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Critérios de Seleção e Definição das Escolas

3. Metodologia

3.1 Critérios de Seleção e Definição das Escolas

Como espaço de pesquisa, foram selecionadas quatro escolas municipais de Campinas de acordo com os seguintes critérios:

1 - Ser parte da rede municipal de Campinas

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Estabelecemos esse critério baseando-nos no fato de que os gestores da rede municipal desta cidade afirmam desejar e desenvolver a participação das famílias nas escolas. Este esforço se traduz em políticas públicas voltadas para esse objetivo.

As escolas desta rede, à semelhança das outras escolas brasileiras, conta com o Conselho de Escola e as reuniões de famílias e educadores, apresentando, também, em alguns casos, outros grupos e comissões elaboradas para fins definidos ou pela equipe escolar ou pela comunidade em geral, de acordo com a cultura estabelecia em cada escola. A par com isso, conta também com as Comissões Próprias de Avaliação (CPAs), uma das políticas públicas acima citadas que, como estratégia para promover a participação oferece um espaço a ser analisado. Cada comissão é composta por representantes de todos os segmentos da escola, incluindo alunos, pais, professores, funcionários e membros da equipe gestora e apresenta-se como um espaço de participação e construção coletiva da qualidade escolar.

2- Ser parte do projeto GERES

O GERES é um projeto de pesquisa longitudinal, realizado no período de 2005 a 2008, junto a escolas da rede pública e privada (estaduais e municipais), focalizando a aprendizagem nas primeiras fases do Ensino Fundamental, com o objetivo de estudar os fatores escolares e sócio-familiares que incidem sobre o desempenho escolar.

Por ser uma pesquisa extensa, oferece múltiplos dados a respeito da escola que, embora não se refiram especificamente à relação com a comunidade, podem complementar a pesquisa. Os outros itens da base GERES, com exceção dos questionários, não foram considerados como critério de seleção das escolas (o nível sócio-econômico, por exemplo, não foi consultado previamente, nem os dados referentes à qualidade do ensino), sendo utilizados somente para complementar a caracterização dos locais e sua análise posterior.

3- Contar com a participação dos pais nos conselhos de escola e as CPAs.

Embora a participação das famílias possa ocorrer por outros canais, esses são os espaços institucionalmente constituídos para tal, especialmente no que se refere à gestão da escola. Assim, buscamos locais nos quais a participação das famílias nos processos de gestão da escola

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Procuramos, da forma que nos foi possível, diferenciar os níveis de participação, prestando particular atenção à instância na qual a participação ocorre, de acordo com os critérios colocados por Paro (1992). Para o autor, há uma diferença entre participação na efetuação de propostas e na elaboração destas, sendo que, embora não se desmereça o primeiro modelo, o segundo implica uma consideração maior das possibilidades de contribuição dos pais no que se refere a uma gestão democrática. Na hierarquia escolar, o Conselho de Escola é o principal órgão deliberativo, o que justifica o direcionamento de nosso olhar para a presença das famílias em sua dinâmica.

4- Contar com uma equipe gestora que estimulasse a participação.

Paro (2001) destaca a importância que o Diretor, enquanto autoridade maior no espaço escolar, possui nos processos de democratização da escola. Podemos encontrar ecos desse pensamento nas ideias colocadas por Sá (2001), quando afirma que um dos fatores que delimitam a participação dos pais na escola é a forma pela qual a escola trata e recebe essa manifestação familiar, reforçando a importância da gestão quando se trata de estimular (ou reprimir) as tentativas de aproximação e contribuição.

Assim sendo, buscamos locais onde a equipe gestora não se colocasse como um empecilho à colaboração desses pais, mas que a valorizasse e estimulasse.

Para definir as escolas de acordo com os critérios acima, utilizamo-nos de quatro fontes de dados. 10

A primeira foi uma consulta à base de dados GERES, para levantar, no questionário dos pais, quais escolas apresentariam indícios de oferecer uma maior possibilidade de participação. Como mencionado, o objetivo da pesquisa GERES se refere à avaliação dos ganhos em termos de aprendizado, não tendo, portanto, um grande enfoque na relação entre comunidade e escola. Entretanto, por assumir que esta relação tem influência nos processos e na qualidade escolar, o

10 . Embora a lista possa dar a entender uma sequência de passos nos momentos de coleta, a maioria desses processos aconteceu concomitantemente, de forma que uma das fontes confirmava (ou questionava) a outra.

