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Crítica das burocracias: estatal, partidária e sindical

sindical de origem proletária surgida do velho movimento operário, apresentaremos, na próxima seção, o modo como Pannekoek criticou essa variante burocrática inserida no contexto mais geral de sua abordagem sobre o fenômeno da burocracia.

3.3 CRÍTICA DAS BUROCRACIAS: ESTATAL, PARTIDÁRIA E SINDICAL

Empregado pela primeira vez na metade do século XVIII para designar o poder do corpo administrativo de funcionários especializados sob a monarquia absoluta e dependente do soberano, o termo burocracia adquiriu desde então uma variada gama de significados. Particularmente ao longo do século XX, o fenômeno burocrático conheceu um processo de desenvolvimento sem precedentes que aprofundou a diversidade de atribuição de significado e usos do conceito.

Institucionalizado na linguagem comum para indicar, de forma crítica, a proliferação de normas e regulamentos, sufocando a iniciativa, a eficácia e a eficiência das organizações públicas e privadas, o conceito de burocracia empregado com tal conotação e de forma quase adjetiva perde o seu valor explicativo como abstração de situações reais e concretas que se tentam analisar.

Para entender o sentido preciso da crítica de Pannekoek à degeneração burocrática de partidos e sindicatos bem como das determinações e condicionantes histórico-estruturais de onde tal crítica se originou, torna-se necessário previamente aprofundar o exame do estatuto teórico da burocracia, visando posteriormente especificar o ângulo e a perspectiva pannekoekiana ao tratar do tema.

Sem a pretensão de ser exaustivo ou estabelecer distinções analíticas excludentes entre si, a síntese elaborada por Labra (1988) sobre algumas formulações acerca do fenômeno burocrático possibilita o clareamento necessário à precisão almejada.

Assim, burocracia pode significar: a) uma forma de dominação racional-legal própria do Estado moderno, em oposição às formas tradicionais patrimoniais de domínio; b) uma forma específica de organização da dominação racional-legal no Estado capitalista moderno e cujos traços característicos estão consubstanciados no “tipo

ideal” weberiano; 152 c) um fenômeno universal e inexorável do qual não se pode escapar por tratar-se de um fenômeno político específico da formação econômico-social capitalista; d) uma categoria social específica que faz do conhecimento especializado que detém, e do segredo com que guarda esse saber, uma fonte de poder, transformando- se numa nova classe social a partir das posições que ocupa tanto no aparelho estatal quanto nas grandes corporações privadas; e) uma espécie de mediação para expressar uma ponte que se estabelece entre o Estado e a Sociedade por meio dos aparelhos estatais – significa que a burocracia passa a ocupar um espaço organizacional e decisório no momento em que mecanismos decisórios centralizados, justificados por uma ideologia autoritária dominante, excluem a representação política da esfera de poder, reprimem as massas populares e suas organizações (nesta acepção, a burocracia, livre de qualquer controle, aparece perante a sociedade como se estivesse pairando sobre ela); f) uma arena política, ou seja, um espaço social onde se dá a luta pelo poder e se dirimem os conflitos de interesse contraditórios ou antagônicos entre as classes sociais e frações de classe – perspectiva voltada para a análise e avaliação das políticas públicas do ponto de vista dos sujeitos envolvidos no jogo do poder que conduz à inserção de questões socialmente problematizadas na agenda do governo; e, por fim, g) um sujeito social da ação política – considera-se aqui que a burocracia estatal possui um poder próprio, autônomo, paralelo à dominação econômica e política de classe, imanente à sua condição de aparelho de Estado. 153

Percebe-se que a maioria dos diversos conceitos aplicáveis ao termo burocracia procura explicar o fenômeno burocrático operando uma cisão entre as esferas do Estado e a das empresas.

Tragtenberg (2006) rompeu com tal cisão e estabeleceu uma relação íntima entre a burocracia estatal e administração empresarial por haver demonstrado que o conceito de burocracia, por operar a mediação

152 Para conhecimento dessa formulação específica do autor, consultar Weber (2004a, p. 141-

147; 2004b, p. 198-233).

153 O debate sobre o grau de autonomia da burocracia nos distanciaria dos objetivos deste

trabalho. Acrescente-se apenas que essa autora, com base nos trabalhos de Nicos Poulantzas, discute o tema da burocracia pela teoria relacional do poder, segundo a qual o Estado e seus aparelhos gozam de autonomia relativa por se constituírem na condensação material e específica de uma relação de forças entre classes e frações de classe. Nesse sentido, a burocracia não teria poder político próprio, pois seria, em última instância, um sistema específico de organização e funcionamento interno do aparelho de Estado que manifesta o efeito específico da ideologia burguesa, da natureza do Estado capitalista e, sobretudo, das relações da luta de classes com esse Estado (cf. LABRA, 1988).

entre interesses gerais e particulares, diz respeito tanto a razões de eficácia na empresa quanto a razões de poder no Estado.

Ao analisar os sistemas empresariais de organização da força de trabalho e evidenciar que a administração das empresas é um exercício de autoridade, Tratgtenberg identificou a imensa semelhança organizativa existente entre o capitalismo de Estado que vigeu no leste europeu – chamado por ele de “coletivismo burocrático” – e o capitalismo privado vigente no ocidente. Ademais, colocou no centro da atividade empresarial os conflitos sociais, fornecendo desse modo um quadro teórico unificado, como se depreende desta passagem:

[...] a gênese e a estrutura da Teoria Geral da Administração, enquanto teoria explicativa da empresa capitalista e do coletivismo burocrático, devem ser procuradas inicialmente no âmbito do Estado [...]Com a irrupção da empresa capitalista, a ênfase do processo de burocratização flui do Estado à empresa, no período liberal do desenvolvimento econômico capitalista. A intervenção do Estado na economia enfatizará as relações da empresa com o poder estatal; as formas do coletivismo

burocrático implicarão a anatomia da burocracia estatal legitimada pelo

partido. (TRAGTENBERG, 2006, p. 231-232).

Essa concepção unificada do fenômeno burocrático e a centralidade dos conflitos sociais na análise política e econômica tornam-se decisivos para a compreensão das razões pelas quais formas institucionais originariamente criadas pelos trabalhadores com um claro sentido de luta contestatória transformam-se em mecanismos da própria continuidade da dominação capitalista.

Além disso, o capitalismo assegura sua existência por uma sucessão de formas variadas que se processam não apenas por meio de modalidades repressivas, mas, sobretudo, por ciclos de absorção de conflitos. Esse processo de assimilação, tênue e sofisticado, não se resume à cooptação pessoal de antigos integrantes e dirigentes “traidores” da causa proletária. Em sua sagacidade, tal processo é capaz de integrar na estrutura capitalista as próprias instituições de lutas autônomas que historicamente o proletariado em luta cria. Resultam, nesse sentido, do próprio processo de degeneração dos órgãos de deliberação livremente gerados. Isso quer dizer que as organizações continuam a existir formal e nominalmente, porém com o conteúdo das práticas sociais plenamente desfiguradas.

Foi precisamente no interior do movimento operário e socialista europeu anterior à Primeira Guerra Mundial, reunido na II Internacional e sob a hegemonia teórica do marxismo kautskiano, que se pode

localizar o momento da mudança qualitativa do processo de assimilação de partidos e sindicatos. 154

Neste período situa-se a primeira manifestação teorizada consistentemente de Pannekoek sobre a burocracia. No texto de 1909, sobre as “divergências táticas”, a questão da burocracia aparece a partir do modo como analisou as características particulares do Estado.

