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Crimes Virtuais e o Marco Civil da Internet

4 REVISÃO DA LITERATURA

4.6 Crimes Virtuais e o Marco Civil da Internet

A parte está no todo, assim como o todo está na parte.” Assim começa Juremir Machado da Silva o seu artigo “Pensar a Vida, Viver o Pensamento”4. Frase

que descreve perfeitamente a conjuntura global em que vivemos, na qual não existe mais isolamento.

A Internet e as novas tecnologias da informação nos levaram a uma globalização em diversas áreas da sociedade. Os avanços tecnológicos tornam o computador algo indispensável nos mais diferentes lugares, passando a fazer parte de nosso dia a dia, da rotina das empresas e de governos.

Com o advento da informática e das comunicações, o computador nos levou a lugares que nunca imaginamos poder alcançar. A mudança na forma de nos comunicar, do papel para a cultura multimídia trouxe novos parâmetros para a comunicação. Além do mais, a cultura da tecnologia nos coloca diante de mudança de paradigmas e reflexões sobre ética, direito, dever e até mesmo o papel do estado na cidadania.

4 SILVA, Juremir Machado da. Pensar a vida, viver o pensamento. In: MORIN, Edgar. As duas globalizações:

70 A Internet significou um enorme desenvolvimento para a humanidade, uma mudança de paradigmas sobre as formas de pensar e agir da sociedade, enfim uma revolução histórica sem precedentes. Com o computador e usando a Internet é possível traduzir muitas realidades, cada qual criando a sua própria. Mentira e verdade se misturam entre o virtual e o real. A Internet representa um cadinho de culturas, uma “Torre de Babel” no século XXI onde é possível ajudar muito e também prejudicar definitivamente. O sujeito parece não ter raça, sexo, idade, voz, atitude ou identidade. É possível tornar-se Deus ou demônio.

De certa forma parece a desconstituição da personalidade do indivíduo; é a transformação da pessoa, do eu, da identidade, do gênero, da distância e do anonimato.

Mas, por outro lado, também é a possibilidade de participação na cidadania global, no conhecimento mais amplo e democrático, de usufruir dos benefícios tecnológicos em prol do conforto humano, da possibilidade de comunicação quase instantânea, de forma global. Jamais o ser humano viu suas fronteiras se ampliarem dessa forma. É, também, a possibilidade de visitar os mais recônditos lugares do planeta, no simples toque de mão a ferramenta tecnológica.

Esse ambiente de comunicação, depósito e troca de informações virtuais também pode ser denominado como Ciberespaço. O Ciberespaço é um ambiente que nos permite inúmeras possibilidades de mundo “real”. É um universo virtual, plástico, fluido, carregado de devires. O ciberespaço, enfim, é uma grande máquina abstrata, porque semiótica, mas também social, onde se realizam não somente trocas simbólicas, mas transações econômicas, comerciais, novas práticas comunicacionais, relações sociais, afetivas e, sobretudo, novos agenciamentos cognitivos (MONTEIRO, 2007).

Nesse ambiente livre e sem fronteiras também os crimes passaram a se apresentar das mais diversas formas. Neste caso, os criminosos se aproveitam do anonimato e da inexistência de regras para controlar a rede mundial de computadores. Especialmente a partir dos anos oitenta os crimes virtuais se tornaram mais comuns, violação de contas bancárias, pirataria de programas, captura e utilização indevida de dados, violação de privacidade entre outras.

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Depois da modernidade, que controlou, manipulou e organizou o espaço físico, vemo-nos diante de um processo de desmaterialização pós-moderna do mundo. O ciberespaço faz parte do processo de desmaterialização do espaço e de instantaneidade temporal contemporâneos, após dois séculos de industrialização moderna que insistiu na dominação física de energia e de matérias e na compartimentalização do tempo. Se na modernidade o tempo era uma forma de esculpir o espaço, com a cibercultura contemporânea nós assistimos a um processo em que o tempo real vai aos poucos exterminando o espaço.

São diversas as formas de violação da segurança dos computadores. São programas espiões, mensagens publicitárias indesejadas, mensagens com vírus, programas para interceptar e captar dados. Um exemplo bem conhecido para tentativa de crime é o recebimento de um e-mail, seja na caixa postal pessoal ou profissional, contendo determinado link que, ao ser clicado pede autorização para instalar determinado programa.

