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HORAS DE VÔO NÚMERO DE COMANDANTES %

5) O CRUZAMENTO DE FUSOS HORÁRIOS E O TEMPO DE REPOUSO NECESSÁRIO

“É uma utopia, mas precisávamos de um remédio mágico que neutralizasse o efeito do fuso...”

(Relato de Comandante de Boeing 767 participante do estudo)

Esta fala de um comandantes retrata um tipo de busca utópica. Embora seja a fala de um trabalhador, deve-se ter muito cuidado com o entendimento desta afirmativa pois o “remédio mágico” para a minimizar os efeitos do cruzamento dos fusos seria, na realidade, a melhoria das condições de trabalho oferecidas a estes trabalhadores. Para combater estes efeitos, eles necessitam de um período de repouso/recuperação adequados. Mas o que têm-se evidenciado é a utilização de algumas estratégias facilitadoras, segundo eles mesmos, e que serão abordadas posteriormente.

As jornadas transmeridionais podem ocorrer tanto no sentido leste quanto oeste, com o número variante de fusos cruzados (Anexo 2). Para cada jornada realizada, existe um período de repouso subseqüente, que é determinado pela organização do trabalho do aeronauta, segundo a regulamentação da categoria. Um dos aspectos legais prevê 2 horas de acréscimo nas horas de repouso para cada fuso cruzado, no caso de ultrapassar-se mais de 3 fusos. Dos comandantes participantes deste estudo, 75% (n=18) opinou desfavoravelmente e 25% (n=7) concordou com esta perspectiva legal. Na realidade, estas horas de acréscimo, previstas em lei, não contribuem muito para a recuperação dos comandantes, apenas acrescenta-lhes alguns breves momentos:

“Acho que o descanso deveria ser maior...”

“É muito pouco para recuperar o cansaço, pois além do fuso, os vôos são longos e noturnos...”

“Acredito ser importante um descanso maior quando foi cruzado mais de 3 fusos...”

“É evidente (embora talvez não prático) que quanto maior o descanso entre um vôo e outro, maior a chance de recuperação...”

A necessidade de um período de repouso satisfatório reside no fato dos vôos com cruzamento de fusos horários obrigarem os aeronautas a estarem sempre buscando adaptações às novas realidades (novo “zeitgeber”) apresentadas a eles,

frutos da sua escala daquele mês (Suvanto e Härmä, 1993). Esta adaptação significa ressincronizar ritmos que foram alterados pelas jornadas de trabalho.

Neste momento, estes trabalhadores encontram-se dessincronizados com a realidade local (Härmä, 1993). Esta dessincronização chamada “Jet Lag” consiste no resultado da alteração dos ritmos biológicos de toda a tripulação (Waterhouse et al., 1994). Em função deste “desequilíbrio” rítmico, promovido pelas jornadas transmeridionais, os tripulantes necessitam de um período de adaptação aos novos ritmos impostos a eles, que parece depender do sentido do vôo (Graeber, 1982) e da quantidade de fusos cruzados (Sasaki & Tsuzuki, 1985).

Os comandantes relataram que o período necessário de descanso após um vôo transmeridional varia conforme explanado acima. Assim, para os vôos no sentido leste, cabe lembrar que são jornadas mais longas, acima de 10 horas de vôo, 32 % (n=7) dos comandantes relataram que necessitam de 12 a 24 horas de descanso para cada fuso ultrapassado (Figura 4).

FIGURA 4. Distribuição percentual do período necessário para recuperação após jornadas no sentido leste, por fuso cruzado, segundo relato dos 25 comandantes, da base Rio de Janeiro das companhias VARIG e Transbrasil, estudados no período de agosto e setembro de 1996.

menos 12 horas 12 a 24 horas 30 a 48 horas mais de 48 horas Não me adapto Não respondeu 0 5 10 15 20 25 30 35 menos 12 horas 12 a 24 horas 30 a 48 horas mais de 48 horas Não me adapto Não respondeu % (n=22) Período de tempo

Já no transcorrer de rotas no sentido oeste, mais curtas, culminando em menos horas de vôo, os comandantes (44%, n=8) relataram que precisam de menos de 12 horas, por fuso cruzado, para se recuperarem destas jornadas. (Figura 5). FIGURA 5 Distribuição percentual do período necessário para recuperação após jornadas no sentido oeste, por fuso cruzado, segundo relato dos 25

comandantes, da base Rio de Janeiro das companhias VARIG e Transbrasil, estudados no período de agosto e setembro de 1996.

Menos de 12 horas 12 a 24 horas 30 a 36 horas mais de 36 horas Não respondeu 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 Menos de 12 horas 12 a 24 horas 30 a 36 horas mais de 36 horas Não respondeu (n=22) % Período de Tempo

Esta constatação corrobora com os artigos relatados na literatura que elucidam que os vôos no sentido leste são mais cansativos, logicamente com uma demanda de tempo de descanso maior para a recuperação dos trabalhadores (Wegman & Klein 1985; Graeber, 1988; Waterhouse et al., 1994).

Os ritmos vão se adaptando conforme o passar do tempo sendo que pode ocorrer que alguns ritmos não alcancem a ressincronização biológica em virtude do período de adaptação ser insuficiente para tal. Neste caso, os comandantes assumiriam jornadas de trabalho sem o pronto restabelecimento de todas as suas funções o que poderia vir a culminar em situações imprevisíveis.

O período de repouso faz-se diferenciado pois quando atuando em uma jornada no sentido leste, o comandante precisará “adiantar” seus ritmos fazendo com que o período matutino fique reduzido, ocasionando uma redução no período destinado ao descanso. Por outro lado, nos vôos no sentido oeste, quando o comandante chega ao local de destino, sua necessidade é de “atrasar” seu relógio biológico o que favorece o seu organismo pois significa mais tempo para se adaptar aos novos horários propiciando um descanso maior.

Como já foi dito, os comandantes alternam estas jornadas durante o mês durante toda a sua vida profissional. Embora não se conheça os efeitos desta constante exposição ao longo dos anos (Waterhouse et al., 1994), supõe-se que seus agravos à saúde sejam muitos e diversificados.

Como em toda jornada de trabalho, existe uma série de sintomas que se encontram envolvidos no processo de trabalho e estratégias utilizadas pelos trabalhadores na tentativa de “contorná-los”. Assim os próximos itens visam elucidar esta questão.

6) A FREQÜÊNCIA DOS SINTOMAS PERCEBIDOS PELOS COMANDANTES