O Estado, o governo, é uma organização que a classe dominante cria para a defesa de seus interesses. Mas as pessoas que controlam diretamente o poder de Estado não o utilizam unicamente em interesse do conjunto da classe dirigente, seu mandante, mas também para seu próprio interesse imediato. O poder de Estado a serviço da burguesia se torna independente até certo grau, em sua continuidade parece independente. A burocracia se transforma numa classe específica, com

interesses próprios, que tenta fazer valer contra os interesses da

burguesia. Naturalmente, esta independência é apenas uma aparência enganosa. […] A burguesia se acomoda a isso como um mal menor porque não pode avançar para interesses maiores sem a burocracia. […]. A burocracia é recrutada entre os membros da própria burguesia […] A

burocracia é, pois, uma classe de exploradores que extrai sua parte de

mais-valia global do produto dos impostos e dos monopólios de Estado e que luta com as outras classes exploradoras a propósito da quantia que lhe cabe. (PANNEKOEK, 2007, p. 248-249). 155

154 O momento que simbolizou essa mudança de qualidade deu-se quando do voto favorável

dado pelos parlamentares do SPD aos recursos financeiros solicitados pelo governo da Alemanha para prosseguir em seus esforços de guerra no dia 4 (quatro) de agosto de 1914. Vale ressaltar que essa atitude histórica tomada pelos deputados do partido operário mais importante do mundo na época e que se revestiu de simbolismo pelo que representou em termos de desdobramentos posteriores imediatos (engajamento da maioria dos partidos da II Internacional no apoio ao esforço de guerra de seus respectivos governos) foi duplamente antecedida: uma pelos dirigentes partidários que tomaram essa decisão em reunião no dia 3 de agosto e outra pelos sindicalistas que, no dia 2 de agosto, firmaram um pacto com os patrões de “congelamento” de todos os conflitos sociais durante a guerra. (cf. ROVAN, 1979, p. 113). Frise-se, porém, que esse referencial histórico não deve dar margem a entendimentos de que a crítica ao marxismo da II Internacional tenha iniciado somente a partir de então, tampouco que o processo de assimilação de partidos e sindicatos já não fosse evidente anteriormente.

155 El Estado, el gobierno, es una organización que la clase dominante crea para la defensa de

sus intereses. Pero las personas que detentan directamente el poder del Estado no lo utilizan únicamente en interés del conjunto de la clase dirigente, su mandante, sino también para su propio interés inmediato. El poder de Estado al servicio de la burguesía se hace independiente hasta cierto grado, y a continuación parece independiente. La burocracia se convierte en una

clase específica, con sus intereses propios, que intenta hacer valer en contra de los intereses de la burguesía. Naturalmente, esta independencia no es más que una apariencia engañosa. […] La burguesía se acomoda a ello como a un mal menor porque no puede salir adelante en intereses más grandes sin la burocracia. […]. La burocracia se recluta entre los miembros de la burguesía misma […] La burocracia es, pues, a su vez una clase de explotadores que extraen su parte de plusvalía global del producto de los impuestos y de los monopolios de Estado y que se pelean con las otras clases explotadoras a propósito del importe de su parte.

Essa crítica geral, embora tenha o mérito de identificar a burocracia como uma classe exploradora e dotada de interesses próprios, ainda não identificou as bases sociais das burocracias partidárias e sindicais.

A descrição da formação da burocracia nas organizações proletárias tradicionais teria de esperar até os primeiros anos do pós- Primeira Guerra. Desde então, e até por volta de 1920, Pannekoek utilizou em seus escritos a expressão “burocracia do partido” 156 referindo-se a indivíduos que se colocavam sob a doutrina do marxismo fatalista à moda de Kautsky como cobertura ideológica para justificar a manutenção da tática que canalizava o trabalho para o terreno eleitoral - único terreno que não oferecia riscos para seus interesses vitais de funcionários.

A partir dos textos pannekoekianos de 1915-16, a burocracia operária no ocidente estava claramente descrita como um “Estado dentro do Estado”, uma casta formada por funcionários, secretários, agitadores, parlamentares, teóricos e jornalistas que somente poderia sobreviver longe da luta encarniçada contra o imperialismo e no interior dos escritórios, salas de redação, nos comitês eleitorais e auditórios das organizações operárias.

No texto “Revolução Mundial e Tática Comunista” (1920), Pannekoek situou com toda a clareza a origem de ambas.

