• Nenhum resultado encontrado

Critérios para definir períodos favoráveis de semeadura

3.3 Épocas preferenciais de semeadura

3.3.2 Critérios para definir períodos favoráveis de semeadura

O primeiro fator considerado na análise das datas de semeadura preferenciais foi a temperatura do ar, em que definiu-se como data inapta aquela em que há pelo menos um evento de temperatura do ar máxima superior a 40°C durante o ciclo da cultura em pelo menos 20% dos anos. Tal valor de temperatura do ar é apresentado por Farias et al. (2009) como limitante por causar problemas relacionados a taxa de crescimento, danos à floração e redução da capacidade de retenção de legumes, além de propiciar redução do stand de plantas.

Os mesmos critérios foram adotados para a ocorrência de temperatura do ar mínima inferior a 1°C no abrigo meteorológico, a qual é considerada letal por Rosenberg et al. (1983) para a cultura da soja. Esses valores de temperatura do ar foram considerados letais para as fases de estabelecimento, desenvolvimento vegetativo e floração/enchimento de grão, com base no ciclo de cultivar médio.

Outra condição utilizada para classificar a data de semeadura como inapta para a cultura da soja foi a evapotranspiração relativa para a fase de estabelecimento, em que a data foi considerada inapta quando em mais de 50% dos anos a evapotranspiração relativa foi menor que 0,6. Estes valores foram estipulados com base no balanço hídrico das localidades e das datas de semeadura recomendadas pelo zoneamento agrícola de risco climático.

Por meio das simulações das épocas de semeadura para a cultura da soja nas diferentes localidades extraiu-se as informações de produtividade atingível, utilizada para definir períodos favoráveis de semeadura. Após a definição dos períodos favoráveis de semeadura, estes foram comparados com as datas recomendadas pelo zoneamento agrícola de risco climático para a cultura da soja, apresentado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 2012).

A partir da produtividade atingível realizou-se a análise da frequência considerando o percentual de anos em que tal valor foi obtido. Após a determinação das probabilidade de produtividade alcançada em cada decêndio para a cultura soja, definiu-se como apto aquele decêndio de semeadura que em 80% dos anos o resultado fosse capaz de cobrir os custos de produção da cultura da soja. Se a produtividade atingível alcançasse o custo de produção entre 60 e 80% dos anos, tal decêndio foi classificado como marginal.

Outro fator considerado para o decêndio ser classificado como apto à semeadura, associado ao custo de produção, foi a temperatura do ar durante o ciclo da cultura a qual deve estar entre 20 e 30°C, intervalo considerado como ótimo para o crescimento e desenvolvimento da cultura da soja. Caso o desenvolvimento ocorra em período com

temperatura do ar fora da faixa ideal, os decêndios são considerados marginais, se atendido o custo de produção mínimo.

Os custos de produção da cultura da soja foram obtidos junto a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB, 2012) para as safras entre 2006 e 2012. Os custos de produção abrangem despesas com o custeio da lavoura, os quais consideram operações com máquinas, sementes, fertilizantes e agroquímicos, além das despesas com transporte, administrativas, armazenagem, seguro da produção, assistência técnica, financiamento, depreciações e renda de fatores. Os custos de produção obtidos são apresentados na Tabela 14, com seu respectivo custo médio do período e as regiões representativas neste trabalho.

Com o preço por saco de 60 kg de soja médio por estado, obtido junto ao site AGROLINK (2012) entre 2006 e 2012, obteve-se o rendimento médio para as diferentes regiões em kg de soja por hectare necessário para cobrir os custos de produção (Tabela 14). Cabe ressaltar que tais custos de produção representam condições médias locais e com base na metodologia proposta pelo órgão de pesquisa que realizou o levantamento, por isso condições locais de custos de produção devem ser avaliadas na seleção de data preferencial de semeadura.

Devido à variabilidade de custo de produção e de preço pago pelo cultura da soja, selecionou-se as localidades de Cruz Alta, RS, Jataí, GO, e Balsas, MA, para um estudo de caso, considerando-se o custo de produção variando entre R$ 1.000,00 a R$ 2.200,00 por hectare e o preço por saco de 60 kg entre R$ 30,00 e R$ 60,00, analisando-se a probabilidade de a produtividade atingível para a cultivar de ciclo médio e a tolerância ao déficit hídrico média alcançar o referido custo de produção para os decêndios favoráveis quanto às condições de temperatura do ar e disponibilidade hídrica na semeadura.

Associando-se os fatores apresentados, os decêndios de semeadura foram classificados como aptos, marginais ou inaptos de acordo com os seguintes critérios:

 Apto: quando a produtividade atingível estimada pelo modelo cobrir o custo de produção em mais de 80% dos anos de cultivo, com disponibilidade hídrica na semeadura (ETr/ETc > 0,60 em 50% dos anos), sem a ocorrência de eventos extremos de temperatura do ar em mais de 80% dos anos (1°C < T > 40°C) e temperatura média histórica do ar durante o ciclo de desenvolvimento da soja entre 20 e 30°C, devendo todos os critérios serem atendidos conjuntamente.

Marginal: quando a produtividade atingível estimada pelo modelo cobrir o custo de

produção entre 60 e 80% dos anos de cultivo, ou a temperatura média do ar durante o ciclo se encontrar fora da faixa de 20°C a 30°C em algum decêndio e devendo em ambos os casos

atender a disponibilidade hídrica na semeadura (ETr/ETc > 0,60 em 50% dos anos), sem a ocorrência de eventos extremos de temperatura do ar em pelo menos 80% dos anos (1°C < T > 40°C).

 Inapta: quando a produtividade atingível estimada pelo modelo não cobrir o custo de

produção em mais de 60% dos anos de cultivo, ou não apresentar disponibilidade hídrica na semeadura (ETr/ETc < 0,60 em 50% dos anos), ou houver a ocorrência de eventos extremos de temperatura do ar em mais de 20% dos anos (1°C < T > 40°C).

Tabela 14 – Custo de produção da cultura da soja para as localidades em que se realizou a

análise de épocas preferenciais de semeadura Custo referente ao

Local

Custo Preço Custo

Locais utilizados (R$ ha-1)1 (R$ sc-1)2 (kg ha-1)

Santa Rosa, Passo

Fundo e Cruz Alta (RS) 1.285,00 40,00 (RS) 1.928

Cruz Alta (RS) e Campos Novos (SC) Londrina e Campo

Mourão (PR) 1.523,00 40,00 (PR) 2.285

Campo Mourão (PR) e Presidente Prudente (SP) Rio Verde (GO) e

Chapadão do Sul (MS) 1.542,00 38,00 (GO) 2.435

Jataí (GO) e Dourados (MS)

Primavera do Leste e

Sorriso (MT) 1.726,00 36,00 (MT) 2.875

Primavera do Leste (MT) e Tapurah (MT)

Unaí (MG) 1.776,00 39,00 (MG) 2.732 Uberaba (MG) e Formosa

(GO)

Barreiras (BA) 1.535,00 39,00 (BA) 2.362 Correntina (BA) e Peixe

(TO)

Balsas (MA) 1.247,00 38,00 (MA) 1.970

Santana do Araguaia (PA), Balsas (MA) e Bom Jesus

(PI) Fonte: 1CONAB (2012); 2AGROLINK (2012)

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES