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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.6 Crescimento, Desenvolvimento e Aspecto dos Cultivos

Levando em conta os relatos referentes ao momento “Anterior”, com relação ao crescimento, desenvolvimento e aspecto dos cultivos, verificou-se que seis agricultores colocaram que as plantas e os frutos apresentavam desenvolvimento deficiente. Dois agricultores disseram que na época o desenvolvimento deficiente provocou perda de recursos investidos na lavoura com a mortalidade de mudas de espécies frutíferas e produção reduzida. Um dos agricultores observou ainda que, fazendo uma comparação entre o seu SAF e um consórcio simples de mandioca e milho, este último apresentou ataque intenso de uma praga (broca) o que ocasionou grande perda de produção, enquanto que a mandioca plantada dentro do SAF não apresentou tal ataque. Estes resultados podem ser visualizados no Gráfico 18.

Gráfico 18: Aspectos relacionados ao crescimento e desenvolvimento dos cultivos apontados nos relatos para o momento “Anterior”.

Discorrendo sobre algumas causas para a maior deficiência no crescimento e desenvolvimento dos cultivos no momento “Anterior”, três entre os dez agricultores relacionaram fatores que levaram a esta deficiência. Os seguintes relatos dos agricultores 1, 6 e 10 demonstram suas observações:

“Já perdi manga, caqui porque estavam expostos ao sol, porque estava muito seco, não tinha água. E mesmo quando coloca água, se ficar exposta ao sol o dia inteiro não vai.” (Agricultor 1).

A exposição das mudas plantadas à intensa radiação solar e consequente perda de água que ocorre no solo e na planta por transpiração são fatores que contribuem para o desenvolvimento deficiente das mudas (PRIMAVESI, 2002). Aliado a este fator, os problemas estruturais no assentamento causaram a escassez de água e trouxeram problemas, como a perda de recursos investidos na lavoura, sendo que o Agricultor 1 relatou perda de mudas de frutíferas.

O Agricultor 6 ressalta em seu relato a perda de produção e atribuiu esta á condição do solo “fraco”, ou seja, com a fertilidade comprometida por fatores de degradação. Já o Agricultor 10 atribuiu o crescimento e desenvolvimento deficientes ao manejo do solo exposto, sem cobertura de resíduos vegetais e ainda observou que o aspecto das plantas cultivadas era diferente no momento “Anterior”, dizendo que as folhas das plantas apresentavam uma coloração menos vigorosa.

“Aquele tempo demorava mais para dar produção, o solo estava mais fraco e perdia muito a produção.” (Agricultor 6).

“O crescimento era pior, não tinha cobertura do solo, solo exposto sem matéria orgânica, sem nutrientes. O desenvolvimento também era pior e as plantas não tinham tanta cor, porque não tinha o alimento, o nutriente. É como nós, se não tem alimentação boa, não crescemos e desenvolvemos bem” (Agricultor 10).

O Gráfico 19 mostra os resultados sobre este indicador para o momento “Atual”:

Analisando as observações dos agricultores sobre o crescimento, desenvolvimento e aspecto dos cultivos em relação ao momento “Atual”, pode- se ver que todos os agricultores que relataram um crescimento e desenvolvimento deficiente de plantas, flores e/ou frutos no momento “Anterior”, argumentaram posteriormente que o manejo do solo na forma de SAF contribuiu para proporcionar a reversão deste estado.

Ou seja, oito agricultores observaram melhoria no crescimento e desenvolvimento de cultivos quando plantados dentro do SAF. Sete mencionaram que as plantas cultivadas dentro do SAF apresentam maior resistência a períodos de estiagem e permanecem com coloração mais viçosa tanto no período de chuvas como também no período de seca. Por outro lado,

Gráfico 19: Aspectos relacionados ao crescimento e desenvolvimento dos cultivos apontados nos relatos para o momento “Atual”.

quatro agricultores observaram que certos cultivos, flores e frutos apresentaram um crescimento e desenvolvimento menos vigoroso quando cultivados dentro do SAF, sendo que dois entre estes quatro relataram que esta deficiência no crescimento ocorre nos períodos de seca.

Um deles atribuiu o desenvolvimento de espigas de milho com menor tamanho ao maior sombreamento que as árvores proporcionam. O outro agricultor declarou que o cultivo da mandioca dentro do SAF apresenta pontos positivos e negativos, sendo que ela tem um desenvolvimento mais lento com raízes de diâmetros menores, entretanto desenvolve maior quantidade de raízes e de melhor qualidade.

Com relação às causas da melhoria do crescimento e desenvolvimento dos cultivos, sete agricultores atribuíram-na ao manejo de cobertura e proteção do solo. Quatro agricultores relacionaram a melhoria ao maior sombreamento dos cultivos e do solo proporcionado pelo plantio de bananeiras e outras árvores. Ainda outros dois agricultores ligaram-na à descompactação do solo proporcionada pela ação das raízes de espécies arbóreas e do feijão guandu (Cajanus cajan) e ao preparo e cultivo do solo sem uso de agrotóxicos e maquinaria pesada. Os dados podem ser visualizados no Gráfico 20.

Os seguintes depoimentos demonstram os benefícios de práticas e manejos na promoção de um crescimento e desenvolvimento mais vigorosos e de uma aparência mais viçosa das plantas cultivadas no SAF.

“Observei que o limão, a ponkan, a laranja e outras frutas agora permanecem verdes nas secas e chuvas, não fica tudo seco. A cobertura ajudou porque esfria o chão, deixa o solo mais fofo.” (Agricultor 4).

