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A CRIAÇÃO DA FEP, O CONTEXTO PARANAENSE NA VIRADA PARA O

CAPÍTULO I - O LUGAR DA MULHER NOS PRIMEIROS ANOS DA FEDERAÇÃO

1.1 A CRIAÇÃO DA FEP, O CONTEXTO PARANAENSE NA VIRADA PARA O

No final do século XIX, o ideal de modernidade e progresso41 que se configurava no Brasil ecoou no Paraná, especialmente na capital, Curitiba, trazendo em seu bojo o ímpeto de algumas pessoas que se pretendiam reformistas: orientadores na construção dessa nova ordem social42. Esses ideais inspiravam grupos diversos, como produtores rurais, comerciantes e industriais, além de professores e médicos, muitos desses pertencentes ao meio político e/ou jornalístico. Entre os temas apontados como imprescindíveis para um futuro promissor da sociedade, a educação e o trabalho, bem como, a educação para o trabalho eram destaques.

A imagem que se desejava consolidar da Capital do Estado na virada para o século XX era a de uma “urbe ordeira, disciplinada e laboriosa, palco por excelência das relações de mercado capitalista, cenário onde se desenrolava a ação contínua e permanente da cidade no caminho do progresso e do desenvolvimento” (SILVEIRA, 2009, p. 12). Em sessão plenária do Congresso Legislativo Estadual, no ano de 1902, o presidente Francisco Xavier da Silva (PARANÁ, 01/02/1902) ao apresentar sua Mensagem de abertura dos trabalhos legislativos aos deputados eleitos mostrou preocupação com o trabalho e a educação no Paraná, ao fazer um balanço do que considerava os avanços que haviam ocorrido e os que ainda deveriam se efetivar:

Firmado no país o regime republicano e assegurando à comunidade paranaense todas as garantias de justiça e liberdade, supremo bem social [...] O Paraná oferece um vasto campo ao trabalho em todas as suas manifestações, podendo produzir tudo quanto é necessário ao homem [...] Folgo em recordar que se nota movimento animador na lavoura, nas indústrias e no comércio, ativando as forças econômicas do Estado, fatores da riqueza privada e pública [...] Tem sido empenho do governo promover; tanto quanto possível a difusão do ensino (PARANÁ, 01/02/1902, p. 2-4).

Francisco Xavier da Silva ressaltava as melhorias na economia pública e privada em decorrência das frentes de trabalho que se ampliavam. O foco no trabalho

41 Desde o final do século XVIII, as ideias de modernidade das cidades e do trabalho como potência transformadora estavam imbricadas com o ideal de progresso, este associado à utilização da máquina e ao saber científico (BERMAN, 1986; BRESCIANI, 2002).

42 Reformistas aqui entendido como pessoas que se vinculavam a grupos que exigiam púlpitos socialmente valorizados e politicamente legitimados para expressar sentimentos, valores e práticas (compreendidas como modernas), que pretendiam através de seus projetos obter o consentimento daqueles que seriam submetidos aos novos processos formativos e, sobretudo, criar as condições políticas para a implantação destes projetos (BONA JÚNIOR; VIEIRA, 2007, p. 13-15).

como fator de desenvolvimento era muito relevante, porém a questão da educação era significativa.

O Paraná foi a mais nova província do Império, desmembrada de São Paulo e instalada em 19 de dezembro de 1853. Na segunda metade dos Oitocentos, o desenvolvimento econômico da região, impulsionado pela criação de gado nos Campos Gerais e, cada vez mais, pela exploração da erva-mate (a partir da região litorânea), foi combinado com uma política estatal de colonização do território, que concorreu para o aumento populacional, resultado da fixação de muitos imigrantes na área. No final do século XIX e início do século XX, no primeiro recenseamento da República, em 1890, o Paraná contava com 249.491 habitantes e uma significativa parcela desta população, cerca de 24.553 pessoas, estava concentrada na região de Curitiba, fato que teve na indústria ervateira uma de suas principais causas. Em 1920, o Paraná já contava com 685.711 moradores e a Capital do Estado com 78.986 habitantes (OLIVEIRA, 1986; MARTINS, 1941; PEREIRA, 1996).

