• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 4 Análise dos dados O espaço e as relações criança/adulto/cultura

4.2 A creche reformada

Após a sua inauguração, a creche foi utilizada durante anos sem passar por qualquer reforma. Encontrava-se em situação precária, tornando-se um espaço desagradável, desinteressante, não-aconchegante para os adultos e crianças que a freqüentavam o dia todo.

No ano de 2005, a creche passou por uma grande reforma.

Embora o documento Parâmetros Básicos de Infra-Estrutura para a Instituição de Educação Infantil (2008, p. 11), do Ministério da Educação, apresente sugestões quanto à necessidade de se “criar uma equipe multidisciplinar para a definição de diretrizes de construções e reformas das unidades de Educação Infantil”, e que os arquitetos e

engenheiros, ao realizarem seus projetos, considerem as orientações definidas pela equipe multidisciplinar, nesse caso específico, não acorreu. A reforma foi planejada pelo arquiteto e pelo engenheiro da municipalidade, juntamente com a Secretaria da Educação, sem a participação dos profissionais que trabalhavam na creche.

Durante a execução da reforma, algumas pequenas alterações sugeridas pela equipe de profissionais da unidade, que não alteravam o custo da obra, foram aceitas pelos arquitetos, engenheiros e Secretaria.

Ainda que essa melhoria no espaço da creche tivesse sido planejada sem a participação dos profissionais que lá trabalhavam, trouxe muitos benefícios.

Uma das mudanças foi quanto à reestruturação dos espaços já existentes. Na entrada principal da creche, tão importante para acolher os pais, crianças e demais membros da comunidade, antes ocupada por uma despensa, foi instalada a sala da diretora. Assim, logo que as pessoas chegam à creche já são recebidas por um profissional pronto a acolhê-las. Um grande painel, contendo as fotos de todos os profissionais que trabalham na creche e das crianças envolvidas em algum projeto ou trabalho com a turma foi confeccionado num trabalho conjunto e colocado próximo à entrada.

No corredor de entrada, foi fixado na parede, na altura das crianças, um painel com pedaços de espelhos para as crianças se olharem ao passar por lá.

A cozinha passou por uma mudança total. Antes, ficava localizada distante do refeitório, como mostra o relato feito no capítulo dois. Com a reforma, foi construída ao lado dele, facilitando o trabalho das merendeiras, que não mais precisam deslocar-se com panelas pesadas até o local onde as crianças se encontram para as refeições. Foi construído entre a cozinha e o refeitório, um balcão da altura das crianças, para nele serem servidos os pequenininhos. Essa mudança no espaço possibilitou, posteriormente, a realização do projeto self-service, onde as próprias crianças passaram a servirem-se sozinhas.

Os banheiros foram refeitos de forma mais adequada ao uso das crianças e à limpeza diária, realizada pelas serventes.

No primeiro pavilhão da creche, a reforma possibilitou um ambiente mais arejado, ventilado e iluminado.

No pavilhão lateral, onde ficavam a sala do berçário, do maternal I e a cozinha das funcionárias, também houve uma grande mudança. Na sala do berçário foi construído um banheiro para as educadoras trocarem e banharem os bebês. Na frente da sala, foi edificada uma área coberta para as crianças tomarem banho de sol. As janelas foram rebaixadas. Assim, logo que as crianças começam a engatinhar, apóiam-se nelas para olharem do lado de fora da sala. Dentro da sala, foi construído um armário para as educadoras guardarem objetos próprios e das crianças. A sala ao lado, utilizada anteriormente pelo maternal I, transformou-se em uma sala-dormitório, onde foram colocados os berços para os bebês dormirem. As janelas também foram rebaixadas. Em frente a essa sala-dormitório foi construída uma área grande, que os bebês e as demais crianças utilizam para brincar. Essa separação entre o espaço de brincar e o de dormir permitiu que as crianças tivessem um espaço mais amplo para a exploração e movimentação. Agora, os bebês possuem a sala toda para rolarem, engatinharem, andarem e se movimentarem, sem disputar o espaço com os berços. Sobrou espaço para as educadoras colocarem prateleiras baixas e realizarem outras intervenções no espaço da sala, que serão relatadas e analisadas no item seguinte.

Figura 7: Solário do berçário.

Entre a sala e a área construída à sua frente, foi instalada uma porta de correr para que as educadoras, junto com as crianças, pudessem movimentar-se melhor, de um ambiente para o outro.

Ao lado desse bloco de construção foram construídas mais duas salas, que são utilizadas, hoje, pelas turmas do maternal I (com as crianças de 1 ano e cinco meses a 2 anos) e do maternal II (com as crianças de 2 a 3 anos). Nessas salas há um banheiro privativo para cada uma delas. As janelas também são baixas, à altura das crianças e, à sua frente, há uma grande área coberta utilizada pelas duas turmas.

Entre esse último bloco de construção e o refeitório, foi edificada uma grande área coberta, facilitando a movimentação das crianças nos dias de chuva.

Foram construídos, ainda com a reforma, dois banheiros do lado de fora do prédio, para quando as crianças estiverem no parque. Foi edificada também uma lavanderia nova.

Outra mudança relevante aconteceu após essa reestruturação dos espaços: a creche ganhou cores novas, mais vivas e alegres. O ambiente ficou mais arejado devido às alterações no espaço: ganhou vida. As salas receberam cortinas novas combinando com as cores das portas, tornando-as aconchegantes e bonitas.

As serventes, animadas com tanta mudança, encarregaram-se da jardinagem. Plantaram várias flores em vasos e espalharam pela entrada e pelo pátio da creche.

Os desenhos estereotipados das paredes foram retirados, e, em seu lugar, colocamos pinturas das crianças.

Num dos cantos, pouco utilizado pelas educadoras e pelas crianças, foi construída uma lousa, da altura delas, e duas paredes de azulejos para desenharem com tinta.

No espaço externo não houve muita alteração. Os brinquedos do parque foram consertados, mas não resistiram por muito tempo e, aos poucos, foram se quebrando novamente. Foram construídos mais dois tanques de areia, totalizando três. Agora, mais crianças podem brincar na areia ao mesmo tempo.

O espaço novo, colorido, alegre, limpo e adequado, trouxe vida nova à creche. Os funcionários ficaram mais animados com o trabalho, as crianças sentiram-se acolhidas e seus pais realizados por deixarem seus filhos num lugar bonito e agradável.

Após essa transformação no espaço, o grupo passou a discutir, nas reuniões pedagógicas realizadas mensalmente, a importância do espaço para o desenvolvimento das crianças, e, assim, as educadoras, sob minha orientação, foram realizando pequenas intervenções no espaço das salas, que serão relatadas e analisadas a seguir.

Documentos relacionados