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Criação da Universidade Federal do Piauí e constituição do seu primeiro quadro docente

A UFPI NA HISTÓRIA DO ENSINO SUPERIOR NO PIAUÍ: LOCALIZAÇÃO, ABRANGÊNCIA POLÍTICO-SOCIAL E REESTRUTURAÇÃO E EXPANSÃO

4.3 Criação da Universidade Federal do Piauí e constituição do seu primeiro quadro docente

O processo de formação do ensino superior no Piauí, que teve início em 1930, impulsionou a luta pela implantação de uma universidade federal no Estado, surgindo como reivindicação efetiva em 1963, levantadas pela União Estadual dos Estudantes, após publicação, na coluna Retalhos Universitários, do Jornal O Dia, do brado “O Piauí exige a criação de sua

universidade” (PASSOS, 2003, p. 41, destaques da autora), matéria que ecoou por vários dias

nessa coluna que era reservada ao Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito. Junto aos efusivos discursos por um ensino superior público em um Estado tão carente de educação em outros níveis, estava a intencionalidade das camadas dominantes de associar a universidade à formação profissional a fim de promover o desenvolvimento do Estado, também para a formação de quadros para assumir os postos de mando na estrutura administrativa do governo. A primeira intencionalidade está, segundo Passos, inclusive registrada no logotipo da UFPI: “um conjunto de palmas de babaçu estilizadas nas cores verde e azul, dispostas de forma convergente e ao mesmo tempo sugerindo irradiação” (2003, p 200).

Importante destacar que havia uma política nacional por reformas de base e de pressão para expansão do ensino superior. No Piauí, chegou um momento em que essa pressão sai do âmbito do movimento social e se insere no campo político. Foi para algumas lideranças políticas da época que acabou ficando o espólio político da implantação de uma universidade em um Estado pobre como o Piauí.

Assim, em clima de debates e reivindicações, a UFPI seria credenciada pelo Decreto nº 17.551, de 09 de janeiro de1945, e recredenciada em 1968, sob a forma de Fundação, por meio da Lei nº 5.528, de 11 de novembro de 1968, com autonomia administrativa, patrimonial, financeira e didático-científica, nos termos da citada lei e do seu Estatuto, oficialmente instalada em 12 de março de 1971. Recentemente, a instituição teve novo recredenciamento, por meio da Portaria MEC n° 645, de 18/05/2012. Inicialmente, a formação do seu patrimônio foi regulamentada pelo Decreto-Lei Federal Nº 656, de 27 de junho de 1969, publicado no Diário Oficial da União no dia 30 de junho do mesmo ano. Também teve sua instituição publicada no Diário Oficial do Estado do Piauí Nº 209, de 22 de dezembro de 1969 (PIAUÍ/UFPI, Relatório CPA, ano base 2016/2017, p. 21).

Isso após longo processo de discussões e acordos envolvendo grupos e figuras políticas concentrados principalmente na cidade de Teresina, Discussões e parcerias políticas essas que levaram a que a instituição fosse definitivamente instalada em 1971, em decorrência do

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processo de reestruturação da educação superior brasileira encampada pelos governos militares, com a Lei da reforma universitária, a 5.540, de 1968, numa fase de consolidação da industrialização no Brasil. Assim, os grupos políticos representantes das elites locais passaram a ter algo a mais nos seus currículos na correlação de forças com outros grupos internos e externos, como avalia Passos,

A Universidade, por tudo que representava, longe de ser um fator de correção das desigualdades entre as unidades da federação ou de compensação pelas perdas sofridas com os modelos de desenvolvimento vigentes ao longo da história, era um prêmio, e um reconhecimento pelo que vinham fazendo as elites locais (PASSOS, 2003, p. 137).