“Mas aqui no SAF onde eu cuido do solo, com cobertura e manejo adequado, se eu plantar milho eu sei que vai dar bem. Eu procuro sempre melhorar mais. Eu observo que quando o solo tá protegido, a planta cresce, desenvolve mais. Eu posso dizer certeza disso porque eu vou fazendo experiência. Dá pra observar agora na seca as plantas do SAF estão mais verdes, e onde não tem SAF tá meio amarelado.” (Agricultor 5).

Gráfico 20: Causas da melhoria do crescimento e desenvolvimento dos cultivos, apontadas nos relatos para o momento “Atual”.

“Agora mudou bastante. Tem mais lugares para a clorofila fazer a fotossíntese. O crescimento melhorou, tem mais saúde por causa da cobertura do solo. As plantas estão verdes, mesmo na seca e sem irrigação.” (Agricultor 10).

Pelas declarações acima, é possível constatar que o manejo na forma de SAF, traz benefícios além da proteção do solo contra ações degradantes dos raios solares e aumento de temperatura da superfície do solo. São benefícios relacionados à promoção de uma estrutura menos densa do solo e à criação de um microclima com temperaturas mais amenas e uma proteção maior contra a desidratação das plantas (PRIMAVESI, 2002; MAY & TROVATTO, 2008), o que é verificado pela coloração verde mais viçosa, mesmo nos períodos de estiagem (Figura 11, Anexo A). Outros relatos expressam observações semelhantes a estas:

“Agora dá pra ver como as mudas que eu plantei depois do SAF, na sombra, foram melhor. As mangas que eu plantei na sombra da banana, onde tem mais cobertura morta de folha de banana que vou cortando e jogando pro chão, estão melhores, tem umas que estão florindo agora.” (Agricultor 1).

“Por causa da melhoria da terra, agora com todas as raízes de árvores trabalhando aqui, com o feijão de porco, com o guandu que aprofundou as raízes e descompactou, não tem como falar que a terra tá igual de quando tinha o colonião. As plantas mudam o aspecto comparando entre uma área mais antiga e outra mais nova que está mais compactada e sem cobertura. Nas áreas mais antigas as plantas estão mais verdes.” (Agricultor 7).

“O café melhorou dentro do SAF, por causa da meia sombra e da cobertura do solo que ajuda nas raízes do café. Todas as plantas melhoraram, aquelas que precisam de luz é só fazer o manejo. Mas se melhora para uma planta, melhora para todas.” (Agricultor 8).

“Depois que parou de passar o trator, deixou mais cobertura sobre a terra, depois que a terra descansou do veneno, o milho, a mandioca e a banana melhoraram o crescimento e desenvolvimento.” (Agricultor 9).

O Agricultor 7, quando questionado sobre a mudança neste indicador, mostrou que ela se relacionava com a coloração verde viçosa de cultivos de abacaxi plantados em área com maior sombreamento e cobertura morta, em comparação com uma coloração menos intensa em uma área que recebia mais sol e com menor quantidade de cobertura morta.

É interessante ainda ressaltar o que Ramos Filho et al. (2007), em estudo com os assentados do Sepé Tiaraju, já havia verificado, qual seja, que uma das vantagens do plantio na forma de SAFs é a redução nos impactos negativos das estações secas e de períodos de estiagem prolongada nos cultivos. Em estudos comparando cultivos de café a pleno sol e café agroflorestal, Carvalho (2011) evidenciou o papel do componente arbóreo na promoção de um microclima menos extremo no sistema de produção, verificando que as árvores determinaram condições como: redução de 75,94% da média anual de radiação que atinge o cultivo no estrato inferior e que atinge o solo; menor variação anual de temperatura, com temperaturas mínimas mais elevadas e máximas mais baixas; correntes de vento com menores velocidades; menor evapotranspiração; menores temperaturas no solo; e, portanto, maior disponibilidade de água no solo dos SAFs.

Nota-se, assim, que os agricultores observam a relação entre diversos fatores, como: a descompactação do solo pela ação de um sistema radicular mais abrangente e diversificado; a maior proporção de sombreamento dos cultivos e do solo e diminuição da perda de umidade; o manejo de cobertura morta do solo e maior incorporação de matéria orgânica; e a melhoria da estrutura e vida do solo, com a promoção de um crescimento e desenvolvimento mais vigorosos de cultivos.

É interessante ressaltar o entendimento dos agricultores sobre a questão do maior ou menor sombreamento no sistema. Expressam, que o conhecimento sobre as exigências de cada planta cultivada com relação à incidência luminosa é importante para evitar que o sombreamento se torne um fator limitante do crescimento e desenvolvimento dos cultivos. Neste sentido, a poda é um manejo fundamental no SAF para proporcionar o desenvolvimento

ótimo dos cultivos e do sistema como um todo. De acordo com Carvalho (2011), os SAFs são sistemas que apresentam plasticidade frente às alterações climáticas de oferta de radiação, temperatura e regimes hídricos, pois, têm amplas possibilidades de escolha de espécies e manejo do dossel.

Através dos resultados, é possível verificar que o indicador de desenvolvimento das plantas depende de vários dos demais indicadores, como o estado de compactação, erosão, degradação do solo, o teor de matéria orgânica do solo e a capacidade do sistema em reter a umidade no solo e nas plantas. Os manejos potencializados pelo desenho dos SAFs influenciam diretamente em diversos fatores de crescimento, desenvolvimento e aspectos das plantas (LUIZÃO et al., 2006; MAY & TROVATTO, 2008).