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CAPÍTULO I ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1. Contextualização histórica

1.3. Crise migratória

Como sabemos, as migrações têm cada vez mais relevância nas sociedades atuais, pois estamos constantemente a deparar-nos com famílias que imigram na esperança de uma vida melhor, a nível social e económico, para que as suas famílias consigam manter-se estáveis e consigam sobreviver perante as adversidades.

Em primeiro lugar, é pertinente que se reflita sobre o conceito de migração que, segundo a OIM (Organização Internacional para as Migrações, 2010, p.40), corresponde ao:

“Processo de atravessamento de uma fronteira internacional ou de um Estado. É um movimento populacional que compreende qualquer deslocação de pessoas, independentemente da extensão, da composição ou das causas; inclui a migração de refugiados, pessoas deslocadas, pessoas desenraizadas e migrantes económicos. “

Muitos são os cidadãos que se vêm obrigados a imigrar, devido a situações de gravidade extrema, como é o caso de se encontrarem em situações de total privação de recursos que, por conseguinte, não conseguem assegurar, sequer, a sua sobrevivência diária. Neste caso, podemos referir-nos a cidadãos vítimas de grandes catástrofes, tais como a invasão e a guerra, a fome, os efeitos de terramotos e erupções vulcânicas, entre outros.

No entanto, tal como afirma Rocha - Trindade (1995, p.101)

“quaisquer que sejam os motivos que possam influenciar a deslocação de indivíduos de um para outro lugar, a questão do ajustamento dos imigrantes a um novo meio ambiente constitui um dos aspetos fundamentais relativos ao processo migratório.”

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A temática das migrações adquiriu ao longo dos tempos uma grande relevância a nível mundial, uma vez que nenhuma nação se encontra excluída do processo, pois tal como afirma Papademetriou (2008, p.16)

“As migrações afetam atualmente as vidas de um maior número de pessoas e assumem-se como uma questão mais importante nas esferas política e económica de um maior número de estados do que em qualquer outra fase da era moderna.”

De facto, ao refletirmos acerca dos processos migratórios ao longo dos tempos, constatamos que houve vários acontecimentos que contribuíram para a construção de políticas migratórias capazes de se adequarem às necessidades dos cidadãos Europeus.

Neste sentido, podemos referir alguns dos factos históricos mais relevantes que, por sua vez, promoveram a construção de políticas mais eficazes, como é o caso da trágica Segunda Guerra Mundial, onde houve a necessidade de reconstrução da Europa apoiada pelo Plano Marshall; a primeira crise do petróleo (na década de 70); a queda do muro de Berlim; o desmembramento da então União Soviética, entre outros factos que contribuíram para as recorrentes transformações migratórias das sociedades envolvidas.

É importante salientar que a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE) inaugurou uma nova etapa que significou grandes mudanças quer nos movimentos migratórios quer nas políticas migratórias do país.

Neste sentido, referimos que entre 1995 e 2005, muitos países europeus aumentaram consideravelmente o stock de imigrantes, fenómeno que se evidencia especialmente nos países Mediterrânicos e da Europa do Sul, quer devido a novas entradas quer a processos de regularização. (Padilha e Ortiz, 2012 p.160).

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Tal como podemos observar figura 1, esta crise imigratória que se começou a fazer sentir há alguns anos atrás, tem aumentado o seu número de mortes, visto que em 20 anos morreram cerca de 31 500 migrantes na tentativa de chegarem ao espaço europeu.

Figura 1- Número de mortes migrantes. Adaptado por Rita Costa, presente na revista ”Refugiados”- PAR

É necessário realçar que, de 2015 (data dos dados apresentados) até então, o número de óbitos aumentou significativamente, causado pelos conflitos do médio oriente.

A atual crise migratória já soma sete anos trágicos e tem devastado inúmeros cidadãos que se vêm obrigados a abandonar as suas habitações e, das formas possíveis, tentam alcançar os países vizinhos, onde têm a esperança de encontrar a tranquilidade desejada. Muitas destas famílias não conseguem

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sobreviver, acabando por falecer no decorrer da viagem que muitas vezes é feita através da travessia do Mar Mediterrâneo.

Estamos perante uma crise humanitária que adquiriu proporções inimagináveis ao longo do tempo constituindo um dos maiores desafios da União Europeia, nomeadamente a nível da adequação de políticas e instrumentos jurídicos que sejam eficazes, para a estabilidade dos grupos de cidadãos refugiados.

Segundo dados oficiais da IOM, em 2016, podemos constatar que chegaram à Europa cerca de 363 401 pessoas. Só em janeiro de 2017, chegaram por mar cerca de 5 483 pessoas (4 292 às costas de Itália e 1 192 às ilhas gregas).

Em 2017, segundo o IOM (2018, p.1), mais de 186 000 migrantes chegaram à Europa através das rotas do Mediterrâneo, sendo que, aproximadamente, 92% dos migrantes era através do mar que fugiam dos conflitos bélicos que existiam nos seus países (172 362). Verificámos, também, que a Itália é um dos países que mais requerentes de asilo recebeu no seu país, totalizando cerca de 11 369, representando cerca de 64 % da população total registada.

Contudo, embora os dados sejam assustadores, no relatório deste ano publicado pela fonte acima indicada (IOM), podemos constatar que apesar de terem chegado à Europa cerca de 73 735 migrantes e refugiados (entre janeiro e julho 2018), constam menos 40% dos 122 384 referidos na mesma altura do ano passado. (IOM, 2018, p.4).

Segundo a mesma fonte, estima-se que 78% de todos os indivíduos registados chegaram à Europa atravessando o Mar Mediterrâneo, com o objetivo de se dirigirem, maioritariamente, para a Espanha (22 931) e Itália (18 510).

Os 22% restantes dos migrantes e refugiados chegaram à Europa por diferentes rotas terrestres, preferencialmente para a Turquia e para a Grécia, onde as autoridades relataram um total de 11 050 chegadas desde o começo de 2018.

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No final de junho de 2018, como podemos observar na figura 2, disponibilizada online no site United Nations High Commissioner for Refugees (UNHCR), existiam 68.5 milhões de deslocados internos, 25.4 milhões de refugiados e 3.1 milhões de requerentes de asilo. Podemos constatar perante a mesma fonte que, 57% dos refugiados são provenientes da Síria (6.3 milhões), Afeganistão (2.6 milhões) e Sudão do Sul (2.4 milhões).

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Estamos perante uma das maiores crises humanitárias da história e, neste sentido, é necessário que os membros políticos direcionem a máxima atenção para a realidade dos cidadãos imigrantes e refugiados, de modo a que a burocracia não seja um impedimento para que estas famílias reconstruam as suas vidas, lutando para que a sua identidade seja valorizada e não seja um entrave à integração destes cidadãos no país de acolhimento.

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