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Perfil criminal das educandas atendidas no Estabelecimento penal feminino de regime semiaberto, aberto e assistência à albergada de Dourados

No documento LUZIA BERNARDES DA SILVA (páginas 115-121)

3 ANÁLISE DA PESQUISA DE CAMPO

3.4 Perfil criminal das educandas atendidas no Estabelecimento penal feminino de regime semiaberto, aberto e assistência à albergada de Dourados

Neste Estabelecimento Penal, foi mantida a mesma metodologia adotada com o primeiro grupo de mulheres atendidas na Unidade Assistencial Patronato Penitenciário de Dourados. Para identificar os crimes cometidos pelas entrevistadas, foram utilizados verbos nucleares do tipo penal. Desse modo, as processadas pelo crime de drogas ilícitas

78 Nesta unidade também é realizado o cadastramento das entidades religiosas e os respectivos

representantes autorizados a entrar nos presídios. É feito também o cadastramento dos prisioneiros quanto a igreja que eles são membros. Segundo informação coletada no local, a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) apenas autoriza que seus membros deixem a organização por fins religiosos. A conduta daquele que deixa de pertencer a facção é vigiada e fiscalizada pela facção, portanto devem seguir estritamente os dogmas religiosos da igreja a qual passou a pertencer.

126 responderam pelas seguintes condutas: 11 por vender, uma por armazenar, dez por transportar79, oito por associação, três por tráfico de drogas ilícitas – estas não souberam informar a ação praticada. Outras figuras típicas apareceram com pouca incidência, ou seja, apenas uma mulher respondeu pelo crime de corromper ou facilitar a corrupção de criança ou adolescente com até 18 anos, duas por roubo, uma por furto, e uma por homicídio tentado. As informações configuraram em percentuais no seguinte gráfico:

Gráfico 21. Perfil criminal

Fonte: elaborado pela autora.

Nesse Estabelecimento Penal, é também majoritária as figuras típicas relacionadas ao tráfico ilícito de drogas ilícitas. A política nacional de “guerras às drogas” segue produzindo seus efeitos nos grupos marginalizados. Do número reduzido de crimes com grave ameaça à pessoa, foram observados apenas o crime de roubo80 e de homicídio tentado81. Conforme noticiado pelo Superior Tribunal Federal, o estado do Mato Grosso do Sul vem descumprindo o habeas corpus coletivo nº 143.641, que determinou a conversão das prisões preventivas em prisões domiciliares para mulheres que possuem

79 Quanto aos meios de transportes utilizados durante os delitos, tem-se bicicletas, motocicletas, ônibus,

automóvel de passeio e carreta.

80 “Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência à pessoa, ou

depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa” (BRASIL, 1940).

81 Homicídio tentado ocorre quando por circunstâncias alheias à vontade do agente o crime não se

consumou. 41% 4% 37% 30% 11% 4% 7% 4% 4% 0 2 4 6 8 10 12

Venda de drogas ilícitas Armazenar drogas ilícitas Transporte de drogas ilícitas Associação para o tráfico Artigo 33 da Lei 11.343/2006 (não soube ou não

quis especificar a conduta

Corrupção de menores Roubo Furto Homicídio tentado

127 filhos com até 12 anos. Das informações coletadas, foram 25 prisões em flagrantes82 ocorridas tanto no período diurno quanto noturno. Desse montante, 21 prisões em flagrante foram convertidas em prisão preventiva. As presas provisórias aguardaram em média até um ano para serem sentenciadas, sendo que seis esperaram pelo julgamento por mais de um ano e três não souberam informar.

Observou-se ainda a predominância de decretação de regime inicial fechado: apenas uma mulher foi beneficiada com o regime inicial aberto, e outras quatro com o regime inicial semiaberto. As demais pesquisadas iniciaram sua pena no regime fechado. Inconformadas com a decisão proferida, 11 delas interpuseram recurso junto ao Tribunal de Justiça do estado. Delas, nove já tinham sido julgadas em definitivo.

Quanto ao regime inicial de cumprimento de pena, em percentuais temos a seguinte configuração no gráfico abaixo:

Gráfico 22. Regime inicial de cumprimento de pena

Fonte: elaborado pela autora.

O tempo da condenação é o fator utilizado para fixar o regime inicial para cumprimento da pena aplicada. Verificamos que ele, em regra, é superior a pena mínima de cinco anos, como já comentado neste trabalho.

Em números absolutos, foram uma condenação com a pena até três anos, três com penas entre três a cinco anos, dez com pena entre cinco e sete anos, três com penas acima de sete e menor que dez, seis com penas entre dez e 15 anos, e quatro com penas superiores a 15 anos.

82 Quanto ao procedimento de revistas no momento de efetuar a prisão, 4 mulheres declararam que a revista

foi efetuada por policiais masculinos.

