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Critérios de proteção catódica propostos pela literatura

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Sistema de proteção catódica

2.1.1 Critérios de proteção catódica propostos pela literatura

A eficiência de um sistema de proteção catódica de dutos enterrados pode ser verificada por métodos que mostram se o processo de corrosão num duto enterrado não está ocorrendo ou se está ocorrendo em níveis desprezíveis (EWING, 1951). Estes métodos envolvem inspeção visual do duto (método direto e confiável), análise das condições do ambiente de exposição e controle dos parâmetros de operação. Em muitos casos, não é possível fazer inspeção visual, uma vez que os dutos não são acessíveis. Por esta razão, são propostos métodos alternativos que consistem em fazer medições dos potenciais duto/solo e comparar os resultados obtidos com valores aceitos como critérios de proteção.

São propostos vários critérios de proteção catódica a fim de garantir a integridade da estrutura metálica enterrada. A norma ABNT ISO 15589-1 (2011) propõe três critérios de proteção catódica, a saber:

potencial duto/solo, descontado a queda ôhmica, mais negativo do que

–0,85 V (vs. Cu/CuSO4): para garantir que a estrutura metálica enterrada

esteja protegida catodicamente, deve-se aplicar um potencial de proteção catódica tal que o valor medido do potencial duto/solo, descontado a queda ôhmica, seja mais negativo do que - 0,85 V (vs. Cu/CuSO4). A queda ôhmica resultante das correntes de proteção catódica dispersas no solo deve ser medida e subtraída do valor de potencial duto/solo medido, já que este é a soma algébrica do potencial de polarização da estrutura metálica e da queda

ôhmica. O potencial de -0,85 V (vs. Cu/CuSO4) torna a taxa de corrosão do duto insignificante;

deslocamento de potencial catódico de 100 mV, descontado a queda

ôhmica: o potencial de proteção catódica da estrutura metálica enterrada,

descontado a queda ôhmica, deve ser, no mínimo, 100 mV mais negativo do que o potencial de circuito aberto ou potencial de corrosão;

potencial duto/solo, descontado a queda ôhmica, mais negativo do que

–0,95 V (vs. Cu/CuSO4): o potencial de proteção catódica da estrutura

metálica enterrada em solos contendo bactérias redutoras de sulfato e/ou outras bactérias com efeitos nocivos para os aços de dutos deve ser mais negativo do que -0,95 V (vs. Cu/CuSO4) descontada a queda ôhmica;

O potencial de equilíbrio do ferro em solo ou em águas naturais, em que = 10-6 mol/L (POURBAIX, 1966), calculado a partir da equação de Nernst, é igual a -0,91 V (vs. Cu/CuSO4) ou -0,85 V (vs. ECS – Eletrodo de Referência de Calomelano Saturado). O valor de potencial de -0,85 V (vs. Cu/CuSO4), que é tido como critério de proteção catódica, determina a diminuição da velocidade de corrosão a níveis insignificantes. A norma brasileira ABNT ISO 15589-1 (2011) cita que valores menores do que 10 µm/a são aceitáveis. Segundo essa norma, essa taxa de corrosão é suficientemente baixa para que a corrosão se situe dentro dos limites aceitáveis para a vida útil de projeto. As literaturas internacionais (NACE INTERNATIONAL, 20108; GUMMOW, 2010) citam como limite máximo aceitável para taxa de corrosão o valor de 25,4 µm/a (1 mil/y). Na

8 NACE Cathodic Protection Course, Chapter 2, 2010, disponível para participantes do curso de proteção catódica promovido pela NACE INTERNATIONAL.

prática, é comum a adoção de valores de poteniais mais negativos do que - 0,85 V (vs. Cu/CuSO4).

