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5 RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS

5.4 CUIDADO DE SI

Quadro 05- Categoria 3- Cuidado de si

CATEGORIA DESCRIÇÃO DO

FRAGMENTO

FRAGMENTOS-UNIDADES DE REGISTRO

CUIDADO DE SI Cuidados direcionados a si.

“Eu procuro sempre tomar um bom banho. Daqueles banhos que relaxam, que revigoram, né? Cuidar da pele, né? A gente sempre faz aquele cuidado básico de todo dia. Limpeza de pele você não pode fazer, tudo, mas assim que a doutora liberar já vou fazer. E uma alimentação mais saudável, né? Tirar o que faz mal para ela (filha) e que também acaba fazendo mal para você, né? Beber muita água e tentar dormir (risos) porque o sono também ajuda, né?”. (CÓD 01).

“Não, assim, o cuidado a mais que eu faço, que eu não vou deixar de fazer, que nem assim, na segunda- feira eu tenho horário de sobrancelha. Eu vou continuar minha rotina de depilação, sobrancelha, fazer a unha, essas coisas” (CÓD 05).

“Ah eu tento me cuidar (...)Antes de ter o A. (filho recém-nascido) eu me cuidava bem, eu tava mais magra, eu andava sempre maquiada, mas também eu tinha um serviço, eu tinha que tá mais apresentável, então, assim, né? Vai juntando as coisas. Agora eu só fico dentro de casa, eu vou me arrumar para quem? (risos). Eu vou fazer o quê da minha vida? ” (CÓD 07)

“Sim, eu não estou. Porque você tem que pensar você vai trocar esse (filho), depois por o outro para tomar banho. Então se tem que olhar o outro tomar banho. Se tem que trocar o outro, se tem que arrumar roupa. Você tem lava roupa. Você acaba esquecendo de você. E eu tô esquecendo, que eu tô desleixada. Ô tamanho da minha sobrancelha. Eu olho no espelho e falo hoje eu vou tirar,

mas não dá tempo. Você fazer uma unha, não dá (...) não, nenhum. Porque eu penso neles, antes, tipo, eles do que eu, né? ” (CÓD 03). “Não tô ligando para mim mais não” (CÓD 04).

Fonte: Dados da pesquisadora (2019)

A categoria 3 diz sobre a reflexão das participantes sobre os cuidados que estão direcionando a si no período pós-parto. Um número expressivo das participantes respondeu que estão conseguindo tê-lo nesse período e relacionaram a cuidados voltados ao bem-estar físico e três participantes responderam que não estão conseguindo desempenhá-lo. Ressalta- se que a pesquisadora também observou, nos dois momentos em que esteve com as participantes, a relação destas com o autocuidado (banho; escovação dos dentes; cabelo, condição das roupas que vestem, entre outros).

A participante 01 traz como cuidados que realiza consigo: o banho, inclusive o aponta como um momento em que pode relaxar; os cuidados com a pele; a importância de uma alimentação adequada e a ingestão de água, e ressalta novamente a relevância de dormir.

Eu procuro sempre tomar um bom banho. Daqueles banhos que relaxam, que revigoram, né? Cuidar da pele, né? A gente sempre faz aquele cuidado básico de todo dia. Limpeza de pele você não pode fazer, tudo, mas assim que a doutora liberar já vou fazer. E uma alimentação mais saudável, né? Tirar o que faz mal para ela e que também acaba fazendo mal para você, né? Beber muita água e tentar dormir (risos) porque o sono também ajuda, né?. (CÓD 01).

A participante 05 traz que mantem no seu dia a dia uma rotina de autocuidado, dando como exemplo a depilação, a sobrancelha e a manicure: “não, assim, o cuidado a mais que eu faço, que eu não vou deixar de fazer, que nem assim, na segunda-feira eu tenho horário de sobrancelha. Eu vou continuar minha rotina de depilação, sobrancelha, fazer a unha, essas coisas” (CÓD 05).

A participante 07 afirma que “tenta” (sic) manter o autocuidado e relembra que antes de ter o filho se cuidava mais, mantendo a rotina de cuidados assiduamente, com destaque para o fato que estava sempre maquiada, e estava com um peso inferior ao atual. Ainda evidencia que via sentido em se arrumar porque trabalhava, mas atualmente se questiona para quem se arrumaria se só fica em casa.