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questionário aplicado junto às famílias e aos diretores incluía questões referentes ao assunto, e ofereceram uma possibilidade de se levantarem hipóteses a respeito dessa relação. O índice de retorno desses questionários foi um dado em si, fornecendo uma indicação de possíveis locais de pesquisa para o presente trabalho. Iniciamos por separar as escolas que obtiveram um maior retorno de nossos questionários, para depois analisar as respostas às questões que se referiam à relação entre a escola e a comunidade (referentes, principalmente, ao número de visitas feitas à escola pelos pais, e a razão delas). Buscamos, principalmente, aquelas escolas nas quais o índice de visitas fosse alto.

Evidentemente, tal critério apresenta várias limitações, de modo que os dados obtidos foram considerados apenas uma indicação preliminar. Com o objetivo de contornar tais limitações, buscamos outras fontes para confirmar as hipóteses levantadas. A segunda fonte foi a reunião de famílias integrantes das CPAs, ocorrida em outubro de 2008, no Hotel Vila Rica, em Campinas, organizado pela Secretaria Municipal de Ensino, com o objetivo de fazer um balanço das ações das CPAs no ano de 2008, uma análise do caminho percorrido e do que poderia ser melhorado para o ano seguinte. Este foi um espaço no qual representantes das diferentes escolas puderam colocar suas queixas e sugestões, oferecendo uma forma de se levantar quais escolas eram percebidas como possibilitadoras de uma participação mais ampla. Outra reunião foi feita no dia 12/12, no Hotel Solar das Andorinhas, também com o mesmo objetivo e o mesmo tema (“A Escola que Temos e a Escola que Queremos”).

Durante essas reuniões, pudemos perceber a representatividade e a participação das escolas selecionadas, sendo esta uma indicação do fortalecimento das CPAs. O dado foi confirmado posteriormente no que denominamos a terceira fonte de dados, a saber, uma entrevista com a coordenadora da SME (Secretaria Municipal de Ensino) que, por seu trabalho junto às orientadoras pedagógicas das unidades escolares, pôde oferecer indicações a respeito de quais haviam tido sucesso na organização e fortalecimento das CPAs e Conselhos Escolares. Algumas de suas sugestões tiveram que ser descartadas por não fazerem parte do projeto GERES, mas duas escolas se apresentaram como possibilidades (as escolas Azul e Verde, posteriormente confirmadas como espaço de pesquisa).

Ao final desse processo, foram selecionadas quatro escolas. Para confirmar se esses locais estavam de acordo com os critérios estabelecidos, foi feito um contato prévio com as escolas selecionadas, seguido por uma visita na qual os Diretores e as Orientadoras Pedagógicas foram

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entrevistados. Consideramos esta como a etapa final do processo.

Assim, temos como espaço e objeto de pesquisa quatro escolas da rede municipal de Campinas, aqui denominadas Verde, Amarela, Branca e Azul.

Durante as entrevistas com os gestores, foram também estabelecidos os procedimentos da pesquisa que se dariam no próximo ano para a coleta dos dados. As atividades foram interrompidas, devido ao início das férias escolares, e retomadas em fevereiro de 2009, momento em que se fez um novo contato para confirmar a disponibilidade das escolas.

Aqui cabe uma observação. As escolas foram selecionadas no ano de 2008. Em 2009, porém, houve uma mudança nos quadros de pessoal, sendo que nas escolas Branca e Verde o cargo do Diretor foi ocupado por um novo profissional e, na escola Verde, o mesmo ocorreu com o cargo de OP. Neste último, o cargo só foi preenchido em abril, de modo que, durante os primeiros meses do ano, a escola ficou sem parte de sua equipe gestora. Por essa razão, as reuniões da CPA não puderam ser realizadas, visto que a Coordenação Pedagógica da escola é a responsável por estabelecê-las e conduzi-las.

Mesmo assim, optamos por manter as duas escolas como espaço de pesquisa. Fizemos essa escolha por duas razões. Na escola Verde, o Conselho de Escola é extremamente bem articulado. Além disto, a escola apresenta um quadro de participação familiar em seus processos de gestão que indica uma cultura historicamente estabelecida nesse sentido. Em outras palavras, embora não contasse com a reunião de CPAs, nem por isso deixava de ter a presença das famílias em diversos momentos da vida da escola, dado que consideramos relevante para a pesquisa.

Na escola Branca, pudemos encontrar um quadro semelhante. Isto, somado ao fato de que as CPAs estavam em processo de ser restabelecidas, tornava-a um local interessante de observação, na medida em que oferecia um retrato das estratégias empregadas pela escola para trazer as famílias. Tais situações concorreram para que mantivéssemos esses dois locais entre os espaços de observação.

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