais parecem preditivas do Bem Estar Psicológico nos adultos mais velhos, enquanto a experiencia relacional e familiar parece fortemente preditiva do Bem Estar Psicológico nos adultos de meia idade (Ryff & Heidrich, 1997).

Também a experiência e participação religiosa se revelaram relacionadas com o Bem Estar Psicológico. Na idade adulta avançada, Wink & Dillon (2003) verificaram que a religiosidade revelou uma relação positiva com o domínio das Relações Positivas com os Outros, enquanto a espiritualidade mostrou uma relação positiva com o Crescimento Pessoal. No estudo desenvolvido por Greenfield, Vaillant e Marks (2009) a participação religiosa formal relacionou-se com maior Crescimento Pessoal e Objetivos na Vida, mas menor Autonomia enquanto a espiritualidade revelou uma relação positiva com todos os domínios do Bem Estar Psicológico.

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