• Nenhum resultado encontrado

NA COSTA CENTRAL (11-22 O S) BRASILEIRA 1 A DRIANA DA C OSTA B RAGA , P AULO A S C OSTA , A DRIANO T RUFFI L IMA ,

AGNALDO SILVA MARTINS, GEORGE OLAVO & PAULO A S COSTA

NA COSTA CENTRAL (11-22 O S) BRASILEIRA 1 A DRIANA DA C OSTA B RAGA , P AULO A S C OSTA , A DRIANO T RUFFI L IMA ,

G

USTAVO

W. N

UNAN

, G

EORGE

O

LAVO

& A

GNALDO

S

ILVA

M

ARTINS

RESUMO: Peixes pelágicos de 14 a 910 m de profundidade entre 11-22oS foram coletados com arrastos de meia água durante uma campanha de prospecção de recursos pelágicos por método hidroacústico ao largo da região central da costa brasileira (campanha BAHIA-1, N/O Thalassa). A área inclui o complexo recifal de Abrolhos (17o

20’-18o10’S e 38o35’-39o20’W), bancos oceânicos rasos (<100 m) cujas bases se elevam de grandes profundidades,

e o alinhamento da Cadeia Vitória-Trindade. Foram capturadas 38 famílias e 96 espécies, incluindo espécies epi- e mesopelágicas. A família Diodontidae dominou a captura geral da campanha (62,7%), principalmente nos arrastos pelágicos (80%), devido a recrutamentos massivos da fase juvenil pelágica de Diodon holocanthus. A contribuição das famílias Sternoptychidae e Myctophidae para a captura geral da campanha foi semelhante (13-15%). Sternoptychidae, restrita às capturas mesopelágicas (62%), esteve representada por densos cardumes de Maurolicus

stehmanni (>24.000 indivíduos) entre 21-22oS. A família Myctophidae representou 10% das capturas epipelágicas

(0-200 m) e 35% das capturas mesopelágicas (200-1.000 m). Os mictofídeos foram a família mais diversificada (24 spp.), seguida das famílias Carangidae (11) e Sternoptychidae (6). O gênero Diaphus esteve representado por pelo menos 8 espécies, incluindo a mais abundante (D. garmani), a mais freqüente (D. dumerilii) e um novo registro para águas brasileiras (D. adenomus). Exceto por D. adenomus (padrão anfiAtlântico), apenas espécies de mictofídeos termofílicas foram coletadas (padrões tropical amplo, tropical, subtropical). O número máximo de espécies de mictofídeos por arrasto (16 spp.) ocorreu no extremo sul da área estudada, próximo ao Cabo de São Tomé, e é característico de águas produtivas. Arrastos com alta diversidade de mictofídeos, ainda que em menor escala (5-8 spp.), e capturas massivas de D. garmani estiveram associados a bancos oceânicos (Royal Charlotte, Minerva, Hotspur, Besnard, Montagne), independente da latitude considerada (16-20oS). Tal fato sugere que a comunidade mesopelágica

local beneficia-se da maior disponibilidade de presas resultante do aumento da produção primária e secundária, em resposta a alterações de fluxo geradas pela topografia rasa. Os métodos de classificação e ordenação resultaram em cinco agrupamentos de estações: (A) captura monoespecífica de Canthidermis sufflamen; (B) captura exclusiva ou predominante de Diodon holocanthus; (C) espécies associadas a recifes (Balistes capriscus, Aluterus monoceros, C. sufflamen), pelágicas (Engraulis anchoita) e bentopelágicas (Trichiurus lepturus); (D) espécies tipicamente de alto mar (Diaphus brachycephalus, Pollichthys mauli); (E) espécies mesopelágicas (Myctophidae, Sternoptychidae).

PALAVRAS-CHAVE: peixes epipelágicos, peixes mesopelágicos, Abrolhos, bancos oceânicos, Brasil.

ABSTRACT: “Distribution patterns of epi- and mesopelagic teleost fish from central Brazilian coast (11 to 22oS).”