O caminho para a formação da burocracia partidária foi identificado na preponderância dos dirigentes partidários sobre as massas quando estas últimas se deixam paralisar, assumindo um papel subordinado na luta anticapitalista. A partir desse momento, confiam que parlamentares individuais possam ser capazes de operar transformações por meio do exercício da atividade parlamentar. Pannekoek alerta que esse processo de “compensação” da passividade das massas tende a corromper os parlamentares, muda o caráter do partido e cria um antagonismo entre o partido e a classe, pois podem se apresentar situações nas quais o partido “intentará con todas sus fuerzas destruir la fuerza y la compacidad de la clase por medio de concesiones, de compromisos y otros pretextos.” (PANNEKOEK, 2005, p. 243).

A burocracia sindical, por sua vez, tem sua origem identificada no desenvolvimento do capitalismo que, em seu processo de expansão, o qual fez aumentar o proletariado, transformou os sindicatos

156 Trata-se aqui de textos produzidos nos anos 1915-16, tais como “O Marxismo como Ação”

em ligas gigantescas que apresentam as mesmas tendências evolutivas já determinadas no corpo do próprio Estado burguês. Neles se formou uma classe de funcionários, uma burocracia, que dispõe de todos os meios de poder da organização: dinheiro, imprensa, nomeação dos funcionários subalternos; com frequência tem poderes ainda mais amplos, de maneira que de servidora da coletividade, se transformou na dona e se identifica inclusive com a organização. A correspondência dos sindicatos com Estado e sua burocracia também se dá porque, apesar da democracia que existe neles, os sindicalizados não podem fazer valer sua vontade contra a burocracia; toda rebelião, antes mesmo de poder abalar as cúpulas, se bate contra o artificioso aparato dos regulamentos e estatutos. Somente com uma tenacidade obstinada às vezes uma oposição consegue, depois de anos, obter um modesto sucesso que se limita, no máximo, a uma mudança de pessoas. (id., ibid., p. 245). 157

Pannekoek cita exemplos de lutas dos sindicalizados em vários países, antes e depois da Primeira Guerra, realizadas contra a vontade dos dirigentes sindicais e as decisões dos sindicatos. Procurou assim demonstrar que a organização deixou de ser o conjunto dos organizados para se tornar algo externo a eles, contra o qual podem se rebelar mesmo que deles tenha surgido, como ocorreu com o Estado.

Pannekoek esclarece que o sindicato quando luta contra as condições de miséria que o capitalismo produz, torna-se parte da sociedade capitalista, razão pela qual em conjunturas revolucionárias o sindicato entra em conflito com o proletariado. E que a dominação dos dirigentes sindicais sobre os trabalhadores sempre se renova – apesar do ódio e do rancor que as massas sentem contra tais dirigentes – em função da falta de clareza e unidade dos próprios trabalhadores e de ser a organização sindical um meio de conseguirem força numérica contra os capitalistas. Discorrendo sobre a estreita ligação dos sindicalistas com os funcionários do Estado por causa de um ponto de fundo comum existente entre ambos, que é o de controlar os trabalhadores para colocá- los a serviço do capital, Pannekoek demonstra que a prioridade da

157 en ligas gigantescas que presentan las mismas tendencias evolutivas ya determinadas en el

cuerpo del Estado burgués mismo. En ellos se ha formado una clase de funcionarios, una burocracia, que dispone de todos los medios de poder de la organización: dinero, prensa, nombramiento de los funcionarios subalternos; con frecuencia tiene poderes todavía más amplios, de manera que de servidora de la colectividad, se ha convertido en la dueña y se identifica incluso con la organización. Y los sindicatos se corresponden también con el Estado y su burocracia porque, a pesar de la democracia que reina en ellos, los miembros no pueden hacer valer su voluntad contra la burocracia; toda rebelión, antes incluso de poder conmocionar las cúspides, se estrella contra el aparato artificioso de los reglamentos y estatutos. Sólo con una tenacidad obstinada logra a veces una oposición, después de años, obtener un éxito modesto que se limita, como máximo, a un cambio de personas.

