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A CRISE ECONÔMICA DOS SUBPRIME E SEU REFLEXO NA EUROPA

No documento A economia politica do Brexit (páginas 42-46)

Em 2008, é revelada nos EUA uma grande “bolha especulativa” relacionada às securities no mercado financeiro americano, sendo que a crise originada por tal bolha ocasionou reflexos e problemas econômicos no mundo todo.

3.4.1 Causa da crise

Para compreender a extensão do problema, faz-se necessário explicar como o mesmo se sucedeu. As securities (títulos securitizados, em tradução livre) são produtos financeiros bancários altamente complexos e baseados no mercado imobiliário (hipotecas) dos EUA, como é explicado no Federal Reserve History (2013). Dessa forma, segundo o artigo, tais títulos são basicamente aglomerados de muitas dívidas, estas contraídas pelo americano médio para a compra de imóveis. Assim, tal aglomerado compõe um produto, que é securitizado pelas financeiras e depois repassado a investidores no mercado financeiro, sendo que o seu retorno é baseado no pagamento da hipoteca. No caso, a crise ocorreu porque as pessoas que estavam endividadas com as hipotecas desde o início não tinham reais condições de pagar (por isso eram chamadas de subprime, em contraposição aos clientes prime, que seriam aqueles aptos a arcar com tais dívidas), consequentemente parando de efetuar os pagamentos e fazendo com que o produto passasse a não devolver o devido retorno aos investidores.

Porém, esses títulos eram muito negociados no mercado mundial, uma vez que tinham nota máxima entre as Agências de Rating. Por causa disso, o mercado europeu rapidamente foi atingido pela crise, tanto pela falta de confiança entre os bancos americanos, que pararam de emprestar dinheiro, quanto pela própria “contaminação” pelos títulos subprime que estavam circulando no mercado financeiro da Europa. Consequentemente, a praça central de negociações financeiras europeia e segunda mais importante do mundo, em Londres, foi a primeira a sofrer com problemas dessa crise.

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3.4.2 Início da crise e seu alastramento pela Europa e Reino Unido

Nesse contexto, o que ocorreu na Europa não se diferenciou muito dos EUA. De início, a crise se espalhou pelo sistema financeiro, fazendo com que os bancos diminuíssem suas atividades, ao mesmo tempo em que perdiam a confiança dos clientes. Assim, diminuem-se o preço dos ativos no mercado de capitais, uma vez que nesse contexto é de praxe a tentativa de liquefazer rapidamente os investimentos através do aumento da oferta de produtos e da diminuição dos preços. Enquanto isso, o crédito, além de se tornar mais caro entre as financeiras e para os clientes, também se torna mais escasso por causa da falta de confiança.

Do setor financeiro, como é de se esperar, a crise passa praticamente de imediato para as empresas, tanto as de serviços quanto as industriais. Com a diminuição do crédito, as empresas começam a ter problemas para refinanciar suas dívidas e manter o fluxo de caixa, além de muitas grandes empresas perderem investimentos pela desvalorização do mercado de capitais. Fora disso, muitas vezes perdem também a habilidade de honrar compromissos. Dessa situação em diante, as empresas passam para a fase que se caracteriza por demissões e diminuição da oferta de seus produtos, o que leva ao aumento dos preços.

Consequentemente, esse conjunto de fatores ocasiona diversos problemas sociais, pois o aumento dos preços gerado pela escassez de produtos e a diminuição do número de empregados refletem na inflação e na perda do poder de compra, além, é claro, de causarem o empobrecimento da população, como pode ser visto nos dois gráficos a seguir:

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Gráfico 7 – Taxa de desemprego no Reino Unido 2006 a 2016.

Percentagem em relação ao total da população britânica. Fonte: trandingeconomics.com / Office for National Statistics.

O gráfico inicia em 2006 com uma taxa de desemprego em pouco mais de 5%, mantendo-se assim até a crise de 2008. Partindo daí o desemprego cresce, chegando a perto de 8% em 2009 e se mantendo nesse patamar até 2011, quando cresce mais um pouco e chega a mais de 8%. Posteriormente o desemprego diminui lentamente, chegando ao patamar de menos de 5% no fim de 2016.

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Gráfico 8 – Taxa de inflação no Reino Unido 2006 a 2016 em relação ao poder de compra do período anterior.

Fonte: trandingeconomics.com/Office for National Statistics.

Como se pode perceber, a inflação no Reino Unido é inconstante, começando no gráfico em cerca de 2% e se mantendo com pouca elevação até a crise de 2008, quando atinge mais de 5%. Posteriormente ela retrocede para menos de 2%, em 2009, mas volta a crescer, chegando a 4% em 2010 e depois próximo de 5% em 2011. Após esse período a inflação cede, chegando a 0 em 2015, mas com sinais de crescimento em 2016, voltando a ficar próximo de 2%.

Assim, é possível compreender algumas causas que levaram à indignação da população: desemprego, inflação, empobrecimento e retração do bem-estar geral. Esses indicadores socioeconômicos, como será explanado no capítulo 4, foram utilizados como argumentos por vários políticos – como os do Partido Conservador e do Partido da independência do Reino Unido (UKIP) – para alegar que tais efeitos tiveram sua origem na falta de comprometimento da UE com o Reino Unido, adicionando também os problemas que a permanência em tal organização causava, para assim justificar no referendo seu suporte ao voto pela saída.

Somado a isso, é preciso contar com o peso dos acordos europeus, já citados anteriormente, que “engessavam” diversas oportunidades da Grã-Bretanha em solucionar o problema da crise de forma mais imediata, seja por controlar o fluxo de

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imigrantes ou de produtos importados ou mesmo com a contribuição anual do Reino Unido para a UE. Isso torna mais claro o porquê, posteriormente, de o povo britânico optar pelo afastamento das políticas e do mercado europeu.

No documento A economia politica do Brexit (páginas 42-46)