• Nenhum resultado encontrado

Crença que se sentem preparados para trabalhar com o ensino da

4.1 AS CRENÇAS DOS CONCLUINTES

2) Crença que se sentem preparados para trabalhar com o ensino da

escrita. Como pode ser visto nas palavras expostas por:

A19: ―Sim. Tais informações possibilitaram reflexões acerca do ensino da

escrita que envolve o ensino da sintaxe, morfologia, de semântica, entre outros. O ensino de sintaxe deve ser feito à luz das reflexões acerca das mudanças sintáticas que ocorreram no português brasileiro. Porque escrevemos “dê-me”? Nenhum falante do português no Brasil realiza

essa expressão na oralidade, isto é, fazer uma reflexão em sala de aula desses assuntos”.

A62: “Sim. Porque o ato de escrever requer detalhes, estratégias, que o

docente precisa formatar no aluno”.

A73: “Sim. São as diversas amarras dos conhecimentos que auxiliam o

professor a orientar seus alunos como bons produtores de textos. Além de conhecimentos teóricos o professor não pode prescindir de seu histórico e experiência pessoal na orientação dos alunos”.

Chama a atenção que nas asserções dos concluintes A19, A62 e A73 é evidenciado que a sua preparação para a formação de competentes produtores de textos está atrelada a abordagem que privilegia a observação dos aspectos estruturais da escrita, sua materialidade e as possibilidades de variação (semelhantemente ao modo como ocorre a análise da Língua Portuguesa falada no Brasil) para a sua elaboração.

Os sujeitos A19, A62 e A73 não assumem, diretamente, que estejam aptos para orientar atividades que considerem o caráter interlocutório da produção de textos escritos, donde se prevê que sua realização seja feita com base na análise das condições de produção (interlocutor, finalidade, contexto de circulação e gênero textual) e que ajudem os alunos a pensarem criticamente sobre as formas de agir através da escrita.

Para possibilitar uma melhor visualização da distribuição dos percentuais atingidos pelas duas crenças para as quais estão direcionadas as respostas reveladoras da percepção dos concluintes sobre o seu preparo para atuar na formação de produtores de textos, as organizei na tabela a seguir:

Tabela 10 - Crenças dos concluintes sobre o seu preparo para atuar na formação de produtores de textos Crenças Número de citações Percentual (%) Crença que não se sentem preparados para atuar

na formação de produtores de textos

12 80

Crença que se sentem preparados para atuar na formação de produtores de textos escritos

3 20

Total 15 100

Fonte: Dados da Pesquisa

De acordo com o que é apontado pela maioria concluintes desse estudo (80,0%), o curso de Licenciatura em Letras Vernáculas da UFBA ainda carece de um entrelaçamento com as questões sobre o ensino da escrita, de subsídios para a sua didatização (capacitando-os para a atuação docente no Estágio Supervisionado) e de discussão dos problemas com que eles se deparam nas escolas. Isso compromete a sua autonomia, gera insegurança, fazendo com que se percebam deslocados do seu escopo de formação, que creiam que estão inábeis para a complexa tarefa de trabalhar com a produção de textos no espaço escolar.

Esse julgamento de despreparo é identificado, por exemplo, de modo semelhante, em resultados de outras pesquisas, pelas enunciações feitas por professores em formação inicial nas licenciaturas de língua estrangeira, como é observado por Alvarez (2007), que fazendo referência à Moita Lopes (1996), assim reitera:

A literatura na área de Linguística Aplicada revela uma tendência entre os pesquisadores em criar um espaço para a revisão dos cursos de formação, pois nota-se que muitos discentes não se sentem suficientemente preparados, nem em condições de tomar decisões sobre qual a melhor maneira de ensinar, portanto, recorrem a aplicação em sala de aula das técnicas e procedimentos aprendidos exatamente como foram recomendados por seus manuais de ensino ou por seus professores (Moita Lopes, 1996). (ALVAREZ, 2007, p. 193).

De acordo com o que é declarado pela maioria dos concluintes participantes dessa pesquisa, e pela análise realizada sobre o Projeto Pedagógico do curso de Licenciatura em Letras Vernáculas da UFBA é possível identificar que é necessário promover a interseção dos conteúdos dos

componentes curriculares desse curso com o ensino da escrita, contemplando discussões sobre como transpor os estudos sobre língua, texto, a diversidade de gêneros, para diferentes contextos de ensino (quer no ensino fundamental quer no ensino médio), sem deixar que reflexões dessa natureza se escasseiem durante toda a formação e tornem-se exclusividade dos componentes de Estágio Supervisionado I e II como, via de regra, tem acontecido. A respeito da relação entre os estudos teóricos e a prática de ensino, Rafael (2014) salienta que:

Os cursos de formação, especialmente os cursos de Licenciatura em Letras, precisam dar conta dessa relação, o que, como defendemos, não deve se restringir à mera exposição do aluno futuro professor às informações teóricas de uma disciplina científica de referência (a Lingüística Textual, por exemplo). (RAFAEL, 2014, p.1).

