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Criminalização da violência contra polícias

Capítulo II – Violência contra polícias

2.4. Criminalização da violência contra polícias

Olhando para o Código Penal, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 48/95, de 15 de março e com as alterações introduzidas pela Lei n.º 39/2016, de 19/12, observa-se que alguns crimes tipificados no mesmo são agravados pelo facto de serem cometidos contra elementos das forças de segurança, agravação esta que enfatiza a responsabilidade e autoridade das forças de segurança, bem como o respeito que os cidadãos devem manter pela missão destas.

Apesar da presente investigação centrar-se essencialmente na violência física contra elementos das forças de segurança, analisaremos de seguida os artigos constantes no ordenamento jurídico português, que penalizam e agravam atos praticados contra polícias.

No Capítulo I – “Dos crimes contra a vida”, integrante no Titulo I “Dos crimes

contra as pessoas”, no art.º 131, está plasmado o crime mais gravoso, o Homicídio, a que

corresponde pena de prisão de 8 a 16 anos. Se o autor do homicídio o tiver cometido contra um elemento das forças de segurança, a sua conduta configura o crime de Homicídio qualificado, previsto no art.º 132, n.º 2, al. l), a que corresponde uma pena de prisão mais gravosa, de 12 a 25 anos.

Quando a conduta do agressor recai sobre a integridade física do elemento

policial, este comete o crime de “Ofensa à integridade física simples”, previsto no art.º 143 ou “Ofensa à integridade física grave”, constante no art.º 144. O primeiro, apesar de

ser de natureza semipúblico, dependendo o procedimento criminal de queixa do titular da mesma, quando cometido contra elementos das forças de segurança no exercício das suas funções ou por causa delas, passa a crime público, não sendo necessário o agente policial apresentar queixa, de acordo com o n. º2 do art.º 143. No caso dos artigos anteriores, quando cometidos contra elementos das forças ou serviços de segurança, à semelhança

do que acontece no art.º 132º, n. º2 al. l), passam a configurar o tipo de crime de “Ofensa à integridade física qualificada”, por força do art.º 145, ao que corresponde uma pena de

prisão até 4 anos, no caso do art.º 143, e pena de prisão de 3 a 12 anos, no caso do art.º 144.

Seguindo uma ordem sequencial na análise dos artigos do Código Penal, no

Capítulo IV “Dos Crimes contra a liberdade Pessoal”, surgem os crimes de “Ameaça” e “Coação” previstos nos artigos 153.º e 154.º. O crime de “Ameaça”, de acordo com o

artigo correspondente, consiste em provocar medo ou inquietação ou na intenção de prejudicar a liberdade de determinação, através de ameaça da prática de um crime contra a vida, integridade física, liberdade pessoal e autodeterminação sexual bem como dos bens patrimoniais. Já o de “Coação”, previsto no art.º 154, consiste no constrangimento de uma pessoa para que esta tome uma ação ou omissão ou suporte uma atividade, com recurso à violência ou de ameaça com mal importante. À semelhança dos casos anteriores, os crimes mencionados sofrem uma agravação quando praticados contra as pessoas referidas na alínea l) do n. º2 do art.º 132, onde constam os elementos das forças e serviços de segurança.

No crime de “Sequestro”, no art.º 158, também está prevista a agravação quando

praticado contra elementos policiais, por força da já referida alínea l) do n. º2 do art.º 132, sendo que, quem detiver, prender, mantiver preso ou detido algum elemento das forças de segurança no exercer das suas funções ou por causa delas, é punido com pena de prisão de 2 a 10 anos.

Os crimes de “Difamação”, art.º 180, e “Injúrias”, art.º 181, presentes no Capítulo VI, “Dos crimes contra a honra”, configuram também condutas agravadas quando

cometidas contra polícias, conforme se observa no art.º 184. De notar que o art.º 183º

“Publicidade e calúnia” faz referência aos crimes anteriormente descritos, sendo que, de

acordo com o n. º2 do mesmo artigo, se o crime for cometido com recurso a meio de comunicação social, o seu autor é punido com pena de prisão até 2 anos ou com pena de multa não inferior a 120 dias.

Por fim, o art.º 347, sob a epígrafe “Resistência e coação sobre funcionário”,

presente no Capítulo II do Título V do CP, diz diretamente respeito a atos de violência, que podem incluir ameaça grave ou ofensas à integridade física, empregues contra um elemento das forças de segurança, forças armadas ou militarizadas, durante o exercício das suas funções, para o impedir ou coagir a tomar qualquer ação relativa ou contrária às suas funções. O mesmo artigo prevê uma pena de prisão até cinco anos, e, no seu n. º2, prevê ainda os casos de desobediência ao sinal de paragem e o ato de dirigir contra elementos das forças de segurança, armadas ou militarizadas, veículo, entre outros, para o constranger a que pratique ato relativo às suas funções. Este crime é publico, pelo que não necessita que o elemento policial apresente denúncia, sendo o autor do ilícito imediatamente detido em flagrante delito. Seguidamente a este, embora não diga diretamente a um ato de violência contra polícias, mas sim de desrespeito aos mesmos, encontra-se também o crime de “Desobediência”, no art.º 348, aplicado a quem desobedeça a ordem ou mandado legítimos, regularmente comunicados, emanados por elementos das forças de segurança.Ainda a respeito do crime de “Resistência e coação

sobre funcionário”, diz-nos o Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, datado de 4 de

janeiro de 20071, que este crime visa proteger a autonomia intencional do Estado evitando que terceiros ponham entraves às intenções e execuções do Estado, tornando as suas ações