O critério de proteção catódica de -0,85 V medido em relação ao eletrodo de referência Cu/CuSO4 foi originado de um trabalho publicado sem justificação científica9 por Kuhn em 1933 (opcit GUMMOW, 2010) e se referia ao potencial

on10, ou seja, potencial sem subtração da queda ôhmica. Kuhn se baseou em experiências adquiridas na proteção catódica da principal tubulação de ferro fundido usada para a condução de água de abastecimento da cidade de New Orleans na década de 20 do século passado. Em razão da baixa resistividade do solo, onde a tubulação estudada por Kuhn estava enterrada, a queda ôhmica não foi considerada por Kuhn, ou seja, o valor de -0,85 V (vs. Cu/CuSO4) era o potencial sem subtração da queda ôhmica. Mais tarde, o próprio Kuhn, estudando dutos enterrados em solos mais resistivos, concluiu que o valor de potencial on de -1,0 V (vs. Cu/CuSO4) era mais adequado (opcit GUMMOW, 2010).

O critério de -0,85 V (vs. Cu/CuSO4) para o potencial de proteção catódica com subtração da queda ôhmica só foi introduzido por Heverly durante a elaboração da norma NACE SP 0169 em 1985 (GUMMOW, 2010).

É importante comentar que a adoção do critério citado não garante taxas de corrosão abaixo dos limites citados. Por esta razão, a boa prática dita que cupons de corrosão devem ser instalados nas imediações das tubulações catodicamente protegidas para monitorar as taxas de corrosão. Se os cupons acusarem taxas

9 NACE Cathodic Protection Course, Chapter 2, 2010.

10 Potencial on se refere ao potencial resultante da soma algébrica do potencial da interface metal/eletrólito somada a queda de tensão causada pelas correntes dispersas no eletrólito, assunto tratado mais adiante.

de corrosão maiores do que os limites estabelecidos, valores mais negativos de potencial de polarização catódica devem ser adotados. A prática de instalação de cupons nem sempre é adotada, sendo mais comum adotado o acompanhamento do potencial de polarização. Segundo GUMMOW (2010), estudos de longos anos mostraram que este monitoramento é bastante seguro.

Em dutos enterrados, durante a aplicação do potencial de proteção catódica igual ou ligeiramente mais negativo do que -0,85 V (vs. Cu/CUSO4), o pH do eletrólito junto à interface metal/eletrólito tende a aumentar decorrente do favorecimento das reações de redução do H+ (2H+ + 2e- → H2) e do O2 (O2 + 2H2O + 4e- → 4OH-). Isto pode levar o sistema para o domínio de formação de óxidos no diagrama de Pourbaix (Figura 3a). Se as condições forem tais que os óxidos formados gerem uma fina barreira protetora, então a proteção da estrutura será decorrente da passivação do metal. Por outro lado, se as condições de exposição não permitirem a passivação do aço, como por exemplo, exposição em solos contaminados com cloreto, o potencial de proteção requerido deve ser bem mais negativo do que -0,85 V (vs. Cu/CuSO4) para diminuir as taxas de corrosão a níveis aceitáveis, ou mesmo mais negativo do que o potencial de equilíbrio da reação Fe2+/Fe ou da reação Fe3O4/Fe para levar o sistema ao domínio da imunidade (Figura 3b).

(a)

(b)

Figura 3 – Aplicação de potenciais de proteção catódica: a) mais negativos

do que - 0,85 V (vs. Cu/CuSO4) porém mais positivos do que o potencial de equilíbrio Fe2+/Fe, levando o sistema para o domínio de formação de óxidos no diagrama de Pourbaix; b) mais negativos do que o potencial de equilíbrio da reação Fe2+/Fe ou da reação Fe

3O4/Fe para levar o sistema ao domínio da imunidade.

Dependendo das condições de exposição, o pH atingido será diferente. Por exemplo, em dutos catodicamente protegidos que atravessam rios de águas de alta movimentação, o aumento de pH pode não ser elevado. Neste caso, o sistema protegido poderá ficar dentro do domínio de corrosão ou mesmo no domínio da imunidade para se ter garantia de bom desempenho.