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Parceria de cuidados

1. O CONTEXTO DOS CUIDADOS AO RECÉM-NASCIDO

1.1. CUIDADOS AO RECÉM-NASCIDO PRESTADOS PELAS ENFERMEIRAS

Relativamente à categoria cuidados prestados pelas enfermeiras, esta divide-se em duas subcategorias: sem participação dos pais e com participação dos pais.

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1.1.1. Cuidados ao recém-nascido prestados pelas enfermeiras sem participação dos pais

Os cuidados prestados pelas enfermeiras ao recém-nascido prematuro sem a participação dos pais, acontecem em diferentes situações de acordo com a situação clínica dos recém-nascidos, a qual está representada na tabela 2.

A primeira situação refere-se a cuidados prestados a um recém-nascido internado em cuidados intensivos, como demonstram os excertos que se seguem: “A Enfermeira Elisa aproxima-se e pede licença à mãe. (…) Cuidadosamente, mas de forma rápida, vira a bebé e muda-lhe a fralda. A mãe mantém-se de pé e observa. (…) Elisa posiciona-a e coloca-lhe o leite pela sonda gástrica (…) retira a seringa, fecha a sonda e fecha as portinholas da incubadora. “Pronto mãe, já se pode chegar pr’áqui outra vez.” A mãe (…) volta a se sentar ao lado da incubadora, olhando com carinho para a sua bebé.” (NC4). Os cuidados prestados a este recém-nascido são muda da fralda e alimentação por sonda gástrica. Por serem cuidados variados consideramos que o que influenciou a enfermeira a prestá-lo sem a participação dos pais se relaciona com a situação clínica do recém-nascido – o internamento em cuidados intensivos.

Outra situação refere-se aos cuidados prestados a bebés prematuros que já se encontram em cuidados intermédios, mas que ainda se mantêm na incubadora, ou porque apresentam peso inferior a 1500 grs.: “A Enfª Diana administrou as vitaminas [pela sonda gástrica] (…)” (NC9); “(…) Pilar (…) pegou nas vitaminas (…) e administrou-as pela sonda gástrica.” (NC10); ou porque ainda estão a receber soro em veia periférica: “A Enfª (…) muda-lhe a fralda [na incubadora]. Os pais continuam a ver. E a Enfª explica-lhes que lhe vai dar o leite (…). O bebé sugou lentamente, arrotou e voltou a dormir sem que os pais lhe tocassem.” (NC7); “(…) Bárbara continuou a prestar os cuidados à bebé, trocando a fralda e dando o biberão. O biberão foi dado sem que o pai tivesse sido questionado se o queria fazer.” (NC17). Mais uma vez, salientamos que os cuidados prestados são diversos – administração de terapêutica pela sonda gástrica, alimentação e muda da fralda, e que a enfermeira não solicita a colaboração dos pais.

A administração de terapêutica pela sonda gástrica continua a ser um cuidado prestado apenas pelas enfermeiras, mesmo quando o bebé já está num berço: “(…) Julieta pega na seringa onde estão as vitaminas e administra-as pela sonda nasogástrica da bebé Asaliah [que está ao colo da mãe].” (NC11); “(…) a enf. começa a dar as vitaminas no canto da boca da bebé (…)” (NC15). Quando questionadas sobre os cuidados que pensam que os pais não devem prestar, as participantes mencionam a administração de terapêutica e os procedimentos invasivos: “(…) a administração de terapêutica, claro que não.” (E1); “(…) a parte que eles [pais] não podem fazer: o puncionar, o aspirar secreções, (…) o tirar sangue (…)”

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(E3); “(…) eu acho que todos os cuidados são importantes os pais colaborarem, à excepção de medicação endovenosa e (…) algum cuidado mais especial.” (E8).

Então, parece que as enfermeiras prestam determinados cuidados ao recém-nascido sem solicitar a colaboração dos pais, por acharem ser apenas sua competência.

1.1.2. Cuidados ao recém-nascido prestados pelas enfermeiras com a participação dos pais

São diversos os cuidados ao recém-nascido prestados pelas enfermeiras com a participação dos pais. Tentaremos descrevê-los relacionando-os, mais uma vez, com as características do bebé prematuro expostas na tabela 2.

O colo é um cuidado prestado a bebés internados em unidade de cuidados intensivos, em que as enfermeiras solicitam a participação dos pais, mesmo a crianças com cateter venoso central ou soro em veia periférica: “A Enfª Mariana pegou na bebé e entregou-a cuidadosamente à mãe.” (NC6); “(…) colocou a bebé Lauviah ao colo da mãe, tendo sempre atenção ao CVU.” (NC19).