Convém atentar para o que é recomendado por esse autor quando afirma que o curso de Licenciatura em Letras deve ―implementar a inclusão dos estudos sobre transposição didática como objeto de ensino durante a formação inicial de seus alunos (futuros professores)‖. (RAFAEL, 2014, p.2). E, ainda, quando este assevera que:

Na mesma medida em que gênero textual, por exemplo, sendo um conteúdo de natureza científica, precisa ser estudado pelo formando em Letras, o como ensinar gêneros textuais precisa ser eleito como objeto de ensino nos cursos de formação de professor de língua materna. Em outros termos, ou de forma mais ampla, defendemos a transposição didática como objeto de saber que precisa ser ensinado, e não apenas aprendido (nem sempre) por imitação ou como saber de ―experiência‖, o que poderá fazer perpetuar práticas injustas de ensino. Mudando, então, o objeto de ensino na formação, estaremos, possivelmente, alterando práticas escolares estabelecidas que não formam leitores-escritores de língua materna realmente ativos e competentes para atuar em sociedade. (RAFAEL, 2014, p.4).

Essa situação precisa ser divisada no curso de Licenciatura em Letras Vernáculas, uma vez que a responsabilidade por instrumentalizar o professor para o trabalho com a produção de texto não deve ser creditada aos eventuais cursos e programas de ‗aperfeiçoamento‘, ‗atualização‘, ‗capacitação‘, de formação continuada, somente na sua atuação em serviço.

Às instituições de ensino superior formadoras de novos professores para o ensino da Língua Portuguesa cabe a incumbência de se constituírem, também, como um espaço de investigação, de revelação de pensadores que atuem na reformulação e construção de teorias que versam sobre o ensino de línguas, na produção de materiais didáticos, de tal maneira que possam fertilizar interlocuções com os professores em serviço para aproximá-los das produções acadêmicas, dos conhecimentos gerados nas pesquisas que desenvolvem. Contudo, estas instituições precisam promover atualizações e ajustes no seu currículo a fim de que este possibilite a preparação do professor em formação inicial para o ensino, para refletir sobre o seu papel como docente e contornar os entraves que inviabilizam os desígnios do seu trabalho nos contextos nos quais estão engajados.

Exatamente pelo fato da maioria dos concluintes desse estudo reconhecer que os componentes curriculares do curso de Licenciatura em Letras não abastecem, plenamente, o volume de informações que julgam necessárias para o trabalho com o ensino, é que admitem que as achegas teóricas orientadoras da sua docência provêm da consulta à literatura da área.

Nas respostas apresentadas pelos professores em formação – concluintes para a pergunta do quinto item do questionário, a qual indaga: Qual

(is) fator (es) você reconhece que mais exerce(m) influência sobre a sua prática no ensino da escrita?, prevaleceu a escolha da opção [5.3] do questionário - Orientações obtidas por consultas à literatura da área. Esse fator representa

21,0% das indicações feitas pelos participantes. O segundo mais escolhido é o que aparece na opção [5.2] Informações adquiridas em seminários, palestras,

conferências, sites de internet etc., o qual recebeu 18,0% das indicações. As

demais opções apresentam os seguintes percentuais: [5.1] Práticas de ensino

da escrita realizadas por algum professor de Língua Portuguesa durante a sua formação escolar – 16,0%; [5.4] Experiências compartilhadas com colegas de trabalho – 14,0%; [5.5] - Experiência docente – 12,0; [5.6] Informações extraídas dos componentes curriculares do curso de Licenciatura em Letras

9,0%; [5.8] Experiência Universitária – 7,0%; [5.7] Instruções obtidas nos

manuais do livro do professor – 3,0%. É importante esclarecer que a opção

Para uma melhor observação, mostro, na tabela, a seguir, por ordem de indicação, os fatores que professores em formação – concluintes acreditam que mais exercem influência sobre a sua ação docente, acompanhados pelos respectivos números de citações:

Tabela 11 - Fatores que concluintes do curso de Licenciatura em Letras Vernáculas

consideram que exercem mais influência sobre a sua prática no ensino da escrita

Opções Número de

citações

Percentual (%) [5.3] - Orientações obtidas por consultas à

literatura da área

12 21,0

[5.2] - Informações adquiridas em seminários, palestras, conferências, sites de internet etc.

10 18,0

[5.1] - Práticas de ensino da escrita realizadas por algum professor de Língua Portuguesa durante a sua formação escolar

9 16,0

[5.4] - Experiências compartilhadas com colegas de trabalho

8 14,0

[5.5] - Experiência docente 7 12,0

[5.6] - Informações extraídas dos componentes curriculares do curso de Licenciatura em Letras

5 9,0

[5.8] - Experiência Universitária 4 7,0

[5.7] - Instruções obtidas nos manuais do livro do professor

2 3,0

[5.9] - Outro 0 0

Total 100

Fonte: Dados da Pesquisa

Pela observação dos índices percentuais atribuídos para os fatores relacionados, fica evidenciado, assim, que os professores em formação- concluintes consideram que as abordagens feitas nos componentes curriculares do curso de Licenciatura em Letras Vernáculas não exercem uma influência significativa sobre as ações encaminhadas por esses sujeitos para o ensino da escrita na escola, visto que não ocupa posição elevada no número de indicações.

Convém citar que o desapontamento com a profissão fez com que alguns participantes desse estudo (A27, A61, A15, A6) decidissem não atuar como docentes após a conclusão do curso.

O participante A64, por exemplo, abandonou o curso de Licenciatura em Letras Vernáculas no momento da realização do componente EDCA62 - Estágio Supervisionado I de Língua Portuguesa. Esse sujeito decidiu cursar