Como exemplo, no ano de 2011 o site pessoal do Vice-Presidente da República, Michel Temer foi invadido por grupo de hackers. Naquele mesmo ano o Palácio do Planalto divulgou que contrataria empresa para garantir maior segurança no acesso à Internet pelos usuários da rede da Presidência da República.

Além do que, frequentemente temos notícias dos mais diversos tipos de crimes na Internet seja no Brasil ou no exterior. Fala-se que até a própria NASA – Agência Espacial Americana já teria sido violado.

Como visto, a questão da segurança no ciberespaço não é de interesse apenas das pessoas físicas ou das empresas, sendo altamente relevante para órgãos públicos, para agentes políticos e para o próprio Estado.

Aliado aos benefícios da evolução tecnológica e a disseminação da Internet, surgiram crimes e criminosos do espaço virtual. Poderíamos chamar de crimes virtuais, digitais, informáticos, crimes por computador, telemáticos, fraude informática ou crimes transnacionais. Podemos caracterizar de diversas formas, mas o fato é que a medida que cresce o número de computadores conectados à rede, também cresce a possibilidade de crimes virtuais.

Segundo Augusto Rossini:

O conceito de ‘delito informático’ poderia ser talhado como aquela conduta típica e ilícita, constitutiva de crime ou contravenção, dolosa ou culposa, comissiva ou omissiva, praticada por pessoa física ou jurídica, com o uso da informática, em ambiente de rede ou fora dele, e que ofenda, direta ou indiretamente, a segurança informática, que tem por elementos a integridade, a disponibilidade e a confidencialidade. (ROSSINI, 2002)

72 A despeito da enormidade de crimes que são praticados virtualmente, o Brasil ainda não dispõe de legislação específica para o assunto, definindo o que é crime na rede, ou crime virtual. Por isso que a maioria dos tribunais aplica eventuais condenação com base no Código Penal reformado em 1984, anterior, portando ao advento da Internet. Embora considerado por muitos como território livre, sem lei ou punição, o Brasil vem combatendo a sensação de impunidade que reina no ambiente virtual utilizando-se de legislações como o Código Penal, Código Civil ou a Lei n. 9.296, que trata das interceptações de comunicação em sistemas de telefone, informática e telemática, e a Lei n. 9.609, que dispõe sobre a proteção da propriedade intelectual de programas de computador.

O denominado Marco Civil da Internet, transformado na Lei n. 12.965/2014, estabeleceu princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil. Durante sua tramitação no Congresso Nacional, o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI), disse que o projeto:

Visa a consolidar direitos, deveres e princípios para a utilização e o desenvolvimento da Internet no Brasil. A iniciativa partiu da percepção de que o processo de expansão do uso da Internet por empresas, governos, organizações da sociedade civil e por um crescente número de pessoas colocou novas questões e desafios relativos à proteção dos direitos civis e políticos dos cidadãos. Nesse contexto, era crucial o estabelecimento de condições mínimas e essenciais não só para que o futuro da Internet seguisse baseado em seu uso livre e aberto, mas que permitissem também a inovação contínua, o desenvolvimento econômico e político e a emergência de uma sociedade culturalmente vibrante.

O CGI defende a privacidade de todos que utilizam a Internet, a neutralidade da rede e a inimputabilidade da rede.

Segundo o Deputado Alessandro Molon (PT-RJ), relator do Marco Civil da Internet, a Câmara dos Deputados melhorou a proposta do governo. Para ele, apesar das alterações e concessões, ficaram garantidos os princípios que ele considera pilares do Marco Civil da Internet, que são a neutralidade, a privacidade e a liberdade de expressão.

Segundo ele, hoje nada impede que a navegação do usuário seja gravada, identificada e vendida, violando a privacidade do usuário. Com o Marco Civil isso não poderá acontecer. Também não existe lei que garanta que não haverá cobrança para uso diferenciado do acesso à Internet, para quem quiser baixar música, assistir

73 vídeo. O marco proíbe isso e coloca em lei essa proibição, algo que nos Estados Unidos caiu no Judiciário, mas ainda não tem lei, explicou.

O fato é que o país se preocupa com essa questão da normatização do acesso e uso da Internet, muito importante para as relações entre os usuários da rede, sejam as pessoas físicas, empresas ou governos.

Como profissional que fará uso de ferramentas de comunicação e busca de dados, para seu trabalho na biblioteca digital, é indispensável acompanhar os desdobramentos dessa primeira legislação ordenada de Internet no país.