A interpretação da autora, de uma acertada perspectiva política, mostra que as mesmas intenções das elites locais teriam impulsionado para que a UFPI tivesse sido instituída oficialmente como Fundação Universidade Federal do Piauí em 01 de março de 1971. Sua constituição de origem englobou as unidades isoladas de ensino superior existentes na época, muitas delas sob a administração dos mesmos grupos que comandavam a política no estado, como: a Faculdade Direito, Faculdade de Filosofia, Faculdade de Odontologia, Faculdade de Medicina, localizadas em Teresina, e Faculdade de Administração, localizada em Parnaíba (PIAUÍ/UFPI, Relatório CPA 2006/2008, p. 14). Um dos entrevistados (D1)82, que viveu esse

momento esclarece com mais detalhes,

A universidade foi criada em 1968 e instalada, formalmente, em 1971. Ela aglutinou algumas instituições anteriores: uma faculdade federal, a de Direito, uma faculdade particular, confessional, a de Filosofia, duas escolas estaduais, duas que nasceram privadas, depois foram estadualizadas, a Faculdade de Odontologia e a Faculdade de Medicina e uma quinta, que foi a da cidade de Parnaíba, de Administração, uma instituição mantida por uma fundação educacional e ainda dois institutos que estavam sendo criados no âmbito da Faculdade de Filosofia e uma instituição criada, mas não instalada, de Enfermagem, que era do governo do Estado. (D1)

Estruturou-se organizada em unidades básicas de ensino, de acordo as áreas de conhecimento denominadas departamentos, que se agregaram e formaram as atuais Unidades de Ensino chamadas de Centros, hoje em número de 06, localizados no Campus-sede Ministro Petrônio Portela, em Teresina, o Centro de Ciências Agrárias (CCA), Centro de Ciências da

82 Os docentes que concordaram em participar da pesquisa estão identificados pela letra “D” acompanhado de número até a quantidade de entrevistados: D1, D2, D3, D4, ...D11, correspondendo ao número de entrevistados da primeira fase (3) mais os da segunda fase (08). Esclarecemos ainda que para diferenciar das citações das referências bibliográficas, as falas dos entrevistados incorporadas ao texto estão destacadas em itálico.

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Educação (CCE), Centro de Ciências Humanas e Letras (CCHL), Centro de Ciências da Natureza (CCN), Centro de Ciências da Saúde (CCS) e Centro de Tecnologia (CT) e mais 4 (quatro) campus fora da sede.

Relatório da CPA da UFPI de 2006-2008 caracteriza o momento de criação da UFPI como “um momento paradoxal da vida política e econômica do nosso país – o ‘milagre econômico’, denominação dada ao período de desenvolvimento ocorrido durante a ditadura militar, quando era possível evidenciar o aumento da concentração da renda e da pobreza” (2008, p.15, destaque do texto original). O paradoxo ao qual se refere o Relatório é que o Brasil vivia profunda concentração de renda e aumento da pobreza extrema, em plena crise estrutural do capitalismo açodada pela crise do petróleo (tema tratado na Seção I), com profundas implicações nas economias dependentes cujo modelo baseava-se na política de endividamento externo.

A educação, naquele contexto, vivenciava muitas transformações, porém, se por um lado registrava-se redução das taxas de analfabetismo, a obrigatoriedade da educação básica, com ampliação desta de quatro para oito anos, a preocupação com a pós-graduação, principalmente na área de ciência e tecnologia, por outro essa ampliação não se deu acompanhada do devido investimento de recursos públicos, como ocorreu em outros setores, principalmente causado por dois instrumentos trazidos pelos militares via Constituição Federal de 1969. Primeiro foi a retirada da vinculação de recursos para educação, que desobrigou o Estado do investimento mínimo no setor. O segundo foi a abertura da educação para a iniciativa privada.

No primeiro caso, no governo de João Goulart, anterior, a legislação previa que a união haveria de investir pelo menos 12% em educação e estendia essa obrigatoriedade a estados e municípios, que deveriam investir pelo menos 20% dos seus orçamentos em educação. Em sentido contrário ao que vinha ocorrendo, em 1970, esse percentual de 12% caiu para 7,6%, em 1975, caiu para 4,31%, recuperando-se um pouco em 1978, quando atingiu 5%. No segundo caso, na abertura da educação para as empresas privadas, os números registram crescimento, especialmente entre 1964 e 1973: ensino primário de 70,3%; ginasial de 332%; colegial 391%, o ensino superior vai mais além, com crescimento de 744,7%.

Esse crescimento deveu-se ao reforço dado pelo Estado à iniciativa privada, como atestam os números. Enquanto as instituições públicas de ensino superior passaram de 129 para 222, as instituições privadas saltaram de 243 para 663, como explica Demerval Saviani em entrevista concedida à BBC News Brasil em Londres (13/12/2018). Segundo o entrevistado, “o regime militar relativizou o princípio da gratuidade do ensino. O significativo aumento da

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participação privada na oferta do ensino, principalmente em nível superior, foi possível pelo incentivo governamental assumido deliberadamente como política educacional” (2018, s/p)83.