4% 15% 81% Aberto Semiaberto Fechado

128 Em percentuais, tem-se:

Gráfico 23. Tempo da condenação

Fonte: elaborado pela autora.

O montante da pena aplicada também é considerado para a progressão de regime. Os requisitos para progressão para os crimes tipificados no Artigo 33 da Lei 11.343 de 2006 são o cumprimento de dois quintos (2/5) da pena para a encarcerada primária e de três quintos (3/5) para os tecnicamente reincidentes. Esta regra se aplica aos crimes cometidos posteriores à edição da Lei 11.464 de 28 de março 2007, por ser mais gravosa ao réu não retroage aos fatos pretéritos. As condutas anteriores serão regidas pela Lei 7.210 de 11 de julho de 1984 em que a progressão se dará com o cumprimento de um sexto (1/6) da pena. O Superior Tribunal Federal no habeas corpus 82.959 entendeu pela inconstitucionalidade da vedação em abstrato da progressão de regime. A regra que determinava o cumprimento integral da pena em regime fechado foi afastada pela corte.

No que se refere ao local em que se efetuou as prisões em flagrante, conta-se que oito foram em residência das educandas e apenas uma ocorreu no momento da revista. Para Borges (2018), o poder público dispensa um tratamento vexatório às mulheres, que são perpassadas pelo sistema prisional pelos atos ilícitos de seus familiares, ainda que as estatísticas demonstrem que as apreensões de drogas ilícitas, nesse momento, são de menor incidência.

Os dados coletados nesta pesquisa corroboram o alegado por Borges (2018), pois apenas uma mulher transportou drogas ilícitas até o presídio.

No gráfico a seguir, há a demonstração em percentuais dos locais em que ocorreram as prisões em flagrantes.

3% 4% 11% 36% 11% 21% 14%

Não soube informar Acima de 1 ano até 3 anos Acima de 3 anos até 5 anos Acima de 5 anos até 7 anos Acima de 7 anos até 10 anos

129 Gráfico 24. Local do flagrante

Fonte: elaborado pela autora.

É importante cruzar os dados dos locais com a quantidade de drogas apreendidas, pois a maioria das apreensões de drogas ocorreram dentro das residências, portanto afasta a alegação de que os vendedores de drogas ilícitas circulam com pequenas quantidades para ludibriar o poder punitivo e ser processados enquanto usuários. Em termos gerais, apresenta-se o seguinte panorama:

Gráfico 25. Quantidade da droga ilícita apreendida

Fonte: elaborado pela autora.

Foi observado que as apreensões até 0,5 kg são de 19%. Abaixo de 100 g foram de 30%. Considerando que 30% das prisões em flagrantes foram efetuadas dentro das residências, além disto, 12 educandas se declararam usuárias e oito delas estavam fazendo uso de drogas ilícitas no momento do flagrante. Nenhuma destas mulheres presas no

30% 4% 4% 15% 4% 11% 7% 4% 19% 4% 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Residência ou domicílio Próximo ao Departamento de polícia Presídio (revista) Rodoviária No local de trabalho Bairro Centro Bar BR Ponta Porã Não especificou 4% 7% 4% 30% 19% 7% 11% 4% 4% 7% 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Não declarou Acima de 20 paradas 27 barras de maconha Até 100 gramas De 100 gramas a meio quilo

De meio quilo a um quilo Acima de 10 quilos 27 kg 109 kg 1 tonelada

130 momento em que consumiam drogas ilícitas tiveram a condição de usuárias reconhecidas em sentença. Apenas sete moças disseram não serem usuárias. Novamente, faz-se pertinente a indagação de Borges (2018) sobre quais as chances de uma mulher de cor, em um sistema atravessado pelo pensamento criminológico positivista, ser considerada usuária ou traficante. No gráfico a seguir, está ilustrado o perfil toxicológico das entrevistadas:

Gráfico 26. Perfil toxicológico

Fonte: elaborado pela autora.

Assim, embora 30% das entrevistadas foram apanhadas em flagrante no momento que faziam uso de drogas ilícitas83, elas responderam criminalmente pelo crime previsto no Artigo 33 da Lei 11.343 de 2006.

Nesta seção traçamos o perfil criminal das entrevistadas, bem como trouxemos apontamentos sobre as questões que envolvem o sistema prisional ao qual elas estão submetidas. As problemáticas tratadas neste trabalho não são recentes, nem este trabalho inaugura novas discussões, como colocado por Foucault (2014) as prisões já nasceram falhas, embora questionadas ao longo dos tempos houve poucas mudanças.

83 A natureza das drogas mencionadas pelas entrevistadas são crack, maconha, cocaína, pó e pasta base.

44% 12

30% 8

0 2 4 6 8 10 12 14

131

No documento LUZIA BERNARDES DA SILVA (páginas 115-121)