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A maior crítica em relação ao RDC refere-se a não elaboração do projeto base por parte da Administração Pública, uma vez que se coloca apenas a disposição dos particulares um anteprojeto com especificações mínimas e orçamento sigiloso , deixando a contratação com um alto grau de subjetividade , dificultando uma análise objetiva das propostas apresentadas, visto que a elaboração do projeto base, responsável pela definição da melhor forma de executar a obra e/ou serviço, até a elaboração do orçamento prévio ficam a cargo do particular, deixando o interesse públicos, sob a responsabilidade das empresas particulares que, geralmente estão mais preocupadas com o lucro.

Quanto à inversão de fases, a principal critica está baseada em evitar que particulares pratiquem propostas com valores muito baixos que, posteriormente, inviabilizem a execução da obra, de tal forma que se necessite da realização de um novo procedimento licitatório, atrasando, assim, a obra ou serviço inicialmente contratado..

Critica-se, também, a possibilidade de bônus para as empresas que terminarem o contrato antes do tempo determinado, que atendam ao padrão de qualidade ou atinja aos critérios previsto de sustentabilidade. Argumentando-se que, como o objeto a ser contratado é definido previamente não é justificável que uma empresa receba bônus para cumprir aquilo que foi designada. Além disso, o próprio critério de sustentabilidade é marcado por certo grau de subjetivismo, de maneira que fica a critério do gestor público o atendimento ou não desses fundamentos para que seja concedido o bônus, em outros termos, trata-se de uma verdadeira alternativa de superfaturamento de contratos.

5 CONCLUSÃO

Com a finalidade de assegurar os interesses da coletividade nas contratações públicas, o processo licitatório, antes de tudo, tem a missão de garantir a harmonização da gestão da Administração Pública com os anseios da sociedade. Logo, todo o seu procedimento legal, envolvendo formalidades, fases, algumas vezes até excessivas, é voltado para promover o equilíbrio social e minimizar os riscos da má utilização dos recursos públicos pelos seus gestores.

A atual lei geral de licitação de nº 8.666/93 já possui mais de 20 anos desde a sua entrada em vigor, e algum tempo já é discutida a adequação do seu procedimento as contratações públicas atuais. Em um mundo globalizado é necessário que a gestão pública atue cada vez eficiente e de forma célere a fim de que atenda não só as necessidades públicas como também atue de forma competitiva com o mercado internacional.

Desta feita, foram realizadas várias propostas de emenda à lei visando a modificação do procedimento, em sua maioria sem sucesso. Contudo , em agosto de 2011, foi editada e Lei 12.462, quem implantou o Regime Diferenciado de Contratação, com a finalidade especifica de regulamentar e definir o procedimento dos contratos necessário para a realização dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016, da Copa das Confederações, de 2013 e Copa do Mundo- FIFA, de 2014. Assim, trouxe várias inovações para o procedimento licitatório como a inversão de fases, redução da fase recursal, remuneração variável ,diretrizes para a licitação e a criação de procedimentos auxiliares.

Com o objetivo principal de garantir maior celeridade e simplificação das contratações realizadas, o RDC logo foi modificado, e teve ampliada sua atuação, antes especificas para realizações dos eventos, agora também para obras que fossem do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), obras e serviços dos sistemas públicos de ensino e no âmbito do Sistema único de Saúde (SUS), ficando clara a necessidade de atualização do procedimento licitatório.

Desde sua entrada em vigor é inegável que as alterações impostas pela lei 12.462/11 tenham atingindo o objetivo da celeridade, obras grandiosas foram feitas, reformas monumentais realizadas, verdadeiros “coliseus” saíram do papel e tiveram sua conclusão em tempo recorde. Assim, restou claro que as modificações feitas no âmbito das licitações conseguiram simplificar o processo e dar celeridade as obras desejadas.

Contudo, em virtude da necessidade de modernizar o procedimento licitatório, a fim de que fosse atendidas as necessidades imediatas do País, o procedimento licitatório foi flexibilizado com o intuito de que fosse dada a agilidade necessária para o cumprimento de certas obrigações. Logo, é perceptível que o interesse público tenha sido deixado em segundo plano e todo o aparelhamento burocrático que embora dificultasse o sistema licitatório, em contrapartida também assegurava a lisura do processo e defendia os interesses da sociedade em geral. O resultado dessa maleabilidade do processo licitatório teria como resultado a grande quantidade de superfaturamento das obras em todos os setores, como expressa na mídia e nos relatórios elaborados pelo Tribunal de Contas da União e dos Estados.

Assim, é perceptível que a criação de um novo regime de contratação as pressas é fruto de uma desorganização e inércia governamental de anos. Em virtude de ter um processo licitatório reconhecidamente ineficiente e burocrático, precisou-se criar, de forma emergencial, um novo regime para atender à realização de obras de grande vulto, sobrepondo à celeridade do trâmite em face do interesse público, uma vez que as obras e serviços foram entregues a tempo, embora que com valores exorbitantes, ficando a cargo do povo brasileiro pagar o preço pela desorganização da gestão pública.

REFERÊNCIAS

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