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1.4 Organização do trabalho

2.1.3 Crise ecológica no século XX e complexidade ecológica

Os séculos anteriores não estavam comprometidos com as questões ambientais embora as concepções primitivas possuíssem um viés ambiental. As duas Grandes Guerras, alertam para um mundo de riscos que se manifestam por duas vias: por um lado, ‘o paraíso terrestre’ está ameaçado pela sua própria tecnologia bélica, por outro pela degradação ambiental que ao oferecer a felicidade via consumo (ainda calcado na idéia de fonte infinita dos recursos naturais) de base energética não renovável e poluente, cria um grande ônus ambiental, comprometendo a vida no planeta. O crescimento do risco de morte provêm: das armas nucleares, com a possibilidade da extinção da humanidade e da possibilidade da morte ecológica com o envenenamento da biosfera resultado do desenvolvimento técno-industrial; do surgimento de novos microrganismos e pela ingestão das drogas disseminadas por toda parte para aliviar a angústia e a solidão (BARBOSA, 1996; PELIZZOLI, 1999).

Paralelo a estes fatos a consciência ética ambiental esboça seu perfil e desponta com a era da crise de valores e com a depressão econômica em meados dos anos 60 e 70. A consciência ecológica emergiu, nos anos 70, com o conhecimento dos perigos que ameaçam o planeta, pelo grave estado de degradação ambiental, que não reconhece fronteiras ao se instalar tais como as grandes catástrofes locais com amplas conseqüências: Bhopal, Three Mile Island, Chernobyl; a drástica diminuição do volume d'água do Mar Aral e o surgimento das megalópolis (PELIZZOLI, 1999).

Os problemas mais gerais, como a contaminação das águas superficiais e profundas, o envenenamento do solo pelo uso excessivos de pesticidas e fertilizantes, a urbanização maciça de regiões ecologicamente frágeis nas zonas costeiras, as chuvas ácidas e os depósitos de detritos nocivos, comprometem a vida do planeta (GORE, 1993; CORSON, 1993; PELIZZOLI, 1999; LEFF, 2001).

Os problemas globais do planeta, ou seja, as altas emissões de CO2 que intensificam o efeito estufa, a decomposição gradual da camada de ozônio na estratosfera, o excesso de ozônio na troposfera, o buraco da camada de ozônio na Antártica, o aparecimento de pragas resistentes, plantas e sementes transgênicas, poluição da água, problema dos resíduos urbanos, exclusão social e estresse, tornam as condições de vida insuportáveis (GORE, 1993; CAPRA, 1997b; GEORGE, 1998; PELIZZOLI, 1999; BRANCO, 2000).

Em respostas a esta consciência de perigo começaram a surgir no âmbito planetário associações e partidos ecológicos, vários encontros nacionais e internacionais na busca de conciliação entre as necessidades de proteção ecológica e as necessidades de desenvolvimento econômico no terceiro mundo.

Para discutir questões de degradação ambiental e desenvolvimento os países reuniram-se, em 1968 no Clube de Roma, cujos trabalhos divulgados posteriormente denunciam a impossibilidade do crescimento infinito com recursos finitos. A I Conferência Mundial para o Meio Ambiente em 1972, Estocolmo, alertou para a deterioração ambiental, fruto do sistema econômico e anunciou a existência de um só mundo. Em 1977 em Tbilisi, no Encontro para Educação Ambiental. O relatório Brundtland, conhecido como O Nosso Futuro Comum, realizado pela Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) em 1988 revelou a ameaça

de sobrevivência da vida humana no planeta, e salientou que o estilo de vida dos paises do hemisfério norte não pode se estender a todo o mundo. Este documento também definiu oficialmente o conceito de desenvolvimento sustentável. Em 1992 no Rio de Janeiro, mais de 180 países se reuniram na Eco-92 para discutir a questão do meio ambiente e desenvolvimento. Neste encontro se afirmou como fim último do desenvolvimento sustentável, o pleno desenvolvimento das capacidades afetivas e intelectuais de todo o ser humano, e coloca a qualidade de vida no centro de seus objetivos. Deste encontro foi elaborada a Agenda 21, código de comportamento a ser seguido no século XXI. Em 1997 ocorreu o Encontro Rio+5, em Kyoto, para tratar de clima e diminuição da poluição aérea do Primeiro Mundo (BRANDÃO; CREMA, 1991; VIEZZER; OVALLES, 1995; GUZMÁN, 1997; PELIZZOLI, 1999; SOUZA, 2000; MORIN; KERN, 2000; LEFF, 2001). Novos eventos acontecem no mundo como o Fórum Social em Porto Alegre em 2002 e Rio + 10 na África do Sul em 2002.

O objetivo do encontro – Rio + 10 foi implementar metas e planos para viabilizar mudanças no padrão de produção, de consumo, comércio internacional e utilização de energia. O Encontro não conseguiu avançar nestes temas devido às pressões de corporações internacionais do primeiro mundo que impôs seu staus quo como tendência hegemônica. Houve, no entanto, avanço nas questões defendidas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) mencionando em seu discurso o caráter social do desenvolvimento embora não tenha sido oferecida implementação de propostas concretas (NETO; JAKOBSEN, 2002).

Torna-se evidente no século XX, que a tecnologia e a cientificidade são limitados e não dão conta de cumprir as promessas de emancipação e felicidade individual em torno do progresso, como o crescimento econômico e o bem estar social-material para todos. Ao contrário o mundo apresenta-se cheio de riscos, incluindo a própria sobrevivência da espécie humana, com a possibilidade de grandes catástrofes, “[...] o homem destrói um a um os sistemas de defesa do organismo planetário”, afirmou Jean-Marie Pelt (apud MORIN; KERN, 2000, p. 73). Uma inquietude e mal estar paira na humanidade frente a este cenário. “O devir chama-se incertezas” (PELIZZOLI, 1999, p. 82). Os homens perdem a certeza do futuro previsível e passam a vivenciar o fim das verdades instituídas.

Para Pelizzoli (1999) neste contexto, o modelo econômico atual entra em xeque, conseqüentemente as relações humanas no mundo do trabalho e do mercado econômico, as formas de apropriação da natureza, a família patriarcal, as culturas locais diante da globalização e os ideários consumistas.

Há um consenso entre os autores, que as grandes transformações que ocorreram na segunda metade do século XX, são decorrentes da forma de organização do trabalho, hábitos de consumo alicerçado em um sistema produtivo visando apenas o lucro permanente.

Torna-se evidente a consciência dos problemas ambientais, decorrentes dos avanços tecnológicos e científicos, que não respeitam as classes sociais nem tampouco a geografia, conseqüentemente, os riscos são comuns a todo o planeta e se faz necessário buscar novos caminhos. Para Morin (1980) estes sinais são precursores da complexidade que a ciência no século XX tem apresentado. O conceito de complexidade impõe necessariamente que se entenda a inter-relação sociedade e natureza não como realidades isoladas, mas constituintes uma da outra formando um sistema novo. O conceito envolve questões de complementaridade e autonomia.

A questão ambiental revela-se complexa, pela teia de relações que a envolve, como uma questão sócio-ambiental e não pode ser tratado de forma linear, conseqüentemente, requer um modelo novo para tornar o século XXI possível. A construção de uma nova consciência ecológica é segundo Morin (1973), o fator preponderante para o rompimento da visão disciplinar de mundo e o surgimento de uma nova idéia de natureza tanto nas ciências biológicas quantos nas ciências sociais.

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