Pelagic fishes from depths of 14 to 910 m between 11-22oS were sampled with mid-water trawls during an accoustic

survey in eastern Brazil (BAHIA-1 cruise of Thalassa). The area includes the Abrolhos reef complex (17o 20’-18o10’S

e 38o35’-39o20’W), numerous shallow oceanic banks (<100 m) with bases submerged at great depths, and the

Vitória-Trindade Chain. A total of 38 families and 96 species were captured, including epi- and mesopelagic species. Diodontidae was dominant in catches (62.7%), mainly in epipelagic trawls (80%), due to mass recruitment of pelagic juvenile Diodon holocanthus. Contribution of Sternoptychidae and Myctophidae to overall catches were quite similar (13-15%). Sternoptychidae, restricted to mesopelagic catches (62%), was represented by compact

schools of Maurolicus stehmanni (>24,000 individuals) between 21-22oS. Myctophidae accounted to 10% in

epipelagic (0-200 m) and 35% in mesopelagic (200-1000 m) trawls. Myctophidae was the most diverse family (24 spp.), followed by Carangidae (11 spp.) and Sternoptychidae (6 spp.). Diaphus was represented by at least 8 species, including the most abundant (D. garmani), the most frequent (D. dumerilii), and a new record for Brazilian waters (D. adenomus). Except for D. adenomus (amphiAtlantic pattern), only thermophilic species (broadly tropical, tropical and subtropical patterns) of myctophids were captured. The maximum species number per trawl (16 spp.) obtained in a southernmost trawl, near Cabo de São Tomé, is characteristic of high productivity areas. Species richness of myctophids between 5-8 spp./per trawl and massive catches of D. garmani were associated

with oceanic banks (Royal Charlotte, Minerva, Hotspur, Besnard, Montagne), despite their latitude (16-20oS).

available as a result of increased primary and secondary production in response to flow disturbance caused by the island-mass effect. Classification and ordination methods resulted in five groups of stations: (A) one with monospecific catches of Canthidermis sufflamen; (B) one with Diodon holocanthus, mostly or exclusively; (C) one with reef-associated (Balistes capriscus, Aluterus monoceros, C. sufflamen), pelagic (Engraulis anchoita) and benthopelagic (Trichiurus lepturus) species; (D) one with high-oceanic species (Diaphus brachycephalus, Pollichthys mauli); (E) one with mesopelagic species (Myctophidae, Sternoptychidae).

KEYWORDS: epipelagic fish, mesopelagic fish, Abrolhos, oceanic banks, Brazil.

INTRODUÇÃO

Estima-se que 1.200 espécies e 72 famílias estejam representadas na ictiofauna do domínio pelágico dos oceanos (Uiblein, 2000). Sua distribuição relaciona- se intimamente com as massas de água (Parin, 1979) e, de acordo com a profundidade em que ocorrem, até 1.000 m, dividem-se em epi- (0-200 m) e mesopelágicas (200-1.000 m). Peixes mesopelágicos são componente importante do nécton oceânico e contribuem significativamente para a camada de dispersão profunda, CDP (Helfman et al., 1997). Em região oceânica, parcela significativa da produção secundária é consumida pelo micronécton concentrado nas camadas de dispersão profunda (Clarke, 1973). Diversas espécies mesopelágicas migram para alimentar-se durante a noite na camada fótica (McClatchie & Dunford, 2003) ou próximo à termoclina (Rissik & Suthers, 2000). Tal comportamento tem papel significativo no transporte e na redistribuição da matéria orgânica das águas superficiais para as regiões profundas dos oceanos (Willis & Pearcy, 1982), determinando em grande parte a estrutura e função dos ecossistemas pelágicos (Pearcy et al., 1977). Em locais de topografia abrupta, onde a base do relevo encontra-se em águas profundas, as comunidades exibem dinâmica ainda mais complexa (Young et al., 1996), que pode incluir migração diária vertical e horizontal (Omori & Ohta, 1981). Nesses casos, um elo importante entre os sistemas oceânico e nerítico é estabelecido (Benoit-Bird & Au, 2004). A região estudada inclui o complexo recifal de Abrolhos, que abrange recifes de corais, ilhas vulcânicas, bancos rasos e canais, com área aproximada de 6.000 km2 entre as coordenadas de 17o20’-18o10’S e 38o35’-39o20’W (Leão, 2002), além de uma série de bancos submarinos (<100 m) que se elevam de grandes profundidades (França, 1979). No alinhamento da Cadeia Vitória-Trindade, bancos e

