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Críticas à teoria de atributos

No documento Angela Maria Gomes da Silva (páginas 53-56)

3 FISICALISMO

5.1 Dualismo

5.1.4 Críticas à teoria de atributos

Há também uma outra crítica à teoria de atributos, que Armstrong não considera junto com as teorias dualistas da mente mas que podem ser consideradas, como foi visto anteriormente, como uma teoria dualista de propriedades, pois considera o homem como uma única substância mas que possui propriedades físicas e propriedades mentais que não são redutíveis às propriedades materiais/físicas. A consideração dessas críticas, embora não estejam relacionadas com a teoria desenvolvida por Armstrong da mesma forma como estavam as direcionadas às teorias dualistas, é relevante porque a resposta à objeção 3 presente no artigo “Sensations and brain processes” de J. J. C. Smart, que era uma objeção de caráter da teoria de atributo, desencadeou o desenvolvimento de uma definição (ou relato) tópico neutra que esteve presente em todos os filósofos desse grupo desde então. Assim, para Armstrong, uma das maiores dificuldades da teoria de atributos é definir propriedades não- materiais e a forma como elas estão conectadas com o corpo.

Uma propriedade considerada irredutível por teóricos da teoria do atributo, como Brentano, é a intencionalidade, uma relação dos estados mentais com as coisas no mundo, quer existam uma árvore, um jantar, uma brincadeira de infância, quer não existam, como um unicórnio, um alienígena, uma experiência recordada que não existiu. Uma definição dada por John R. Searle (2002, p.1) para esse caráter de direcionamento é dada nos seguintes termos: “Intencionalidade é aquela propriedade de muitos estados e eventos mentais pela qual estes são dirigidos para, ou são acerca de, objetos e estados de coisas no mundo.” Apesar dessa definição, esse direcionamento ocorre mesmo quando não existem os objetos para os quais aponta no mundo. Além disso, a intencionalidade também pode aparecer como representação, além de ter outras peculiaridades como sua relação com os atos de fala, mas esses aspectos não são necessários no presente trabalho. É suficiente considerar seu aspecto de direcionamento.

Com a consideração da intencionalidade, as condições a serem satisfeitas por uma teoria da mente tornam-se acrescidas da condição:

viii. “explicar a intencionalidade dos estados mentais”.

A forma da teoria do atributo que Armstrong analisa mantém a identidade de mente e cérebro, ou seja, “como uma questão de fato empírica, a mente é o cérebro” (Armstrong, 1993, p. 46). As propriedades mentais, mesmo sendo irredutíveis à matéria, também são propriedades do cérebro. Dessa forma, considerando os estados mentais como atributos do corpo, a teoria do atributo consegue prover três das condições levantadas anteriormente: a ii, a

iii e a iv. Apesar disso, outras condições apresentam dificuldades e respostas insatisfatórias. A

primeira é a condição da possibilidade lógica de existência desencorpada. O movimento que Armstrong faz para mostrar que essa condição não é satisfeita é o seguinte: primeiro ele utilizou a condição i, segundo a qual estados mentais são incapazes de existência independente; em seguida fez a identificação das propriedades não-físicas postuladas pela teoria do atributo com esses estados mentais; chegando, assim, à conclusão de que uma coisa não pode ter apenas propriedades não-físicas.

Uma outra dificuldade é encontrada com respeito às condições v e vi, que são tratadas em conjunto porque a solução da vi implica na forma como a v se dá. Começando pela condição vi, exigência de uma teoria da mente permitir a interação causal entre mente e corpo, o argumento principal adotado por Armstrong toma a seguinte forma: (a) “se pensamos os estados mentais como um conjunto de atributos do cérebro, é muito difícil negar que o estado da mente é unicamente determinado pelo estado corrente do cérebro.” (Armstrong, 1993. p. 46) A possibilidade de que alguns estados da mente variem independentemente do estado físico corrente do cérebro leva a uma teoria paralelista da interação mente e cérebro para a teoria de atributo, o que exigiria um montante maior de argumentos para ser sustentada, por isso ela é rechaçada. (b) Nesta fase do argumento, o teórico da teoria de atributo, impelido pelos fatos empíricos, teria que afirmar que “a mente é o cérebro”, que “o mesmo objeto que tem as propriedades físicas de um cérebro também tem as propriedades mentais”, podendo ser descrito como “o cérebro” ou “a mente”. É interessante ressaltar que Armstrong aponta a semelhança entre a teoria de estado central, a sua teoria da mente, e a teoria de atributo, sendo que a distinção entre elas é dada pelo fato de a teoria de estado central só aceitar a existência de propriedades físicas, ou seja, rejeitar as propriedades não-físicas que são postuladas pela teoria de atributo. A conclusão desse argumento, a primeira, é a seguinte: (c) a teoria de atributo “permite a interação entre mente e corpo, enquanto ainda permite que as propriedades mentais sejam unicamente determinadas pelo estado físico corrente do cérebro.” (idem)

cérebro opera apenas de acordo com aquelas leis físicas, químicas e biológicas que explicam o trabalho do resto do corpo” (Armstrong, 1993, 47); (e) mostrou-se que “os trabalhos e poderes especiais do cérebro são simplesmente um resultado da tremenda complexidade de sua estrutura física, e de forma alguma um resultado de modos de operar radicalmente novos.” A segunda conclusão, forçada, seria que (f) as propriedades postuladas pela teoria de atributo seriam causalmente ociosas; ou que envolveriam a emergência de novas leis físicas.

Com relação ao problema epistemológico, a teoria de atributos não está de acordo com as descobertas ou as intuições da maioria dos pesquisadores modernos de neurofisiologia, que tendem a considerar o crescente número de evidências em favor de um funcionamento do cérebro em termos de leis físicas, químicas e biológicas, como acontece com o restante do organismo. Como alguns dos argumentos entraram como suposições e as evidências estão sendo construídas, não há uma resposta definitiva para a questão de se a teoria que ela é verdadeira ou falsa, mas se recorre a uma tendência da comunidade científica para apoiar a insuficiência da teoria de atributos.

Assim como para o dualismo, a teoria de atributo teria que explicar o surgimento dessas propriedades mentais não-físicas no desenvolvimento do organismo. Em que momento do contínuo desenvolvimento do organismo surge a intencionalidade? Neste ponto a teoria também parece não ter uma resposta satisfatória.

Um último argumento, e este se aplica a todas as teorias da mente que sejam não materialistas, é o argumento da supremacia da física. Trata-se de uma posição reducionista na qual a biologia é reduzida à química que, por sua vez, é reduzida à física. Não é difícil perceber como ela exerce sua ação nas teorias consideradas neste tópico, portanto visto que o fisicalismo será abordado em outro tópico, não será necessário explicitar o desenvolvimento da argumentação de Armstrong neste momento, mesmo que ele tenha considerado algumas objeções a essa redução e respostas a ela. Com isso, o tópico que trata das teorias dualistas ou não-materialistas da mente está encerrado e apontou as condições sob as quais a teoria de estado central foi estabelecida, como será mostrada mais à frente, na seção 6.1.

No documento Angela Maria Gomes da Silva (páginas 53-56)