1 Fonte: DGSI (2017, 2 de março) . Acórdão do Supremo Tribunal – Resistência e Coação sobre Funcionário.

Acedido de

de:http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/aab9dfeffa573c27802572de00349849?OpenDoc ument

ineficazes. A proteção que confere à pessoa do funcionário incumbido de desempenhar a sua ação em nome do Estado é apenas funcional e não protege a sua liberdade de ação pessoal.

Um outro Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 7 de março de 20072, menciona ainda sobre este crime que confere proteção ao próprio funcionário no exercício das suas funções, e por causa destas, e simultaneamente o interesse público na prossecução das suas funções. Adianta ainda que, sendo um crime de execução vinculada, é necessário que se observe prática de violência, na forma física ou psíquica ou de ameaça grave contra funcionário que impeça o mesmo de levar a cabo a sua ação ou que imponha uma atuação contrária ao dever do funcionário.

Para se ter uma noção deste fenómeno ao nível nacional, importa saber o número de agentes/suspeitos detidos por crime de Resistência e coação sobre funcionário, bem como a criminalidade participada, nos últimos quatro anos, na totalidade do território nacional e no distrito de Lisboa, este último que é a amostra caracterizante da presente investigação. Nos gráficos seguintes constam dados recolhidos das Estatísticas da Justiça (DGSI, 2017).

Analisando o presente gráfico, observa-se que a nível nacional, no período de 2013 a 2016, existe uma tendência para diminuição do número de agentes/suspeitos detidos por Resistência e coação sobre funcionário. Já reportando apenas ao distrito de

2 Fonte: DGSI (2017, 2 de março) . Acórdão do Supremo Tribunal – Resistência e Coação sobre Funcionário.

Acedido de: http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/c62211debbad74c48025731b005071d7?OpenDocu ment, a 2 de março de 2017 1783 1764 1691 1536 576 597 517 457 0 500 1000 1500 2000 2013 2014 2015 2016 N . d e ti d o s Ano

Portugal Lisboa Linear (Lisboa)

Gráfico -2 – Agentes/suspeitos detidos por Resistência e coação sobre funcionário em território nacional e no distrito de Lisboa. Fonte: Estatísticas da Justiça, DGPJ (2017)

Lisboa, no período em causa, nota-se um aumento no ano de 2014, que tem baixado até 2016. É importante referir que os números anteriores são referentes a todo o território nacional e sobre todos os serviços e forças de segurança constantes nas Estatísticas da Justiça.

Relativamente às ocorrências participadas, apenas da PSP, de Resistência e Coação sobre funcionário, conforme gráfico seguinte, no período de 2013 a 2016, no distrito de Lisboa, por ser a amostra que caracteriza o presente estudo, percebe-se que o concelho de Lisboa é o que mais ocorrências participa neste tipo de crime, seguido dos concelhos da Amadora, Loures e Sintra. Embora o concelho de Lisboa tenha sofrido um aumento no ano de 2014, baixou em 2015 e 2016, o que se observa também no geral dos concelhos, excetuando Torres Vedras que em 2016 contou com 5 ocorrências participadas. Para um melhor esclarecimento deste gráfico, os valores apresentados por concelho dizem respeito à Divisão Policial com responsabilidade por cada uma dessas áreas.

Concluindo, no COMETLIS, no ano de 2016, foram participadas 416 ocorrências de Resistência e Coação sobre Funcionário, que corresponde a sensivelmente 25% do total de ocorrências participadas desse crime em todo o território nacional, por todos os serviços e forças de segurança constantes nas Estatísticas da Justiça, que perfaz um total de 1688 registos, bem como cerca de 48% do total de registos desse crime pela PSP e 0,24% do total de crimes registados pela mesma instituição.

99 80 66 60 17 23 30 20 166 212 177 161 63 63 46 49 24 46 34 25 50 24 32 32 66 48 44 50 5 11 16 14 14 0 50 100 150 200 250 2013 2014 2015 2016 N . o c o r r ê n c ia s Ano

Amadora Cascais Lisboa Loures Odivelas Oeiras Sintra T.Vedras VFXira

Gráfico-3 N.º ocorrência s participadas da PSP de Resistência e coação sobre funcionário no distrito de Lisboa de 2013-2015. Fonte: Estatísticas da Justiça, DGPJ (2017)

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