• Nenhum resultado encontrado

Na descrição do processo de decisão do ranking final, repetimos a expressão “bater o martelo”, utilizada em alguns textos do Guia para explicar que a escolha definitiva das 150 empresas classificadas é feita na redação, numa “reunião de consenso” dos jornalistas e que o critério jornalístico também é o quesito de desempate. Deixamos claro que a metodologia da pesquisa baseia-se em critérios científicos de medição de opinião, e que os organizadores cercam-se de cuidados para assegurar a livre expressão da opinião dos funcionários das empresas pesquisadas.

Cabe, então, entender o que representam a presença do jornalista na empresa e o critério jornalístico na definição do ranking. Ter um jornalista em visita a uma fábrica ou escritório não é um ato rotineiro, menos ainda o contato dele com funcionários de diversos escalões. Em geral, sua presença se justificaria para entrevistar o presidente ou algum alto executivo. Entendemos que o contato com os funcionários, o “olhar nos olhos”, defendido pelo editorial

da revista como um indicador importante para “sentir o clima”, pode ser também aquilo que se chama popularmente de “faro jornalístico”. A forma como os funcionários transmitirão suas emoções, seu comprometimento, sua satisfação com a empresa, sinalizarão para o jornalista as narrativas e imagens que poderão interessar mais aos leitores.

Se do texto jornalístico espera-se, por definição, que esteja sempre comprometido com a objetividade da informação, com a relevância do assunto para seu leitor em particular e para a opinião pública em geral, que cumpra a função social de informar, é da natureza dos processos de produção e edição editoriais priorizarem o inédito, os temas de maior interesse do público leitor naquele momento, mesmo que incentivados por outras mídias ou acontecimentos localizados, os fatos que possam gerar títulos fortes, o apelo visual das fotografias. Para atrair ou prender a atenção do leitor e, assim, alcançar os resultados comerciais desejados, a edição – ou o editor – trabalha sempre com a seleção e a hierarquização de notícias, dos temas e materiais, com a inclusão de uns e exclusão de outros, enfim, com escolhas carregadas de subjetividade – mesmo que preservada a suposta objetividade do texto jornalístico.

Em Poder no Jornalismo, Mayra Rodrigues Gomes diz que na questão da seleção da informação:

o critério de importância que serve de baliza para a escolha dos fatos a serem levados à atenção pelo jornalismo, simula uma inocência que lhe é completamente estrangeira. (…) Antes de qualquer seleção dada, perguntamo-nos sobre o que é importante e para quem o é. A importância, assim como implica escolha, ou a escolha segundo o dado a ver de uma época e lugar, serve de baliza para o que é apontado como a verdade do que é posto em visibilidade (Gomes, 2003, p. 84).

Ora, se nem as empresas nem as revistas colocam em dúvida a lisura do processo ou a competência dos pesquisadores ou a representatividade da amostragem, mas a escolha final das empresas que integrarão o ranking se dá na redação, somente após a visita de repórteres para “sentir o clima” da organização, a visita do jornalista, profissional treinado em “farejar” a notícia, mesmo considerando-se a necessidade de checar as informações, se dá também no sentido de avaliar as potencialidades de ineditismo e relevância das informações colhidas em cada empresa para garantir repercussão e visibilidade para a publicação e direcionar os temas para o público leitor, incentivando-o a práticas diversas de gestão e de conduta empresarial.

É por conta da visibilidade que as mídias assumem um papel crucial como disciplina e controle, portanto como promotoras / mantenedoras de escalas de valores, como vigilantes. Temos que pensá-las em seu duplo papel: aquele pelo qual expõem a todo momento os

conflitos é também aquele pelo qual definem a esfera de equilíbrio em que esses conflitos se diluiriam. Enquanto mostram, as mídias disciplinam pela maneira do mostrar, enquanto mostra ela controla pelo próprio mostrar. É em relação à disciplina que se diz que se não passou pela mídia não há poder de reivindicação; é em relação a controle que se diz que se não passou pela mídia não existe. (Gomes, 2003, p. 77)

O critério jornalístico ainda que minoritário na composição da nota de classificação (5%) é fundamental na construção do Guia, não apenas pelo motivo óbvio de se tratar de uma publicação jornalística, mas porque linguagem e visibilidade estabelecem padrões de conduta, palavras de ordem e indicam a performance esperada para o enunciatário pretendido. Como

explica J. L. A. Prado.

A linguagem não é somente um meio em que palavras designam objetos e estados de coisas no mundo por meio de representações mais ou menos adequadas segundo um método de verificação da verdade por correspondência, mas também um meio em que coisas ditas servem para os enunciadores/agentes fazerem coisas. Dizer é fazer (Prado, 2005).

Dessa forma, o simples contato contaminará positiva ou negativamente o julgamento do repórter, a seleção jornalística.

A presença do jornalista na empresa tem ainda outro desdobramento, em nosso entendimento, que é o de reforçar o vínculo da empresa com a publicação, que como já vimos, é a verdadeira proprietária da pesquisa. Entendemos que a intenção dessa visita, é que a participação no Guia fique marcada na vida da empresa e não seja facilmente esquecida, seja uma experimentação para todos aqueles que pelas mais diversas formas participarem do fato: seja respondendo aos questionários, seja participando das entrevistas, posando para fotos, indo à cerimônia ou mesmo planejando e implantando as ações que levarão os funcionários a explicitar sua satisfação e elevar a empresa ao pódio das 150 melhores.

Documentos relacionados