• Nenhum resultado encontrado

Critérios de Elegibilidade

No documento DISSERTAÇÃO REVISTA 2017 corrigida. (páginas 53-55)

CAPÍTULO IV Critérios de Elegibilid ade & Avaliação Diagnóstica

4.1. Critérios de Elegibilidade

Oito meses após a publicação do Decreto-lei n.º 281/2009 (2009), o Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância (SNIPI) (2016) publica os Critérios de Elegibilidade (CE), que passam a ser o documento orientador para decidir sobre o acesso das crianças/famílias às ELI.

Há que reconhecer o esforço feito na uniformização do funcionamento das ELI’s

a nível nacional. É um documento claro, facilmente inteligível e que veio ajudar a clarificar as áreas de atuação das equipas, assim como a estabelecer fronteiras para a intervenção. Os CE dividem-se em dois grupos:

- Grupo I - Alterações nas funções ou estruturas do corpo que limitam o normal desenvolvimento e a participação nas atividades típicas, tendo em conta os referenciais de desenvolvimento próprios para a respetiva idade e contexto social (Funções do Corpo são as funções fisiológicas dos sistemas orgânicos, incluindo as funções psicológicas ou da mente; Estruturas do Corpo são as partes anatómicas do corpo, tais como, órgãos, membros e seus componentes). Este grupo subdivide-se em dois: Atraso de Desenvolvimento sem etiologia conhecida que abrange uma ou mais áreas (motora, física, cognitiva, da linguagem e comunicação, emocional, social e adaptativa); e Condições Específicas que se baseiam num diagnóstico relacionado com situações que se associam a atraso do desenvolvimento, entre outras (anomalia cromossómica; perturbação neurológica; malformações congénitas; doença metabólica; défice sensorial; perturbações relacionadas com exposição pré-natal a agentes teratogénicos ou a narcóticos, cocaína e outras drogas; perturbações relacionadas com infeções severas congénitas; doença crónica grave; desenvolvimento atípico com alterações na relação e comunicação; perturbações graves da vinculação e outras perturbações emocionais). - Grupo II - Risco grave de atraso de desenvolvimento pela existência de condições biológicas, psicoafectivas ou ambientais, que implicam uma alta probabilidade de atraso

Ana Paula da Fonseca Cardoso Marques 53

relevante no desenvolvimento da criança. Este grupo subdivide-se em dois: Crianças expostas a Fatores de Risco Biológico que inclui crianças que estão em risco de vir a manifestar limitações na atividade e participação por condições biológicas que interfiram claramente com a prestação de cuidados básicos, como a saúde e o desenvolvimento; e Crianças Expostas a Fatores de Risco Ambiental, quando existem fatores Parentais (mães adolescentes < 18 anos; abuso de álcool ou outras substâncias aditivas; maus-tratos ativos (físicos, emocionais e abuso sexual) e passivos (negligência nos cuidados básicos a prestar à criança); doença do foro psiquiátrico; doença física incapacitante ou limitativa) ou contextuais (isolamento ao nível geográfico e dificuldade no acesso a recursos formais e informais; discriminação sociocultural e étnica, racial ou sexual; discriminação religiosa; conflitualidade na relação com a criança; pobreza - recurso a bancos alimentares e/ou centros de apoio social; desempregados; famílias beneficiárias de RSI ou de apoios da ação social; desorganização Familiar -conflitualidade familiar frequente; negligência da habitação a nível da organização do espaço e da higiene; preocupações acentuadas, expressas por um dos pais, pessoa que presta cuidados à criança ou profissional de saúde, relativamente ao desenvolvimento da criança, ao estilo parental ou interação mãe/pai- criança que atuam como obstáculo à atividade e à participação da criança, limitando as suas oportunidades de desenvolvimento e impossibilitando ou dificultando o seu bem- estar).

São elegíveis para acesso ao SNIPI todas as crianças do Grupo I e as crianças do II que acumulem 4 ou mais fatores de risco biológico e/ou ambiental.

A divisão das crianças em grupo I e II faz parecer que umas são de 1ª e outras de 2ª, que umas são mais importantes do que as outras. A verdade é que a tendência é as

ELI’s acompanharem mais casos do 1º grupo, dado darmos prioridade às situações

clinicamente/de desenvolvimento mais graves. O que até poderia ser o mais adequado se existissem equipas preparadas e em número suficiente para dar resposta às situações enquadráveis no grupo II.

Prosseguindo com esta análise à divisão de 1º e 2º grupo, existe outra questão que merece a nossa atenção. Em principio só devem ser acompanhadas crianças/famílias do 2º grupo que acumulem 4 ou mais fatores de risco biológico e/ou ambiental. Esta exigência pode, por vezes, constituir um fator de exclusão. Uma família pode ter

Ana Paula da Fonseca Cardoso Marques 54

somente um fator de risco que esteja a colocar uma criança em situação de necessitar de acompanhamento. Vamos supor que um dos progenitores, ou ambos, sofrem de alcoolismo, toxicodependência, doença mental ou deficiência intelectual, isoladamente. Esta situação só per si já poderia justificar o acompanhamento à família e á criança. Uma mãe adolescente, proveniente de um ambienta familiar disfuncional e sem rede de suporte social, também não reúne as condições necessárias para poder usufruir de apoio de uma ELI.

Existe outra situação a ter em atenção na redação dos CE. Até à sua publicação foram acompanhadas várias situações de mães grávidas, umas por serem adolescentes sem rede de suporte (formal ou informal); outras por se encontrarem com quadros depressivos e medicadas; outras por se detetar na gravidez a possibilidade ou existência de malformações no feto. Consideramos que o trabalho que foi desenvolvido com estas mães foi determinante para a não ocorrência de outros fatores de risco, e para o estabelecimento de uma vinculação mais forte e positiva com o bebé desde o momento do seu nascimento. Possibilitou a oportunidade de participar ativamente na construção

das condições essenciais à vinda de um novo elemento, tornando o ‘ninho’ mais

aconchegante e afetivo. Atualmente com os critérios que se encontram em vigor tal não é possível. Não existe enquadramento para apoiar e acompanhar mães grávidas, sendo necessário a existência da criança para se poder atuar. Esta situação não faz sentido quando se defende uma intervenção o mais precoce possível, limitando o acesso das famílias a um apoio que poderia ter um papel determinante nas suas vidas, e na dos seus filhos.

No documento DISSERTAÇÃO REVISTA 2017 corrigida. (páginas 53-55)

Documentos relacionados