A nova universidade instalada na capital Teresina, no contexto acima descrito, continuou em processo de organização nos anos seguintes. A instalação de uma instituição universitária no Estado do Piauí em nada mudou a situação econômica do estado, que continuou sua trajetória de dependência de recursos federais, apesar da rápida dinamização que teve com a exportação de produtos extrativos (cera de carnaúba e amêndoa do babaçu, nessa ordem) que conduziu a economia piauiense durante toda a primeira metade do século XX, e que, em tese, teria retirado o Piauí do isolamento.

Como dito acima, o que teria prevalecido na criação da Universidade Federal no Estado do Piauí foram os interesses dos grupos políticos hegemônicos interessados nos investimentos em infraestrutura para dar vazão aos negócios da pequena indústria emergente, maioria de propriedade dos mesmos grupos que comandavam a política. Após a criação da instituição, o Estado continuou importando quase tudo que consumia, até mesmo alimento, na continuidade da histórica relação de dependência a outros estados, principalmente aos da região Sudeste e ao poder central. Nessa realidade, o setor terciário representava, 66,1% do PIB local, sendo a participação do comércio de 28,2% e a do funcionalismo público de 23%, conforme informado por Passos (2001), citando Martins e outros (1982, p. 129).

Em relação à constituição do primeiro quadro docente da Universidade Federal do Piauí, este foi composto inicialmente por professores das antigas faculdades agregadas já citadas acima, para que fosse possível a criação da instituição. Para esses docentes, que ingressaram no serviço público ainda como celetistas, ser professor em uma instituição federal representava não só melhores salários, mas estabilidade e outras vantagens restritas aos quadros do funcionalismo público federal, bem como melhores condições de trabalho e de recursos. Diante de uma situação em que muitos professores da Faculdade de Filosofia chegavam a não ter remuneração em alguns períodos e quando a tinham era no nível do simbólico, uma vez que a FAFI era custeada com mensalidades dos alunos e vivia em constante dificuldade financeira, sendo ajudada tanto pelo governo federal, integrar-se à UFPI significou muito para professores e dirigentes da instituição. Sobre esse início, docentes entrevistados na primeira fase das entrevistas (D1) esclarecem que

83 Ver: 50 anos do AI-5: Os números por trás do “milagre econômico” da ditadura no Brasil (Barrucho - BBC News Brasil em Londres, 2018). https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45960213. Acesso em 10/02/2019.

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O quadro docente inicial da UFPI foi constituído com os docentes integrantes das instituições que foram incorporadas à Universidade pela Lei que a criou: Faculdade de Direito do Piauí (federal); Faculdade de Filosofia do Piauí (confessional); Faculdades de Odontologia e de medicina do Piauí (estaduais) e Faculdade de Administração de Parnaíba (privada). Os docentes da Faculdade de Direito eram estatutários federais e assim permaneceram; os docentes das demais instituições foram contratados pelo regime celetista.

Das cinco primeiras instituições que foram incorporadas à universidade vieram ótimos professores, pessoas atuando cada uma nos regimes próprios, quando a universidade é criada na modalidade jurídica de fundação. Então todos os remanescentes dos quadros das faculdades anteriores foram transmutados os seus cargos para o regime de CLT, o regime comum. A fundação nos seus primeiros dez anos, ... o quadro da universidade vem dessas diversidades de contratações, celetista, horista.