O crescimento de Curitiba também estava atrelado ao fato de ser a localidade que sediava os poderes públicos estaduais, tornando-se o centro político do Paraná.

Algo incrementado pela escolha da Capital como moradia pela maioria dos “senhores do mate”, que também tinham no município e arredores as instalações de suas indústrias e serviços afins, especialmente a partir da virada para os Novecentos.

Esses enriquecidos moradores da cidade, juntamente com a classe média urbana43, exigiam do poder municipal a pavimentação das ruas, saneamento, iluminação pública, melhoria nos transportes rodoviários e férreos, entre outras benfeitorias, gerando, consequentemente, um maior desenvolvimento da Capital do Estado (PEREIRA; 1996; QUELUZ, 2000).

O advogado, professor e historiador José Francisco da Rocha Pombo, no livro O Paraná no Centenário (1500-1900), publicado em 1900, apresenta-nos, em tom laudatório, indícios de como estava crescendo e se modernizando a cidade de Curitiba, uma cidade que, consequentemente, acenava com amplas oportunidades de trabalho:

43 Segundo Outhwaite e Bottomore (1996, p.97), a partir do século XIX o termo “classe média” passou a se referir às “profissões de colarinho branco”. Estas incluem desde “os profissionais liberais, como médicos, contadores, advogados, acadêmicos e assim por diante, a pessoas ocupando empregos relativamente rotineiros e menos especializados”.

Curitiba suntuosa de hoje, com as suas grandes avenidas e boulevards, as suas amplas ruas alegres, as suas praças, os seus jardins, os seus magníficos edifícios. A cidade é iluminada à luz elétrica. É servida por linhas de bondes entre o Batel e o Fontana e a estação da estrada de ferro, aproveitando quase toda a área urbana.

O tráfego diário conta, além do que fazem os bonds, com mais de 1.000 veículos diversos. Há em plena atividade, dentro do quadro urbano, mais de trezentas fábricas e oficinas no município todo, perto de 600! Já se funde em Curitiba tão perfeitamente quanto no Rio. Já se grava e já se fazem, em suma, todos os trabalhos de impressão tão bem como os melhores da Europa (POMBO, 1900. p. 141-143).

Rocha Pombo representava Curitiba como uma cidade de vanguarda, que oferecia diversão, transporte e trabalho, semelhante a capital do país e aos centros urbanos da Europa. Entretanto, Francisco Xavier da Silva, embora relatasse os avanços da cidade, contradizia Rocha Pombo ao apresentar as melhorias pelas quais a Curitiba ainda reclamava:

A Capital [...] cujo notável desenvolvimento material está se operando absolutamente descompassado das indispensáveis obras de saneamento [...] A Capital, com população de 30 mil almas, que cresce dia em dia, reclama prometidos melhoramentos (PARANÁ, 01/02/1902, p. 8-9).

Com a mensagem do governador Xavier da Silva, vislumbra-se que a população de Curitiba crescia e as benfeitorias na cidade não acompanhavam as necessidades dos moradores. Cidade que se desenvolvia e apresentava um grupo de moradores heterogêneo, com a presença efetiva de imigrantes e seus descentes desde o final do século XIX; em consequência a circulação de pessoas, ideias e alguma riqueza alteravam gostos e desejos, impulsionando o consumo, a produção e as possibilidades de trabalho. Sobre consumo e produção na sociedade brasileira no fim do século XIX e início do XX, o pensamento preponderante, segundo Sevcenko (1999, p. 48), afirmava que era “necessário transformar o modo de vida das sociedades tradicionais, de modo a instilar-lhes os hábitos e práticas de produção e consumo conforme o novo padrão da economia de base científico-tecnológica” e que tinha como modelo a industrialização da Europa e dos Estados Unidos.