Ah eu tento me cuidar(...) Antes de ter o A. (filho recém-nascido) eu me cuidava bem, eu tava mais magra, eu andava sempre maquiada, mas também eu tinha um serviço, eu tinha que tá mais apresentável, então, assim,

né? Vai juntando as coisas. Agora eu só fico dentro de casa, eu vou me arrumar para quem? (risos). Eu vou fazer o quê da minha vida? (CÓD 07) Em contrapartida, a participante 03 ao ser questionada sobre os cuidados que está direcionando a si disse não conseguir por falta de tempo, já que os filhos demandam os seus cuidados em tempo integral. Ainda afirma que está esquecendo de si e que não se prioriza em nenhum momento aparentando sofrimento com a situação.

Sim, eu não estou. Porque você tem que pensar você vai trocar esse, depois por o outro para tomar banho. Então se tem que olhar o outro tomar banho. Se tem que trocar o outro, se tem que arrumar roupa. Você tem lava roupa. Você acaba esquecendo de você. E eu tô esquecendo, que eu tô desleixada. Ô tamanho da minha sobrancelha. Eu olho no espelho e falo hoje eu vou tirar, mas não dá tempo. Você fazer uma unha, não dá (...) não, nenhum. Porque eu penso neles, antes, tipo, eles do que eu, né? (CÓD 03).

Ao se auto referir como “desleixada” (sic), entende-se que ela volta para si como incompetência dela, culpabilizando pelo fato de não estar conseguindo desempenhar os cuidados de si. Compreende-se que o incomodo sentido é legítimo, mas os profissionais da rede poderiam, por exemplo, orientá-la que não se trata de um problema dela, ao qual ela é culpada. Aos profissionais cabe também o acolhimento a estas mulheres, a compreensão do seu modo de vida e o respeito às suas opiniões, para assim, apoiá-la e orientá-la nas decisões referentes à vivência da maternidade no pós-parto.

A participante 04, por sua vez, despertou preocupação da pesquisadora, especialmente através dessa fala, ao afirmar que não está mais se vendo como prioridade e não têm nenhum olhar para si: “não tô ligando para mim mais não” (CÓD 04).

Em um primeiro momento a fala da participante remeteu à pesquisadora a possibilidade de a participante estar vivenciando uma depressão pós-parto. Assim, ao perceber a fragilidade que entrevistada se encontrava, a pesquisadora acionou a rede para que fosse avaliada e tivesse um cuidado direcionado à sua saúde mental.

No entanto, a leitura proporcionada por Zanello (2018) fez com que a pesquisadora refletisse se essa fala também não pode ser reflexo da sobrecarga no cumprimento das atividades relacionadas aos cuidados com os filhos, pois o olhar para os filhos exige tanto dessa mulher que a impossibilita do olhar para si. E mesmo quando as mães adoecem, pela depressão ou ansiedade, em decorrência desse contexto, tendem a se autoculpabilizar e compreender seu estado de sofrimento em função de suas limitações e não provocadas pelo outro, ou seja, usam a psicopatologização, mensagem esta transmitida pela cultura contemporânea sobre a culpa materna, em suas mais diversas discussões sobre gênero.

Nos registros do diário de campo, constatou-se que todas as participantes aparentavam ter realizado sua higiene pessoal, no que diz ao banho e a escovação dos dentes, no entanto, apresentavam-se com dificuldades no que diz ao autocuidado (cabelos

sem pentear e aparentavam não ter demandado um tempo para a escolha das roupas, por exemplo), com exceção das participantes 02 e 05. O que nos sugere o quanto é desafiador manter essa rotina de autocuidado, mesmo entre aquelas que afirmaram que estão conseguindo.

Um outro dado que cabe destacar aqui é que a participante 02 retomou sua rotina de autocuidado quando sua genitora pontuou para a mesma que ela deveria voltar a “se cuidar” (sic). O olhar da genitora mostra a importância da rede de apoio no cuidado com essas mulheres bem como faz refletir que os profissionais também poderiam ter esse olhar intervindo, por exemplo, através da disponibilidade de espaços como oficinas que sensibilizem sobre a importância do autocuidado.

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