burocracia sindical é conseguir fazer os trabalhadores aceitarem os acordos que esta firma com os capitalistas. Admite, contudo, variação de métodos: pela grosseria e brutalidade por meio da força e da mentira, como faz a burocracia sindical na Alemanha, ou aparentando se deixar levar pelas reivindicações autênticas e sabotando-as nos bastidores, como faz a burocracia sindical na Inglaterra. E afirma:

Consequentemente, o que Marx e Lênin precisaram sobre o Estado deve valer também para as organizações sindicais, isto é, que apesar da democracia formal, sua organização impossibilita fazer delas um instrumento da revolução. A força contrarrevolucionária dos sindicatos não pode ser debilitada e destruída por uma mudança de pessoas, pela substituição de dirigentes sindicais ou “revolucionários” em lugar dos chefes reacionários. É justamente a forma desta organização que torna as massas pouco menos que impotentes e lhes impede fazer dos sindicatos órgãos de sua vontade. A revolução somente pode vencer destruindo esta organização, transformando, por assim dizer, a forma da organização para fazer dela algo radicalmente novo: o sistema dos soviets. Sua instauração está em condições de extirpar e eliminar não apenas a burocracia estatal, mas também a do sindicato; formará não somente órgãos políticos novos do proletariado em oposição ao parlamento, mas também as bases dos sindicatos novos. (PANNEKOEK, 2005, p. 246). 158

A hipótese de um governo de toda a sociedade por meio da organização sindical também foi amplamente rechaçada pelo holandês, seja na versão “trabalhista” (com os sindicalistas valendo-se do partido socialista para adentrar as instituições do Estado capitalista), seja na versão “radical” (que enxerga no movimento sindical a base para um regime de políticos e intelectuais em substituição ao sistema de conselhos como forma da ditadura proletária). Esses “Governos das organizações operárias” ou “controlados pelas organizações operárias”, na concepção de Pannekoek, são por natureza contrarrevolucionários,

158 Por consiguiente, lo que Marx y Lenin han precisado a propósito del Estado debe valer

también para las organizaciones sindicales, es decir, que a pesar de la democracia formal, su organización imposibilita hacer de ellos un instrumento de la revolución. La fuerza contrarrevolucionaria de los sindicatos no puede ser debilitada y destruida por un cambio de personas, por la substitución de dirigentes sindicales o “revolucionarios” en lugar de los jefes reaccionarios. Es justamente la forma de esta organización la que hace a las masas poco menos que impotentes y les impide hacer de los sindicatos órganos de su voluntad. La revolución no puede vencer más que destruyendo esta organización, transformando, por así decir, la forma de la organización para hacer de ella algo radicalmente nuevo: el sistema de los soviets. Su instauración está en condiciones de extirpar y eliminar no sólo la burocracia estatal, sino también la del sindicato; no sólo formará los órganos políticos nuevos del proletariado en oposición al parlamento, sino también las bases de los sindicatos nuevos.

pois não passam de governos da burocracia sindical auxiliados por frações radicais da velha burocracia estatal.

No entanto, em 1920, o pensamento de Pannekoek ainda não havia chegado a um posicionamento consolidado e unificado sobre o tema das burocracias. Isso devido a uma contradição expressa numa operação teórica que procurava ao mesmo tempo criticar a burocracia na Europa Ocidental, mas justificar a burocracia na Rússia bolchevique. A origem dessa contradição residiu na tentativa de harmonizar politicamente, no âmbito da III Internacional, a defesa simultânea do caráter internacional da revolução proletária com a defesa do Estado nacional russo.

Se nos outros países da Europa há um sistema político similar ao que existe na Rússia – poder de uma burocracia operária que se apóia na base de um sistema de conselhos – então o poder do imperialismo mundial é vencido e derrubado, pelo menos na Europa. […] Se compreende, pois, que o que nós consideramos uma forma de transição temporária, insuficiente, que é preciso combater com todas nossas