Vagarosamente as indústrias começaram a surgir em Curitiba e com elas novas frentes de trabalho se apresentavam, bem como a relevância da escolarização básica em razão de que a escola pública primária foi projetada nessa conjuntura de crescimento e diversificação lenta e constante das possibilidades de trabalho.

Porquanto, a escola pública primária no Paraná, igualmente, “deveria fornecer a base,

preparar as crianças, meninos e meninas, filhos de imigrantes ou não, para a vida morigerada e produtiva nessa sociedade” (ARAUJO, 2013, p. 103).

A produção e venda da erva-mate impulsionaram na Capital a organização de fábricas e oficinas especializadas em peças de moinhos, elevadores e serras. A exportação do mate incentivou a exploração da madeira, usada na confecção de barricas para transportar a erva-mate e também na fabricação de casas nos subúrbios da cidade (PEREIRA, 1996, p.130). O beneficiamento e comercialização do mate exigiram a atuação de profissionais de vários setores, como por exemplo: metalurgia, serraria, marcenaria e gráfica, campos de trabalho que utilizaram variada mão de obra, inclusive de imigrantes. Para essa gente a cidade “moderna” passava a ser lugar de habitação, tanto para homens como para mulheres e também de trabalho fixo ou temporário, para brasileiros e imigrantes.

Além de lugar para morar e trabalhar, Curitiba passou a ser, igualmente, um lugar de lazer e a ser mais “alegre”, pelo menos era o que afirmava o jornal A República, no ano de 1902, na matéria intitulada Ano Novo:

Passou em festas o dia de ontem. Por toda parte um frisson de alegria, um eco de alegria, um eco harmonioso e encantador prenúncio de esperanças que rutilam na alma banhando o coração de indizível prazer. Desde cedo notava-se extraordinário movimento nas ruas e praças, bondes e carros iam e vinham repletos de passeantes, e em todos os semblantes transparecia a satisfação de quem tem a alma aberta para o bem e para os gozos. Favorecia esse concerto festivo de entrada de ano, um tempo seco, uma atmosfera aveludada incomparável, pura e serena e um sol em revérberos suaves. As sociedades e edifícios públicos estiveram embandeirados durante o dia e as músicas marciais desde a madrugada faziam-se ouvir em diversas partes da cidade [...] No Passeio Público a concorrência foi grande e a banda de música do regimento de segurança lá esteve executando belas peças de seu repertório (A República, 02/01/1902, p. 1, grifo no original).

Apesar das palavras um tanto exageradas, era inegável que a cidade crescia e se embelezava. No Paraná, a sua Capital foi o lugar que primeiro experienciou essa atmosfera de urbanização, saneamento e reestruturação estética muito estimulada pela elite política, letrada e endinheirada. Como escreveu Magnus Roberto Pereira “a erva-mate tornara possível trazer a cidade todos os signos mais evidentes da condição moderna: o boulevard, a fábrica, a iluminação e o burburinho das ruas”

(PEREIRA, 1996, p. 116). O burburinho e a agitação eram destaques nos periódicos

da Curitiba que via crescer sua população, ampliar as frentes de trabalho e presenciava um crescente movimento no centro da cidade.

O jornal Diário da Tarde, outro periódico da cidade, igualmente procurava destacar o centro urbano de Curitiba como lugar no qual “homens e mulheres transitavam” e sobre isso discorria:

Começaram animadíssimas as festas de ontem. Já na noite de São Silvestre notava-se na cidade um desusado movimento, que ontem ainda mais se acentuou. O tempo favoreceu as festas. A Rua 15 de Novembro, como sempre, foi a preferida pelos passeantes: grupos e mais grupos de senhoras e cavalheiros a percorriam em todos os sentidos. As lojas e as confeitarias, nas ruas 15, José Bonifácio, Riachuelo e Praça Tiradentes, durante a noite de S. Silvestre e ontem pela manhã, conservaram-se repletas de visitantes (Diário da Tarde, 02/01/1902, p. 1).