E a universidade estabiliza todos na contratação do regime geral da lei trabalhista a partir de 1971. Agora, essa Faculdade de Direito tinha professores catedráticos, segundo as leis da organização docente das décadas de 30, 40, 50, e ainda conservavam, pois a universidade impôs um novo padrão. Alguns, mesmo servindo no regime de CLT, mas conservaram ainda a nominação... era um certo estado de direito e tudo o mais, mesmo as estaduais elas tinham como paradigma, por exemplo, a Faculdade de Medicina, já criado este lado das cadeiras dos catedráticos, são os fundadores. E copiando mais ou menos como era o quadro geral das autarquias. Esse quadro se altera a partir dos anos 80, leis novas vieram. Essa configuração, o perfil socioeconômico dos primeiros ingressantes. Esses professores da Faculdade de Direito, por exemplo, eram a elite burocrática, basicamente a elite burocrática jurídica, ela sempre teve uma prevalência muito grande na vida política do estado. Esse grupo, esse segmento, se transformou numa espécie de referência intelectual necessária. Vai ter uma certa captura nesse campo quando se cria a Faculdade de Filosofia na linha da primeira Faculdade de Educação, que tem uma inspiração do modelo declaradamente uspiano. A faculdade de Filosofia chamará para os seus quadros um outro perfil em que pese puxar também, porque o meio era muito restrito de pessoas qualificadas para dar aula.

A constituição do primeiro quadro da FAFI também não foi fácil, teve-se que tomar uma espécie de empréstimo para custear as comissões verificadoras para verificarem (rsrsrs), digamos assim. Tinha gente de Fortaleza, algumas pessoas cederam seus títulos e vinham aqui um mês dar aulas concentradas. Então não se pode dizer que a FAFI chegou a ter um quadro estabilizado ... era tudo na base do voluntariado, dando aula quase de graça, alguns... eram padres, embora tivesse professores do Estado. Benedito Freitas, que foi uma espécie de secretário quase eterno até quando a FAFI existiu, escreveu um livrinho que fala sobre isso; ele lembra disso. Ele esteve muito presente, elaborando os contratos, os instrumentos e tal...Eram pessoas que não estavam ali vivendo da docência, pessoas com funções outras que não viviam da docência. Ninguém estava ali vivendo da docência. Quando passa a ser universidade continuaram assim. Tinha o pessoal da Faculdade de Odontologia, da Faculdade de Odontologia tinha esse perfil, a de Medicina tem exatamente esse perfil (D1).

As mudanças no quadro docente das IFES, ao longo dos últimos 30 anos, foram resultado sobretudo de reivindicações sindicais ocorridas ao longo dos anos objetivando especialmente melhorias salariais. O aumento do valor da gratificação por titulação, especialmente para o doutorado, contribuiu para

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o aumento do número de doutores em todas as IFES e na criação expressiva de novos cursos de Mestrado e de Doutorado (D3)

Nos depoimentos fica clara a heterogeneidade da composição do quadro docente da UFPI em suas origens, no que diz respeito à organização docente e regime de trabalho, assim como o perfil elitizado do seu primeiro quadro docente, quando lá se congregaram pessoas das camadas elitizadas da sociedade piauiense, que não viviam da docência, com regimes de trabalho diferenciados nos primeiros vinte anos de sua existência e, como se vê, apenas os docentes da Faculdade Direito, que já eram estatutários, continuaram nesse regime, os demais foram contratados pelo regime celetista. Depois a universidade igualou a todos no regime celetista, não sem resistência, principalmente dos docentes da Faculdade de Direito, entre os quais existiam muitos catedráticos. O regime estatutário ocorre tempos depois, com a Constituição de 1988.

Analisando a situação do ponto de vista da organização dos docentes enquanto categoria de trabalhadores, sem dúvida essa forma heterogênea de regimes de trabalho e cultura de que trabalhar como docente na UFPI representava status, por isso maioria era constituída de profissionais liberais que viviam de outras rendas, de certa forma trouxe prejuízos para a constituição de uma consciência de valorização da luta coletiva reivindicatória de melhorias, sem contar que as nomeações dos dirigentes para assumir a direção dos centros recém-criados ocorriam de acordo com o “capital social” (PASSOS, 2003) de cada um ou do grupo político do qual fazia parte. Segundo a autora (2003), esse capital social era definido pela origem familiar, se de família da elite, pelas amizades que o sujeito tivesse no círculo do poder e mesmo por influência de quem os indicavam. São essas pessoas que Passos vai chamar de “potentados domésticos” que,

além do fato de serem piauienses, detinham capital de todos os tipos - econômico, político, cultural e social. O econômico era representado na posse de bens como casa própria, automóvel e na frequência a escolas particulares, especialmente no ensino médio, e, não raro no ensino superior, realizado majoritariamente, como se viu, em outras unidades da Federação (PASSOS, 2003, p. 101).