montes submarinos podem elevar-se de até 5.000 m (Ferrari & Riccomini, 1999). Na região, estão presentes as águas oligotróficas da Corrente do Brasil, superficialmente, e a Água Central do Atlântico Sul, subsuperficialmente (Castro & Miranda, 1998; Silveira et al., 2000), e a interferência de feições topográficas rasas resulta na formação de vórtices, meandros e ressurgências, que contribuem para o aumento localizado dos nutrientes (Ekau, 1999), gerando considerável heterogeneidade espacial nos teores de clorofila a e produtividade primária ao longo da área, tanto em escala horizontal como vertical (Gaeta et al., 1999). O aumento localizado das produções primária e secundária (Heywood et al., 1991) e da concentração de presas potenciais (Suthers, 1996) como resultado de ressurgência sobre região de topografia abrupta já foi documentado em áreas oligotróficas de regiões tropicais, para águas rasas e profundas (Wolanski et al., 1984, 1996; Coutis & Middleton, 1999). Tais processos beneficiam os consumidores de segunda ordem, os quais geralmente se alimentam de uma grande variedade de presas (Cailliet & Ebeling, 1990) e são item importante na dieta de recursos pesqueiros pelágicos (McPherson, 1991; McClatchie & Dunford, 2003). Em algumas regiões do mundo, tais consumidores ocorrem em densidades suficientemente altas e podem vir a ser utilizados como recursos explotáveis (Gjoesaeter & Kawaguchi, 1980; Gjoesaeter, 1984).

A ictiofauna epipelágica é freqüentemente representada por Perciformes das famílias Scombridae, Xiphiidae e Carangidae (Haedrich, 1997). Na zona mesopelágica, predominam espécimes de pequeno porte (Gartner et al., 1997), principalmente das famílias Myctophidae, Sternoptychidae, Gonostomatidae, Chauliodontidae e da subordem Stomiatoidei (Gordon, 2001). Gradientes latitudinais na composição de espécies geralmente estão associados a variações na temperatura superficial, nas comunidades epipelágicas (Pearcy et al., 1996),

ou à estrutura térmica da coluna d’água, no caso de comunidades mesopelágicas (Backus et al., 1977). No Atlântico, os mictofídeos foram usados como base no estabelecimento dos padrões de distribuição, em função de sua representatividade na ictiofauna mesopelágica (Backus et al., 1977). Alguns levantamentos da ictiofauna do Atlântico incluíram coletas na sua porção ocidental, como aqueles realizados a bordo dos navios Walther Herwig, Anton Dohrn (Hulley, 1981) e 1500 let Kievu (Konstantinova et al., 1994). Destes, os dois primeiros amostraram ao largo da costa brasileira, em profundidades maiores que 3000 m. Durante a campanha MD-55 do navio francês Marion Dufresne, realizada entre 24o00’S-18o55’S, um número reduzido de peixes mesopelágicos das famílias Myctophidae, Neoscopelidae, Sternoptychidae, Gonostomatidae, Photichthyidae e Stomiidae foi eventualmente coletado (Andreata & Séret, 1995). Uma série de cruzeiros realizados a bordo do N/O Atlântico Sul permitiu inventariar os recursos pesqueiros pelágicos entre o Cabo de São Tomé (22ºS) e o Chuí (34ºS), em profundidades de 100 a 1.500 m (Figueiredo et al., 2002), e forneceu material para o primeiro estudo sobre a taxonomia e distribuição dos mictofídeos no sudeste- sul do Brasil (Santos, 2003).

Dentre as diferentes metodologias utilizadas nas campanhas de prospecção pesqueira realizadas pelo SCORE Central do Programa REVIZEE, incluiu-se a prospecção de recursos pelágicos por método hidroacústico, com a utilização de redes de meia água para captura dos componentes dos registros (Madureira et al., 2004). Essa técnica, utilizada mundialmente para a obtenção de estimativas de abundância de peixes pequenos pelágicos que formam cardumes (Cochrane et al., 1998), requer o conhecimento do índice de reflexão acústica individual para as espécies coocorrentes (Lawson et al., 2001) e deve considerar na interpretação dos resultados a caracterização oceanográfica da área (Cushing, 1976), além de dados como topografia do fundo, profundidade local e profundidade do cardume (Axenrot, 2005). O objetivo do presente estudo é a caracterização da ictiofauna epi- (0-200 m) e mesopelágica (200-1.000 m) amostrada durante a campanha BAHIA-1 do N/O Thalassa (IFREMER/FR), no que diz respeito à sua composição, distribuição e associações de espécies.

MATERIAL E MÉTODOS