Alegrias e tristezas, encontros, desencontros sempre fizeram parte da vida dos habitantes das cidades, e alguns desses componentes afetivos ficaram marcados na memória da urbe a fim de constituírem-se em padrão de condutas, em decorrência de interesses políticos ou sociais. Nesse sentido, afirma Bresciani (2002, p. 31) que “os elementos efetivos e constitutivos da vida afetiva, encontram seus equivalentes e estimulantes na cidade poetizada pela história e pelos diversos destinos que a construíram”.

Curitiba por muitas vezes foi apresentada, no início do século XX, como uma cidade alegre, com o objetivo previsto de ser a metrópole dos paranaenses e para isso ocorrer deveria ser um ambiente em que as pessoas circulassem tranquilas nos espaços públicos, inclusive as senhoras, local em que “pobres e sapos” não deveriam mais fazer parte. Durante anos a capital do Paraná foi conhecida como terra de sapos e, em 1909, o poeta Emiliano Perneta escreveu uma crítica aos políticos que, com o fim de apresentar uma cidade sem problemas, haviam empurrado “os pobres e os sapos [...] cada vez para mais longe" (PERNETA apud VITOR, [1913] 1996, p. 91).

A população de Curitiba aumentava e para que essas pessoas pudessem viver de forma ordeira, saudável e trabalhadora, ou seja, morigerada, não foram poucos aqueles que, leigos ou religiosos, se ocuparam de trabalhos assistenciais44 com o

44 Podemos compreender a existência de três fases na história de ações de assistência aos considerados necessitados. A primeira fase, a da “caridade”, que tinha como marca principal o sentimento de fraternidade, marcada por ações imediatas e de curto alcance, com vistas à salvação da alma de quem a praticasse; a segunda fase, a “filantrópica”, tinha como meta ajudar ao próximo, como a anterior, mas com a pretensão de mudanças individuais e, correlativamente, sociais; e a terceira fase

objetivo de bem formar e encaminhar uma parcela de indivíduos na sociedade. Nesse contexto, a ampliação da oferta da educação primária e da obrigatoriedade de frequência às aulas era uma questão cada vez mais premente. No jornal “leigo” A Evolução, ainda em 1896, Alfredo Caetano Munhoz45 debitava ao governador do Paraná, José Pereira dos Santos Andrade, a responsabilidade sobre as dificuldades enfrentadas para a ampliação do ensino primário obrigatório:

A instrução primária pedida aos Governos por tantas vezes, tem sido, mais ou menos concedida aos povos [...] nem se pode dizer que o ensino obrigatório seja uma questão de tempos modernos [...] a instrução pública [...] nos parece, de há anos para cá, tem caído em certo estado de estacionamento ou esmorecimento [...] Que o Estado semeie a instrução: a Nação colherá – moral, riqueza e liberdade [...]

O campo a semear é vasto – que a semente seja abundante! (A Evolução, 01/07/1896, p. 2-3).

Essa e outras cobranças aos governantes do Estado eram feitas, em razão da situação em que se encontrava a instrução pública no Paraná, ora por falta de professores, ora por falta de locais apropriados. No artigo “A Instrução Pública - III”, publicado no jornal Diário da Tarde, havia a solicitação de maior empenho ao governo para acabar com a “desorganização que [reinava] no serviço da instrução pública”