Para esses, a luta pela reivindicação de melhorias para a categoria não fazia muito sentido, uma vez que se tratava de grupos políticos que não viviam da docência. Ou seja, eram

pessoas que não estavam ali vivendo da docência, pessoas com funções outras que não viviam da docência (D1), o que teria provocado mais divisões no interior do quadro de professores,

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formação de outros professores era diferente, uma vez que apenas as famílias abastadas tinham condições de oferecer estudos aos filhos, mesmo que estudos de nível secundário. Isso fica evidente na fala de outro entrevistado.

Essas pessoas em geral eram membros das famílias das elites, tinham um nível socioeconômico para a sociedade piauiense considerado alto em função do próprio grau de escolaridade que eles tinham, até porque a escola principalmente no curso superior não era acessível a muitos na época. Ainda nos anos 1960, o estado tinha uma população de muitos analfabetos. Os próprios números de escolas de ensino médio eram reduzidos. Então, é claro que quem tinha um nível de escolaridade superior, no geral e mais especialmente no caso dos médicos eram egressos de faculdades de foras do estado (D2).

Embora a Lei que criou a FUFPI dissesse que todos, fossem servidores públicos agregados à nova instituição ou regidos pela CLT, “continuarão com seus direitos na forma prevista na Constituição e na legislação ordinária. O projeto não suprime nem reduz direitos de ninguém, nem autoriza medidas de tal natureza” (BELLO, 1980, p. 374), o que se constata é que a própria forma diferenciada de regimes e garantias de direitos já trazia em si um componente diferenciador em relação ao tratamento dado a uns e a outros.

Esse primeiro formato, heterogêneo, associado às dificuldades do momento político vivido pelo Brasil, teria dificultado que houvesse uma aproximação maior da luta coletiva nesse primeiro momento, ou seja, não foi apenas o momento político, foi também o próprio formato heterogêneo de constituição do quadro que levou a que os docentes não se reconhecessem entre si enquanto grupo com as mesmas necessidades, embora existissem já alguns focos reivindicatórios, grupos estes que ao serem incorporados à nova instituição trouxeram, além de sua cultura, também um patrimônio que lhes garantiu assento nas instâncias decisória da nova casa, como atesta outro entrevistado:

Quando as instituições foram incorporadas à universidade elas não trouxeram apenas o seu quadro docente, mas também o seu patrimônio. Inclusive, por conta disso, eles passaram a ter assento no Conselho Diretor da Fundação, já que eram partes integrantes dessa fundação e ainda hoje nesse Conselho tem representação do governo estadual do Piauí, da Associação da Igreja Católica e também da Associação de Parnaíba, que participou com seus bens e com seus professores para a criação da Universidade (D2).

Porém, mesmo contando com toda a estrutura montada pelas antigas faculdades incorporadas, com a chegada do novo reitor, Hélcio Ulhoa Saraiva, o primeiro foi Robert Wall

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de Carvalho, houve um certo clima de insegurança e descontentamento entre os docentes em relação ao futuro da instituição e à situação do enquadramento funcional, também com a questão financeira, uma vez que, ao chegar, o novo reitor revogou Ato do reitor anterior que enquadrava todos os professores vindos das faculdades como professor titular, e instituiu o Quadro de Professor Colaborador. No sistema instituído pelo novo reitor, o enquadramento se dava conforme a qualificação de cada um e isso desagradou os professores, pois promoveu uma alteração que, segundo Passos,

não era apenas um procedimento administrativo ou uma modernização da estrutura de administração do pessoal docente. Ela significava que as posições no interior do campo deixavam de se definir pelo capital político — prestígio, notoriedade — ou pelo capital social, consignado não só no fato de pertencer ao quadro docente das escolas incorporadas, mas também nas relações pessoais e passavam a se delinear pelas regras da racionalidade administrativa, impostas pela modernização do Estado e de acordo com o ideal tecnocrático: títulos escolares e forma de ingresso (2003, p. 101).

Embora tenha desgostado muita gente, o novo sistema estabelecia o formato de gestão de pessoal que passaria a vigorar, principalmente para ingresso de novos professores na instituição. Como já dito anteriormente, o novo reitor procurou imprimir certa racionalidade à instituição para que fosse possível colocar em andamento seu projeto de maximizar os recursos

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