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4 DAS MEDIDAS DE COOPERAÇÃO INTERNACIONAL NO COMBATE AO CRIME

4.5 Criação do COAF

Atendendo aos anseios por uma legislação moderna, e na tentativa de tentando adequar a legislação interna às recomendações internacionais, o Brasil vem tentando coibir com maior eficiência o crime organizado. Nesse sentido, o legislador nacional estendeu a prevenção do crime de ‘lavagem de dinheiro’ para além dos fluxos e operações que transitam pelas instituições exclusivamente financeiras. A Lei n.º 9.613/98 previu, em seu artigo 14, a criação do Conselho de Controle das Atividades Financeiras – COAF, cuja finalidade é a de disciplinar, aplicar penas administrativas, receber, examinar e identificar as ocorrências suspeitas de atividades ilícitas previstas na mesma lei, desde que não haja prejuízo da competência dos demais órgãos.

Art.14. É criado, no âmbito do Ministério da Fazenda, o Conselho de Atividades Financeiras - COAF, com a finalidade de disciplinar, aplicar penas administrativas, receber, examinar e identificar as ocorrências suspeitas de atividades ilícitas previstas nesta Lei, sem prejuízo da Competência de outros órgãos e entidades. §1º- As instruções referidas no art. 10 destinadas às pessoas mencionadas no art. 9º, para as quais não exista órgão próprio fiscalizador ou regulador, serão expedidas

pelo COAF, competindo-lhe para esses casos, a definição das pessoas abrangidas e a aplicação das sanções enumeradas no art. 12.

§2º- O COAF deverá, ainda, coordenar e propor mecanismos de cooperação e de troca de informações que viabilizem ações rápidas e eficientes no combate à ocultação ou dissimulação de bens, direitos ou valores.

Art. 15. O COAF comunicará às autoridades competentes para a instauração dos procedimentos cabíveis quando concluir pela existência de crimes previstos nesta Lei, de fundados indícios de sua prática, ou de qualquer outro ilícito.

Art. 16. O COAF será composto por servidores públicos de reputação ilibada e reconhecida competência, designados em ato do Ministério de Estado da Fazenda, dentre os integrantes do quadro de pessoal efetivo do Banco Central do Brasil, da Comissão de Valores Mobiliários, da Superintendência de Seguros Privados, da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, da Secretaria da Receita Federal, de órgão de inteligência do Poder Executivo, do Departamento de Polícia Federal e do Ministério das Relações Exteriores, atendendo, nesses três últimos casos, à indicação dos respectivos Ministros de Estado.

§1º- O Presidente do Conselho será nomeado pelo presidente da República, por indicação do Ministro de Estado da Fazenda.

§2º- Das decisões do COAF relativas às aplicações de penas administrativas caberá recurso ao Ministro de Estado da Fazenda.

Sobre o COAF, Odete Medauar e Marcos Amaral 31comentam que:

Embora tenha o legislador criado o órgão através da referida lei, sua existência efetivou-se apenas com a edição do Decreto 2799, de 8.10.1998, que aprovou o Estatuto do COAF, nos termos do que determinava o art. 17 da lei. O mencionado decreto, em seu art. 1º, parágrafo único, autorizou o novo órgão a ‘manter núcleos descentralizados, utilizando-se de infra-estrutura das unidades regionais dos órgãos que pertencem os Conselheiros, objetivando a cobertura adequada de todo o território nacional’. Tal disposição reconhece simultaneamente as evidentes carências estruturais do órgão nascente, bem como a necessidade de se valer da estrutura de outros órgãos para viabilizar sua atividade.

O COAF está estruturado dentro do Ministério da Fazenda, com as seguintes competências: a coordenação para propor mecanismos de cooperação no combate à lavagem de dinheiro, bem como receber, examinar e identificar as ocorrências suspeitas dessa prática, com a finalidade de enviá-las aos órgãos competentes.

Por meio de entrevistas realizadas pelo Conselho da Justiça Federal, junto a membros do Ministério Público e do Judiciário, entendeu-se que há necessidade de se promover um intercâmbio constante de informações entre o COAF e outros organismos, nacionais e internacionais de combate à lavagem de capitais, desenvolvendo um sistema informatizado que permita ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras desempenhar suas funções com maior efetividade e agilidade.

Marco Antônio de Barros salienta que caberá ao Conselho de Controle de Atividades

31 MEDAUAR, Odete; AMARAL, Marcos. Responsabilidade administrativa: a legislação de ‘lavagem de

dinheiro’. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro, São Paulo: Malheiros, n. 119, ano 39, p. 86-93, jul./set. 2000. p. 91.

Financeiras exercer a fiscalização junto às demais atividades sócio-econômicas, pois sua esfera de atribuições é residual. O mesmo autor lembra que se criou o COAF com o objetivo de disciplinar, aplicar penas administrativas, receber, examinar, identificar e investigar as ocorrências suspeitas de atividades ilícitas previstas na lei de lavagem de dinheiro. O próprio Conselho de Controle de Atividades Financeiras acredita que a sua principal tarefa é promover esforço em conjunto com os vários órgãos governamentais do país, que tratam da implementação de políticas voltadas para o combate à lavagem de valores, na tentativa de evitar que setores da economia sejam utilizados nessas operações fraudulentas.32

No final dos anos 80 a maioria dos Estados que adotaram legislação sobre lavagem de dinheiro instituíram mecanismos de tratamento de informações financeiras como o COAF. A função confiada a esses órgãos varia de um país para outro. Assim, alguns são encarregados de definir e executar a política nacional de luta contra a lavagem de capitais, outros exercem apenas atividade de colheita de informações sobre a matéria. Esses órgãos colhem e centralizam as informações e, em seguida, efetuam uma triagem e análise, onde são filtrados os dados para que possam confirmar a informação como operação suspeita.

Alguns desses órgãos ainda efetuam a tarefa de investigação utilizando-se da espionagem, mas a tendência da legislação, de uma maneira geral, é de não conceder a estes órgãos o poder de investigação e de incriminação, desvinculando, assim, de qualquer atividade de repressão penal.

No Reino Unido foi criado dentro da National Criminal Intelligence Service (NCIS), uma seção encarregada de analisar as informações relativas aos movimentos ilícitos de capitais. Outros países, em razão das garantias de independência, instituíram as autoridades judiciárias como destinatárias das declarações suspeitas, na maioria os países do Civil Law ou de direito continental. Mas a grande maioria instituiu serviços de informações autônomos. Os Estados Unidos criaram o FinCEN, que é um centro de coleta e análise de informações recebidas dos Bancos. A França criou o Traitement du Renseignement et Action contre les Circuits FINanciers clandestins (TRACFIN) que recebe e analisa as declarações suspeitas de proveniência de atividades do crime organizado. Já a Austrália criou o Australian Transaction Reports and Analysis Center (AUSTRAC), encarregado da coleta das declarações suspeitas feitas pelas instituições financeiras. Isso demonstra que uma função vital desses serviços é a troca de informações em nível nacional e internacional.

32 BARROS, Marco Antônio de. Lavagem de Capitais e Obrigações Civis Correlatas: com comentários,

CAPÍTULO IV

5 MEDIDAS DE COMBATE AO CRIME ORGANIZADO – ANÁLISE DE DIREITO COMPARADO

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