(Diário da Tarde, 03/06/1902, p.1). Mas, não era apenas “empenho” ou falta de verbas que emperravam as mudanças: as disputas políticas e diferentes propostas sobre as práticas pedagógicas e organização escolar marcaram o período. Regulamentos foram instituídos, revogados ou refeitos durante a primeira década do século XX. Em geral, as mudanças consideradas mais avançadas propunham: padronização que tornasse obrigatório o português também nas escolas primárias particulares; adoção do ensino leigo; orientação e unificação dos livros didáticos para as escolas públicas;

inclusão da instrução cívica nos programas de ensino e criação de mais escolas seriadas (alunos agrupados pelo nível de conhecimento, por vezes dentro de uma mesma sala ou “escola”), com o propósito de coibir as subvenções a professores

a do “assistencialismo” que surgiu nas últimas décadas do século XIX, quando as pessoas, em especial as crianças, tornaram-se “sujeitos de direito” pela lei aos cuidados e proteção do Estado (MARCÍLIO, 2006, p. 132-134). Nesta tese, exceto em citações, o termo assistencial(is) é associado às ações caritativas e filantrópicas e não se confunde com políticas governamentais assistencialistas ou o assistencialismo – sobre este tema veja também Kuhlmann (2004). Esse assunto será tratado com maior abrangência no Capítulo II - 2.1.

45 Alfredo Caetano Munhoz (1845-1921) nasceu em Curitiba. Foi inspetor da Tesouraria da Fazenda, jornalista e fundador dos periódicos: Colmeia e A Luz (órgão do Centro Espírita de Curitiba) (VARGAS;

HOEMER; BÓIA, 2001, p.38).

particulares. Além de advogar maior investimento do governo estadual na instrução pública (SOUZA, 2004, p. 77-98).

O paulatino crescimento urbano e a diversificação econômica que oferecia aos habitantes da Capital maiores oportunidades de trabalho, igualmente apontavam para a necessidade urgente de expandir a escolarização primária da população, e nessa perspectiva a atividade educacional dos anos iniciais da aprendizagem foi atrelada à noção de continuidade “maternal” e cada vez mais mulheres passaram a ocuparem-se desta tarefa, tornando-ocuparem-se menos atrativa para o ocuparem-sexo masculino, que poderia ocuparem-se dedicar às novas ocupações mais rendosas, porque exigiam graus diversos de especialização (ARAUJO, 2013, p. 93). No entanto, muitas mulheres aproveitaram essa brecha profissional, a qual lhes conferiu maior visibilidade no espaço público.

As áreas que mais absorviam o trabalho da mulher eram as consideradas como atribuições femininas, ou seja, atividades como as de: professoras, enfermeiras, criadas domésticas, vendedoras de lojas de vestuário e em algumas atividades fabris46. Em Curitiba, o trabalho destinado às mulheres não fugia desse padrão, contudo muitas mulheres trabalhavam em casa como costureiras, amas de leite e professoras de piano e francês, para completar o orçamento doméstico ou sustentar a casa (A República, 1902, p.2). E havia ainda as “condenadas pelo sistema” que trabalhavam como “bicheiras, prostitutas e cartomantes” (TRINDADE, 1996, p. 14).

Com a ampliação do campo de trabalho em Curitiba, no início do século XX, também as mulheres passaram a ter maiores oportunidades de serviço na esfera pública. Muitas fábricas abriram suas portas ao trabalho feminino, a exemplo da fábrica de fósforos da família suíça Hürlimann, que empregou mais de 800 mulheres, entre estas muitas eram imigrantes (PEREIRA, 1996, p. 133). Entretanto, as atividades que mais empregavam mulheres nas fábricas brasileiras deste período eram as de fiação, tecelagem e similares, atividades consideradas “femininas”

(RAGO, 2004, p. 580-581).