Outro cuidado é o banho dentro da incubadora, o qual é prestado a um bebé em cuidados intermédios sem soro em veia periférica: “(…) deu à mãe a compressa embebida na água da tina [do banho na incubadora] e disse-lhe que podia lavar o braço esquerdo (…). A mãe, calma e confiante fê-lo (…). Então Pilar [a enfª] começou a lavar o tórax e o abdómen. (…) orientou a mãe para os enxugar, o que a mãe fez. (…) embebeu uma compressa e torceu-a sobre os genitais da bebé (…). A mãe enxugou-os. Então Pilar (…) limpou um dos olhos (…) e deu uma segunda compressa (…) à mãe para que ela limpasse o outro olho. A mãe assim o fez. (…) A mãe (…) continuou a lavar a sua carinha (…).” (NC10); “(…) [Isabel ao dar o banho na incubadora] disse à mãe para o enxugar e depois que lavasse o direito, uma vez que já tinha visto como o fazer. A mãe assim o fez. [Isabel] Procedeu do mesmo modo com as pernas.” (NC12); como a bebés internados em unidade de cuidados intensivos e com cateter venoso central: “(…) a mãe (…) abriu as portinholas da incubadora e (…) começou a colaborar com Mariana. (…) [Mariana] orientou a mãe para que esta o enxugasse (…) a mãe lavou os genitais e Mariana enxugou-os.” (NC19).

Também se observa um primeiro banho na banheira, dado a um bebé em cuidados intermédios, em que a enfermeira solicita a colaboração da mãe: “Helena deu o banho [na banheira] (…). A mãe pode acabar de secar. (…) a mãe começou a enxugar (…). (…) com o auxílio de Helena enxugou o pescoço de Ariel. (…) a enf. começa a vestir uma das mangas do fato enquanto a mãe veste a outra.” (NC15). A administração do leite por sonda gástrica é outro cuidado em que os pais são solicitados a participar quando o seu filho já está em cuidados intermédios quer esteja ainda numa incubadora ou já no berço: “(…) pode

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segurar a sondinha que eu vou pôr o leite (…). A enfª adaptou uma seringa à sonda (…) colocou o leite (…). Entregou-a à mãe e afastou-se calmamente. A mãe segurou a sonda gástrica, (…) até que o leite terminou e ela desadaptou a seringa e fechou a sonda.” (NC9); “(…) [Pilar] adaptou uma seringa (…) à (…) sonda gástrica e pediu à mãe que a aguentasse (…). Verteu o leite (…) deu um empurrão (…) para que (…) começasse a correr pela sonda. (…) e devolveu a seringa à (…) mãe.” (NC10).

Os cuidados de higiene e conforto, alimentação e o colo são aqueles que as enfermeiras parecem valorizar mais para a prestação de cuidados em parceria com os pais destes bebés, como é possível constatar pelo memorando que se segue: “Os cuidados que são prestados com os pais são, habitualmente, o banho e a alimentação.” (NC17-M).

Quando questionadas, além dos cuidados de alimentação, higiene e conforto, as participantes também valorizam outros, como a presença dos pais aquando de procedimentos dolorosos (tais como a punção venosa ou a vacinação): “(…) já me aconteceu do sangue [punção venosa], a mãe está acalmando o bebé, (…) está ali presente com o bebé, pondo a chucha (…)” (NC10-E); ou o banho, a muda da fralda, o toque, o carinho, o falar com os bebés: “(…) o banhinho, mas sempre assistido por nós (…) em parceria connosco. (…) o pôr a fraldinha (…) mas (…) exige a nossa presença porque eles estão ventilados (…). [Cuidados a bebé ventilados] (…) que os pais podem participar (…) o aconchegá-los, o fazer-lhes festinhas, falar com eles (…)” (E2); “(…) ajudar a dar o banho, dentro e fora da incubadora. (…) o tocar (…). Pode até a mãe não fazer (…) os cuidados de higiene na totalidade, (…) o mudar a fralda quando necessário (…)” (E8); consideram também a colaboração na administração do leite por sonda gástrica: “(…) o segurar uma sonda [gástrica ao administrar o leite], o segurar na mãozinha do bebé (…), o estar (…) na prestação de cuidados ao bebé ventilado, os pais estarem com as mãos (…) a tocar no bebé enquanto a gente faz os nosso cuidados (…)” (E3); e ainda o colo ou até mesmo a amamentação a bebés em cuidados intensivos “(…) os pais participarem [nos cuidados prestados ao bebé nos cuidados intermédios, na incubadora ou no berço] (…) no banho, (…) nas mamadas, (…) nas vacinas (…). (…) a gente põe com cateteres [umbilicais, os bebés] à mama (…). (…) depois de já não estar ventilado [mas ainda na incubadora, nos cuidados intensivos] a mãe pega no bebé.” (E4). No entanto, não podemos deixar de referir que a presença dos pais durante a realização de procedimentos dolorosos nunca foi por nós observada, durante o período da Observação Participante. Vários autores defendem que os cuidados ao recém-nascido prematuro são, numa fase inicial, prestados pelas enfermeiras, sendo estas gradualmente substituídas pelos pais à medida que estes se sentem capacitados para o fazer, os cuidados se tornem menos específicos e a relação com a equipa de saúde se solidifica (Darbyshire, 1993; Farrell, 1994; Lima, Rocha & Scochi, 1999; Lamego, Rocha & Scochi, 2005).

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