Em Curitiba, a diversidade de trabalho para mulheres e homens, brasileiros ou imigrantes, faziam da cidade uma cidade plural, um misto de nacionalidades, habilidades, interesses e crenças religiosas. Com relação a essas crenças religiosas,

46 Os trabalhos de Perrot (1988; 1998), Nogueira (2004) e Rago (2004) discutem a relevância da mão de obra feminina no trabalho dentro e fora de casa, em especial nas fábricas da Europa e do Brasil, entre o século XIX e início do século XX.

a católica e a protestante47 contavam com muitos adeptos e, repetindo uma situação nacional, os católicos eram a grande maioria. Ambas as religiões foram citadas pelo jornal Diário da Tarde em uma reportagem sobre o 1º de janeiro de 1902:

Nos templos católicos foram celebradas, com grande brilho e concorrência de fiéis, missas, para solenizar o primeiro dia do ano. Na catedral foi cantado um solene Te Deum Laudamus. Na igreja Luterana a Rua América, às 6 horas da tarde de ontem teve lugar uma oração a Deus pela passagem do ano. Era grande o número de pessoas que com toda atenção e respeito ouviam as palavras do pastor G. Berchner. No templo evangélico da Rua Mato Grosso, também foi solenizada a passagem do ano notando a presença de grande número de crentes (Diário da Tarde, 02/01/1902, p. 1).

Os locais reservados ao sagrado sempre fizeram parte da composição das cidades, uma vez que as religiões fazem parte da vida de muitas pessoas e, segundo Priore (2014, p.14-15) “servem para compensar as vicissitudes da vida quotidiana, acolhendo favoravelmente os desejos mais secretos [das pessoas], fazendo justiça entre bons e maus e passando avisos e mensagens”. As crenças fornecem alívio e força nos momentos de dificuldade, agrupam pessoas para discussão de pensamentos afins e, por outro lado, muitas vezes servem como estratégia de dominação e manipulação dos indivíduos. As práticas religiosas dos católicos e dos protestantes, na virada do século XIX para XX, faziam parte do dia a dia de muitas pessoas no Paraná. No entanto, outra crença que se pretendia cristã48 e também calcada em princípios científicos começava a fazer parte do cenário do Estado: a doutrina dos Espíritos ou Espiritismo, difundida pelas obras do francês Allan Kardec.

O movimento espírita em Curitiba contava com mais de uma dezena de grupos espalhados pela cidade na virada para os Novecentos49. A doutrina dos Espíritos, segundo Isaia (2007, p.285) “apresentou uma capacidade notável de composição com uma constelação de ideias que ia do liberalismo às utopias socialistas, [e elementos do] positivismo e evolucionismo”. Mesmo considerando que o Espiritismo (crença em

47 Nesta tese, sob a denominação protestante foram reunidas as confissões religiosas que se desdobraram da reforma desencadeada por Martinho Lutero e seus seguidores no século XVI.

48 A obra de Kardec O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864), defende máximas morais do Cristo combinadas com o Espiritismo e aponta as suas aplicações nas diversas circunstâncias da vida.

49 Em Curitiba, no final do século XIX primeiros anos do XX, há indícios da existência dos grupos de Espíritas: Grupo Espírita Santo Agostinho; Grupo Espírita do Serrito; Grupo Espírita de Curitiba; Grupo Espírita Amor e Caridade; Grupo Espírita Thereza Urrheia; Centro de Estudos Psicológicos Theodoro Hanemann; Grupo Espírita Allan Kardec; Grupo Espírita Alemão; Grupo Espírita Antonio de Pádua;

Grupo Espírita Bezerra de Menezes; Deustchen Espiritualisten Harmonie e Gruppe; Grupo Espírita Publicador; Grupo Espírita Ismael; Grupo Espírita Jesus Nazareno; Grupo Espírita Investigador; Grupo Espírita Morel (TRINDADE, 1996, p. 108).

uma divindade suprema e em forças sobrenaturais) não seguiu o mesmo percurso do positivismo, os kardecista também defendiam a tese de um conhecimento racional, os

uma divindade suprema e em forças sobrenaturais) não seguiu o mesmo percurso do positivismo, os kardecista também defendiam a tese de um conhecimento racional, os

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